quinta-feira, 26 de agosto de 2021

1217 - Proteção da camada de ozônio evitou aquecimento maior do planeta, diz estudo

AFP - O Protocolo de Montreal, que permitiu lutar contra o buraco na camada de ozônio, também evitou um aquecimento adicional do planeta de 2,5 °C aproximadamente até 2100 ao proibir determinados aerossóis, segundo um estudo publicado na quarta-feira passada (18) na revista Nature.
O aquecimento global provocado pelos gases de efeito estufa, atualmente situado em 1,1 °C em relação à era pré-industrial, já provoca catástrofes como ondas de calor, inundações, incêndios, furacões etc.
O Protocolo de Montreal foi assinado em 1987 para suprimir progressivamente os gases CFC (usados na refrigeração e nos aerossóis), responsáveis pelo "buraco" nesta camada gasosa que protege a Terra dos raios que causam câncer de pele, danos oculares e imunológicos.
Sem este acordo, o aquecimento global atingiria os 4 °C, mesmo se os países conseguirem limitar a alta nos termômetros causada por outros gases abaixo de 1,5 °C, um dos objetivos do Acordo de Paris, segundo este estudo.
Chefiados por Paul Young, pesquisadores da Universidade de Lancaster estudaram através de modelos o impacto da progressiva supressão dos produtos que danificam a camada de ozônio. Além de danificar a camada de ozônio, os gases CFC são de fato potentes gases de efeito estufa que retêm o calor até 10.000 vezes mais do que o dióxido de carbono (CO2).
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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

1216 - Pedras para leitura

ANTES DE 1200
Os povos antigos definiram a visão como "o mais maravilhoso dos cinco sentidos" e dedicaram estudos inteiros sobre o olho e a visão. Eles sabiam como aumentar as coisas com esferas de vidro cheias de água através das quais podiam observar objetos ampliados. Os antigos romanos, que conheciam os mecanismos de ampliação e sabiam fazer vidro, não sabiam como produzir lentes para auxílio visual.
1200
Em Veneza, eles sabiam que o cristal de rocha, quando moldado em formas fortemente convexas, ajudava na visão durante a leitura, e essas "lapides ad legendum", ou seja, "pedras para leitura", são reconhecidas no Capítulo que governava a Guilda dos "Artesãos de Cristal": usados como lentes de aumento e simplesmente colocados sobre o próprio objeto.
Além disso, esses artesãos também faziam discos de cristal que eram chamados de "roidi da boticelis", ou seja, tampões de vidro que eram usados para fechar potes contendo pomadas preciosas. O estudioso Luigi Zecchin deduziu que, ao aproximar os olhos de um dos discos, todos os objetos se tornavam claramente visíveis. De qualquer forma, em 1284 os "roidi da ogli", "vidro redondo para os olhos", estão presentes na lista de itens de rotina da produção.
É nesta fase em Veneza que podemos dizer que a invenção dos óculos ocorre, ou seja, quando as lentes são devidamente montadas e colocadas diante dos olhos: a história da fabricação de lentes de vidro leva à história dos óculos.
1300
Em 1301, os Giustizieri Vecchi, os superintendentes das Artes Venezianas, concederam permissão a todos os artesãos para fazer "Vitreos to oculis ad legendum" (lentes de vidro para leitura), desde que as vendessem como vidro e não como cristal para evitar fraudes.
Quando a pasta de vidro transparente e incolor foi descoberta, as lentes tornaram-se acessíveis, portanto, o comércio de óculos pôde ultrapassar as fronteiras da lagoa veneziana pela primeira vez. De acordo com esses documentos registrados, pode-se pensar que em 1300 a arte de fazer óculos era uma prática comum.
Em seguida, os primeiros óculos foram feitos com lentes redondas biconvexas, para melhorar a visão para longe. Eles consistiam em duas lentes; cada um montado com um aro de metal ou de couro forjado, rebitados juntos na extremidade de cada alça. Eram segurados diante dos olhos com as mãos, para facilitar a leitura, mas ainda não havia como usá-los com segurança e firmeza.
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Ilustração - Primeiros óculos em uma pintura por Conrad von Soest. (Este trabalho está em domínio público em seu país de origem e em outros países e áreas onde o termo de direitos autorais é a vida do autor mais 100 anos ou menos.)

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

1215 - Elisabeth Bik, uma especialista em integridade científica

A holandesa Elisabeth Bik (foto) tem se dedicado a uma tarefa peculiar no meio científico: ela passa horas diante de seu computador, analisando centenas de estudos, atenta a falhas (intencionais ou acidentais) como duplicações ou adulterações de imagens, plágio, conflitos de interesse nos dados apresentados ou incongruências nas evidências científicas.
A microbiologista virou uma especialista em "integridade científica": na prática, isso consiste na análise (não remunerada) de milhares de estudos biomédicos, em busca de erros que possam comprometer seus resultados. Bik também tem um trabalho pago, de consultoria e palestras para universidades e centros de pesquisa, sobre como melhorar seus processos.
Faz pouco mais de um ano que Bik foi uma das cientistas a levantar preocupações sobre um estudo que ganharia proporções não previstas na época: tratava-se da pesquisa do instituto médico francês IHU-Méditerranée Infection, em Marselha, publicada inicialmente em março de 2020 com a afirmação de que "a cloroquina e a hidroxicloroquina eram eficientes contra o SARS-CoV-2", o vírus da covid-19.
Bik levantou questionamentos sobre a metodologia usada pelo estudo, que segundo ela prejudicam as conclusões, como:
  • Lapsos no cronograma: os dados apresentados no estudo não deixam claro qual foi o resultado do teste PCR dos pacientes na metade do estudo, como havia sido originalmente planejado. Isso despertou preocupações quanto a se dados potencialmente negativos poderiam ter sido omitidos.
  • Havia muitas diferenças entre os grupos de controle (ou seja, pessoas que não foram tratadas com hidroxicloroquina) e o grupo de pacientes do estudo, o que dificulta a comparação entre ambos e, portanto, os resultados da pesquisa.
  • Embora o estudo tenha começado com 26 pacientes, termina apresentando dados de apenas 20 deles. Dos seis faltantes, três haviam sido transferidos para a UTI, um morreu e dois abandonaram a medicação. "É como dizer 'meus resultados são incríveis se eu tiro as pessoas em que eles se saíram muito mal'. É claro que (o estudo) parece ótimo (se você tira os pacientes que morreram), mas não é honesto fazer isso", diz Bik à BBC News Brasil.
  • Um dos autores é também editor-chefe do periódico onde o estudo foi publicado, o International Journal of Antimicrobial Agents. "Isso pode ser percebido como um enorme conflito de interesses, em particular ao lado de um processo de revisão de pares (quando cientistas revisam o estudo de seus colegas) que durou menos de 24 horas", escreveu Bik na época. "É o equivalente a permitir que um estudante dê a nota de seu próprio trabalho escolar."
A principal lição tirada por Bik de 2020, ano em que tanta pesquisa foi feita, é de que "normalmente, estudos médicos levam muito tempo. Um bom projeto costuma levar ao menos um ano ou vários anos para ser concluído, então qualquer coisa pesquisada em poucas semanas em uma pandemia não vai ter a melhor qualidade, embora seja necessária - em uma emergência, você quebrar as regras, porque todos estão esperando por respostas. Mas aprendemos que a ciência rápida não é necessariamente a melhor ciência".
Extraído de: Covid-19: a cientista 'detetive' que acendeu alerta sobre hidroxicloroquina, BBC News

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

1214 - A invenção da seringa hipodérmica

O médico escocês Alexander Wood é amplamente reconhecido como o inventor da seringa hipodérmica dos dias modernos. Wood pode não ter tido muita noção da importância de sua invenção na década de 1850. Mas sua criação — uma seringa toda de vidro com êmbolo e agulha de orifício fino — se tornaria um dispositivo médico tão simbólico quanto o estetoscópio.
As seringas, de uma forma ou de outra, existem pelo menos desde a época do médico grego Hipócrates no século 5 a.C. As primeiras versões eram rudimentares. Feitas a partir de bexigas de animais, tubos ou penas, eram amplamente usadas para irrigação — a prática de limpar ou lavar uma ferida ou corpo — ou enemas (lavagem que injeta água no intestino). No século 11, um oftalmologista egípcio usou a primeira ferramenta semelhante à seringa hipodérmica para remover cataratas. Mas somente em meados do século 17 que os primeiros experimentos confirmados de injeção intravenosa foram realizados.
Em experimentos com cães em 1656, o britânico Christopher Wren — mais conhecido como arquiteto — injetou drogas nos cachorros usando uma bexiga de animal presa a uma pena de ganso oca. Ele injetou ópio, álcool e crocus metallorum (emético, indutor do vômito, do século 17) em cães diferentes", explica a anestesista Christine Ball, curadora honorária do Museu Geoffrey Kaye de História da Anestesia em Melbourne, na Austrália.
Como era de se esperar, o primeiro foi dormir, o segundo ficou muito bêbado e o terceiro bem morto.
Em meados do século 19, a medicina começou a se concentrar em um sistema mais eficiente de administração de medicamentos. Em 1844, o cirurgião irlandês Francis Rynd inventou o que foi indiscutivelmente a primeira agulha oca do mundo. Mas era um dispositivo que usava a gravidade para fazer o líquido fluir e envolvia romper a pele com uma ferramenta conhecida como trocarte.
Em 10 anos, no entanto, surgiu a versão moderna da agulha hipodérmica.
Em 1853, o médico Alexander Wood, nascido em Fife, na Escócia, adicionou um êmbolo e desenvolveu a primeira seringa totalmente de vidro (fig. 1) que permitia aos médicos estimarem a dosagem com base na quantidade de líquido observada através do vidro. Sua primeira paciente foi uma mulher de 80 anos que sofria de uma forma de neuralgia. Preocupado em aliviar a dor local, ele injetou nela 20 gotas de solução vínica de morfina (morfina dissolvida em vinho xerez) na parte do ombro onde a dor era mais forte. Na sequência, ela adormeceu profundamente, mas depois se recuperou.
A invenção de Wood coincidiu, ao que tudo indica completamente por acaso, com a criação no mesmo ano de um instrumento semelhante pelo cirurgião francês Charles Pravaz.
Mas, enquanto o dispositivo de Wood era feito de vidro e apresentava um êmbolo, a invenção de Pravaz (fig. 2) era composta em grande parte por prata e usava um parafuso que precisava ser girado para empurrar o medicamento para dentro do corpo.
O Royal College of Physicians de Edimburgo (RCPE) diz que há duas razões pelas quais Wood, um dos ex-presidentes da organização, deve receber o crédito em vez de Pravaz.
"Em primeiro lugar, Wood testou sua nova seringa usando-a para injetar remédio (morfina) em uma paciente, enquanto Pravaz testou a sua numa ovelha. Portanto, a eficácia do método de Wood era mais clara", explica Daisy Cunynghame, gerente de biblioteca e patrimônio do RCPE. "Em segundo lugar, Pravaz morreu antes de publicar suas descobertas — enquanto Wood publicou sobre sua descoberta."
A agulha hipodérmica dos dias modernos mudou muito pouco em relação ao design de Wood. A principal diferença está no material de que a seringa é feita — mais plásticos descartáveis, menos vidro e metal —, mas, fora isso, o design permanece praticamente inalterado. A dosagem precisa que é necessária para muitos medicamentos, incluindo vacinas, só foi possível com a invenção de Wood.