quinta-feira, 31 de março de 2022
1249 - Movimento dos olhos durante a ressonância magnética
quinta-feira, 24 de março de 2022
1248 - Imunogenicidade e segurança da vacina da chikungunya
A circulação do vírus foi identificada no Brasil pela primeira vez em 2014 e ele já está presente em mais de 120 países. Como a transmissão ocorre por mosquitos, é fundamental reforçar as medidas de eliminação dos criadouros de mosquitos nas residências. As recomendações são as mesmas aplicadas à prevenção da dengue.
Imunizante desenvolvido por farmacêutica parceira do Butantan
Os resultados finais do ensaio clínico de fase 3 da vacina contra a chikungunya (VLA1553), desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e a empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva, mostraram que a imunogenicidade alcançada após a vacinação permaneceu por ao menos seis meses, com manutenção da produção de anticorpos durante esse período em 96,3% dos indivíduos avaliados. Além disso, o imunizante é seguro e causa reações adversas mínimas
Resumo de nota publicada pelo Instituto Butantan em 15/03/2022.
quinta-feira, 17 de março de 2022
1247 - Como as pontas amputadas dos dedos se regeneram
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dedo de mamífero |
Nada parecido jamais foi observado em mamíferos.
Em artigo http://www.nature.com/articles/s41598-019-45521-4 na revista *Scientific Reports*, cientistas brasileiros vinculados à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) questionam as expectativas otimistas.
Ao invés da chamada regeneração epimórfica, como a das salamandras, em que até as articulações e a função do membro amputado são restauradas, na ponta dos dedos dos mamíferos ocorre basicamente o crescimento de três tecidos que desempenham essa função naturalmente quando são danificados: unhas, pele e ossos.
Assim, os cientistas mostraram que o processo observável em dedos de mamíferos é muito mais simples do que o esperado.
Por esse motivo, não é um modelo para regeneração de membros.
Vimos que a ponta do dedo é muito mais simples do que o dedo inteiro ou um braço, por exemplo. Não tem músculos, glândulas ou articulações e basicamente tem unha, pele e osso.
Esses três tecidos têm uma capacidade natural de regeneração. Portanto, o crescimento da ponta de um dedo não constitui uma regeneração no sentido estrito da palavra, mas uma sucessão de fenômenos bem conhecidos.
Como qualquer lesão na pele, uma lesão de amputação cura devido à migração dos queratinócitos, as células da pele que produzem a queratina.
A unha parcialmente cortada retoma o seu crescimento por ser dotada de um grande número de células-tronco que induzem esse fenômeno ao longo da vida do organismo.
Porém, o crescimento mais importante nesse processo é o do tecido ósseo, que ocorre naturalmente quando se sofre uma fratura, por exemplo. Esse crescimento ocorre graças às chamadas células osteoprogenitoras.
Cientistas já haviam demonstrado que a unha é essencial para o crescimento ósseo após a amputação dos dedos do rato, por induzir o chamado crescimento distal na forma pontiaguda característica das falanges distais, as pontas dos dedos.
quinta-feira, 10 de março de 2022
1246 - Projeto sueco para apanhar bitucas de cigarros
bi.tu.ca = bagana, beata, guimba, ponta de cigarro ou charuto
O método é simples: o corvo recebe comida através de um computador por cada bituca depositada num repositório.
O projeto-piloto é da Corvid Cleaning, empresa fundada por Christian Günther-Hanssen, e tem sido implementado numa vila próxima de Estocolmo, Södertälje.
"São pássaros selvagens trabalhando voluntariamente", explicou o empresário sueco ao jornal The Guardian.
Os corvos foram a espécie ornitológica escolhida porque são as aves mais inteligentes do mundo animal. Um estudo citado pelo The Guardian afirma que os corvos da Nova Caledônia têm um raciocínio comparável ao de uma criança humana com sete anos.
"São mais fáceis de ensinar e há uma probabilidade elevada de eles se ensinarem uns aos outros. Ao mesmo tempo, há um risco reduzido de comer lixo por engano", garante o empresário.
Günther-Hanssen explicou que o seu método poderá poupar à cidade 75% dos custos associados à recolha de bitucas na cidade. Segundo os dados da Fundação Keep Sweden Tidy, caem nas ruas suecas mais de mil milhões de bitucas de cigarro por ano.
"O custo estimado por bituca apanhada do chão ronda os 80 öre por cigarro (o troco da coroa sueca, equivalente a menos de um centavo), às vezes chegando às duas coroas suecas (cerca de 5 centavos). Se o corvo apanhar a bituca, isto custaria talvez 20 öre por bituca de cigarro. A poupança para o município depende de quantos cigarros o corvo apanhar", explica.
quinta-feira, 3 de março de 2022
1245 - Os efeitos maravilhosos da nova inoculação
O britânico James Gillray ilustrou os “efeitos adversos da vacina” numa gravura satírica:
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Gillray, 1802. Acervo da Biblioteca Nacional de Medicina (Bethesda) |
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022
1244 - Hormônio induzido por exercício pode atenuar o Alzheimer
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022
1243 - Uma epidemia de joanetes
O joanete, conhecido pela medicina como "hálux valgo", é uma deformidade da articulação que conecta o dedão do pé ao resto do pé. É doloroso e pode causar outros problemas, incluindo equilíbrio deficiente. A condição está associada ao uso de calçados constritivos por um longo período de tempo, bem como a fatores genéticos. Hoje, muitas vezes é causada pelo uso de sapatos de salto alto.
Na Idade Média, os ingleses não ligavam tanto para sapatos de salto alto, mas havia entre eles uma certa tendência da moda em direção aos sapatos com bico longo e pontiagudo, chamados de "poulaines" ou "crakows" por seu suposto local de origem, Cracóvia, Polônia.
Mas, apenas saber que as pessoas naquela época faziam escolhas erradas na moda não prova que elas sofreram por isso. É aí que entrou em ação desenterrar velhos esqueletos (n = 177) para olhar seus pés.
Para saber o quão ruim era a epidemia de joanetes, os pesquisadores analisaram quatro cemitérios dentro e ao redor de Cambridge. Os enterrados no cemitério do mosteiro foram os mais afetados. Quase metade, 43 por cento, dos restos lá encontrados tinham joanetes.
O cemitério rural teve uma taxa de ocorrências muito menor, apenas três por cento, sugerindo que esses camponeses conseguiram evitar pelo menos uma praga. No geral, dezoito por cento dos indivíduos examinados tinham joanetes.
(https://www.facebook.com/pe.tornozelo/photos/1819886718171347)
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022
1242 - A máscara facial inteligente
A reabsorção que resulta em concentração de CO2 maior do que a atmosférica (0,04% a 0,1%) gera mal-estar, dores de cabeça, fadiga, falta de ar, tontura, e sudorese, causando também aumento da frequência cardíaca, fraqueza muscular e sonolência. O estudo estima que isso possa ocorrer a partir de qualquer período de tempo usando uma PFF2 convencional.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022
1241 - Síndrome vasovagal
O médico diz que a síndrome surge com a queda momentânea da pressão arterial, o que reduz a circulação de sangue no cérebro e pode levar também à queda dos batimentos cardíacos. O nome vem do nervo vago, que ajuda justamente a fazer a regulação entre a pressão arterial e os batimentos cardíacos. Uma pessoa pode ter episódios da síndrome vasovagal rotineiramente, ou apenas em algum período da vida — causados por estresse, ambientes quentes, jejum, entre outros.
"Síndrome é um conjunto de sintomas. Dentro da síndrome vasovagal, há vários tipos de apresentação. Um deles é a síncope — sinônimo de desmaio", resume Kalil. Outros sintomas são tontura, náuseas e palidez.
"A orientação é deitar, porque a pressão arterial é normalizada. Não adianta lutar contra a sensação de desmaio."
Apesar de não representar por si só um grande risco para a saúde, a síndrome e os desmaios decorrentes podem machucar, por exemplo devido a uma queda. Há também pessoas que têm síndrome vasovagal severa, com sintomas mais constantes e desencadeados por movimentos fortuitos, como uma virada rápida de pescoço ou o reflexo da tosse.
Em 2007, pesquisadores da Itália publicaram um estudo buscando justamente responder se a síndrome vasovagal configura uma doença, e a resposta deles foi não. Eles argumentaram que desmaios e sintomas associados ocorrem com boa parte das pessoas ao longo da vida, muitas vezes como episódios isolados; e frequentemente as pessoas acometidas têm indicadores normais de pressão arterial.
Esses casos pontuais, porém, devem ser diferenciados de quadros mais complexos em que também pode haver desmaios — estes causados não por calor ou estresse, mas sim por doenças neurológicas e cardiovasculares, mais frequentes ao envelhecer.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
1240 - "Já tive covid-19, preciso vacinar?" Esse estudo diz que sim
“Este provavelmente é o estudo mais completo até o momento em relação à efetividade vacinal em indivíduos previamente infectados. Outros estudos mostraram algum benefício da vacinação em pessoas previamente infectadas, porém, eram limitados por tamanho amostral, representatividade e, em geral, somente avaliavam um tipo de vacina”, disse um dos autores da pesquisa, o Dr. Otavio Tavares Ranzani, médico intensivista e epidemiologista da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e do Instituto de Salud Global de Barcelona (ISGlobal), na Espanha.
Para realizar a análise, os pesquisadores consultaram bancos de dados nacionais com informações sobre a vigilância de casos, os testes laboratoriais e a vacinação no Brasil. No estudo, a equipe selecionou indivíduos que tiveram covid-19 confirmada por meio de teste de reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR, sigla do inglês Reverse Transcription Time Polymerase Chain Reaction) e, dentre estes, aqueles que tiveram covid-19 confirmada durante o período do estudo.
“Assim, construímos um estudo caso-controle e teste negativo. Estimamos a razão de chances de alguém vacinado ter um teste RT-PCR positivo em comparação com alguém não vacinado e conseguimos estimar a efetividade da vacina”, explicou o Dr. Otavio. “Tomamos o cuidado de evitar falso-negativos”, acrescentou o pesquisador.
No total, foram avaliados 22.565 indivíduos acima de 18 anos que tiveram dois testes RT-PCR positivos (reinfecção) e 68.000 que tiveram teste positivo e depois negativo, entre fevereiro e novembro de 2021.
Os pesquisadores constataram que, 14 dias após a finalização do esquema vacinal, a efetividade das vacinas anticovídicas CoronaVac, AstraZeneca, Janssen e Pfizer contra doença sintomática em pacientes previamente infectados pelo SARS-CoV-2 foi de 37,5%, 53,4%, 35,8% e 63,7%, respectivamente. Em relação a hospitalização e morte, a efetividade das vacinas foi de 82,2%, 90,8%, 87,7% e 59,2%, respectivamente.
Segundo o infectologista Dr. Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e um dos coordenadores do trabalho em tela, os resultados indicam a necessidade de reforço das recomendações de vacinação, contrapondo o discurso de alguns países de que, em caso de infecção prévia bastaria uma dose da vacina anticovídica – ou até mesmo nenhuma. “Neste momento, em que inclusive muitos profissionais de saúde estão adoecendo, é preciso garantir um nível de proteção elevado”, afirmou o Dr. Julio.
O Dr. Albert Icksang Ko, médico que participou da pesquisa em colaboração com o Instituto Gonçalo Muniz, da Fiocruz em Salvador, e atua no Departamento de Epidemiologia de Doenças Microbianas da Yale School of Public Health, acredita que este estudo é um recurso importante para direcionar as políticas de saúde em todo o mundo. Além disso, ele considera fundamental para reforçar que, se houver um paciente infectado, ele deve receber a vacinação. “Aqui nos Estados Unidos ainda há muitas pessoas que pensam que não precisam da vacina, e esta informação não baseada cientificamente é promovida por governos, como o da Flórida”, observou.
Nas conclusões, os pesquisadores salientaram que mais de 40% da população mundial ainda não recebeu nem uma dose de vacina anticovídica e uma proporção substancial já foi infectada pelo SARS-CoV-2, portanto, “garantir acesso à vacina a indivíduos com infecção anterior pode ser particularmente importante em meio ao início de relatórios da variante Ômicron que sugerem que a imunidade conferida por infecção anterior é reduzida”.
“Nós não avaliamos a variante Ômicron, mas mostramos que, mesmo quem já teve infecção pelo SARS-CoV-2 e tem imunidade decorrente da infecção, se beneficia muito em ganho adicional de proteção ao tomar as duas doses da vacina, e isso deve ajudar na proteção contra a Ômicron”, enfatizou o Dr. Otavio.
Participaram do estudo pesquisadores do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia); do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia); da Fiocruz Brasília e da Fiocruz Mato Grosso do Sul; da Universidade Federal da Bahia; da Stanford University, do Instituto de Salud Global de Barcelona (ISGlobal); do Hospital das Clínicas de Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; da London School of Hygiene and Tropical Medicine; da Universidade Federal de Ouro Preto; da Universidade da Flórida; da Yale School of Public Health; da Universidade de Brasília; da Emory University; da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
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Imunidade turbinada:
extra.globo.com
quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
1239 - Mulheres na ciência: elas estão virando o jogo
De acordo com o relatório A jornada do pesquisador pela lente de gênero, publicado pela Elsevier em 2020, a participação de mulheres, nos mais diversos campos da ciência, oscila entre 20% e 49% nos 15 países estudados para compor o relatório. O Brasil está entre os pesquisados, e figura entre os países mais equânimes na proporção entre homens e mulheres na autoria de artigos científicos, com 0,8 mulher por homem – um desempenho superior ao do Reino Unido (0,6), dos Estados Unidos e da Alemanha (ambos com 0,5).
Neste episódio do Conversa de Médico (Medscape), a Dra. Aline Serfaty, radiologista, e o Dr. Sivan Mauer, psiquiatra, apresentam os números mais atualizados sobre como essa falácia perpetuada para a manutenção do status quo está cada dia mais longe de corresponder à verdade. Discutindo como a desigualdade de gênero na ciência acarreta redução na criatividade e no potencial de inovação de um país, a dupla de médicos elenca algumas questões intrínsecas os desafios a serem superados para igualar a representatividade de homens e mulheres na formação e na produção científica brasileira.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2022
1238 - A pentadactilia humana
Um dos fatos básicos sobre nossas mãos é que cada uma possui quatro dedos e um polegar: cinco dedos no total.
Mas por que não quatro ou seis? Os cartunistas costumam reduzir o número de dedos que desenham por uma questão de conveniência - basta olhar para Os Simpsons - mas parece que, pelo menos para os seres humanos, a evolução não teve a mesma prioridade.
Cinco dedos para todos
A pentadactilia humana (o termo técnico para "possuir cinco dígitos") não é única. Na verdade, o ancestral de todos os tetrápodes modernos - mamíferos, répteis, anfíbios e pássaros - tinha cinco dígitos em cada um de seus quatro membros no período Devoniano, de 420 a 360 milhões de anos atrás. Mesmo os morcegos e as baleias têm os restos ósseos de cinco dedos em suas asas e nadadeiras, respectivamente, embora não precisem mais de mãos adequadas.
Por que esse tetrápode ancestral tinha especificamente cinco dedos ainda é um mistério, de acordo com o Dr. Justin Adams, paleontólogo da Monash University.
"Sabemos que no Devoniano havia muitos tetrápodes [parecidos com peixes] com diferentes números de dedos - cinco, sete, acredito que até treze - mas, no final do período, tínhamos apenas tetrápodes pentadáctilos", diz ele.
Cinco dedos eram melhores do que qualquer outro número?
Qualquer hipótese "seria altamente especulativa sem muitos dados sobre os tipos de pressões seletivas que os organismos enfrentavam na época", diz Adams.
"Eu erraria por precaução e sugeriria que simplesmente não sabemos 100% o 'por que' ou o 'como' do estreitamento da morfologia da mão para cinco dedos no Devoniano”.
Perdendo dedos
Curiosamente, muitos tetrápodes perderam alguns dos cinco, como os cavalos, cujos cascos são grandes e de um só dedo, e gatos e cachorros, que têm cinco dedos nas patas dianteiras, mas apenas quatro nas traseiras. Não é assim em primatas, onde a destreza de cinco dedos é útil para pegar coisas, e nos quais perder um dedo seria prejudicial.
Mas se cinco dedos são bons, então um maior número deles seria ainda melhor, certo?
Acontece que não é fácil evoluir para mais: embora dedos ou polegares extras possam ser encontrados nas mãos de pessoas com a condição congênita de polidactilia (literalmente "muitos dedos"), eles nunca estão funcionando adequadamente. Na verdade, "nunca houve um único caso de adição de um sexto dedo" nos tetrápodes modernos, diz Adams.
"Você precisaria ter mudanças estruturais na mão, bem como nos músculos do antebraço e nos ossos do pulso, para fazer um 6º dígito funcionar". E isso provavelmente tem sido muito difícil para a evolução se preocupar.
Polegares especiais
Embora nós, humanos, possamos ter um número "padrão" de dedos, o que nos diferencia dos outros tetrápodes são nossos polegares, uma reviravolta particularmente interessante na história evolutiva de nossas mãos.
"Temos um músculo específico que flexiona o primeiro dedo: o flexor longo do polegar", diz Adams. "Quando ocorre em macacos, costuma estar associado a outros músculos flexíveis dos dedos, o que significa que, embora os humanos possam flexionar os polegares com força e fazer isso independentemente de seus outros dedos, outros macacos têm uma capacidade extremamente limitada para fazer isso".
Ask evolution: Why do we have five fingers?
quinta-feira, 6 de janeiro de 2022
1237 - O método de Abraham Wald
Dr. Bernardo Schubsky *, Medscape
Como profissionais de saúde e estudantes, estamos constantemente nos deparando com novas situações e desafios, mas como podemos ter a certeza de estarmos mantendo vivo o nosso espírito inquisitivo? O caminho mais fácil logicamente é presumir que a informação que já temos seja exata. Ou simplesmente aceitar que o que está sendo dito pelos nossos professores e colegas é a melhor resposta.
Essa postura pode levar ao terrível viés de confirmação, por meio do qual repetimos um comportamento apenas por força do hábito, sem nunca voltar ao início da questão. Mas, claro, essa não é a melhor maneira de consolidar nossas memórias remotas – se formos estudantes – nem de assegurar um exercício profissional eficaz baseado em evidências – se formos médicos atuantes.
E então você provavelmente está se perguntando: O que a saúde tem a ver com aviação militar?
Aí vamos nós...
Durante a Segunda Guerra Mundial, o matemático Abraham Wald foi encarregado pela Real Força Aérea britânica (RAF, do inglês Real Air Force) de analisar a distribuição do padrão das marcas de tiros nos aviões que retornavam das zonas de combate e escolher as áreas mais atingidas para determinar o melhor posicionamento da blindagem. Como o avião precisava ser o mais leve possível, o objetivo era blindar somente as áreas mais atingidas, para aumentar as chances de sobrevivência dos pilotos.
Mas Abraham percebeu que a pergunta estava sendo feita de modo radicalmente equivocado, e aquilo que ele fora incumbido de analisar não estava correto. Para começar, os aviões nos quais ele estava investigando o padrão de distribuição das marcas de bala eram os que tinham voltado, não os que foram abatidos. Traçando um paralelo com a saúde, ele não foi solicitado a avaliar o grupo que precisava de tratamento, foi-lhe pedido para examinar o grupo que não precisava da intervenção. Hmmm, isso é intrigante...
A sua abordagem criativa para resolver o problema foi voltar ao início do problema: Por que a RAF solicitou a análise dos padrões das marcas de bala?
Abraham reformulou a pergunta objetivamente para: “Como a integridade do avião pode ser reforçada sem termos acesso aos aviões abatidos?"
A seguir ele analisou o padrão de “menos marcas versus ausência de marcas” e percebeu que a maioria das marcas se direcionava às partes estruturais dos aviões, como o tanque de combustível ou os componentes do motor.
O método de Abraham Wald voltou a ser usado nas guerras seguintes, tornando-se o método convencional de análise da integridade das aeronaves.
A lição é que devemos manter sempre viva uma faísca de questionamento, e não nos darmos por satisfeitos com a explicação mais imediata para cada nova questão que enfrentamos. Devemos permanecer ávidos para entender o porquê antes do como durante nossas aulas. E mesmo que os dados apresentados sejam as melhores informações disponíveis, ao mudar de atitude, trocando a nossa mentalidade do aprendizado passivo para o ativo, já teremos dado um enorme salto em termos de compreensão e consolidação dos nossos conhecimentos.
Ao retirar nosso cérebro da zona de conforto, nos permitimos fazer novas associações e armazenar as informações na nossa memória remota. E, futuramente, se nos confrontarmos com um ponto de vista oposto, será mais fácil recordar a informação anterior e compará-la com a nova, formulando novas questões e dando sequência ao ciclo virtuoso do aprendizado.
A sugestão prática aqui é sempre ir às aulas e às discussões clínicas preparando-se com um pouco de informação e muitas perguntas. Durante a aula, a maioria das perguntas será respondida naturalmente, solidificando nossas associações mentais. As questões que não foram abordadas são as que podem nos levar ao próximo nível e nos permitir avançar nos nossos estudos.
* O Dr. Bernardo Schubsky é formado em medicina, tem mestrado em educação médica e está fazendo doutorado na mesma área.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
1236 - A corrida para sequenciar o genoma humano
O Instituto privado de Venter se opôs a esse princípio fundamental do Projeto de Collins. Os dois grupos mapearam febrilmente por alguns anos, e a corrida para sequenciar o genoma terminou amigavelmente - com ambos os lados anunciando a conclusão de seus rascunhos da sequência do genoma humano em 26 de junho de 2000. Posteriormente, o então presidente Bill Clinton e o primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair declararam que a corrida havia acabado e que "ambos os lados haviam vencido". [2]
Foto: Wikimedia Commons |
[1] Craig sentiu que o Projeto Genoma Humano estava demorando muito, provando ser muito caro e que estava sendo prejudicado por discussões não essenciais, como quem levaria o crédito por ele. Ao formar sua própria equipe de sequenciamento do genoma humano, ele queria fazer o sequenciamento o mais rápido possível, usando métodos mais rápidos, mas talvez menos precisos, para acelerar a busca por curas de doenças. Craig Venter pretendia sequenciar e montar todo o genoma humano até 2001, e apenas disponibilizar as informações para clientes pagantes. Ele também planejava solicitar patentes preliminares em mais de 6.000 genes e patentes completas em algumas centenas de genes antes de liberar sua sequência.
[2] Bill Clinton e Tony Blair deram seu selo de aprovação ao comparecerem a conferências de imprensa em cada lado do Atlântico. Em 2000, a Celera e o Projeto Genoma Humano puderam publicar seus rascunhos de sequências do genoma humano. No entanto, em janeiro de 2002, Venter deixou o cargo de presidente da Celera Genomics à medida que esta avançava para o domínio farmacêutico. Enquanto isso, o Projeto Genoma Humano continuou seu trabalho, resultando no lançamento de sua sequência padrão ouro em 2003. Algumas pessoas pensam que foi por causa da competição da Celera Genomics que o esforço público para sequenciar o genoma humano se acelerou. No entanto, muitos discordam, pensando que o Projeto Genoma Humano sempre teve o empenho e a dedicação necessários para terminar antes do prazo e dentro do orçamento.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
1235 - Os tipos de vírus da influenza
O tipo B infecta exclusivamente os seres humanos. Os vírus circulantes B podem ser divididos em 2 principais grupos (linhagens), denominados linhagens B/ Yamagata e B/ Victoria. Os vírus da gripe B não são classificados em subtipos.
O tipo C infecta humanos e suínos. É detectado com muito menos frequência e geralmente causa infecções leves, apresentando implicações menos significativas à saúde pública, não estando relacionado com epidemias.
O influenza D, conforme o Ministério da Saúde, foi identificado nos Estados Unidos, em 2011, em suínos e bovinos, "não sendo conhecido por infectar ou causar a doença em seres humanos".
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
1234 - Alergia a água
Uma teoria é que a interação entre a água e um componente da epiderme cria uma substância tóxica que desencadeia os efeitos. No entanto, também foram sugeridos como agentes causais os antígenos hidrossolúveis que penetram na pele e provocam liberação de histamina.
A urticária aquagênica é mais frequente nas mulheres e geralmente ocorre durante ou logo após a puberdade. O tratamento com anti-histamínicos pode aliviar os sintomas.
Medscape
Resumo. A urticária aquagênica é uma forma rara de urticária física, em que o contato com a água origina pápulas. Um homem de 19 anos e um menino de 4 anos queixaram-se de episódios recorrentes de urticária. A urticária aparecia durante o banho na ducha, na chuva ou na piscina. Pequenas pápulas do tamanho circundadas por eritema de tamanhos variáveis foram provocadas pelo contato com água na face, pescoço e tronco, independentemente de sua temperatura ou origem. Os resultados do exame físico e da avaliação laboratorial inicial estavam dentro dos limites normais. O tratamento do homem de 19 anos com 180 mg de fexofenadina por dia teve sucesso na prevenção de pápulas e eritema. O tratamento com 5 ml de xarope de cetotifeno duas vezes ao dia resultou na melhora dos sintomas no menino de 4 anos.
Aquagenic Urticaria: A Report of Two Cases, Ann Dermatol Vol. 23, Suppl. 3, 2011
https://doi.org/10.5021/ad.2011.23.S3.S371
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
1233 - Sem tempo para morrer: Uma análise profunda da exposição de James Bond a agentes infeciosos
doi.org/10.1016/j.tmaid.2021.102175
Considere onde James Bond, agente 007, esteve. Sua ocupação como agente secreto do MI6 o leva a locais exóticos em todo o mundo, muitas vezes em um piscar de olhos. Nós, plebeus, sabemos que as viagens internacionais exigem um planejamento extenso, muitas vezes incluindo exames de saúde e vacinas para obter vistos e dicas para evitar doenças. Bond não tem tempo para nada disso.
Artigo científico na revista Travel Medicine and Infectious Disease analisa em profundidade os perigos que Bond enfrenta ao viajar pelo mundo, matar pessoas e levar mulheres para a cama. As evidências são recolhidas a partir de 25 filmes produzidos pela Eon de 1962 a 2021, nos quais Bond vai a 47 países identificáveis em 86 viagens. Eles consideram segurança alimentar, saúde sexual, doenças transmitidas pelo ar, doenças transmitidas por artrópodes e doenças tropicais. De sua introdução:
Descobrimos uma atividade sexual acima da média, muitas vezes sem tempo suficiente para um diálogo na história sexual, com uma mortalidade notavelmente alta entre os parceiros sexuais de Bond (27,1; intervalo de confiança de 95% 16,4–40,3). Dado o quão inoportuno um ataque de diarreia seria no meio de uma ação para salvar o mundo, é impressionante que Bond seja visto lavando as mãos apenas em duas ocasiões, apesar das inúmeras exposições a patógenos de origem alimentar. Nossa hipótese é que sua coragem imprudente, às vezes provocando propositadamente situações de risco de vida, pode até ser uma consequência da toxoplasmose (*). A abordagem de Bond em relação às doenças transmitidas por vetores e às doenças tropicais negligenciadas é errática, às vezes seguindo os conselhos de viagem ao pé da letra, mas, na maioria das vezes, permanecendo do lado da completa ignorância. Dado o tempo limitado que Bond recebe para se preparar para as missões, pedimos urgentemente ao seu empregador MI6 que leve a sério a sua responsabilidade. Vive-se apenas uma vez.
(*) Em camundongos, a toxoplasmose foi associada à perda de medo de gatos [20]; uma manipulação inteligente pelo parasita para aumentar a probabilidade de transmissão por ingestão . Embora especulativa, a toxoplasmose pode explicar a coragem muitas vezes temerária de Bond em face do perigo que ameaça a vida.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
1232 - Hospitais de alta complexidade do Estado do Ceará
O Governo do Ceará entregou na quinta-feira passada (25/11), o Hospital Regional do Vale do Jaguaribe (HRVJ), em Limoeiro do Norte. Com essa entrega, proporciona à população de todas as cinco regiões de saúde o acesso a hospitais regionais de alta complexidade. A inauguração contou com a presença do governador Camilo Santana, da vice-governadora Izolda Cela, e do secretário da Saúde do Estado, Marcos Gadelha. A nova unidade atenderá, preferencialmente, 550 mil cearenses dos 20 municípios da região, e é um marco para a descentralização da assistência de qualidade e para a consolidação da Plataforma de Modernização da Saúde.
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
1231 - Fleming salvou Churchill?
- Discurso de Winston Churchil no Guildhall, Londres (10 de setembro de 1947)
A história de que Alexander Fleming (ou Alex e seu pai Hugh) salvou duas vezes a vida de Churchill, por mais charmosa que seja, certamente é ficção. Essa lenda persistente de Churchill remonta à Segunda Guerra Mundial. Ainda hoje é encontrada em sites sérios, apesar das abundantes evidências contra ela. Frequentemente somos questionados sobre isso, mas as explicações atualmente na web estão incompletas ou imprecisas. Aqui, para registro, está a história completa.
quinta-feira, 18 de novembro de 2021
1230 - O Estudo de Tuskegee, um exemplo de má conduta científica
Os doentes envolvidos não foram informados sobre seu diagnóstico e jamais deram seu consentimento de modo a participar da experiência. Eles receberam a informação que eram portadores de "sangue ruim", e que se participassem do programa receberiam tratamento médico gratuito, transporte para a clínica, refeições gratuitas e a cobertura das despesas de funeral. Em 1943, a penicilina passou a ser usada no tratamento da doença, com resultados efetivos e sem os riscos de tratamentos anteriores. Mas os pacientes nunca foram informados.
A partir da década de 50 já havia terapêutica estabelecida para o tratamento de sífilis, mesmo assim todos os indivíduos incluídos no estudo foram mantidos sem tratamento. Todas as instituições de saúde dos EEUU receberam uma lista com o nome dos participantes com o objetivo de evitar que qualquer um deles, mesmo em outra localidade recebesse tratamento. A inadequação do estudo foi seguindo o padrão conhecido como "slippery slope", isto é, uma inadequação leva a outra e o problema vai se agravando de forma crescente. Da omissão do diagnóstico se evoluiu para o não tratamento, e deste para o impedimento de qualquer possibilidade de ajuda aos participantes.Ao final do experimento Tuskegee, apenas 74 pacientes ainda estavam vivos; outros 25 tinham morrido diretamente de sífilis; 100 morreram de complicações relacionadas com a doença. Adicionalmente, 40 das esposas das cobaias humanas haviam sido infectadas pela doença, e 19 de suas crianças haviam nascido com sífilis congénita.
quinta-feira, 11 de novembro de 2021
1229 - Longevidade humana no século XXI
Atualmente, cerca de 500 mil centenários — de 100 a 110 anos — existem pelo planeta, registrando a maior incidência de casos na história. O século XX se destacou, também, pelo surgimento de alguns supercentenários, ou seja, que viveram mais de 110 anos, e apesar de poucos estarem vivos agora, como a japonesa Kane Tanaka (118), seus aparecimentos indicam uma inclinação importante para a comunidade terrestre, visto suas considerações para políticas governamentais e relevância em estudos de saúde e estilo de vida.
"As pessoas são fascinadas pelos extremos da humanidade, seja a ida para a Lua, quão rápido alguém pode correr nas Olimpíadas, ou até mesmo quanto tempo alguém pode viver", diz Michael Pearce, doutorando em estatística e autor principal da pesquisa. "Com este trabalho, quantificamos a probabilidade de que algum indivíduo atinja várias idades extremas neste século."
O estudo utilizou modelagem estatística para examinar os extremos da vida humana e foi fundamentado nos possíveis limites para a chamada "idade máxima relatada na morte", colocando especialistas para discutir sobre as condições de se atingir os patamares de supercentenários. Dessa forma, Pearce e sua equipe questionaram qual a maior idade humana que existirá até o ano de 2100 e, usando a conhecida ferramenta de estatísticas bayesianas, estimaram que uma pessoa poderá viver entre 125 e 132 anos até o final do século.
Após recorrerem à atualização mais recente do Banco de Dados Internacional sobre Longevidade, que rastreia supercentenários [2] de dez países europeus, além do Canadá, Japão e Estados Unidos, as projeções para a idade máxima entre 2020 e 2100 indicaram 100% da probabilidade de que o registro recorde de Jeanne Calment — 122 anos e 164 dias — seja quebrado. [3]
Além disso, há 99% de probabilidade de vida até 124 anos, 68% de até 127 anos e 13% de alguém viver até os 130 anos, porém é "extremamente improvável" que surjam supercentenários de 135 anos.
"Não importa quantos anos eles têm, uma vez que chegam aos 110, eles ainda morrem no mesmo ritmo", conclui Raftery. "Eles superaram todas as várias coisas que a vida joga em você, como doenças. Eles morrem por razões que são um pouco independentes do que afeta os mais jovens. Este é um grupo muito seleto de pessoas muito resistentes."
Referências
[1] A idade humana poderia chegar a 130 anos neste século?, Megacurioso
[2] Wiki/Supercentenários
[3] O limite superior da mortalidade humana (post 1205)
quinta-feira, 4 de novembro de 2021
1228 - Que é o DOI?
doi.org/index.html
Este é o site da International DOI Foundation (IDF), uma organização sem fins lucrativos que é o órgão de governança e gerenciamento para a federação de agências de registro que fornecem serviços e registro de Digital Object Identifier (DOI), e é o registro autoridade para o padrão ISO (ISO 26324) para o sistema DOI. O sistema DOI fornece uma infraestrutura técnica e social para o registro e uso de identificadores interoperáveis persistentes, chamados DOIs, para uso em redes digitais.
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
1227 - Visão geral dos minerais
- Quatro cátions: sódio, potássio, cálcio e magnésio
- Dois ânions: cloreto e fósforo
- Cromo
- Cobre
- Flúor
- Iodo
- Ferro
- Manganês
- Molibdênio
- Selênio
- Zinco
Deficiências de oligoelementos (exceto iodo, ferro e zinco) não costumam ocorrer espontaneamente em adultos com alimentação normal; as crianças são mais vulneráveis porque têm crescimento rápido e ingestão variável. Desequilíbrios de oligoelementos podem resultar de doenças hereditárias (p. ex., hemocromatose, doença de Wilson), hemodiálise, nutrição parenteral, dietas restritivas prescritas para pessoas com deficiências inatas do metabolismo ou vários tipos de dieta populares.
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
1226 - Estranha profissão é a de médico!
No centro do quadro, em primeiro plano, a luz de um lampião sobre uma mesa ilumina um médico contemplativo e uma criança gravemente enferma, acomodada sobre duas cadeiras. Pela janela da humilde casa, adentram os primeiros raios de sol iluminando o lado esquerdo da face do pai, que repousa a mão nas costas de sua esposa para apoiá-la e confortá-la no momento dramático. A luz ilumina a mãe debruçada em uma mesa revelando seu profundo sofrimento com a grave doença da filha.
Os utensílios sobre os móveis, indicando a preparação de medicamentos, mostram que o médico passou a madrugada ao lado da criança pálida, fraca, largada, gravemente enferma, tentando, em vão, uma terapia eficaz. É impossível apreciar o quadro sem sentir forte emoção diante da força do olhar do médico sobre a pequena paciente e do olhar do pai, colocando suas esperanças no médico.
Trata-se de uma das representações mais tocantes e icônicas da medicina. Em 1892, um professor de medicina escreveu, no British Medical Journal:
"Uma biblioteca de livros feitos em nossa honra não faria o que esta pintura tem feito e fará pela profissão médica, ao tornar os corações de nossos semelhantes aquecidos com confiança e afeto por nós."Extraído de: "Apreciação Crítica da Obra 'The Doctor' de Luke Fildes", por Dra. Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg, médica e historiadora da Sobrames Ceará e da Academia Cearense de Medicina. Publicada originalmente no Jornal do Médico Digital, de 18 a 23 de outubro de 2020.
O Médico
Dele se pede toda a sensibilidade que um ser humano pode abrigar. Para que entenda a linguagem da dor, da angústia, do medo, da desesperança e do sofrimento.Para que fale com a alma de seus pacientes. Para que transforme tênues fímbrias de esperança no lenho ardente da vontade de viver. De pessoa assim tão rica de sentimentos se pede, paradoxalmente, o mais frio domínio das emoções. Para que um franzir de cenhos ou um arquear de boca não semeiem, no espírito do paciente, dúvidas e opressões. Para que o tremer da mão não imprima, ao bisturi, o erro milimétrico que separa a vida da morte. Para que o marejar dos olhos não o prive da clareza meridiana que se pede ao diagnosticista. Para que o embargo da voz não roube credulidade à sua mensagem de fé.
SEMPRE ME PARECEU DIFÍCIL REUNIR, NUM MESMO INDIVÍDUO, TÃO NOBRE TEXTURA E TÃO RUDE COURAÇA.Pronunciamento do Dr MARIO RIGATTO na AULA DA SAUDADE da minha turma MEDICINA 74 no Centro de Convenções e publicado em seu livro MÉDICOS e SOCIEDADE. ~ Dra. Ana Nocrato
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
1225 - O risco de fumar na II Guerra Mundial
… Considerando o tipo de trabalho que estávamos fazendo, ninguém teria ficado muito preocupado com o câncer de pulmão, mesmo se soubéssemos sobre ele.
Naquela época, fumar era uma atividade popular entre as pessoas, e eles fumavam mesmo em lugares que não deveriam, como dentro de aviões de combate. Era um claro risco de incêndio. Afinal, um avião de guerra era uma cápsula frágil de alumínio contendo um conglomerado de coisas que poderiam queimar ou explodir - combustível, fluido hidráulico, óleo, oxigênio, munição. Adicionar um cigarro aceso a essa mistura era perigoso.
Mas, em uma época em que as chances de morrer instantaneamente em uma briga de cães eram muito maiores, fumar, que levava décadas para fazer efeito, era um risco insignificante.
Mais sobre essa história na revista Air and Space.
quinta-feira, 7 de outubro de 2021
1224 - O Horror nos Tempos do Cólera
"Em uma parte central do cemitério de Nigg, há uma rude pedra nua, perto da qual o sacristão nunca se aventura a abrir uma cova. Uma apócrifa tradição selvagem conecta a construção dessa pedra com os tempos do cólera na vila. A praga, como diz a história, foi trazida ao local por um navio e movimentava-se lentamente pelo chão, desimpedida de qualquer tipo de contenção, na forma de uma pequena nuvem amarela. O país inteiro estava alarmado e grupos de pessoas foram vistas em todas as eminências, observando com horror ansioso o progresso da pequena nuvem. Eles foram aliviados, no entanto, de seus medos e da praga por um engenhoso homem de Nigg, que, tendo rebido uma grande sacola de linho, moldou-a um pouco à maneira de uma rede de pegar passarinho, aproximou-se cautelosamente da nuvem amarela e, com uma habilidade que não devia nada a uma prática anterior, conseguiu colocá-la na sacola. Envolvendo-a com cuidado, dobra após dobra, e prendendo-a com alfinete após alfinete e, enquanto o linho mudava gradualmente, como se estivesse sob as mãos de um tintureiro, de branco para amarelo, ele destinou a sacola ao cemitério da igreja, onde jaz desde então."De Hugh Miller, Scenes and Legends of the North of Scotland, 1835.
quinta-feira, 30 de setembro de 2021
1223 - Projetando opioides menos viciantes
Muitas das qualidades viciantes dos opioides devem-se aos sentimentos de calma e euforia que eles induzem no cérebro. Para condições como artrite, feridas e dor pós-operatória, no entanto, esses medicamentos precisam ter como alvo apenas as áreas doentes ou feridas do corpo para fornecer alívio da dor. A questão que os pesquisadores enfrentam é se é possível limitar o efeito dos opióides a áreas específicas do corpo sem afetar o cérebro.
Uma solução proposta recentemente concentra-se na diferença de acidez entre o tecido lesionado e o saudável. O tecido lesionado é mais ácido do que o tecido saudável devido a um processo de acidose local, onde o ácido láctico e outros subprodutos ácidos produzidos pelo tecido danificado se acumulam. Isso significa que um opioide pode ser potencialmente alterado para ser carregado positivamente e ativo apenas no tecido lesionado, enquanto permanece neutro e inativo no tecido normal. A droga seria bioquimicamente ativa apenas em um nível de acidez mais alto do que o encontrado em tecidos saudáveis.
"Adicionando um átomo de flúor ao Fentanil pode diminuir a probabilidade do opioide ser bioquimicamente ativo em tecidos saudáveis do corpo." ~ Aaron Harrison
Leia mais sobre esta pesquisa e seu potencial em The Conversation.
quinta-feira, 23 de setembro de 2021
1222 - Pés planos
No CID-10:
- Q66.5 (congênito)
- M21.4 (adquirido)
http://medlineplus.gov/ency/article/001262
quinta-feira, 16 de setembro de 2021
quinta-feira, 9 de setembro de 2021
1220 - O excesso de óbitos no Brasil durante a atual pandemia
- O excesso de óbitos busca identificar o diferencial do número de óbitos por causas naturais durante a pandemia em comparação com os óbitos esperados para o mesmo período. O acompanhamento deste instrumento complementa a análise da mortalidade nas regiões, permitindo verificar os efeitos de causas diretas e indiretas da Covid-19, bem como apontar indícios de diferenciais de subnotificação dos óbitos por Covid-19 entre as localidades.
- A análise isolada da taxa de mortalidade por Covid-19 se mostra incompleta, por não incorporar os efeitos diretos e indiretos da pandemia, bem como desconsiderar as diferentes capacidades de identificação de óbitos por Covid-19 entre as localidades. O cálculo do Excesso de Óbitos, ao comparar o total de óbitos por causas naturais com o que seria esperado para determinada localidade, leva em consideração as diferenças populacionais de gênero e pirâmide etária, bem como suplanta o problema da subnotificação.
- A metodologia de excesso de óbitos consiste em subtrair de um total de óbitos observado uma quantidade de óbitos estimada para obter uma quantidade de óbitos além do esperado para um período específico. Esta quantidade de óbitos que supera o que seria esperado é denominada de excesso de óbitos.
- Ao se relacionar a quantidade de óbitos em excesso com o total de óbitos esperados tem-se o excesso proporcional de óbitos, uma medida do percentual de óbitos que superou o que já seria esperado.
- Para produzir essa estimativa de óbitos, a Vital Strategies projeta, a partir dos dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade do DATASUS) de 2015 a 2019, um total de óbitos esperados para 2020 e 2021. Os óbitos destes ano têm como fonte os dados do Portal da Transparência do Registro Civil.
- De posse desse número, calcula-se o excesso de óbitos por semana epidemiológica, levando-se em consideração gênero, idade e localidade de óbito:
Excesso de Óbitos = Óbitos observados – Óbitos esperados
Datas consideradas nesta atualização:
- Excesso de Óbitos: 15 de Março de 2020 a 31 de Julho de 2021 (Fonte: Vital Strategies)
- Taxas de Mortalidade: 23 de Agosto de 2021 (Fonte: Ministério da Saúde)
No Brasil
Taxa de Mortalidade por Covid-19 (por 100 mil hab.): 274
Óbitos esperados: 1.688.945
Excesso de Óbitos: 664.543
Óbitos por Covid-19: 556.370
Excesso Proporcional de Óbitos - Acumulado: 39,3%
Excesso Proporcional de Óbitos acumulado por período (2020): 25%
Excesso Proporcional de Óbitos acumulado por período (2021): 60%
Fontes
http://admin-planejamento.rs.gov.br/upload/arquivos/202108/25181623-excesso-de-obitos-rs-2021-08-25.pdf
http://www.conass.org.br/indicadores-de-obitos-por-causas-naturais/
segunda-feira, 6 de setembro de 2021
1219 - Pareidolias e assuntos correlatos
Paulo Gurgel Carlos da Silva, CREMEC 1405
É um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem, a qual é percebida como algo distinto e com significado diverso.
A palavra pareidolia vem do grego para, que significa "junto de", "ao lado de", e eidolon, "imagem" (εικόνα), "figura" ou "forma".
Este processo pelo qual a mente percebe um padrão familiar, onde não há nenhum, resulta de uma busca de sentido para informações aleatórias. E são o resultado da tendência de nosso cérebro em associar formas não estruturadas a outras formas reconhecíveis armazenadas na memória.
Em sua forma mais comum, a de pareidolias visuais, as imagens percebidas relacionam-se com paisagens, rochas, árvores, nuvens, construções, astros, objetos do quotidiano, detalhes corporais etc.
Há também as pareidolias auditivas como, por exemplo, a sempre lembrada pareidolia em "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin. Algumas pessoas acreditam ouvir trechos de um culto ao demônio quando a canção é tocada ao contrário. E as pareidolias táteis como na história bíblica dos filhos de Isaque, em que Jacó de disfarça com a pele de cabritos, para receber a bênção paterna no lugar de Esaú (Gênesis, 27).
Um estudo realizado em bebês sugere que a percepção de faces pareidólicas passa a se desenvolver por volta de 8 a 10 meses após o nascimento.
O mecanismo de reconhecimento de padrões em nossos cérebros é tão eficiente em descobrir uma face em meio a muitos outros pormenores que, às vezes, vemos faces onde elas não existem. Reunimos pedaços desconectados de luz e sombra, e inconscientemente tentamos ver uma face. (Carl Sagan)
A pareidolia no sistema de resposta de luta ou fuga (fight or flight).
Tabela de decisão:
HIPÓTESE |
Verdadeira |
Falsa |
Aceita |
Correta |
Erro
do tipo II |
Rejeitada |
Erro
do tipo I |
Correta |
Na lógica evolutiva é melhor prevenir do que remediar e, por isso, é mais vantajoso ver um excesso de padrões, mesmo onde eles não existem, do que negligenciá-los e correr riscos desnecessários.
Na comunicação não verbal. Um exemplo de como a pareidolia está presente no cotidiano das pessoas acontece com o uso dos populares emoticons (abreviatura de emotic icons) e de seus sucessores, os modernos emojis. Estes sinais gráficos e desenhos são entendidos pelo cérebro humano como representações pictóricas de rostos. Uma simples reunião de traços pode ser rapidamente percebida como um rosto e até mesmo interpretada como expressão de uma emoção em particular.
Na visão computacional, especialmente em programas de reconhecimento de imagens. Quando se trata de sistemas de autenticação biométrica há muitas opções disponíveis: a impressão digital, o reconhecimento do rosto, das características do olho (íris e retina), da voz etc. É uma área com forte demanda por inovação e melhoria, e isto inclui o reconhecimento facial.
No diagnóstico por imagem. Ao associar um determinado aspecto radiológico a um animal, os médicos melhoram suas habilidades de diagnóstico e reforçam as estratégias mnemônicas na prática radiológica. São exemplos de percepções pareidólicas de animais em neuroimagem: o sinal do beija-flor na paralisia supranuclear progressiva, o sinal do panda na doença de Wilson e na sarcoidose, o sinal do elefante na doença de Alzheimer, o sinal do olho do tigre na doença degenerativa associada à enzima PKAN, o sinal da borboleta em glioblastomas etc.
Nos testes projetivos. O teste de Rorschach recorre ao fenômeno da pareidolia para avaliar o estado mental de uma pessoa. O teste consiste em dar respostas sobre com o que se parecem dez pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir das respostas, procura-se obter um quadro da dinâmica psicológica da pessoa entrevistada.
Na religiosidade. Refletindo as crenças de pessoas extremamente religiosas, a pareidolia visual mostra-se frequente naquelas que alegam ver figuras ou silhuetas de santos em determinados lugares. Agnósticos e ateus não compartilham de tais alterações da percepção.
Contudo, a aleatoriedade não está presente em todas as situações pareidólicas. Imagens podem ser forjadas para serem percebidas como não o são - seja para perpetrar uma mistificação, seja por ludismo ou criatividade.
A pareidolia não é uma doença (embora pessoas ansiosas ou estressadas sejam mais suscetíveis ao fenômeno). Trata-se de uma resposta tão comum a estímulos sobre nossos sentidos que a incapacidade de a executar é que é vista como sendo algum problema. E, de um modo geral, mostra o potencial criativo de nossas mentes para "ressignificar" algo com que nos deparamos.
Web grafia
Wikipedia/Pareidolia
Stairway to Heaven Backwards < http://youtu.be/FNE75XznfIE>
Kato M, Mugitani R (2015) Pareidolia in Infants. PLoS ONE 10 (2): e0118539.
Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.67 nº 4 São Paulo Dec. 2009
quinta-feira, 2 de setembro de 2021
1218 - Scott e o escorbuto
Atkinson inclinou-se para a teoria de Almroth Wright de que o escorbuto é devido a uma intoxicação ácida do sangue causada por bactérias ... Havia pouco escorbuto na época de Nelson; mas a razão não é clara, já que, de acordo com pesquisas modernas, o suco de limão apenas ajuda a preveni-la. Tínhamos, no Cabo Evans, um sal de sódio para ser usado para alcalinizar o sangue como um experimento, se necessário. A escuridão, o frio e o trabalho árduo são, na opinião de Atkinson, causas importantes do escorbuto.Bem, eu havia aprendido na escola que o escorbuto havia sido vencido em 1747, quando o médico escocês James Lind provou em um dos primeiros experimentos médicos controlados que as frutas cítricas eram uma cura eficaz para a doença. Daquele ponto em diante, disseram-nos, a Marinha Real exigia que uma dose diária de suco de limão fosse misturada com o grogue dos marinheiros, e o escorbuto deixou de ser um problema em longas viagens oceânicas.
Mas aqui estava um cirurgião da Marinha Real em 1911, aparentemente ignorando o que causava a doença ou como curá-la. De alguma forma, um grupo de cientistas altamente treinados no início do século 20 sabia menos sobre o escorbuto do que o capitão do mar da época napoleônica. Scott deixou uma base farta de carnes frescas, frutas, maçãs e suco de limão, e seguiu no gelo por cinco meses sem proteção contra o escorbuto, o tempo todo confiante de que não corria risco. O que aconteceu?
Segundo todos os relatos, o escorbuto é uma doença horrível. Scott, que tem motivos para saber, dá uma descrição sucinta:
Os sintomas do escorbuto não ocorrem necessariamente em uma ordem regular, mas geralmente o primeiro sinal é uma condição inflamada e inchada das gengivas. O tom rosa esbranquiçado próximo aos dentes é substituído por um vermelho forte; à medida que a doença ganha terreno, as gengivas ficam mais esponjosas e adquirem uma cor arroxeada, os dentes ficam frouxos e as gengivas inflamadas. Manchas aparecem nas pernas e a dor é sentida em velhas feridas e hematomas; mais tarde, devido a um leve edema, as pernas e, em seguida, os braços aumentam de tamanho e escurecem atrás das articulações. Depois disso, o paciente logo fica incapacitado, e os últimos estágios horríveis da doença se iniciam, dos quais a morte é uma liberação misericordiosa.Uma das características mais marcantes da doença é a desproporção entre sua gravidade e a simplicidade de cura. Hoje sabemos que o escorbuto se deve unicamente à deficiência de vitamina C, composto essencial ao metabolismo que o corpo humano deve obter dos alimentos. O escorbuto é rápida e completamente curado com a restauração da vitamina C na dieta.
Exceto pela natureza da vitamina C, os médicos do século XVIII também sabiam disso. Mas, na segunda metade do século XIX, a cura para o escorbuto foi perdida. A história de como isso aconteceu é uma demonstração notável do problema da indução e de como o progresso em um campo de estudo pode levar a retrocessos involuntários em outro.
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quinta-feira, 26 de agosto de 2021
1217 - Proteção da camada de ozônio evitou aquecimento maior do planeta, diz estudo
O aquecimento global provocado pelos gases de efeito estufa, atualmente situado em 1,1 °C em relação à era pré-industrial, já provoca catástrofes como ondas de calor, inundações, incêndios, furacões etc.
O Protocolo de Montreal foi assinado em 1987 para suprimir progressivamente os gases CFC (usados na refrigeração e nos aerossóis), responsáveis pelo "buraco" nesta camada gasosa que protege a Terra dos raios que causam câncer de pele, danos oculares e imunológicos.
Sem este acordo, o aquecimento global atingiria os 4 °C, mesmo se os países conseguirem limitar a alta nos termômetros causada por outros gases abaixo de 1,5 °C, um dos objetivos do Acordo de Paris, segundo este estudo.
Chefiados por Paul Young, pesquisadores da Universidade de Lancaster estudaram através de modelos o impacto da progressiva supressão dos produtos que danificam a camada de ozônio. Além de danificar a camada de ozônio, os gases CFC são de fato potentes gases de efeito estufa que retêm o calor até 10.000 vezes mais do que o dióxido de carbono (CO2).
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
1216 - Pedras para leitura
Os povos antigos definiram a visão como "o mais maravilhoso dos cinco sentidos" e dedicaram estudos inteiros sobre o olho e a visão. Eles sabiam como aumentar as coisas com esferas de vidro cheias de água através das quais podiam observar objetos ampliados. Os antigos romanos, que conheciam os mecanismos de ampliação e sabiam fazer vidro, não sabiam como produzir lentes para auxílio visual.
1200
Em Veneza, eles sabiam que o cristal de rocha, quando moldado em formas fortemente convexas, ajudava na visão durante a leitura, e essas "lapides ad legendum", ou seja, "pedras para leitura", são reconhecidas no Capítulo que governava a Guilda dos "Artesãos de Cristal": usados como lentes de aumento e simplesmente colocados sobre o próprio objeto.
Além disso, esses artesãos também faziam discos de cristal que eram chamados de "roidi da boticelis", ou seja, tampões de vidro que eram usados para fechar potes contendo pomadas preciosas. O estudioso Luigi Zecchin deduziu que, ao aproximar os olhos de um dos discos, todos os objetos se tornavam claramente visíveis. De qualquer forma, em 1284 os "roidi da ogli", "vidro redondo para os olhos", estão presentes na lista de itens de rotina da produção.
É nesta fase em Veneza que podemos dizer que a invenção dos óculos ocorre, ou seja, quando as lentes são devidamente montadas e colocadas diante dos olhos: a história da fabricação de lentes de vidro leva à história dos óculos.
1300
Em 1301, os Giustizieri Vecchi, os superintendentes das Artes Venezianas, concederam permissão a todos os artesãos para fazer "Vitreos to oculis ad legendum" (lentes de vidro para leitura), desde que as vendessem como vidro e não como cristal para evitar fraudes.
Quando a pasta de vidro transparente e incolor foi descoberta, as lentes tornaram-se acessíveis, portanto, o comércio de óculos pôde ultrapassar as fronteiras da lagoa veneziana pela primeira vez. De acordo com esses documentos registrados, pode-se pensar que em 1300 a arte de fazer óculos era uma prática comum.
Em seguida, os primeiros óculos foram feitos com lentes redondas biconvexas, para melhorar a visão para longe. Eles consistiam em duas lentes; cada um montado com um aro de metal ou de couro forjado, rebitados juntos na extremidade de cada alça. Eram segurados diante dos olhos com as mãos, para facilitar a leitura, mas ainda não havia como usá-los com segurança e firmeza.
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Ilustração - Primeiros óculos em uma pintura por Conrad von Soest. (Este trabalho está em domínio público em seu país de origem e em outros países e áreas onde o termo de direitos autorais é a vida do autor mais 100 anos ou menos.)
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
1215 - Elisabeth Bik, uma especialista em integridade científica
A microbiologista virou uma especialista em "integridade científica": na prática, isso consiste na análise (não remunerada) de milhares de estudos biomédicos, em busca de erros que possam comprometer seus resultados. Bik também tem um trabalho pago, de consultoria e palestras para universidades e centros de pesquisa, sobre como melhorar seus processos.
Faz pouco mais de um ano que Bik foi uma das cientistas a levantar preocupações sobre um estudo que ganharia proporções não previstas na época: tratava-se da pesquisa do instituto médico francês IHU-Méditerranée Infection, em Marselha, publicada inicialmente em março de 2020 com a afirmação de que "a cloroquina e a hidroxicloroquina eram eficientes contra o SARS-CoV-2", o vírus da covid-19.
Bik levantou questionamentos sobre a metodologia usada pelo estudo, que segundo ela prejudicam as conclusões, como:
- Lapsos no cronograma: os dados apresentados no estudo não deixam claro qual foi o resultado do teste PCR dos pacientes na metade do estudo, como havia sido originalmente planejado. Isso despertou preocupações quanto a se dados potencialmente negativos poderiam ter sido omitidos.
- Havia muitas diferenças entre os grupos de controle (ou seja, pessoas que não foram tratadas com hidroxicloroquina) e o grupo de pacientes do estudo, o que dificulta a comparação entre ambos e, portanto, os resultados da pesquisa.
- Embora o estudo tenha começado com 26 pacientes, termina apresentando dados de apenas 20 deles. Dos seis faltantes, três haviam sido transferidos para a UTI, um morreu e dois abandonaram a medicação. "É como dizer 'meus resultados são incríveis se eu tiro as pessoas em que eles se saíram muito mal'. É claro que (o estudo) parece ótimo (se você tira os pacientes que morreram), mas não é honesto fazer isso", diz Bik à BBC News Brasil.
- Um dos autores é também editor-chefe do periódico onde o estudo foi publicado, o International Journal of Antimicrobial Agents. "Isso pode ser percebido como um enorme conflito de interesses, em particular ao lado de um processo de revisão de pares (quando cientistas revisam o estudo de seus colegas) que durou menos de 24 horas", escreveu Bik na época. "É o equivalente a permitir que um estudante dê a nota de seu próprio trabalho escolar."
Extraído de: Covid-19: a cientista 'detetive' que acendeu alerta sobre hidroxicloroquina, BBC News