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sexta-feira, 14 de abril de 2023

1303 - O caráter translacional da pesquisa de Carlos Chagas

(Bom para o dia 14 de abril, no qual é celebrado o Dia Mundial da Doença de Chagas.)
Nascido em 9 de julho de 1878 no município de Oliveira (Minas Gerais), Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (1878-1934) se tornaria um dos nomes mais proeminentes da história da medicina não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Com uma trajetória brilhante e dedicada à Saúde Pública, ele foi o primeiro cientista no mundo a descrever completamente uma doença infecciosa (patógeno, vetor, hospedeiros, modo de transmissão, manifestações clínicas etc.), a Doença de Chagas. Um feito que, no dizer da Dra. Simone Petraglia (Fiocruz), reforça o caráter translacional do trabalho desenvolvido por este grande vulto da medicina brasileira.
A pesquisa translacional envolve um processo conhecido por translação do conhecimento, no qual o foco da investigação científica na área da saúde adquire um fluxo de informação bidirecional entre as pesquisas básica e clínica, resultando em uma aplicabilidade real do conhecimento e de novas tecnologias, melhorando a aplicação clínica de novos conceitos terapêuticos, e, finalmente, proporcionando benefícios diretos aos principais interessados neste processo: os pacientes. 
Carlos Chagas chegou a ter o nome indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia, como confirma Nils Ringertz, secretário da Comissão para o Nobel de Medicina ou Fisiologia, do Instituto Karolinska, em Estocolmo, Suécia.
Dizem que o Nobel de 1921 seria dele, mas não o deram (nem a ninguém, ficou vago) por oposição de brasileiros influentes, dentre os quais, a de um médico.
À época, o maior crítico de Carlos Chagas era o médico Júlio Afrânio Peixoto.
Deu na seção "Há 100 anos" da Folha de SP:
[imagem não disponível] 
Controvérsias
Abordando a vida e a obra de Carlos Chagas, em "Doença de Chagas: a Polêmica na ANM e as Especulações sobre o Prêmio Nobel" (subtema de um simpósio ocorrido na Academia Nacional de Medicina, em 2019), o Dr. Paulo Gadelha (Fiocruz), ao analisar as discussões ocorridas na Academia Nacional de Medicina, destacou como principais personagens o próprio Dr. Carlos Chagas, Miguel Couto, Júlio Afrânio Peixoto, Clementino Fraga e Paulo de Figueiredo Parreiras. Segundo o Dr. Paulo Gadelha, essas discussões estiveram centradas em três eixos: do saber (paternidade da descoberta, contribuições de outros pesquisadores etc.); do poder (Instituto de Manguinhos e a Saúde Pública) e da ética (apropriação da descoberta, ocultação de trabalhos de colaboradores e criação de uma "epidemia imaginária"). Além desses fatos, também esteve em discussão a imagem do Brasil que, despontando como uma nação receptora de imigração, poderia sofrer com a associação a "um país de doentes".
Também foram abordadas as especulações sobre o Prêmio Nobel, que ganharam força após o grande destaque recebido por Carlos Chagas na Exposição de Dresden (1911) e da concessão do Prêmio Schaudinn em 1912. No entanto, após análise dos registros históricos, apresentados, o Dr. Paulo Gadelha ressaltou que não existem evidências que suportem a hipótese de que a oposição enfrentada por Carlos Chagas na Academia Nacional de Medicina tenha sido um dos motivos para ele não ter recebido a premiação. Destacou, ainda, a não existência de documentos que comprovem a especulação de que o Comitê Nobel tenha se dirigido a instituições brasileiras e que essas tenham desaconselhado a premiação.
Fonte: https://www.anm.org.br/vida-e-obra-de-carlos-chagas-sao-celebradas-em-simposio-na-academia-nacional-de-medicina/

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

1236 - A corrida para sequenciar o genoma humano

RANKER - Em 1998, o astuto cientista Craig Venter fundou o Institute for Genomic Research (mais tarde denominado Celera Genomics). Por que Craig Venter era assim considerado? Porque ele fundou o Instituto depois de contestar publicamente o Projeto Genoma Humano, financiado pelo governo, que ele achava que estava demorando muito para fazer o trabalho. Isso desencadeou uma disputa entre Venter e Francis Collins, chefe do Projeto Genoma Humano. Entre uma série de "diferenças de opinião" nos campos do genoma em guerra estava a premissa de que todas as informações mapeadas deveriam ser gratuitas e disponíveis ao público. [1]
O Instituto privado de Venter se opôs a esse princípio fundamental do Projeto de Collins. Os dois grupos mapearam febrilmente por alguns anos, e a corrida para sequenciar o genoma terminou amigavelmente - com ambos os lados anunciando a conclusão de seus rascunhos da sequência do genoma humano em 26 de junho de 2000. Posteriormente, o então presidente Bill Clinton e o primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair declararam que a corrida havia acabado e que "ambos os lados haviam vencido". [2]
Foto: Wikimedia Commons
Notas (extraídas de Why was there a race to sequence the human genome?)
[1] Craig sentiu que o Projeto Genoma Humano estava demorando muito, provando ser muito caro e que estava sendo prejudicado por discussões não essenciais, como quem levaria o crédito por ele. Ao formar sua própria equipe de sequenciamento do genoma humano, ele queria fazer o sequenciamento o mais rápido possível, usando métodos mais rápidos, mas talvez menos precisos, para acelerar a busca por curas de doenças. Craig Venter pretendia sequenciar e montar todo o genoma humano até 2001, e apenas disponibilizar as informações para clientes pagantes. Ele também planejava solicitar patentes preliminares em mais de 6.000 genes e patentes completas em algumas centenas de genes antes de liberar sua sequência.
[2] Bill Clinton e Tony Blair deram seu selo de aprovação ao comparecerem a conferências de imprensa em cada lado do Atlântico. Em 2000, a Celera e o Projeto Genoma Humano puderam publicar seus rascunhos de sequências do genoma humano. No entanto, em janeiro de 2002, Venter deixou o cargo de presidente da Celera Genomics à medida que esta avançava para o domínio farmacêutico. Enquanto isso, o Projeto Genoma Humano continuou seu trabalho, resultando no lançamento de sua sequência padrão ouro em 2003. Algumas pessoas pensam que foi por causa da competição da Celera Genomics que o esforço público para sequenciar o genoma humano se acelerou. No entanto, muitos discordam, pensando que o Projeto Genoma Humano sempre teve o empenho e a dedicação necessários para terminar antes do prazo e dentro do orçamento.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

795 - Fosfoetanolamina

Maiana Diniz, repórter da Agência Brasil
Grupo de trabalho vai estudar eficácia da fosfoetanolamina no combate ao câncer
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse hoje (29) que o ministério vai criar um grupo de trabalho para analisar a eficácia e a segurança da fosfoetanolamina na cura de casos de câncer, por meio de uma portaria com previsão de ser publicada amanhã (30), no Diário Oficial da União. “Vamos financiar e colocar os laboratórios públicos a disposição dos pesquisadores para chegarmos o quanto antes a um parecer final sobre essa substância”.
A fosfoetanolamina foi sintetizada pela equipe de pesquisadores chefiada por Gilberto Chierice, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, em São Carlos, há cerca de 20 anos, e ficou conhecida nas redes sociais como "pilula do câncer", pela suposta capacidade de destruir tumores malignos. O problema é que a substância não passou oficialmente pelas etapas de pesquisa exigidas pela legislação, que prevê uma série de estudos antes de um medicamento ser usado por seres humanos. (*)
Segundo o ministro, os donos da patente concordaram hoje, durante audiência pública no Senado, em cumprir as exigências científicas para determinar a eficácia da droga, e vão participar do grupo composto por representantes do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para a realização dos estudos clínicos, os pesquisadores terão o apoio do Instituto Nacional do Câncer e da Fiocruz.
Siga lendo esta notícia aqui:
http://agenciabrasil.ebc.com.br
(*) Drogas muito promissoras em estudos de laboratório e em animais têm uma notoriamente elevada taxa de insucesso em testes em humanos. "Nature"
A fosfoetanolamina é um composto químico orgânico presente no organismo de diversos mamíferos, convertido usualmente em outras substâncias que formam as membranas das células. Além dessa função estrutural, ela possui ainda uma função sinalizadora, ou seja, a de informar o organismo de algumas situações por que as células estão passando.

A fosfoetanolamina foi estudada em ratos com leucemia e apresentou resultados satisfatórios. Porém, estudos em humanos ainda não foram realizados para que a liberação de produção, a comercialização e o uso da droga sejam considerados seguros. A substância, por sua ação antiproliferativa, tem o potencial para ter uma função antitumoral (British Journal of Cancer (2013) 109, 2819–2828 | doi: 10.1038/bjc.2013.510).

terça-feira, 14 de abril de 2015

728 - Pneumocistose

A pneumocistose é uma infecção oportunista causada pelo fungo unicelular Pneumocystis jirovecii (antes referido como Pneumocystis carinii). Acomete, em geral, pessoas imunodeprimidas por AIDS, por alguns cânceres ou pessoas que estão sob algumas medicações que afetam o sistema imune.
Os sintomas da pneumocistose são febre, tosse seca (não produtiva, porque o escarro é muito viscoso para a tosse se tornar produtiva), dispneia, perda ponderal e suores noturnos. Além do pulmão, o fungo pode eventualmente invadir outros orgãos como o figado, o baço e os rins.
Suspeita-se da enfermidade na presença de febre e tosse seca em pacientes imunocomprometidos. Alterações pulmonares na radiografia de tórax, como infiltrados intersticiais difusos, uma desidrogenase lática aumentada no soro e uma hipoxemia mostrada pela gasometria arterial também reforçam a suspeita.
O diagnóstico é confirmado pela identificação do parasita (imagem) no escarro, em lavado brônquico ou em biopsia do parênquima pulmonar.
Pneumocystis jirovecii, formerly known as Pneumocystis carinii, is present in this lung impression smear, using Giemsa stain.Pneumocystis jirovecii, is found in the environment, as well as in the lungs of healthy humans and animals, causing disease in immunosuppressed individuals, and is arguably the most important cause of pneumonia in the immunocompromised host.
O tratamento é realizado com medicamentos específicos que atuam contra o microorganismo, classicamente o co-trimoxazol (trimetoprim-sulfametoxazo). É comum a administração concomitante de corticoterapia para atenuar a reação inflamatória. Outras medicações usadas, quer isoladamente quer combinadas, são a pentamida, a dapsona, a primaquina, a clindamicina, entre outras. O tratamento tem geralmente a duração de 21 dias.
Mesmo com o tratamento a doença tem uma letalidade entre 10 e 30 por cento. Para prevenir a sua recorrência, os doentes com AIDS em que a pneumonia por Pneumocystis foi tratada com êxito usam profilaticamente o co-trimexazol ou a pentadimina em aerossol.
Carta do pneumologista Carlos Alberto de Castro Pereira ao editor do Jornal Brasileiro de Pneumologia
Senhor Editor:
A surpresa está na página 1475 da edição 2004 do Current Medical Diagnosis and Teatment: Pneumocystosis (Pneumocystis jiroveci Pneumonia). Nas considerações gerais o autor do capitulo diz que o Pneumocystis carinii é um fungo que foi encontrado nos pulmões de uma variedade de animais selvagens e domesticados e que o Pneumocystis jiroveci, a espécie que afeta os humanos, é distribuída mundialmente. A fonte citada destas afirmações é um artigo de Stringer Jr e col, publicado em 2002.
Senhor Editor: P. carinii foi primeiramente descrito em 1909 por Carlos Chagas, que o confundiu com uma forma cística de Trypanosoma cruzi em um cobaio experimentalmente infectado com T. cruzi. Em 1910, o ítalo-brasileiro, Antonio Carini observou cistos semelhantes em ratos com tripanossomíase experimental, mas ele suspeitou que os cistos eram de um agente desconhecido. Ele enviou amostras a seu colega Laveran, do Instituto Pasteur, para exames. Em 1912, os estudantes de Laveran e Delanoe, encontram cistos semelhantes em ratos livres de Trypanossoma e chamaram o novo agente de P.carinii, em homenagem ao pesquisador brasileiro.
Senhor Editor: P. carinii foi inicialmente associado com pneumonia clínica em humanos logo após a Segunda Guerra Mundial em órfãos europeus desnutridos e submetidos a aglomerações. Daquela época até os anos 80, a pneumonia por P. carinii era incomum, ocorrendo primeiramente em pacientes imunocomprometidos por terapia para o câncer ou deficiências imunológicas congênitas. Sua incidência então subiu acentuadamente, coincidindo com o surgimento da AIDS.
Senhor Editor: Técnicas elaboradas de biologia molecular na última década, por análise de DNA, demonstraram que o Pneumocystis é um fungo, embora impar, não tendo ergosterol e sendo de difícil crescimento em cultura. Logo após a classificação apropriada do Pneumocystis, estudos adicionais de DNA mostraram que os Pneumocystis de diversas espécies são bastante diferentes, o que levou Frenkel em 1999 a propor o nome P.jiroveci, em homenagem ao parasitologista tcheco Otto Jirovec, a quem o autor credita a descrição do agente em humanos. O artigo de Stringer fortalece a sugestão de Frenkel, e o nome foi adotado por este popular livro de medicina.
Senhor Editor: Em uma carta à revista onde Stringer e cols sugeriram a mudança de nome, Walter T. Hughes, do Tennesee, questiona esta sugestão, com base em duas afirmações: 1) O arrazoado para a escolha de jiroveci não é convincente. O código Internacional de Nomenclatura Botânica afirma que a nomenclatura de um grupo taxonômico é baseada na prioridade de publicação e; 2) a publicação de Jirovec em 1952 não foi a primeira a relatar a infecção por P.carinii em pulmões humanos, o que foi feito em 1942 por dois investigadores alemães.
Continuemos com Antonio Carini. Lembram da recente discussão Santos Dumont vs irmãos Whight?
CAC Pereira
Jornal Brasileiro de Pneumologia
Print version ISSN 1806-3713
J. bras. pneumol. vol.30 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2004
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132004000100017

sábado, 17 de novembro de 2012

438 - CICLISMO. A discussão sobre os capacetes


Um denominador comum dos programas bem sucedidos de bicicleta ao redor do mundo - de Paris a Barcelona - é que quase ninguém usa um capacete, e não há pressão para que faça isso. Nos Estados Unidos, a noção de que os capacetes promovem a saúde e a segurança, evitando lesões nas cabeças dos ciclistas, é tido como muito próximo de uma verdade de Deus. Assim, ciclistas sem capacetes são considerados irresponsáveis como as pessoas que fumam. E as cidades estadunidenses em geral são agressivas na promoção dos capacetes.
Mas, muitos especialistas em saúde europeus vêm tendo uma visão diferente. Sim, há estudos que mostram que, se você cair de uma bicicleta em uma determinada velocidade e bater com a cabeça, um capacete pode reduzir o risco de lesão grave no crânio. Mas tais quedas de bicicletas são menos comuns do que se pensa em sistemas organizados de ciclismo urbano.
Por outro lado, muitos pesquisadores dizem que, se as pessoas são forçadas a usar capacetes, também são desencorajadas a andar de bicicleta. Isso significa mais obesidade, mais doenças cardíacas e mais diabetes. E, com menos menos ciclistas nas ruas, menos interesse em criar ou ampliar ciclovias.
As cidades mais seguras para bicicletas são lugares como Amsterdã e Copenhague, onde os ciclistas de meia-idade são em grande número e o uso dos capacetes é pequeno.
"Forçar a usar capacetes, especialmente em programas de compartilhamento de bicicletas, cria uma sensação de perigo injustificável para o ciclismo que traz tantos benefícios para a saúde", diz Piet de Jong, professor do departamento de Finanças Aplicadas e Estudos Atuariais da Universidade Macquarie, em Sydney. Ele estudou o assunto com modelagem matemática e concluiu que os benefícios podem superar os riscos por 20 a 1.
Ele acrescenta: "Estatisticamente, antes de usar capacetes para andar de bicicleta, talvez devêssemos usá-los para subir escadas ou tomar banho porque há muito mais lesões durante estas atividades." E a Federação Europeia de Ciclistas afirma que ciclistas e pedestres apresentam o mesmo risco de lesão grave por milha percorrida.
No entanto, nos Estados Unidos, a National Highway Traffic Safety Administration recomenda que "todos os ciclistas usem capacetes, não importa por onde estejam andando", como diz Dr. Jeffrey Michael, funcionário da referida agência.
A experiência recente sugere que, caso uma cidade queira que o compartilhamento de bicicletas realmente decole, ela tem  que aceitar o uso opcional do capacete. O programa de compartilhamento de bicicletas em Melbourne, na Austrália - onde o uso de capacete é obrigatório - tem apenas cerca de 150 utilizações por dia, apesar de Melbourne ser plana, com ruas largas, e ter clima temperado. Por outro lado, a cidade de Dublin - fria e montanhosa - tem mais de 5.000 passeios diários em seu programa. E a Cidade do México, para pôr em funcionamento o seu programa de compartilhamento de bicicletas, revogou recentemente a sua lei do capacete obrigatório. Nos Estados Unidos, há muita discussão a respeito de uma mudança na atual orientação.
Extraído do artigo To Encourage Biking, Cities Lose the Helmets, The New York Times