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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

1379 - Esteatose hepática

A esteatose hepática uma enfermidade complexa que afeta até 25% da população mundial.
Originada por uma combinação de fatores genéticos, metabólicos e ambientais, esta patologia pode aparecer em todas as idades, mas é mais prevalente em adultos de meia-idade, idosos e em pacientes com fatores de risco como obesidade e diabetes, quadros que duplicam sua incidência. O consumo de bebidas alcoólicas tem, por sua vez, um efeito potencializador na progressão do problema.
A doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica pode causar inflamação hepática, dano celular e acúmulo de tecido cicatricial no fígado, resultando no surgimento de esteatose hepática não alcoólica, fibrose hepática e até cirrose em estágio avançado.
Apesar de se tratar de uma das doenças crônicas mais comuns, os sintomas podem ser vagos e inespecíficos, o que dificulta o diagnóstico. Alguns pacientes apresentam fadiga, mal-estar abdominal, dor no hipocôndrio direito e, em casos mais avançados, icterícia. No entanto, em muitos casos são assintomáticos.
Atualmente, existem algoritmos diagnósticos baseados na avaliação de parâmetros analíticos indicativos do risco da doença hepática que podem confirmar a doença por meio da ultrassonografia.
Obesidade, resistência à insulina, dietas ricas em gorduras e em carboidratos refinados são algumas das causas desta patologia e de outras doenças hepáticas cujas taxas só crescem, e a detecção precoce pode ajudar a implementar mudanças no estilo de vida. Entre elas, limitar o consumo de álcool, seguir uma dieta saudável e realizar exercícios regularmente, bem como controlar as comorbidades associadas, como a obesidade e o diabetes, que podem contribuir para a progressão da enfermidade.
Sem um tratamento disponível, os especialistas recomendam controlar os fatores de risco e adotar um estilo de vida saudável para reduzir o acúmulo de gordura no fígado e evitar o progresso da doença. Segundo a SEEN, em alguns casos, a perda de peso significativa e a reversão dos fatores de risco podem influenciar parcialmente o dano hepático.
Por isso, a Dra. Elena González, endocrinologista da Sociedad Española de Endocrinología y Nutrición, destacou algumas recomendações nutricionais baseadas na dieta mediterrânea, que reduzem a gordura hepática, exercem um efeito anti-inflamatório e melhoram a sensibilidade hepática à insulina, independentemente do exercício e da perda de peso.
"É recomendável limitar o consumo de carnes pouco saudáveis (carnes gordurosas e processadas) e de carboidratos refinados, especialmente em refrigerantes e sucos de fruta, que têm maior índice glicêmico e devem ser substituídos por fontes de carboidratos com baixa carga glicêmica", concluiu.
Este conteúdo foi traduzido de Univadis.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

1220 - O excesso de óbitos no Brasil durante a atual pandemia

- O excesso de óbitos busca identificar o diferencial do número de óbitos por causas naturais durante a pandemia em comparação com os óbitos esperados para o mesmo período. O acompanhamento deste instrumento complementa a análise da mortalidade nas regiões, permitindo verificar os efeitos de causas diretas e indiretas da Covid-19, bem como apontar indícios de diferenciais de subnotificação dos óbitos por Covid-19 entre as localidades.

- A análise isolada da taxa de mortalidade por Covid-19 se mostra incompleta, por não incorporar os efeitos diretos e indiretos da pandemia, bem como desconsiderar as diferentes capacidades de identificação de óbitos por Covid-19 entre as localidades. O cálculo do Excesso de Óbitos, ao comparar o total de óbitos por causas naturais com o que seria esperado para determinada localidade, leva em consideração as diferenças populacionais de gênero e pirâmide etária, bem como suplanta o problema da subnotificação.

- A metodologia de excesso de óbitos consiste em subtrair de um total de óbitos observado uma quantidade de óbitos estimada para obter uma quantidade de óbitos além do esperado para um período específico. Esta quantidade de óbitos que supera o que seria esperado é denominada de excesso de óbitos.

- Ao se relacionar a quantidade de óbitos em excesso com o total de óbitos esperados tem-se o excesso proporcional de óbitos, uma medida do percentual de óbitos que superou o que já seria esperado.

- Para produzir essa estimativa de óbitos, a Vital Strategies projeta, a partir dos dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade do DATASUS) de 2015 a 2019, um total de óbitos esperados para 2020 e 2021. Os óbitos destes ano têm como fonte os dados do Portal da Transparência do Registro Civil.

- De posse desse número, calcula-se o excesso de óbitos por semana epidemiológica, levando-se em consideração gênero, idade e localidade de óbito:

Excesso de Óbitos = Óbitos observados – Óbitos esperados

Datas consideradas nesta atualização:
- Excesso de Óbitos: 15 de Março de 2020 a 31 de Julho de 2021 (Fonte: Vital Strategies)
- Taxas de Mortalidade: 23 de Agosto de 2021 (Fonte: Ministério da Saúde)

No Brasil
Taxa de Mortalidade por Covid-19 (por 100 mil hab.): 274
Óbitos esperados: 1.688.945
Excesso de Óbitos: 664.543
Óbitos por Covid-19: 556.370
Excesso Proporcional de Óbitos - Acumulado: 39,3%
Excesso Proporcional de Óbitos acumulado por período (2020): 25%
Excesso Proporcional de Óbitos acumulado por período (2021): 60%

Fontes
http://admin-planejamento.rs.gov.br/upload/arquivos/202108/25181623-excesso-de-obitos-rs-2021-08-25.pdf
http://www.conass.org.br/indicadores-de-obitos-por-causas-naturais/

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

1113 - Alerta sobre o Álcool

"É interessante que a espécie humana tenha uma reserva da enzima necessária para tornar o álcool inofensivo ao corpo - como se a natureza nos fizesse para beber álcool. Ao contrário dos animais, para os quais o álcool é um veneno".
- BUPA News, 1982, citado por Richard Gordon, Great Medical Mysteries, 2014

Metabolismo do Álcool: Uma Atualização


Beber pesadamente coloca as pessoas em risco de muitas consequências adversas à saúde, incluindo alcoolismo, danos ao fígado e vários tipos de câncer. Mas algumas pessoas parecem estar em maior risco do que outras para desenvolver esses problemas. Por que algumas pessoas bebem mais que outras? E por que algumas pessoas que bebem desenvolvem problemas, enquanto outras não?
Pesquisas mostram que o uso de álcool e problemas relacionados ao álcool são influenciados por variações individuais no metabolismo do álcool, ou a maneira pela qual o álcool é quebrado e eliminado pelo corpo. O metabolismo do álcool é controlado por fatores genéticos, como variações nas enzimas que destroem o álcool; e fatores ambientais, como a quantidade de álcool que um indivíduo consome e sua nutrição geral. Diferenças no metabolismo do álcool podem colocar algumas pessoas em maior risco de problemas com álcool, enquanto outras podem estar pelo menos um pouco protegidas dos efeitos nocivos do álcool.
Este Alerta sobre o Álcool descreve o processo básico envolvido na quebra do álcool, incluindo como subprodutos tóxicos do metabolismo do álcool podem levar a problemas como doença hepática alcoólica, câncer e pancreatite. Este Alerta também descreve populações que podem estar em risco particular de problemas resultantes do metabolismo do álcool, bem como pessoas que podem ser geneticamente "protegidas" desses efeitos adversos.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

1054 - Melioidose no Ceará (2)

A melioidose é uma doença infecciosa, potencialmente letal, cujo agente etiológico é a bactéria Burkholderia pseudomallei, encontrada em solo e água contaminados.
A doença é pouco conhecida no Brasil e se manifesta de forma semelhante a muitas outras doenças infecciosas, o que dificulta seu diagnóstico. A doença possui uma alta taxa de letalidade e exige o diagnóstico precoce e início de tratamento imediato como redutores desse risco.
Epidemiologia e distribuição geográfica
O maior número de casos de melioidose é relatado na Tailândia, Malásia, Cingapura e Norte da Austrália. Fora do Sudeste Asiático e da Austrália, casos foram relatados em países da América Latina inclusive Brasil, países da África e do Oriente Médio.
Mundialmente, há estimativas que no ano de 2015 tenham ocorrido 165 mil casos (intervalo de confiança de 68 a 412 mil casos), com uma taxa de incidência de cinco casos para cada 100 mil habitantes de áreas de risco. Ainda em 2015, segundo a mesma estimativa, ocorreram 89 mil casos de óbitos por melioidose (intervalo de confiança de 36 mil a 227 mil óbitos).
No Brasil, os primeiros casos foram identificados em março de 2003, no município de Tejuçuoca, estado do Ceará, quando um surto ocorreu com quatro crianças irmãs. Esse surto apresentou alta letalidade e três crianças evoluíram para óbito em consequência de sepse e pneumonia grave, num intervalo de apenas sete dias. A investigação epidemiológica identificou o fato de que a provável infecção ocorreu por exposição à água durante banho numa barragem.
Desde então, novos casos da doença vêm sendo detectados no Ceará, onde, até junho de 2016, 29 casos foram confirmados em 17 diferentes municípios. Além do Ceará, há registro isolado da doença nos Estados de Mato Grosso e Alagoas.
Agente etiológico, habitat e reservatório
A Burkholderia pseudomallei, um bacilo Gram-negativo, móvel, anaeróbio facultativo, não formador de esporos e que pertence à família Pseudomonadaceae. A bactéria B. pseudomallei é intrinsecamente resistente aos agentes antimicrobianos comumente utilizados em infecções comunitárias. A letalidade da melioidose pode ser superior a 70% quando o tratamento não é específico e precoce.
Além dos seres humanos, muitas espécies animais são suscetíveis à melioidose, incluindo: ovelhas, cabras, suínos, equinos, cães, gatos e bovinos.
Os seres humanos e os animais adquirem a infecção por inoculação por meio da pele ou mucosas, inalação de partículas aerossolizadas do solo e água, ingestão de água ou alimentos contaminados com terra. A inoculação em pele é a principal forma de contaminação nos trabalhadores rurais dos países em desenvolvimento, porém a inalação da bactéria durante fenômenos climáticos extremos também deve ser considerada. A transmissão pessoa a pessoa é extremamente rara com poucos casos descritos.
Incubação, susceptibilidade e imunidade
O período entre a exposição à bactéria que causa a doença e o surgimento de sintomas, ou seja, de incubação, pode ser de um dia até muitos anos após a exposição.
Não há evidências de que a infecção por B. pseudomallei garanta imunidade duradoura.
Manifestações clínicas
A melioidose é uma infecção difícil de diagnosticar, porque tem manifestações clínicas muito diversificadas, sendo considerada uma "imitadora espetacular" de outras infecções já consagradas na literatura médica. A infecção pode ser aguda ou crônica e localizada ou disseminada, mas uma forma da doença pode progredir para a outra.
A pneumonia (RX de tórax, ao lado) é a forma de manifestação mais comum da melioidose e pode ocorrer em metade de todos os casos. O acometimento pulmonar pode se apresentar desde um quadro indiferenciado de pneumonia com febre alta, cefaleia, mialgia generalizada, dor torácica, associada ou não à tosse seca, até pneumonia necrotizante fulminante e choque séptico. Uma vez instalado o choque séptico, a letalidade é bastante elevada e os pacientes podem evoluir para óbito dentro de 48 horas após a hospitalização. A presença de derrame pleural não é comum, embora efusão e empiema possam ocorrer, especialmente quando há comprometimento de lobos pulmonares inferiores.
A melioidose deve ter diagnóstico diferencial com todas as formas de tuberculose, principalmente quando não há resposta ao tratamento tuberculostático iniciado empiricamente ou em pacientes com culturas negativas para micobactéria, repetidas várias vezes e que continuam com a sintomatologia.
Outras formas de apresentação clínica: abscessos superficiais e profundos em qualquer órgão; linfadenite; infecção osteoarticular (osteomielite, artrite séptica); infecção geniturinária;infecção do SN (abscesso cerebral, meningoencefalite) etc.
Diagnóstico
O diagnóstico é laboratorial e realizado através do isolamento da Burkholderia pseudomallei por meio de cultura microbiológica obtida de sangue, escarro, urina, secreções de feridas ou abscessos, líquor, lavado brônquico ou outros espécimes clínicos disponíveis. Exames de biologia molecular como a Reação em Cadeia Polimerase (PCR) também são utilizados para confirmação diagnóstica. Ainda deverão ser realizados exames complementares para o acompanhamento clínico do paciente.
Tratamento
Apesar de ser uma infecção adquirida na comunidade, a melioidose não responde aos antibióticos que são comumente utilizados nessas situações. Quando há suspeição diagnóstica ou diagnóstico microbiológico da doença, o paciente deve ser tratado com medicação específica. O tipo de infecção e o curso do tratamento terão impacto sobre os resultados em longo prazo. O tratamento geralmente é iniciado por via intravenosa com terapia antimicrobiana durante 10-14 dias, seguido de 3 a 6 meses de terapia antimicrobiana oral na tentativa de prevenir recidiva. O tratamento deve ser o mais precoce possível para reduzir a elevada letalidade da doença. Ressalta-se a importância da coleta de espécimes clínicos para a realização de exames microbiológicos antes da antibioticoterapia.
O manejo clínico do paciente está descrito nas páginas 23 - 25 do Guia de Vigilância da Melioidose da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará.
Webgrafia
https://www.cdc.gov/melioidosis/index.html
http://erj.ersjournals.com/content/22/3/542
http://www.sbmt.org.br/portal/wp-content/uploads/2017/09/MELIODOSE-Guia-de-Vigil%C3%A2ncia_2017.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC104685/
http://revistapesquisa.fapesp.br/2016/01/12/doenca-infecciosa-melioidose-e-mais-difundida-do-que-se-pensava/
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/online/doenca-rara-e-com-alta-letalidade-registra-dois-casos-no-ceara-1.1752851
http://blogdopg.blogspot.com/2010/12/melioidose-no-ceara.html?showComment=1531635096439#c8947539768631346584
A B. pseudomallei é um agente potencial de bioterrorismo motivo pelo qual houve um aumento importante no interesse e compreensão da biologia básica do microrganismo e investimento em pesquisas nas últimas décadas.