quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

1288 - Novos potenciais benefícios da vitamina B12

O potencial benefício das vitaminas é um tema sempre em alta. Novos achados sugerindo que a vitamina B12 possa ter um papel protetor contra a doença de Parkinson, a progressão da esclerose lateral amiotrófica e a gravidade da esteatose hepática, recentemente aumentou o interesse dos leitores do Medscape sobre o tema.

No International Congress of Parkinson's Disease and Movement Disorders (MDS) 2022, pesquisadores apresentaram resultados de um estudo feito com mais de 80.000 mulheres e quase 50.000 homens. A análise avaliou informações sobre alimentação, suplementação e ingestão total de ácido fólico, vitamina B6 e vitamina B12 ao longo de cerca de 30 anos até 2012. Durante o acompanhamento, 495 mulheres e 621 homens foram diagnosticados com doença de Parkinson. Os pesquisadores ajustaram por possíveis fatores de confusão como idade, ano, tabagismo, atividade física, ingestão de bebidas alcoólicas ou cafeína, uso de hormônios (mulheres), ingestão de laticínios e flavonoides, e pontuação na dieta mediterrânea. Eles encontraram uma relação significativa entre o consumo durante o intervalo de 20 anos e o diagnóstico da doença de Parkinson. De modo geral, os resultados respaldam um possível efeito protetor do consumo precoce de vitamina B12 em termos da ocorrência da doença de Parkinson.

Em outro estudo do início de 2022, foi considerado que a administração de uma dose ultra-alta de metilcobalamina (uma forma ativa de análogo da vitamina B12) diminuiu em 43% o declínio funcional de pacientes com esclerose lateral amiotrófica em estágio inicial. A dose de 50 mg foi administrada duas vezes por semana por via intramuscular. No estudo de fase 3, a eficácia foi maior para os participantes que também estavam tomando riluzol, que foi aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA para tratar a esclerose lateral amiotrófica. O estudo foi feito com pacientes ambulatoriais de 25 centros de neurologia no Japão com diagnóstico (definitivo ou provável) de esclerose lateral amiotrófica e cujos sinais e sintomas haviam iniciado no ano anterior. Após 12 semanas de observação, os 130 participantes que permaneceram ambulatoriais e tiveram apenas uma redução de um ou dois pontos na pontuação total da Revised Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale (ALSFRS-R) foram designados para um tratamento com 16 semanas de duração. A diferença na escala de classificação funcional da esclerose lateral amiotrófica revista entre o medicamento ativo e o placebo foi de 43% em todos os pacientes e de 45% nos pacientes em uso de riluzol.

Outro estudo constatou que a vitamina B12 e o ácido fólico também podem desempenhar algum papel na prevenção ou no retardo da progressão da doença na esteatoepatite não alcoólica (NASH, do inglês NonAlcoholic SteatoHepatitis).Em modelos pré-clínicos, os pesquisadores descobriram que complementar a alimentação com vitamina B12 e ácido fólico aumenta os níveis de sintaxina hepática 17, restaura o seu papel na autofagia e diminui a progressão da esteatoepatite não alcoólica, revertendo a inflamação e a fibrose hepáticas.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

1287 - Os cinco estágios do luto

A psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross foi convidada por estudantes para participar de um projeto de pesquisa do Seminário Teológico de Chicago. Por meio de discussões a respeito das crises humanas escolheram a morte como tema de estudo, por ser ela a experiência mais complexa e desafiadora.
Foram levantados dados sobre esse tema por meio de entrevistas com pacientes em fase terminal. Durante a realização do estudo surgiram muitas questões e ela observou nos relatos que apareciam algumas situações comuns aos pacientes, sendo elencados pela autora como os cinco estágios ou atitudes diante da morte e do morrer.
  • O primeiro estágio é marcado pela negação e o isolamento, onde o paciente nega aquele diagnóstico e isola-se como forma de evitar as comunicações que poderiam acabar com sua negação.
  • O segundo estágio é a raiva, quando não é mais possível manter a negação do diagnóstico. Diante da nova realidade o paciente pergunta indignado: “Por que isto foi acontecer comigo”?
  • A autora segue relatando os estágios e o terceiro é a barganha. Após a revolta com Deus e com as pessoas, a nova tentativa é barganhar ou tentar adiar o inevitável. Na maioria das vezes as barganhas são feitas com Deus.
  • O quarto estágio é a depressão. Nesse estágio já não se pode mais negar, e a revolta e a raiva cederão lugar a um sentimento de grandes perdas. A depressão é um instrumento na preparação da perda eminente para facilitar o estado de aceitação.
  • O quinto e último estágio é a aceitação. Ele pode ser visto como uma fuga de sentimentos. Seria como se a luta tivesse cessado e fosse chegando o momento de repouso, preparação para o descanso final.
Esses estágios têm uma duração variável, podendo um substituir o outro ou encontrar-se. O único fator que acompanha na maioria das vezes todos os estágios é a esperança de encontrar alguma cura ou produto para estancar a morte em curso.
A morte no dicionário da filosofia, por Bárbara Figueiredo. Academia Médica.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

1285 - O mundo grisalho

Toda pessoa com mais de 60 anos é um idoso, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Criada em 1948, com o objetivo principal de garantir que todas as pessoas do planeta tenham acesso ao mais elevado nível de saúde, a OMS (que é ligada à Organização das Nações Unidas, a ONU) classifica o processo de envelhecimento hunano em quatro estágios:
- meia-idade, de 45 a 59 anos;
- idoso, de 60 a 74;
- ancião, de 75 a 90;
- velhice extrema, acima de 90 anos.
No Brasil, é a Lei nº 10.741/2003 que reconhece a idade de 60 anos como a passagem para essa fase da vida e que instituiu, no dia 1º de outubro, o "Estatuto do Idoso", destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Desde que entrou em vigor, este estatuto já foi alterado em mais de 20 pontos, por 11 leis. Uma das mais recentes, de 2017, deu prioridade especial no atendimento a idosos que tenham a partir de 80 anos.
Ilustração de Luciano Luz / Instituto Envelhecer


Arquivo
73 - Vacinação em idosos
580 - Que é envelhecer?
842 - Saúde dom idoso
980 - A confusão mental dos idosos
1131 - Kane Tanaka e os supercentenários
1138 - O direito do paciente hospitalar a ter acompanhante

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

1284 - O que é o jet lag

O jet lag é a síndrome da mudança de fuso horário, ou seja, é a alteração do ritmo biológico de 24 horas consecutivas que ocorre após mudanças do fuso horário em longas viagens de avião. Caracteriza-se por problemas físicos e psíquicos, especialmente do ciclo do sono, decorrentes de alterações dos níveis hormonais de hidrocortisona.
Trata-se de uma condição fisiológica resultante de alterações no ritmo circadiano (distribuição dos períodos de sono-vigília em um ciclo de 24 horas) provocadas por uma viagem, geralmente em aviões a jato (daí o nome em inglês: jet, redução de jet plane, "avião a jato"; e lag, "atraso, retardo"), atravessando vários fusos horários. Em consequência, após a viagem, o relógio interno (relógio biológico) não estará ajustado ao horário local. Ocorre então um distúrbio do transitório sono.
Causa
Quando uma pessoa viaja entre vários fusos horários, o horário do seu relógio biológico não é igual ao do local de destino. Os períodos de vigília e de repouso, assim como a regulação hormonal, deixam de corresponder ao ciclo dia-noite do ambiente. Desde o momento da sua chegada ao destino até a adaptação ao horário local, a pessoa estará sofrendo um jet lag.
A rapidez em que o corpo se ajusta ao novo horário varia de pessoa para pessoa. Enquanto algumas pessoas demoram muitos dias para se adaptar ao novo horário, outras demoram poucas horas para fazê-lo.
A condição não depende da duração do voo, mas da distância leste-oeste (ou oeste-leste) viajada. Por exemplo, num voo entre Frankfurt e Joanesburgo, a rota está marcada na mesma zona de fuso horário e, portanto, a viagem não provoca jet lag, enquanto um voo de Nova Iorque a Los Angeles pode causá-lo.
Sintomas
Dentre os sintomas do jet lag, estão principalmente as alterações do sono e a dificuldade em criar um horário certo para dormir ou para fazer refeições. Porém, a pessoa também pode apresentar sintomas como mal estar, diarreia, náuseas, dores de cabeça, ansiedade e irritabilidade.
Como evitar
Para evitar os sintomas do jet lag, é recomendável que a pessoa durma bem antes da viagem e, alguns dias antes, tente se adaptar ao fuso horário de destino, fazendo pequenas mudanças em sua rotina como nos horários das refeições e de dormir. Evite as bebidas alcoólicas durante o voo e procure não ficar deitado e/ou sentado o tempo todo durante a viagem.
Ler também: 

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

1283 - Casos misteriosos de doença com uma causa incomum

Christoph Renninger (Medscape)
8 de agosto de 2022
Em 2021, em estados americanos distantes uns dos outros, surgiram numerosos casos de melioidose (doença de Whitmore), alguns com desfecho fatal. Qual é o fator comum que liga todos os afetados? Assim começa a busca por provas.
Sem relações ou jornadas comuns
Entre março e julho de 2021, casos da doença infecciosa bacteriana surgiram na Geórgia, Kansas, Minnesota e Texas, com a doença sendo fatal para dois dos afetados. Normalmente, os casos de melioidose ocorrem nos Estados Unidos após viajar para regiões onde o patógeno é prevalente. No entanto, nenhum dos pacientes havia realizado qualquer viagem internacional anterior.
Quando os genomas das cepas bacterianas (Burkholderia pseudomallei) foram sequenciados, eles mostraram um alto nível de concordância, sugerindo uma fonte comum de infecção. A cepa bacteriana é semelhante àquelas encontradas principalmente no Sudeste Asiático. Um produto importado de lá foi levado em consideração como gatilho.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) examinaram amostras de sangue dos pacientes, bem como amostras do solo, água, alimentos e utensílios domésticos em suas casas.
Spray de aroma como um gatilho
Em outubro, a causa da melioidose foi finalmente identificada na casa do paciente da Geórgia: um spray de aromaterapia. A impressão digital genética da cepa bacteriana combinava com a dos outros pacientes. O gatilho comum foi assim descoberto.
O spray contaminado, com aroma de lavanda e camomila para perfumaria de ambientes, foi vendido entre fevereiro e outubro em algumas filiais do Walmart, bem como em sua loja online. O produto foi, portanto, recolhido e verificado se os ingredientes também estavam sendo usados ​​em outros produtos.
O CDC solicitou aos médicos que também levassem em consideração a melioidose se fossem apresentados a infecções bacterianas agudas que não respondessem aos antibióticos normais e que perguntasse se o spray de ambiente afetado havia sido usado.
Mais informações sobre a melioidose
A melioidose é uma doença infecciosa que afeta humanos e animais. O gatilho é a bactéria B pseudomallei . A doença aparece predominantemente em regiões tropicais, especialmente no Sudeste Asiático e no norte da Austrália.
Transmissão
A bactéria pode ser encontrada em água e solo contaminados. É disseminado entre humanos e animais através do contato direto com a fonte infecciosa, como inalação de partículas de poeira ou gotículas de água, ou através do consumo de água ou alimentos contaminados. A transmissão de humano para humano é extremamente rara. Recentemente, no entanto, peixes tropicais de água salgada foram identificados como potenciais portadores.
Sintomas
A melioidose tem uma ampla gama de sintomas, o que pode levá-la a ser confundida com outras doenças, como tuberculose ou outras formas de pneumonia. Existem diferentes formas da doença, cada uma com sintomas diferentes.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

1282 - Anúncio do Hospital de Messejana na década de 1930


É uma propaganda ("reclame") do SANATÓRIO DE MESSEJANA, à época em que era dirigido pelos fundadores, os Drs. Otávio Lobo, Pedro Sampaio e Lineu Jucá. Inaugurado em 1.º de maio de 1933, no próximo ano essa importante instituição estará completando 90 anos. 
É hoje o HOSPITAL DE MESSEJANA DR. CARLOS ALBERTO STUDART GOMES.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

1281 - Equação de Drake aplicada à pandemia da covid-19

A Universidade Johns Hopkins, nos EUA, tornou-se referência mundial durante a pandemia, ao compilar os dados globais da covid-19 que estavam sendo usados pela imprensa e pelas autoridades de saúde. Mas uma equipe da Escola de Engenharia da mesma universidade acreditou que seria possível ir bem mais longe do que apenas compilar os dados do que já aconteceu. 
Como se tinha mostrado extremamente difícil prever as ondas da pandemia e os efeitos das diversas medidas adotadas para tentar conter a disseminação da doença, Rajat Mittal e seus colegas foram buscar uma ferramenta que poucos pensariam em utilizar para questões de saúde pública.
A ferramenta é a famosa Equação de Drake, uma fórmula matemática de sete variáveis que o astrônomo Frank Drake desenvolveu em 1961 para estimar a probabilidade de encontrar vida alienígena inteligente na Via Láctea. 
Quanto aos ETs, diversas interpretações dessa equação já deram resultados indicando que existem 36 civilizações inteligentes na Via Láctea ou que, se você não acredita em ETs, está contra as probabilidades. Mas Mittal e seus colegas decidiram aplicar a metodologia para calcular as chances de uma pessoa ser contaminada pela covid-19 pelo ar.
"Ainda há muita confusão sobre as vias de transmissão da covid-19. Isso ocorre em parte porque não há uma 'linguagem' comum que facilite o entendimento dos fatores de risco envolvidos," disse Mittal. "O que realmente precisa acontecer para alguém se infectar? Se pudermos visualizar esse processo de forma mais clara e quantitativa, poderemos tomar melhores decisões sobre quais atividades retomar e quais evitar."
Mas o risco de se infectar depende muito das circunstâncias. Por isso, o modelo da equipe ampliou a Equação de Drake de sete para dez variáveis de transmissão, incluindo as taxas de respiração das pessoas infectadas e não infectadas, o número de gotas transportadoras do vírus expelidas, o ambiente circundante e o tempo de exposição.
A equação não dá respostas diretas e fáceis. Dependendo do cenário, a previsão de risco da pandemia pode variar muito. Mas, dados os mesmos parâmetros, a comparação entre situações pode ser útil.
Considere o caso de uma academia, por exemplo. A imprensa tem falado exaustivamente que fazer exercícios em uma academia pode aumentar suas chances de pegar covid-19, mas quão arriscado é realmente? "Imagine duas pessoas em uma esteira na academia; ambas respiram com mais dificuldade do que o normal. A pessoa infectada está expelindo mais gotas e a pessoa não infectada está inalando mais gotas. Nesse espaço confinado, o risco de transmissão aumenta em 200 vezes," citou o pesquisador.
A equipe destacou que o modelo pode ser útil para quantificar o valor do uso de máscaras e do distanciamento social. Se ambas as pessoas - contaminada e não contaminada - estiverem usando máscaras N95, o risco de transmissão é reduzido por um fator de 400, ou seja, menos de 1% de chance de pegar o vírus. Mas mesmo uma máscara simples de tecido reduz significativamente a probabilidade de transmissão, de acordo com o modelo.
A equipe também descobriu que o distanciamento social tem uma correlação linear com o risco. Se você dobrar a distância, você dobra o fator de proteção, ou reduz o risco pela metade.
Ajuste dos parâmetros
Como acontece com a previsão da existência de civilizações alienígenas e com a maioria dos modelos de covid-19, algumas variáveis são conhecidas e outras ainda são um mistério. Por exemplo, ainda não sabemos quantas partículas do vírus SARS-CoV-2 inaladas são necessárias para desencadear uma infecção. Variáveis ambientais, como vento ou sistemas de ar-condicionado também são difíceis de especificar com precisão.
"Com mais informações, é possível calcular um risco bem específico. De maneira mais geral, nosso objetivo é apresentar como todas essas variáveis interagem no processo de transmissão," disse Mittal. "Acreditamos que nosso modelo pode servir como base para estudos futuros que irão preencher essas lacunas em nosso entendimento sobre a covid-19 e fornecer uma melhor quantificação de todas as variáveis envolvidas em nosso modelo."
DOI: 10.1063/5.0025476

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

1280 - Quanto tempo uma pessoa sobrevive sem respirar?

Uma vez que a respiração em nível celular continue ocorrendo, enquanto houver oferta de oxigênio suficiente nos pulmões, mesmo sem o contato com o ar atmosférico, os seres pulmonados podem sobreviver em apneia durante alguns minutos. Os seres humanos, em média, suportam 2–3 minutos sem respirar. Alguns atletas especialistas conseguem ultrapassar os 5 minutos, mantendo a lucidez.
Os mergulhadores Bajau, da Indonésia, que passam muito tempo no oceano caçando criaturas marinhas (peixes, polvos e crustáceos), podem passar até 13 minutos debaixo d'água - sem equipamento de mergulho! Tempo esse que rivaliza com o tempo das lontras marinhas, que podem ficar submersas até 13 minutos de cada vez.
Houve uma adaptação evolutiva nos povos Bajau, que apresentam baços 50% maiores do que os dos indonésios que nâo têm o mesmo estilo de vida aquático. Os baços são importantes no mergulho porque liberam oxigênio no sangue quando a pessoa prende a respiração embaixo d'água.
https://sciencetrends.com/this-group-of-diving-people-have-evolved-larger-spleens-to-spend-more-time-underwater/
Atualmente, o recorde mundial de apneia estática (maior tempo de mergulho parado sem respirar) pertence ao suiço Peter Colat, que em 17 de Setembro de 2011, se tornou o ser humano com o maior tempo de apneia, com 21 minutos e 33 segundos sem respirar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

1279 - De mongolismo a síndrome de Down

À primeira vista, é impossível deduzir da história dos mongóis qualquer justificativo da sua associação à síndrome de Down. Mas tanto em português (mongol, mongoloide*), como em inglês (mongol, mongoloid), em espanhol (mongólico) ou francês (mongole), os significados sobrepõem-se. De onde partiu então tal fusão, e o que fez com que o seu sentido permanecesse até os nossos dias?
Para responder estas questões, é necessário explorar a história da trissomia 21, que se inicia em 1860. Enquanto trabalhava no asilo de Royal Easlwood, na Grã-Bretanha, o doutor John Langdon Down começou a classificar os doentes psiquiátricos, então referidos como "idiotas", baseando-se nos trabalhos de Johann Blumenbach, que dividia a espécie humana em 5 raças (Astecas, Caucasianos, Malaios, Etíopes e Mongóis) de acordo com a descrição e proporções do crânio e face. Notou assim que um grupo tinha uma aparência característica e similar entre todos os indivíduos, e, utilizando um dos pacientes como modelo, escreveu em sua publicação "Observations on an ethnic classification of idiots": um grande número de idiotas congênitos são mongóis típicos. [...]
Na continuidade do seu legado, o seu filho, Reginald Down, era da opinião que a síndrome "devia ser uma regressão para um tipo ainda mais retrógrado que a raça mongol, de onde alguns etnologistas acreditam que todas as raças humanas se originaram". Esta declaração foi citada por Francis Graham Crookshank, epidemiologista britânico, em seu livro "The Mongol in Our Midst". O livro, considerado posteriormente "racismo científico", defendia que a "imbecilidade mongoloide", como chamou à síndrome, era um atavismo retrógrado para a raça mongol, que considerava mais primitiva. Como consequência, os “imbecis mongóis” eram uma raça à parte, diferentes dos outros homens e mulheres. Como argumentos da sua tese, Crookshank apresentou exemplos das características físicas e comportamentais supostamente partilhadas entre os "imbecis" e o povo mongol. No início do século XX, "mongolismo" tinha sido largamente adoptado como descritivo da trissomia 21.
Cariótipo de doente com síndrome de Down

Foi apenas em 1959, após Jérôme Lejeune descobrir uma cópia extra do cromossoma 21 no cariótipo dos portadores, que começou a ser sugerido o uso de um termo diferente de "mongoloide" ou "mongol". Geneticistas prestigiados, incluindo o próprio neto de John Down, Norman L. Down, elaboraram uma carta conjunta ao jornal médico The Lancet, insistindo que o termo era derrogatório para as etnias orientais, e apelando a um consenso sobre uma nova nomenclatura para a condição.
Também a Mongólia se envolveu nos pedidos de retificação. Depois de se tornar membro das Nações Unidas em 1961, juntou-se à Organização Mundial de Saúde em 1965, e requereu a redesignação do termo "mongoloide". A partir daí, a condição passou a ser oficialmente chamada síndrome de Down. É mais fácil compreender o prejuízo que esta associação de conceitos traz para mongóis e portadores da síndrome após conhecer a sua origem. Pessoas com a síndrome e mongóis, de igual modo, são rebaixados a uma categoria inferior, menos evoluída, a um erro de Darwin. [...]
Extraído de: Mongólia e os mongolóides, por Margarida Vieira Lisboa. Revista Frontal.
N. do E. 
* A grafia "mongolóide" foi alterada para "mongoloide" pelo Acordo Ortográfico de 1990.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

1278 - Criança fica presa pelos cabelos numa piscina de bolinhas

(Pietra Carvalho/Folhapress) Uma menina de 9 anos perdeu parte do cabelo após ficar presa a um brinquedo do Shopping Recife, no bairro de Boa Viagem. Segundo a família, ela teve os fios sugados por um exaustor na piscina de bolinhas da atração, que reúne também tobogãs, escorregadores e um pula-pula para as crianças que visitam o centro comercial montado na Praça de Eventos.
Semelhantes a ventiladores, exaustores são aparelhos utilizados para evitar superaquecimento, umidade, vapores, fumaça, mofo, odores e outros poluentes. Tallita Assunção, tia da menina ferida, relatou que um dos equipamentos estava instalado por baixo das bolinhas onde as crianças estavam brincando e que, em dado momento, a sobrinha acabou com as pontas dos fios presas ao fundo.
A menina passou cerca de 10 minutos com os cabelos presos ao exaustor, ainda segundo a familiar. A avó da criança, que a acompanhava no passeio, teria pedido ajuda dos funcionários que operavam a atração, mas acabou sendo a responsável por socorrer a própria neta, girando os fios que a prendiam ao aparelho para o lado oposto ao de sua rotação, enquanto as duas aguardavam a chegada dos bombeiros.
"Esse brinquedo, por mais inocente que pareça ser, é um perigo para as crianças. Como podem ver, existem cabelos presos no exaustor. Pois bem, meus caros, esses cabelos são da minha sobrinha. (...) Minha sobrinha passou cerca de 10 minutos sendo puxada por esse exaustor", detalhou Tallita nas redes sociais.
http://www.otempo.com.br/brasil/crianca-de-9-anos-fica-presa-pelos-cabelos-em-brinquedo-de-shopping-em-recife-1.2739838
Arquivo 

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

1277 - Primeiras cesáreas: no mundo, no Brasil e no Ceará

A primeira cesárea (no mundo) resultando em sobrevida foi feita na cidade de Praga em 1337. Aos 17 anos, a princesa Beatrice (de Bourbon) entrou em trabalho de parto, mas as dores lancinantes fizeram a delicada criatura desmaiar. Uma equipe médica, que cuidava da saúde de seu pai e estava no palácio real, foi chamada e resolveu retirar o menino que nasceu vivo. Após o abdômen ser fechado, para surpresa geral, a princesa acordou e viveu ainda por mais quarenta anos. O filho da parturiente feliz tornou-se o rei Venceslau da Boêmia. Essa data histórica foi comprovada por pesquisadores tchecos que encontraram relatos de conselheiros da Corte descrevendo o ato cirúrgico como um verdadeiro milagre. Antes desse achado, tinha-se como data inaugural da cirurgia heroica o ato realizado em 1500 por um veterinário prático na própria mulher na Suíça.

[...] em 1822, o médico José Correia Picanço realizou em Pernambuco a primeira cesárea em solo brasileiro.

No dia 21 de fevereiro de 1933 foi realizada a primeira cesárea em Fortaleza - Ceará, na Maternidade Dr. João Moreira, da Praça da Lagoinha. A equipe chefiada por Cesar Cals, médico de larga envergadura moral e profissional, contou com a ajuda dos colegas José Frota, José Deusdedit e Juvenil Hortêncio. Concluía-se assim o ciclo de excelência de nossa prática obstétrica e esse ato operatório teve grande importância social.

Fontes
Freitas, Mariano. Cinquenta Mil Mulheres. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2022
http://super.abril.com.br/historia/a-primeira-cesarea-da-historia (ilustração)

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

1276 - Prêmio Nobel 2022 em Fisiologia ou Medicina para Svante Pääbo, anunciou o Instituto Karolinska

Comunicado de imprensa
A Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska
decidiu hoje (03/10/2022) conceder
o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2022
para o cientista sueco Svante Pääbo
por suas descobertas sobre os genomas de hominídeos extintos e a evolução humana

A humanidade sempre foi intrigada por suas origens. De onde viemos e como nos relacionamos com aqueles que vieram antes de nós? O que nos torna, Homo sapiens, diferente de outros hominídeos?
Por meio de sua pesquisa pioneira, Svante Pääbo realizou algo aparentemente impossível: sequenciar o genoma do Neandertal, um parente extinto dos humanos atuais. Ele também fez a descoberta de um hominídeo anteriormente desconhecido, o Denisova. É importante ressaltar que Pääbo também descobriu que a transferência de genes ocorreu desses hominídeos agora extintos para o Homo sapiens após a migração para fora da África há cerca de 70.000 anos. Esse antigo fluxo de genes para os humanos atuais tem relevância fisiológica hoje, por exemplo, afetando como nosso sistema imunológico reage a infecções.
A pesquisa seminal de Pääbo deu origem a uma disciplina científica inteiramente nova; paleogenômica. Ao revelar diferenças genéticas que distinguem todos os humanos vivos de hominídeos extintos, suas descobertas fornecem a base para explorar o que nos torna exclusivamente humanos. De onde nós viemos?
A questão de nossa origem e o que nos torna únicos tem engajado a humanidade desde os tempos antigos. A paleontologia e a arqueologia são importantes para os estudos da evolução humana. A pesquisa forneceu evidências de que o humano anatomicamente moderno, Homo sapiens, apareceu pela primeira vez na África há aproximadamente 300.000 anos, enquanto nossos parentes mais próximos, os neandertais, se desenvolveram fora da África e povoaram a Europa e a Ásia Ocidental de cerca de 400.000 anos até 30.000 anos atrás, ponto em que foram extintos. Há cerca de 70.000 anos, grupos de Homo sapiens migraram da África para o Oriente Médio e, de lá, se espalharam pelo resto do mundo. Homo sapiens e os neandertais coexistiram em grande parte da Eurásia por dezenas de milhares de anos. Mas o que sabemos sobre nosso relacionamento com os extintos neandertais? As pistas podem ser derivadas de informações genômicas. No final da década de 1990, quase todo o genoma humano havia sido sequenciado. Este foi um feito considerável, que permitiu estudos posteriores da relação genética entre diferentes populações humanas. No entanto, estudos da relação entre os humanos atuais e os extintos neandertais exigiriam o sequenciamento de DNA genômico recuperado de espécimes arcaicos.[...]
Paleogenômica e sua relevância
Através de sua pesquisa inovadora, Svante Pääbo estabeleceu uma disciplina científica inteiramente nova, a paleogenômica . Após as descobertas iniciais, seu grupo concluiu análises de várias sequências genômicas adicionais de hominídeos extintos. As descobertas de Pääbo estabeleceram um recurso único, que é amplamente utilizado pela comunidade científica para entender melhor a evolução e a migração humana. Novos métodos poderosos para análise de sequência indicam que hominídeos arcaicos também podem ter se misturado com Homo sapiens na África. No entanto, nenhum genoma de hominídeos extintos na África ainda foi sequenciado devido à degradação acelerada do DNA arcaico em climas tropicais.
Graças às descobertas de Svante Pääbo, agora entendemos que sequências de genes arcaicos de nossos parentes extintos influenciam a fisiologia dos humanos atuais. Um exemplo é a versão denisovana do gene EPAS1, que confere uma vantagem para a sobrevivência em grandes altitudes e é comum entre os tibetanos atuais. Outros exemplos são os genes neandertais que afetam nossa resposta imune a diferentes tipos de infecções.
http://www.nobelprize.org/prizes/medicine/2022/press-release/
N. do T.
Valor do prêmio: 10 milhões de coroas suecas (cerca de 4,8 milhões de reais)
Em 1982, Sune Bergström, o pai de Svante Pääbo, também ganhou o Nobel de Fisiologia ou Medicina.




quinta-feira, 29 de setembro de 2022

1275 - A água da chuva não é mais potável?

A água da chuva não é mais potável em nenhum lugar do planeta.
A notícia apocalíptica do dia, no entanto, que é mencionada apenas de passagem nas notícias é que a água da chuva não é mais potável em nenhum lugar do mundo devido aos agentes químicos prejudiciais à saúde que ela contém . E não é que isso aconteça apenas perto de áreas habitadas e altamente poluídas; refere-se à água da chuva de todos os lugares, incluindo a Antártida, o último canto virgem do planeta.
Os dados vêm de um estudo intitulado "Outside the Safe Operating Space of a New Planetary Boundary for Per- and Polyfluoroalkyl Substances (PFAS)". Os PFAS também são conhecidos como "produtos químicos para sempre". No trabalho, os cientistas compararam os números atuais com os previstos e calcularam o valor planetário global; os resultados antecipam o desastre se as emissões e a produção de PFAS não forem reduzidas imediatamente.
Haverá água para beber, e o problema tem solução, mas não de forma natural, barata ou global.
Em outras palavras: a água deve ser profusamente purificada antes de consumi-la, e podemos gradualmente esquecer a pureza idílica da "água fresca da chuva recém caída do céu".
https://doi.org/10.1021/acs.est.2c02765

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

1274 - O que torna o açúcar viciante

Dr. Mark Hyman: 
Nossos hormônios, papilas gustativas e a química cerebral são todos sequestrados pelo açúcar. Não metaforicamente, mas biologicamente. Simplificando, você fica viciado, como faria com algumas das drogas mais mortais do planeta, com açúcar e qualquer coisa que se transforma em açúcar em seu corpo como a farinha branca.
Isso ocorre porque os alimentos não contêm apenas calorias ou energia para alimentar nossas células; comida contém informação. Quando comemos açúcar, aumenta a glicose no sangue e diz ao corpo para aumentar a insulina, a fim de transportar a glicose para as células. Porém, quando ingerimos açúcar constantemente e apresentamos a glicose sanguínea cronicamente alta desenvolvemos resistência à insulina, que é o predador do desenvolvimento de diabetes tipo 2. A resistência à insulina geralmente vem com aumento do armazenamento de gordura, pressão alta e um perfil de colesterol ruim. A insulina e o açúcar no sangue elevados promovem a inflamação e causam uma cascata hormonal que dificulta pensar com clareza, manter um peso saudável, um bom humor, ter um desejo sexual saudável e muito mais.
Em nosso cérebro, um pequeno receptor, o receptor de dopamina D2 (ou DRD2 para abreviar), deve ser ativado para que possamos sentir prazer. O aminoácido dopamina desencadeia essa resposta. Açúcar e outros vícios estimulantes aumentam a dopamina a curto prazo, e é isso que os torna viciantes. Alguns de nós somos mais propensos a isso geneticamente do que outros.
Extraído de: How to Quit Sugar Without Being Miserable
https://medium.com/wake-up-call/how-to-quit-sugar-healthy-diet-tips-fc5aee5e8cd0

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

1273 - A pediatria, seus recursos

A espécie humana tem apenas uma arma realmente eficaz: o riso. No momento em que o riso surge, toda nossa dureza se desfaz, toda nossa irritabilidade e ressentimentos desaparecem, e um espírito iluminado ocupa seu lugar. (Mark Twain)

Slideshow CHUPETAS

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

1272 - Neuromodulação bimodal para o zumbido

O zumbido é uma percepção auditiva fantasma codificada no cérebro que pode ser incômoda ou debilitante, afetando 10 a 15% da população. Não há tratamento universalmente eficaz para o zumbido. Conlon et al. estudaram os efeitos da neuromodulação bimodal usando um dispositivo que fornece estimulação elétrica para a língua e som para os ouvidos. Os participantes relataram redução da gravidade dos sintomas ao final de 12 semanas de tratamento, que persistiu por 12 meses. Os resultados recomendam a segurança e a utilidade potencial da neuromodulação bimodal para o zumbido.
http://doi.org/10.1126/scitranslmed.abb2830
Com o título de Homenagem ao Zumbido (Você está sempre comigo) alguém transcreveu uma percepção auditiva fantasma para a pauta musical. Não tenho conhecimento técnico para dizer se a partitura acima corresponde à realidade. Eu só sei tocar de ouvido.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

1271 - Talco e amianto

Subo nesse palco / minha alma cheira a talco / feito bumbum de bebê.
(Gilberto Gil) 
Talco é um mineral argiloso composto de silicato de magnésio hidratado com a fórmula química Mg3Si4O10(OH)2. Talco em pó, muitas vezes combinado com amido de milho, é usado como talco de bebê. Este mineral é usado como agente espessante e lubrificante. É um ingrediente em cerâmica, tinta e material de cobertura, e também o ingrediente principal em muitos cosméticos. A escala de dureza mineral de Mohs define o valor 1 para a dureza do talco, o mineral mais macio (outros: quartzo: 7; diamante: 10, o mineral mais duro).
Segurança
Suspeitas foram levantadas de que o uso de talco contribui para certos tipos de doenças, principalmente câncer de ovário e pulmão. De acordo com a IARC, o talco contendo amianto é classificado como agente do grupo 1 (carcinogênico para humanos), o uso de talco no períneo é classificado como grupo 2B (possivelmente carcinogênico para humanos) e o talco sem amianto é classificado como grupo 3 (inclassificável) quanto à carcinogenicidade em humanos). Análises da Cancer Research UK e da American Cancer Society concluem que alguns estudos encontraram uma ligação, mas outros não. A colocalização frequente de depósitos de talco com amianto pode resultar na contaminação do talco extraído com amianto branco, de modo a apresentar sérios riscos à saúde quando disperso no ar e inalado.
Portfólio
Uma investigação da Reuters, de 2018, afirmou que a empresa farmacêutica Johnson & Johnson sabia há décadas que havia amianto em seu talco de bebê. Em 2020, porque a demanda do produto havia caído pelo que chamou de "desinformação", e em meio a muitos processos judiciais, a empresa parou de vender seu talco de bebê nos EUA e no Canadá. Na época, a empresa disse que continuaria a vender seu talco para bebês no Reino Unido e no resto do mundo. Houve pedidos dos maiores acionistas da Johnson & Johnson forçando a empresa a encerrar as vendas globais de talco para bebês.
Finalmente: 
"Como parte de uma avaliação de portfólio mundial, tomamos a decisão comercial de fazer a transição para um portfólio de talco para bebês à base de amido de milho", afirmou a Johnson & Johnson em comunicado.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

1270 - Do prontuário médico tradicional e sua evolução até o prontuário eletrônico do paciente

A necessidade da existência de um documento no qual as informações relativas ao histórico de saúde do indivíduo fossem registradas não é recente. A palavra prontuário origina-se do latim promptuarium e significa "lugar onde são guardadas coisas de que se pode precisar a qualquer momento" ou "manual de informações úteis" ou, ainda, "ficha que contém os dados pertinentes de uma pessoa" (Houaiss, 2009).
Considera-se importante relatar um pouco da história do surgimento do prontuário médico tradicional (PMT) e sua evolução até os dias atuais com a criação do prontuário eletrônico do paciente (PEP).
O prontuário médico tradicional
A ideia de se ter um meio onde as informações fossem registradas para poderem auxiliar na continuidade do tratamento, da investigação da doença e no compartilhamento dessas informações, começou com Hipócrates no século V a.C. No século V a.C., Hipócrates estimulou médicos a fazerem registros escritos, dizendo que o prontuário tinha dois propósitos: (1) refletir de forma exata o curso da doença e (2) indicar as possíveis causas das doenças.
Massad, Marin e Azevedo (2003, apud Cristiane Rodrigues) explicam que o prontuário em suporte de papel já vinha sendo utilizado há muitos anos e revelam, ainda, que Florence Nightingale, precursora da Enfermagem Moderna, quando tratava feridos na Guerra da Crimeia (1853-1856), já relatava que a documentação das informações relativas aos doentes era de fundamental importância para a continuidade dos cuidados ao paciente, principalmente no que se refere à assistência de Enfermagem. 
É clássica a frase de Nightingale, quando observa a importância dos registros de saúde: "Na tentativa de chegar à verdade, eu tenho buscado em todos os locais, informações; mas, em raras ocasiões eu tenho obtido os registros hospitalares possíveis de serem usados para comparações. Estes registros poderiam nos mostrar como o dinheiro tem sido usado, o que de bom foi realmente feito com ele...". (Massad, Marin; Azevedo, 2003, p. 2).
O prontuário em suporte de papel, portanto, vem sendo utilizado há muito tempo. Até o início do século XIX, os médicos baseavam suas observações, e consequentemente suas anotações, no que ouviam, sentiam e viam e as observações eram registradas em ordem cronológica, estabelecendo assim o chamado prontuário orientado pelo tempo.
Massad, Marin; Azevedo (2003) relatam que William Mayo fundou em 1880, junto com um grupo de amigos, a Clínica Mayo em Minnesota nos Estados Unidos, onde foi observado com o passar dos anos, que a maioria dos médicos mantinha o registro de anotações das consultas de todos os pacientes em forma cronológica em um documento único - fato que dificultava o acesso às informações de um determinado paciente.
Detectada essa dificuldade, a Clínica Mayo adotou, em 1907, um registro individual das informações de cada paciente. As informações passaram a ser arquivadas separadamente e isso possibilitou uma melhor organização e arquivamento dos prontuários. Em 1920 a Clínica Mayo deu consideráveis passos no sentido de padronizar o conteúdo dos prontuários por meio do estabelecimento de um conjunto mínimo de dados a serem registrados.
O prontuário eletrônico do paciente
Os PEPs surgiram na década de 70, oriundos dos esforços em se estabelecer estruturas mínimas para os registros médicos ambulatoriais (Lovis et al., 2011).
O PEP surgiu não só para substituir o prontuário em papel, mas também para elevar a qualidade da assistência à saúde por meio de novos recursos e aplicações. Novaes (2003, p. 43) chama atenção para o fato de que, ao longo das últimas décadas, os prontuários deixaram de ser denominados "prontuários médicos" e passaram para "prontuários do paciente".
Os prontuários são instrumentos essenciais para o desenvolvimento das atividades de administração de qualquer unidade hospitalar, para os cuidados e atenção aos pacientes e ainda para subsidiar as pesquisas.
DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.18031 (Cristiane Rodrigues da Silva)
Links internos:

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

1269 - Mel alucinógeno

🐻Uma ursa marrom, que se intoxicou depois de comer um mel que causa efeitos alucinógenos, teve que ser resgatada em uma floresta na província de Duzce, no noroeste da Turquia.
"Mel louco", ou "deli bal" em turco, é um tipo de mel de rododendro, uma espécie de arbusto cujas flores pequenas e coloridas contêm uma toxina chamada graianotoxina no pólen e no néctar. Por isso, o mel produzido a partir dessas plantas é venenoso, podendo inclusive causar alucinações.
Usando esse tipo de mel como arma, Mitídrates venceu uma batalha contra os soldados de Pompeu, em 65 a.C., atrasando (embora não impedindo) a transformação do reino do Ponto em uma província romana. Nunca mais os romanos cometeriam esse erro em particular. Décadas mais tarde, o escritor Plínio, o Velho, ainda advertia sobre as "qualidades perniciosas do mel dourado do Mar Negro".
Link interno: 648 - O mel como arma
Quanto à ursa "chapada", foi levada a uma clínica veterinária, onde recebeu tratamento e, provavelmente, será solta na natureza nos próximos dias.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

1268 - Primeiros socorros por Mr. Bean

O famoso personagem do ator inglês Rowan Atkinson socorre um senhor que aparentemente sofreu um ataque cardíaco em uma parada de ônibus.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

1267 - Efeitos neuroprotetores da metformina

Um par de estudos sugere que a metformina pode ter benefícios neuroprotetores.
Um estudo pré-impresso, que ainda não foi revisto pelos especialistas, descobriu que o uso do medicamento provavelmente reduz o risco da doença de Alzheimer na população geral. O uso de metformina geneticamente aproximada equivalente a uma redução de 6,75 mmol/mol (1,09%) da hemoglobina glicada (A1c) foi associado a 4% menos chances de doença de Alzheimer (p =1,06 ˣ 10-4) em pessoas sem diabetes.
Outra revisão sistemática com metanálise dos dados longitudinais constatou que a metformina pode estar associada a uma diminuição mais ampla do risco de doença neurodegenerativa. Dados agrupados mostraram que o risco relativo associado ao início da doença neurodegenerativa foi de 0,77 (IC 95% de 0,67 a 0,88) para os pacientes com diabetes tomando metformina. O efeito foi maior com uso mais prolongado, com risco relativo de 0,29 (IC 95% de 0,13 a 0,44) para os que tomaram metformina durante quatro anos ou mais.
Saiba mais sobre metformina.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

1266 - A varíola dos macacos

A varíola dos macacos é causada por um vírus chamado Monkeypox (na imagem de microscopia / National Institute of Allergy and Infectious Diseases) que pertence ao gênero Ortopoxvírus da família Poxviridae.
O vírus é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados como roupas de cama. A doença também pode ser transmitida pelo contato com a pele durante o sexo, incluindo beijos, toques e sexo oral com alguém que tenha sintomas.
A transmissão, portanto, é basicamente através de lesões na pele, as quais são altamente infectantes. "Não precisa alguém pegar na lesão especificamente, o cumprimento de mãos, por exemplo, pode transmitir a doença", explica o médico infectologista Antônio Bandeira, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A OMS afirma que, embora o contato físico seja um fator de risco bem conhecido para a transmissão, não está elucidado - até o momento - como a varíola símia pode ser transmitida especificamente por via sexual.
Desde o início do surto, médicos e cientistas de diversos países buscam respostas para explicar por que o vírus tem conseguido, pela primeira vez, se espalhar de forma significativa fora da África e por quais os motivos ele tem afetado principalmente os homens que fazem sexo com homens.
Redes conectadas 
Entre as hipóteses discutidas pela comunidade científica está a possibilidade de o vírus ter entrado em circulação em redes sexuais interconectadas na comunidade HSH ("homens que fazem sexo com homens"), de onde está se espalhando de maneira mais eficiente.
Muitos – mas não todos os casos – relatam parceiros sexuais casuais ou múltiplos, às vezes associados a grandes eventos ou festas. 
O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias. Os sintomas incluem vesículas (pústulas) no rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais, febre, linfonodos inchados, dores de cabeça e musculares e falta de energia.
Como medidas de proteção, a OMS recomenda evitar contato próximo com qualquer pessoa que tenha sintomas.
Estigma e desinformação
É fundamental entendermos que a doença acomete qualquer pessoa.
No início da epidemia de HIV, na década de 1980, os casos de Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) foram associados aos homossexuais e a outros quatro grupos populacionais: hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e profissionais do sexo (hoockers), recebendo à época o nome de "Doença dos 5 H".
"Nós temos que ter todo o cuidado, toda a ponderação, para não criarmos fantasmas e preconceitos inaceitáveis depois que o mundo todo vem lutando, há décadas, para superar preconceitos que foram cristalizados, em determinados períodos, sobretudo em relação ao HIV", afirma o infectologista Rivaldo Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Fonte: Lucas Rocha, da CNN (26/07/2022)

quinta-feira, 21 de julho de 2022

1265 - Teste de equilíbrio monopodal

Conseguir se equilibrar em uma perna só pode ser um indicador de sobrevida.
Pesquisadores sabem há pelo menos meio século que o equilíbrio e a mortalidade estão conectados. Uma das razões para esse fato são as quedas. Mundialmente, cerca de 700 mil pessoas morrem por ano como resultado de uma queda, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, e mais de 37 milhões de quedas necessitam de atendimento médico anualmente. Entretanto, como indica o novo estudo, as quedas não são o único problema. Esse vídeo apresenta, sucintamente, um artigo científico liderado pelo Dr. Claudio Gil Araújo e publicado, como online first em 21 de junho de 2022 no British Journal of Sports Medicine, pelo grupo de pesquisa da CLINIMEX.
O estudo relaciona os resultados obtidos com o teste de equilíbrio monopodal de 10 segundos - completar ou não completar, seja com a perna direita ou esquerda - e o risco de mortalidade por todas as causas em 1702 indivíduos (68% homens) entre 51 e 75 anos de idade, acompanhados pelo período mediano de 7 anos.

O Dr. Claudio Gil e colaboradores trabalham com formas de melhorar o equilíbrio e a força à medida que as pessoas envelhecem. Além do teste de equilíbrio monopodal (ou unipodal), os pesquisadores já demonstraram que a capacidade de se levantar da posição sentada no chão (o teste de sentar e levantar,  TSL) também é um forte preditor de longevidade.
http://dx.doi.org/10.1136/bjsports-2021-105360
Prefixos: mono (do grego, preferível) e uni (do latim)

quinta-feira, 14 de julho de 2022

1264 - Mania principal: índio

Entre os imigrantes ucranianos que deram uma grande contribuição ao nosso país, figura o nome de Noel Nutels (1913-1973).
Em um depoimento à CPI do índio, em pleno regime militar em dezembro de 1968, o médico fez o seguinte desabafo:
"A essa hora alguém está matando um índio. É a cobiça da terra, é a cobiça do subsolo, é a cobiça das riquezas naturais. É um vício de estrutura econômica. Enquanto terra for mercadoria e objeto de especulação vai se matar índio."
Nutels é um personagem da saúde pública brasileira que notabilizou-se por rechaçar a naturalização do genocídio dos povos indígenas no Brasil. Judeu expulso de sua terra pela violência dos pogroms russos, Nutels que nasceu na cidade de Ananiev (na época Rússia, hoje Ucrânia) em 24 de abril de 1913.
Em 1920, sua família mudou-se para o Recife (PE) e, pouco depois, para o interior de Alagoas (na cidade de São José da Laje), onde o futuro médico concluiu o ensino básico.
Voltou para Pernambuco, em Garanhuns, para concluir sua formação escolar em um colégio católico e formou-se em Medicina em 1936, na Faculdade de Medicina do Recife, onde especializou-se em tuberculose, uma das doenças que mais vitimaram pessoas pobres no Brasil nesse período.
A saúde indígena foi a sua escolha, com destaque para a prevenção da tuberculose entre os povos originários do país, do Mato Grosso à Amazônia.
Avesso à burocracia e aos luxos comuns ao exercício da medicina no período em que viveu, Noel Nutels se embrenhou na floresta e no sertão para defender as populações indígenas e caboclas da tuberculose, malária, leishmaniose e varíola, que ameaçavam a sobrevivência desses povos.
Em um entrevista definiu-se:
"Noel Nutels, médico de saúde pública, eu não clinico, não tenho consultório. Fazia malária e agora faço tuberculose. Mania principal: índio."
Fonte: 
Arquivo: 

quinta-feira, 7 de julho de 2022

1263 - Quando os mitos médicos duram mais que as evidências

por Thomas R. Collins
Muitos médicos ainda mantêm crenças, apesar das evidências claras de que elas estão incorretas, disse um palestrante na reunião anual do American College of Physicians.
Esses dogmas duradouros – ou "mitos médicos" – foram inculcados durante a formação ou no início da carreira de muitos médicos, e dificilmente são superados, observou o médico Dr. Douglas Paauw, professor de medicina da University of Washington, nos Estados Unidos.
"Eu acho que os mitos persistem porque os médicos são ensinados de uma maneira na formação: aprendem uma 'verdade' ou 'Esta é a maneira como fazemos isso'. Então, nunca repensam: 'Isso é verdade?'”, disse o médico em uma entrevista. "Estudos surgem para questionar a sabedoria convencional, mas a menos que sejam amplamente divulgados, não são notados."
O Dr. Douglas disse que espera que os médicos reconsiderem as evidências regularmente ao decidir como tratar seus pacientes, em vez de confiar em dogmas.
"Eles ficam conosco", disse, "e às vezes há outras maneiras de fazer as coisas".
E o Dr. Shien Tze, especialista em medicina interna, disse que os pacientes às vezes também têm crenças equivocadas, baseadas em dogmas desatualizados, que precisam ser dissipadas.
"Eu tento convencê-los de que este é um mito que não se baseia em evidências, não se baseia na ciência", disse o médico. "Acho que depende da forma como você fala. Se você diz isso de uma maneira calma, firme, e não indecisa, os pacientes acreditam em você."
MDedge.com (ou https://portugues.medscape.com/verartigo/6507970)

Durante sua apresentação, o Dr. Douglas discutiu quatro do que ele considera ser alguns dos mitos médicos que mais precisam ser derrubados.
  1. Alergia a frutos do mar e meios de contraste
  2. Dogma da colonoscopia
  3. Metronidazol e álcool
  4. Cefaleia por sinusite

quinta-feira, 30 de junho de 2022

1262 - Impacto global do primeiro ano de vacinação COVID-19

A primeira vacina COVID-19 fora de um ambiente de ensaio clínico foi administrada em 8 de dezembro de 2020.
Em 23 de junho de 2022, The Lancet publicou um estudo de modelagem matemática sobre o impacto global do primeiro ano de vacinação COVID-19. Neste estudo, um modelo matemático de transmissão e vacinação de COVID-19 foi ajustado separadamente para a mortalidade por COVID-19 relatada e mortalidade por todas as causas em 185 países e territórios.
O impacto dos programas de vacinação COVID-19 foi determinado pela estimativa das vidas adicionais perdidas se nenhuma vacina tivesse sido distribuída.
Com base nas mortes oficiais relatadas por COVID-19, foi estimado que as vacinações evitaram 14,4 milhões mortes por COVID-19 em 185 países e territórios entre 8 de dezembro de 2020 e 8 de dezembro de 2021. Essa estimativa subiu para 19,8 milhões de mortes por COVID-19 evitadas quando usamos o excesso de mortes como estimativa da verdadeira extensão da pandemia, representando um redução global de 63% no total de mortes (19,8 milhões de 31,4 milhões) durante o primeiro ano de vacinação contra a COVID-19.
DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(22)00320-6
Arquivo
1220 - O excesso de óbitos no Brasil durante a atual pandemia (COVID-19)

quinta-feira, 23 de junho de 2022

quinta-feira, 16 de junho de 2022

1260 - Novos estudos sobre o café

A popularidade mundial do café significa que pesquisas/estudos a ele relacionados sobre questões preocupantes ou benefícios à saúde sejam de interesse geral. Novos achados sobre seus potenciais efeitos protetores  fizeram com que a bebida novamente se tornasse o tema clínico mais importante da semana. Um novo estudo no Kidney International Reports, bem como o material apresentado na sessão científica do congresso de 2022 do American College of Cardiology (ACC) oferece aos amantes do café uma razão para sorrir.
Os pesquisadores descobriram recentemente que os participantes que tomam qualquer quantidade de café por dia tiveram risco 11% menor de lesão renal aguda do que quem não toma café. O estudo foi feito com mais de 14.000 adultos do estudo Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC). Entre os participantes, 17% tomavam mais de três xícaras por dia, 23% tomavam duas a três xícaras por dia, 19% tomavam uma xícara por dia, 14% tomavam menos de uma xícara por dia e 27% nunca tomava café. A média de idade foi de cerca de 54 anos nesta coorte. Durante uma mediana de acompanhamento de 24 anos, foram notificados quase 1.700 incidentes de lesão renal aguda.
Na ACC 2022, três análises utilizando a coorte prospectiva UK Biobank do Reino Unido descobriram que o café pode ser cardioprotetor. Os participantes estavam em média no final da quinta década de vida. Os que informaram a tomada diária regular de duas a três xícaras de café tiveram risco significativamente menor de doença cardiovascular, doença coronariana, insuficiência cardíaca, arritmia e morte por qualquer causa em 10 anos.
As notícias recentes não eram todas boas para o café e para as preocupações em relação à saúde do coração. Um novo estudo populacional transversal constatou que o consumo de café expresso está associado a níveis mais elevados de colesterol total. Os resultados foram publicados on-line no periódico Open Heart.
Ainda assim, quando se trata de interpretar estes dados sobre colesterol e café, os especialistas dizem para evitar exageros. "Não me parece que os achados deste artigo sejam necessariamente suficientes para mudar qualquer orientação sobre o café", disse o médico Dr. David Kao, professor associado de medicina na University of Colorado Anschutz Medical Campus in Denver, nos Estados Unidos, comentando os achados. "Se for preciso escolher entre este estudo, que sugere tomar menos café para manter o colesterol baixo, e os outros, que sugerem que o aumento do consumo de café pode reduzir o risco de vários tipos de doença cardiovascular, deve-se escolher estes últimos", concluiu Dr. David.
Extraído de: Medscape, 7 de junho de 2022

quinta-feira, 9 de junho de 2022

quinta-feira, 2 de junho de 2022

1258 - Cigarro eletrônico x cigarro convencional

 A ANVISA está na fase final da elaboração de um relatório de análise do impacto regulatório sobre os cigarros eletrônicos. Mas, desde 2009, a comercialização, a importação e a propaganda desses dispositivos para fumar são proibidas no Brasil.

Com a perda de rendimento e a diminuição do número de fumantes nos últimos 10... 20 anos, em que saímos dos 30 milhões de fumantes para menos de 10 milhões no país, a indústria do tabaco passou a usar o recurso de investir no cigarro eletrônico, o qual contém nicotina, que é a mesma substância que vicia no cigarro convencional.

Para quê? Para que mais e mais pessoas, principalmente jovens, se tornem viciadas e assim a renda dessas empresas continuem intactas.

O cigarro convencional contém, entre outros componentes, o alcatrão, que concentra diversas substâncias cancerígenas. Mas há outros perigos no dispositivo eletrônico. Ele ainda é recente e não há uma quantidade suficiente de anos para o estudo. Para se ter uma ideia: o cigarro convencional levou 20 anos para se descubrir que era cancerígeno, que era viciante, e as indústrias do tabaco não deixavam que as pesquisas progredissem.

Quanto ao cigarro eletrônico já temos o conhecimento, desde 2019, de internações e mortes que lhe são relacionadas. O acetato de vitamina E, por exemplo, é uma substância muito perigosa, que causa uma pneumonite inflamatória. Há também substâncias gordurosas que, ao serem aquecidas e inaladas, causam uma pneumonia lipoídica. E, por conta de sua estrutura metálica, nós também sabemos da produção e do depósito de vapores de metais, sobre os quais ainda não temos o conhecimento de todos os malefícios para o pulmão.

O cigarro convencional tem 4.720 substâncias químicas por tragada. No cigarro eletrônico ainda não se conseguiu identificar a real quantidade das substâncias que são inaladas. É provável que não tenha o alcatrão, porém os vapores metálicos são tidos como substâncias cancerígenas. As pessoas que estão usando os vapers, podem estar apenas trocando o câncer por alcatrão pelo câncer por ligas metálicas.

O uso de cigarros eletrônicos aumentam em mais de 3 vezes a chance de alguém que nunca fumou experimentar o cigarro convencional. E pode elevar em 4 vezes a chance de desenvolver o vício de fumar. É uma falácia dizer que o uso do cigarro eletrônico pode reduzir o consumo do cigarro convencional, muito pelo contrário.

30/05/2022 - Dia Mundial sem Tabaco

quinta-feira, 26 de maio de 2022

1257 - Dados! Dados! Dados!

Sir Arthur Conan Doyle (22 de maio de 1859 - 7 de julho de 1930), escritor e médico escocês.
Ele foi um firme defensor da vacinação compulsória e escreveu vários artigos defendendo a prática. Seu detetive fictício, Sherlock Holmes, emula o cientista que pesquisa diligentemente os dados.
"É um erro capital teorizar antes de você ter todas as evidências. Isso influencia o julgamento." ("Um Estudo em Vermelho", 1887)
"Eu nunca adivinho. É um hábito chocante - destrutivo para a faculdade lógica." ("O Sinal dos Quatro",1890) 
"Uma vez eliminado o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade." ("Escândalo na Boêmia", 1891)
"Você vê, mas não observa. A distinção é clara." ("Escândalo na Boêmia", 1891) 
"Ainda não tenho dados. É um erro crasso formular teorias antes de se obter dados. Insensivelmente, começa-se a distorcer os fatos para atender às teorias, em vez de criar teorias para atender aos fatos." ("Escândalo na Boêmia", 1891)
"Dados! Dados! Dados!" ele gritou impaciente. "Eu não posso fazer tijolos sem barro." ("As Faias Cor de Cobre",1892)
Tradução: PGCS

quinta-feira, 19 de maio de 2022

1256 - A natureza probabilística da Medicina

Em Medicina, existe uma limitação poucas vezes confessada em consultório (porque isso quase que invariavelmente se traduz em demonstração de fraqueza): é que esse é um ofício de incerteza.
Neste fio, eu discorro sobre a natureza probabilística da Medicina. - José Alencar

A Medicina é uma ciência da incerteza porque:
1. Trabalhamos com incerteza na interpretação de exames
2. Trabalhamos com incerteza na interpretação da resposta dos pacientes às terapias
Vou explicar ambas.

1. Incerteza na interpretação de exames:
Nas mãos de um médico minimamente bem formado, a interpretação de um exame não é “positivo x negativo”, mas “verdadeiro x falso positivo, verdadeiro x falso negativo”.
Só isso já acrescenta uma camada de dificuldade maior à profissão.

Mas há outra camada ainda mais profunda: a maioria dos médicos acredita que “sensibilidade” e “especificidade”, duas características presentes em todos os testes da Medicina, são úteis para a interpretação de exames.

O problema disso é que, ao usar esses parâmetros, o médico não leva em consideração a clínica do paciente. É que, como expliquei diversas vezes, a interpretação de qualquer exame OBRIGATORIAMENTE tem que partir da probabilidade clínica da doença.

É literalmente impossível avaliar exames de outra forma que não seja essa. O que significa que “bateria de exames”, “check-ups”, exames solicitados antes da consulta, exames solicitados pelo paciente...
Tudo isso funciona muito pouco ou nada. Lamento ser eu a te dizer isso.

E uma limitação real da Medicina (e não do método) é que às vezes o médico simplesmente desconhece uma variável da fórmula: a probabilidade pré-teste.
De novo: essa é uma limitação da vida, não do método.
Não se justifica usar o método errado porque a vida te impõe um problema.

2. Incerteza na interpretação da resposta a tratamentos:
Na vida real, dificilmente pode-se dizer que houve cura de um paciente.
- A mortalidade de um infarto sem aspirina e sem reperfusão é de 13% e com eles é de 8%. Como saber se um sobrevivente não é um daqueles 87%?

- No NINDS 2, sem medicação, 39% dos pacientes com AVC melhoraram. Com medicação, 47%.
Se um paciente fica sem sequelas, como afirmar que foi o trombolítico que levou a esse desfecho e o paciente não seria um dos 39% que já ficaria bem?

- A probabilidade de morrer por coronavírus tem sido de 2,8% (no Brasil). Se alguém tomou ivermectina/cloroquina/qualquer bizarrice e se curou, como afirmar que foi a bizarrice que lhe curou? Como afirmar que ele não seria um dos 97,2% que sobrevivem?

A única forma de saber isso é com estudos científicos, como o dois primeiros exemplos em que se comprova que há uma REDUÇÃO DE PROBABILIDADES quando se usa o remédio.
Medicina de verdade é isso: uma arte das probabilidades.

A medicina é a ciência da incerteza e a arte da probabilidade.
A variabilidade é a lei da vida, e como duas faces não são iguais, não há dois corpos iguais e dois indivíduos não reagem e se comportam da mesma forma sob as condições anormais que conhecemos como doença.
Quanto maior a ignorância, maior o dogmatismo.
A dúvida é o travesseiro do médico.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

1255 - O perigo do sistema de sucção de uma piscina

Uma criança não deve se aproximar de um orifício de sucção de uma piscina, especialmente em uma grande piscina coletiva onde a bomba de sucção costuma ser potente.
Se um dreno não tiver uma grade de proteção, por exemplo, é um perigo potencial.
A criança pode ficar presa debaixo d'água, sugadas pelos buracos. Sem falar nos casos, felizmente muito raros, de crianças que sentaram em bueiros e foram evisceradas pelo ânus.
Os cabelos compridos também podem ser sugados por esses sistemas de sucção, como no caso mostrado neste vídeo.

Os mesmos perigos também existem em banheiras de hidromassagem.
Portanto, é necessário ensinar as crianças a ter cuidado com esses sistemas de sucção que, muitas vezes, podem parecer divertidos. E sempre ficar de olho nelas, é claro.
Arquivo
208 - Escalpelamentos na Amazônia
541 - Campanha Nacional de Combate ao Escalpelamento
1141 - Escalpelamento pelo kart

quinta-feira, 5 de maio de 2022

1254 - Dispositivo "worm-on-a-chip" na detecção precoce do câncer de pulmão

SAN DIEGO, 20 de março de 2022 – Os cães podem usar seu incrível olfato para farejar várias formas de câncer na respiração humana, sangue e amostras de urina. Da mesma forma, no laboratório, um organismo muito mais simples, o verme C. elegans, abre caminho em direção às células cancerígenas seguindo um rastro de odor. Hoje, os cientistas apresentam um dispositivo que usa os minúsculos vermes para detectar células de câncer de pulmão. Esse "worm-on-a-chip" pode um dia ajudar os médicos a diagnosticar o câncer de forma não invasiva em um estágio inicial.
O diagnóstico precoce do câncer é fundamental para o tratamento eficaz e a sobrevivência, diz Nari Jang, estudante de pós-graduação que trabalhou no projeto. Portanto, os métodos de rastreamento do câncer devem ser rápidos, fáceis, econômicos e não invasivos. Atualmente, os médicos diagnosticam o câncer de pulmão por exames de imagem ou biópsias, mas esses métodos geralmente não conseguem detectar tumores em seus estágios iniciais. Embora os cães possam ser treinados para farejar câncer humano, eles não são práticos para manter em laboratórios.
Então, Jang e Shin Sik Choi, Ph.D., investigadores principais do projeto, decidiram usar esses vermes nematóides com ~ 1 mm de comprimento, fáceis de cultivar em laboratório e que têm um olfato extraordinário, para desenvolver um teste de diagnóstico de câncer não invasivo.
"As células de câncer de pulmão produzem um conjunto de moléculas de odor diferente do das células normais", diz Choi, da Universidade de Myongji, na Coréia. "É bem conhecido que o nematóide do solo, C. elegans, é atraído ou repelido por certos odores, então tivemos a ideia de que este poderia ser usado para detectar câncer de pulmão". Os pesquisadores colocaram nematóides em placas de Petri e adicionaram gotas de urina humana, observando que os vermes rastejavam preferencialmente em direção a amostras de urina de pacientes com câncer.
Jang e Choi queriam fazer um teste preciso e fácil de medir. Então, a equipe fez um chip de elastômero de polidimetilsiloxano que tinha uma câmara em cada extremidade conectado por canais a uma câmara central. Os pesquisadores colocaram o chip em uma placa de ágar. Em uma extremidade do chip, eles adicionaram uma gota de meio de cultura de células de câncer de pulmão e, na outra extremidade, adicionaram um meio de cultura de fibroblastos pulmonares normais como controle. Em seguida,  colocaram vermes na câmara central e, depois de uma hora, observaram que mais vermes haviam rastejado em direção ao meio de câncer de pulmão do que ao meio de controle.
Com base nesses testes, os pesquisadores estimaram que o dispositivo era cerca de 70% eficaz na detecção de células cancerosas em meio de cultura celular diluído. Eles esperam aumentar a precisão e a sensibilidade do método usando vermes que foram previamente expostos a meio de células cancerígenas e, portanto, têm uma "memória" das moléculas de odor específicas do câncer. Uma vez que a equipe otimizou o "worm-on-a-chip" para detectar células de câncer de pulmão em cultura, eles planejam passar a testar urina, saliva ou até mesmo respiração exalada de pessoas.
Em outros estudos usando o "worm-on-a-chip", os pesquisadores identificaram as moléculas odoríferas específicas que atraem o C. elegans para células de câncer de pulmão, incluindo um composto orgânico volátil chamado 2-etil-1-hexanol, que tem um aroma floral. "Não sabemos por que C. elegans são atraídos por tecidos de câncer de pulmão ou 2-etil-1-hexanol, mas achamos que os odores são semelhantes aos aromas de seus alimentos favoritos", diz Jang.
Fonte: American Chemical Society

quinta-feira, 28 de abril de 2022

1253 - 15.º Relatório sobre Carcinógenos

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS) divulgou o 15.º Relatório sobre Carcinógenos em 21 de dezembro de 2021. É um documento de saúde pública com base científica e exigido pelo Congresso que o National Toxicology Program (NTP) preparou para o secretário do HHS. Este relatório cumulativo agora inclui 256 substâncias — agentes químicos, físicos e biológicos; misturas; e circunstâncias de exposição – que são conhecidas ou razoavelmente previstas como causadoras de câncer em seres humanos.
Veja abaixo o relatório e sua lista de substâncias. Além disso, confira o Painel de Exploração de Dados, que fornece um detalhamento visual fácil de entender de todas as substâncias listadas no documento e seus cânceres associados.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

1252 - Produtos cosméticos radioativos

O elemento químico rádio foi descoberto em 1898 por Marie e Pierre Curie. Naqueles dias, porém, as pessoas não tinham idéia sobre seus efeitos nocivos. De fato, as pessoas encaravam esse metal luminoso como uma cura médica - algo que, de alguma forma poderia melhorar tudo.
Não demorou muito para que as pessoas começaram a usar o rádio em produtos domésticos, como batom, chocolate (na Alemanha), tônicos e até em relógios. No entanto, logo se descobriu que muitas pessoas que consumiam rádio para aumentar sua vitalidade ou beleza estavam desenvolvendo efeitos colaterais horríveis e permanentes ou morrendo. Isso finalmente fez o público perceber que colocar rádio em tudo não era a resposta.
Em 1938, a Lei de Medicamentos, Cosméticos e Alimentos proibia embalagens enganosas que tornavam o Radithor e outros produtos com rádio (imagem) comercializáveis nos EUA.
http://www.tudoporemail.com.br/content.aspx?emailid=15812&readmore=true
Arquivo
1187 - O Radithor
1210 - "Les Petites Curies"

quinta-feira, 14 de abril de 2022

1251 - Se este título for engraçado, você vai me citar?

Impactos de citação de humor e outras características de títulos de artigos em ecologia e evolução
B. Heard , Chloe A. Cull , Easton R. White
https://doi.org/10.1101/2022.03.18.484880
Resumo
Títulos de artigos científicos desempenham um papel fundamental em sua descoberta, e títulos "bons" engajam e recrutam leitores. Um aspecto particularmente interessante na construção de títulos é o uso do humor, mas pouco se sabe se os títulos engraçados aumentam ou limitam o número de leitores e a citação de artigos. Usamos um painel de avaliadores voluntários para avaliar o humor do título de 2.439 artigos em ecologia e evolução e medimos associações entre pontuações de humor e citações subsequentes (autocitação e citação de outros). Artigos com títulos mais engraçados foram citados com menos frequência, mas isso parece resultar de uma confusão com a importância do artigo. Os dados de autocitação sugerem que os autores dão títulos mais engraçados aos artigos que consideram menos importantes. Após a correção para este fator de confusão, artigos com títulos engraçados apresentam taxas de citação que sugerem que o humor recruta leitores. Também examinamos as associações entre as taxas de citação e várias outras características dos títulos. A inclusão de siglas e nomes taxonômicos foi associada a taxas de citação mais baixas, enquanto frases assertivas e presença de dois pontos, pontos de interrogação e regiões políticas foram associadas a taxas de citação um pouco mais altas. O comprimento do título não teve efeito na citação. Nossos resultados sugerem que os cientistas podem usar a criatividade com títulos sem que seus trabalhos sejam condenados à obscuridade.
Este artigo é um preprint e não foi certificado por revisão por pares.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

1250 - O Índice de Quételet

Foi criado em 1832 pelo matemático e astrônomo belga Adolphe Quételet (1796-1874). Rebatizado de Índice de Massa Corpotal - IMC, em 1972, foi pouco tempo depois adotado pela Organização Mundial de Saúde como um método prático de classificar baixo peso, sobrepeso e obesidade em adultos.
O IMC é calculado dividindo o peso (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado.
Adolphe Quételet é considerado o pai da Antropometria Científica.

quinta-feira, 31 de março de 2022

1249 - Movimento dos olhos durante a ressonância magnética

Neste breve vídeo, você observa os olhos se moverem para a esquerda e para a direita como resultado da contração voluntária dos músculos oculares durante um exame de ressonância magnética.

quinta-feira, 24 de março de 2022

1248 - Imunogenicidade e segurança da vacina da chikungunya

A chikungunya é uma doença infecciosa causada pelo vírus de mesmo nome que pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus (mesmos mosquitos que transmitem a dengue e a febre amarela, respectivamente). Os sintomas incluem febre acima de 38,5°C, de início repentino, e dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dor de cabeça, nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos são assintomáticos.
A circulação do vírus foi identificada no Brasil pela primeira vez em 2014 e ele já está presente em mais de 120 países. Como a transmissão ocorre por mosquitos, é fundamental reforçar as medidas de eliminação dos criadouros de mosquitos nas residências. As recomendações são as mesmas aplicadas à prevenção da dengue.
Imunizante desenvolvido por farmacêutica parceira do Butantan
Os resultados finais do ensaio clínico de fase 3 da vacina contra a chikungunya (VLA1553), desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e a empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva, mostraram que a imunogenicidade alcançada após a vacinação permaneceu por ao menos seis meses, com manutenção da produção de anticorpos durante esse período em 96,3% dos indivíduos avaliados. Além disso, o imunizante é seguro e causa reações adversas mínimas
Resumo de nota publicada pelo Instituto Butantan em 15/03/2022.
Arquivo Nova Acta


quinta-feira, 17 de março de 2022

1247 - Como as pontas amputadas dos dedos se regeneram

dedo de mamífero
Há muito tempo os cientistas tentam desvendar o mecanismo do processo de regeneração da ponta dos dedos amputados, intuindo que aí estaria a chave para a regeneração completa dos membros lesados como acontece com as salamandras.
Esses anfíbios, ao perderem uma perna ou a ponta da cauda, formam um blastema, um conjunto de células indiferenciadas capaz de recriar todos os tecidos perdidos e criar um membro igual ao que tinham.
Nada parecido jamais foi observado em mamíferos.
Em artigo http://www.nature.com/articles/s41598-019-45521-4 na revista *Scientific Reports*, cientistas brasileiros vinculados à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) questionam as expectativas otimistas.
Ao invés da chamada regeneração epimórfica, como a das salamandras, em que até as articulações e a função do membro amputado são restauradas, na ponta dos dedos dos mamíferos ocorre basicamente o crescimento de três tecidos que desempenham essa função naturalmente quando são danificados: unhas, pele e ossos.
Assim, os cientistas mostraram que o processo observável em dedos de mamíferos é muito mais simples do que o esperado.
Por esse motivo, não é um modelo para regeneração de membros.
Vimos que a ponta do dedo é muito mais simples do que o dedo inteiro ou um braço, por exemplo. Não tem músculos, glândulas ou articulações e basicamente tem unha, pele e osso.
Esses três tecidos têm uma capacidade natural de regeneração. Portanto, o crescimento da ponta de um dedo não constitui uma regeneração no sentido estrito da palavra, mas uma sucessão de fenômenos bem conhecidos.
Como qualquer lesão na pele, uma lesão de amputação cura devido à migração dos queratinócitos, as células da pele que produzem a queratina.
A unha parcialmente cortada retoma o seu crescimento por ser dotada de um grande número de células-tronco que induzem esse fenômeno ao longo da vida do organismo.
Porém, o crescimento mais importante nesse processo é o do tecido ósseo, que ocorre naturalmente quando se sofre uma fratura, por exemplo. Esse crescimento ocorre graças às chamadas células osteoprogenitoras.
Cientistas já haviam demonstrado que a unha é essencial para o crescimento ósseo após a amputação dos dedos do rato, por induzir o chamado crescimento distal na forma pontiaguda característica das falanges distais, as pontas dos dedos.

quinta-feira, 10 de março de 2022

1246 - Projeto sueco para apanhar bitucas de cigarros

Aproveitando a inteligência dos corvos, a empresa espera reduzir os custos associados à limpeza das bitucas de cigarros nas ruas da Suécia.
bi.tu.ca = bagana, beata, guimba, ponta de cigarro ou charuto
MUNDO AO MINUTO, 01/02/22 - Preocupada com o lixo no chão, uma startup na Suécia está a contar com um aliado improvável na luta contra o lixo do cigarro: o corvo.
O método é simples: o corvo recebe comida através de um computador por cada bituca depositada num repositório.
O projeto-piloto é da Corvid Cleaning, empresa fundada por Christian Günther-Hanssen, e tem sido implementado numa vila próxima de Estocolmo, Södertälje.
"São pássaros selvagens trabalhando voluntariamente", explicou o empresário sueco ao jornal The Guardian.
Os corvos foram a espécie ornitológica escolhida porque são as aves mais inteligentes do mundo animal. Um estudo citado pelo The Guardian afirma que os corvos da Nova Caledônia têm um raciocínio comparável ao de uma criança humana com sete anos.
"São mais fáceis de ensinar e há uma probabilidade elevada de eles se ensinarem uns aos outros. Ao mesmo tempo, há um risco reduzido de comer lixo por engano", garante o empresário.
Günther-Hanssen explicou que o seu método poderá poupar à cidade 75% dos custos associados à recolha de bitucas na cidade. Segundo os dados da Fundação Keep Sweden Tidy, caem nas ruas suecas mais de mil milhões de bitucas de cigarro por ano.
"O custo estimado por bituca apanhada do chão ronda os 80 öre por cigarro (o troco da coroa sueca, equivalente a menos de um centavo), às vezes chegando às duas coroas suecas (cerca de 5 centavos). Se o corvo apanhar a bituca, isto custaria talvez 20 öre por bituca de cigarro. A poupança para o município depende de quantos cigarros o corvo apanhar", explica.

quinta-feira, 3 de março de 2022

1245 - Os efeitos maravilhosos da nova inoculação

O criador da primeira vacina, contra a varíola, foi Edward Jenner. Naquela época, as pessoas tinham pavor da vacina porque corria o boato de que alguns vacinados haviam se transformado por inteiro em gado leiteiro, em outros apareceram chifres e, nos casos menos dramáticos, um rabo havia crescido.
O britânico James Gillray ilustrou os “efeitos adversos da vacina” numa gravura satírica:
Gillray, 1802. Acervo da Biblioteca Nacional de Medicina (Bethesda)
Resumo:
Em uma sala lotada, um médico (Jenner) se prepara para vacinar uma jovem sentada em uma cadeira; a cena é um caos, com vários ex-pacientes demonstrando os efeitos adversos da vacina com vacas brotando de várias partes de seus corpos.