quinta-feira, 28 de outubro de 2021

1227 - Visão geral dos minerais

Por Larry E. Johnson, MD, PhD, University of Arkansas for Medical Sciences
Última modificação do conteúdo em maio de 2020
Seis tipos de macrominerais são essenciais ao ser humano:
  • Quatro cátions: sódio, potássio, cálcio e magnésio
  • Dois ânions: cloreto e fósforo
As necessidades diárias variam de 0,3 a 2,0 g. Ossos, músculos, coração e cérebro dependem desses macrominerais. 

As pessoas precisam de nove oligoelementos (microminerais) em quantidades mínimas:
  • Cromo
  • Cobre
  • Flúor
  • Iodo
  • Ferro
  • Manganês
  • Molibdênio
  • Selênio
  • Zinco
Foram determinadas diretrizes dietéticas para oligoelementos (ver tabela Diretrizes para ingestão diária de oligoelementos). Todos os oligoelementos são tóxicos em altos níveis; alguns (arsênio, níquel e cromo) podem ser carcinógenos. Não está claro se o cromo deve ser considerado oligoelemento essencial (obrigatório).
Deficiências de oligoelementos (exceto iodo, ferro e zinco) não costumam ocorrer espontaneamente em adultos com alimentação normal; as crianças são mais vulneráveis porque têm crescimento rápido e ingestão variável. Desequilíbrios de oligoelementos podem resultar de doenças hereditárias (p. ex., hemocromatose, doença de Wilson), hemodiálise, nutrição parenteral, dietas restritivas prescritas para pessoas com deficiências inatas do metabolismo ou vários tipos de dieta populares.
Tabelas

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

1226 - Estranha profissão é a de médico!

O pintor e ilustrador britânico Samuel Luke Fildes (1843 - 1927) perdeu seu primeiro filho, Philip, acometido de febre tifóide, no Natal de 1877. O desvelo do médico que o assistiu deixou em sua memória uma imagem de devoção profissional que inspirou, em 1891, o quadro "The Doctor", ora em pauta. Nela, provavelmente, Samuel retrata seu próprio drama pessoal e homenageia o Dr. Murray que assistiu, impotente, seu filho no leito de morte.
No centro do quadro, em primeiro plano, a luz de um lampião sobre uma mesa ilumina um médico contemplativo e uma criança gravemente enferma, acomodada sobre duas cadeiras. Pela janela da humilde casa, adentram os primeiros raios de sol iluminando o lado esquerdo da face do pai, que repousa a mão nas costas de sua esposa para apoiá-la e confortá-la no momento dramático. A luz ilumina a mãe debruçada em uma mesa revelando seu profundo sofrimento com a grave doença da filha.
Os utensílios sobre os móveis, indicando a preparação de medicamentos, mostram que o médico passou a madrugada ao lado da criança pálida, fraca, largada, gravemente enferma, tentando, em vão, uma terapia eficaz. É impossível apreciar o quadro sem sentir forte emoção diante da força do olhar do médico sobre a pequena paciente e do olhar do pai, colocando suas esperanças no médico.
Trata-se de uma das representações mais tocantes e icônicas da medicina. Em 1892, um professor de medicina escreveu, no British Medical Journal:
"Uma biblioteca de livros feitos em nossa honra não faria o que esta pintura tem feito e fará pela profissão médica, ao tornar os corações de nossos semelhantes aquecidos com confiança e afeto por nós."
Extraído de: "Apreciação Crítica da Obra 'The Doctor' de Luke Fildes", por Dra. Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg, médica e historiadora da Sobrames Ceará e da Academia Cearense de Medicina. Publicada originalmente no Jornal do Médico Digital, de 18 a 23 de outubro de 2020.

O Médico
Dele se pede toda a sensibilidade que um ser humano pode abrigar. Para que entenda a linguagem da dor, da angústia, do medo, da desesperança e do sofrimento.Para que fale com a alma de seus pacientes. Para que transforme tênues fímbrias de esperança no lenho ardente da vontade de viver. De pessoa assim tão rica de sentimentos se pede, paradoxalmente, o mais frio domínio das emoções. Para que um franzir de cenhos ou um arquear de boca não semeiem, no espírito do paciente, dúvidas e opressões. Para que o tremer da mão não imprima, ao bisturi, o erro milimétrico que separa a vida da morte. Para que o marejar dos olhos não o prive da clareza meridiana que se pede ao diagnosticista. Para que o embargo da voz não roube credulidade à sua mensagem de fé.
SEMPRE ME PARECEU DIFÍCIL REUNIR, NUM MESMO INDIVÍDUO, TÃO NOBRE TEXTURA E TÃO RUDE COURAÇA.
Pronunciamento do Dr MARIO RIGATTO na AULA DA SAUDADE da minha turma MEDICINA 74 no Centro de Convenções e publicado em seu livro MÉDICOS e SOCIEDADE. ~ Dra. Ana Nocrato

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

1225 - O risco de fumar na II Guerra Mundial

Fumar nunca foi um hobby saudável. Nenhum médico o recomendaria a alguém. Mas o tenente aviador James Alter, em seu livro de 2011 intitulado "From Campus to Combat", lembra que, naqueles dias, quase todo mundo fumava.

… Considerando o tipo de trabalho que estávamos fazendo, ninguém teria ficado muito preocupado com o câncer de pulmão, mesmo se soubéssemos sobre ele.

O governo dos EUA fornecia cigarros aos militares em números impressionantes durante a Segunda Guerra Mundial. A Philip Morris e outros fornecedores de tabaco dos Estados Unidos relataram enrolar e vender 290 bilhões de cigarros em 1943. Para aliviar o tédio e melhorar o moral dos guerreiros, os cigarros eram o padrão nas caixas de ração K, junto com balas e chicletes. Se os jovens soldados e marinheiros quisessem mais, os cigarros custariam apenas 50 centavos a caixa ou um níquel o maço. Como resultado, o consumo de tabaco disparou durante a guerra.
Naquela época, fumar era uma atividade popular entre as pessoas, e eles fumavam mesmo em lugares que não deveriam, como dentro de aviões de combate. Era um claro risco de incêndio. Afinal, um avião de guerra era uma cápsula frágil de alumínio contendo um conglomerado de coisas que poderiam queimar ou explodir - combustível, fluido hidráulico, óleo, oxigênio, munição. Adicionar um cigarro aceso a essa mistura era perigoso.
Mas, em uma época em que as chances de morrer instantaneamente em uma briga de cães eram muito maiores, fumar, que levava décadas para fazer efeito, era um risco insignificante.
Mais sobre essa história na revista Air and Space.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

1224 - O Horror nos Tempos do Cólera

De acordo com o folclore local, a vila de Nigg, na Escócia, venceu o cólera de uma maneira singularmente direta:
"Em uma parte central do cemitério de Nigg, há uma rude pedra nua, perto da qual o sacristão nunca se aventura a abrir uma cova. Uma apócrifa tradição selvagem conecta a construção dessa pedra com os tempos do cólera na vila. A praga, como diz a história, foi trazida ao local por um navio e movimentava-se lentamente pelo chão, desimpedida de qualquer tipo de contenção, na forma de uma pequena nuvem amarela. O país inteiro estava alarmado e grupos de pessoas foram vistas em todas as eminências, observando com horror ansioso o progresso da pequena nuvem. Eles foram aliviados, no entanto, de seus medos e da praga por um engenhoso homem de Nigg, que, tendo rebido uma grande sacola de linho, moldou-a um pouco à maneira de uma rede de pegar passarinho, aproximou-se cautelosamente da nuvem amarela e, com uma habilidade que não devia nada a uma prática anterior, conseguiu colocá-la na sacola. Envolvendo-a com cuidado, dobra após dobra, e prendendo-a com alfinete após alfinete e, enquanto o linho mudava gradualmente, como se estivesse sob as mãos de um tintureiro, de branco para amarelo, ele destinou a sacola ao cemitério da igreja, onde jaz desde então."
De Hugh Miller, Scenes and Legends of the North of Scotland, 1835.

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

1223 - Projetando opioides menos viciantes

Sempre que confrontamos o problema da dependência a opiáceos, a resposta é restringir seu uso de uma forma ou de outra. No entanto, os opioides são atualmente os melhores analgésicos do mundo. Restringir seu uso prejudica os pacientes que lidam com dores fortes ou crônicas de condições que não podem ser corrigidas imediatamente. Ao mesmo tempo, oferecer opioides para aliviar a dor costuma transformar o paciente em um viciado. Sem encontrar um analgésico melhor, a melhor opção que a ciência pode oferecer é transformar os opióides em algo não viciante. E os cientistas estão trabalhando nisso.
Muitas das qualidades viciantes dos opioides devem-se aos sentimentos de calma e euforia que eles induzem no cérebro. Para condições como artrite, feridas e dor pós-operatória, no entanto, esses medicamentos precisam ter como alvo apenas as áreas doentes ou feridas do corpo para fornecer alívio da dor. A questão que os pesquisadores enfrentam é se é possível limitar o efeito dos opióides a áreas específicas do corpo sem afetar o cérebro.
Uma solução proposta recentemente concentra-se na diferença de acidez entre o tecido lesionado e o saudável. O tecido lesionado é mais ácido do que o tecido saudável devido a um processo de acidose local, onde o ácido láctico e outros subprodutos ácidos produzidos pelo tecido danificado se acumulam. Isso significa que um opioide pode ser potencialmente alterado para ser carregado positivamente e ativo apenas no tecido lesionado, enquanto permanece neutro e inativo no tecido normal. A droga seria bioquimicamente ativa apenas em um nível de acidez mais alto do que o encontrado em tecidos saudáveis.
"Adicionando um átomo de flúor ao Fentanil pode diminuir a probabilidade do opioide ser bioquimicamente ativo em tecidos saudáveis do corpo." ~ Aaron Harrison
Leia mais sobre esta pesquisa e seu potencial em The Conversation.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

1222 - Pés planos

"Eu nem sabia que ter pés chatos era algum tipo de problema. Se a Terra fosse plana, com certeza, ter pé chato seria uma vantagem biológica." ~ João da Rocha Labrego
No CID-10:
  • Q66.5 (congênito)
  • M21.4 (adquirido)
A condição é normal em bebês e crianças pequenas. Os pés planos (chatos) ocorrem porque os tecidos que prendem as articulações do pé (chamados tendões) estão frouxos. Os tecidos se contraem e formam um arco à medida que as crianças crescem. Isso acontecerá quando a criança tiver 2 ou 3 anos de idade. A maioria das pessoas tem arcos normais na idade adulta. No entanto, o arco pode nunca se formar em algumas pessoas. Há doenças hereditárias que causam tendões frouxos como a síndrome de Ehlers-Danlos e a síndrome de Marfan. Pessoas nascidas com essas condições podem ter pés chatos. O envelhecimento, as lesões e outras doenças também podem prejudicar os tendões e causar o desenvolvimento de pés chatos em uma pessoa que já formou os arcos. Este tipo de pé chato pode ocorrer apenas em um lado.
http://medlineplus.gov/ency/article/001262
a- pé normal
b- pé chato
c - pé cavo
Então, o que esta pesquisa sobre o arco transversal, seu heroi não celebrado de apoio, significa para a gente de pés chatos? A falta de um arco longitudinal medial com pés chatos pode causar estresse em outras áreas do corpo (joelho, quadril) e causar dores nos pés. Em um ponto, foi motivo de rejeição automática para o serviço militar. Mas a pesquisa de Venkadesan esclarece por que a maioria das pessoas com os pés chatos não sofre de dores crônicas ou lesões. "Você pode ter pés chatos com um arco longitudinal baixo, mas se você tiver um arco transversal relativamente alto, ainda pode ter um pé hígido", diz Holowka. Acrescentando que pesquisas futuras devem examinar quaisquer ligações entre os graus de pés chatos das pessoas e seus arcos transversais. Ele também pede maneiras de quantificar a curvatura do arco transversal para entender melhor a dor no pé dos portadores do problema, que poderá inclusive ser a chave para a construção de órteses corretivas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

1220 - O excesso de óbitos no Brasil durante a atual pandemia

- O excesso de óbitos busca identificar o diferencial do número de óbitos por causas naturais durante a pandemia em comparação com os óbitos esperados para o mesmo período. O acompanhamento deste instrumento complementa a análise da mortalidade nas regiões, permitindo verificar os efeitos de causas diretas e indiretas da Covid-19, bem como apontar indícios de diferenciais de subnotificação dos óbitos por Covid-19 entre as localidades.

- A análise isolada da taxa de mortalidade por Covid-19 se mostra incompleta, por não incorporar os efeitos diretos e indiretos da pandemia, bem como desconsiderar as diferentes capacidades de identificação de óbitos por Covid-19 entre as localidades. O cálculo do Excesso de Óbitos, ao comparar o total de óbitos por causas naturais com o que seria esperado para determinada localidade, leva em consideração as diferenças populacionais de gênero e pirâmide etária, bem como suplanta o problema da subnotificação.

- A metodologia de excesso de óbitos consiste em subtrair de um total de óbitos observado uma quantidade de óbitos estimada para obter uma quantidade de óbitos além do esperado para um período específico. Esta quantidade de óbitos que supera o que seria esperado é denominada de excesso de óbitos.

- Ao se relacionar a quantidade de óbitos em excesso com o total de óbitos esperados tem-se o excesso proporcional de óbitos, uma medida do percentual de óbitos que superou o que já seria esperado.

- Para produzir essa estimativa de óbitos, a Vital Strategies projeta, a partir dos dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade do DATASUS) de 2015 a 2019, um total de óbitos esperados para 2020 e 2021. Os óbitos destes ano têm como fonte os dados do Portal da Transparência do Registro Civil.

- De posse desse número, calcula-se o excesso de óbitos por semana epidemiológica, levando-se em consideração gênero, idade e localidade de óbito:

Excesso de Óbitos = Óbitos observados – Óbitos esperados

Datas consideradas nesta atualização:
- Excesso de Óbitos: 15 de Março de 2020 a 31 de Julho de 2021 (Fonte: Vital Strategies)
- Taxas de Mortalidade: 23 de Agosto de 2021 (Fonte: Ministério da Saúde)

No Brasil
Taxa de Mortalidade por Covid-19 (por 100 mil hab.): 274
Óbitos esperados: 1.688.945
Excesso de Óbitos: 664.543
Óbitos por Covid-19: 556.370
Excesso Proporcional de Óbitos - Acumulado: 39,3%
Excesso Proporcional de Óbitos acumulado por período (2020): 25%
Excesso Proporcional de Óbitos acumulado por período (2021): 60%

Fontes
http://admin-planejamento.rs.gov.br/upload/arquivos/202108/25181623-excesso-de-obitos-rs-2021-08-25.pdf
http://www.conass.org.br/indicadores-de-obitos-por-causas-naturais/

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

1219 - Pareidolias e assuntos correlatos

Paulo Gurgel Carlos da Silva, CREMEC 1405

É um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem, a qual é percebida como algo distinto e com significado diverso.

A palavra pareidolia vem do grego para, que significa "junto de", "ao lado de", e eidolon, "imagem" (εικόνα), "figura" ou "forma".

Este processo pelo qual a mente percebe um padrão familiar, onde não há nenhum, resulta de uma busca de sentido para informações aleatórias. E são o resultado da tendência de nosso cérebro em associar formas não estruturadas a outras formas reconhecíveis armazenadas na memória.

Em sua forma mais comum, a de pareidolias visuais, as imagens percebidas relacionam-se com paisagens, rochas, árvores, nuvens, construções, astros, objetos do quotidiano, detalhes corporais etc.

Há também as pareidolias auditivas como, por exemplo, a sempre lembrada pareidolia em "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin. Algumas pessoas acreditam ouvir trechos de um culto ao demônio quando a canção é tocada ao contrário. E as pareidolias táteis como na história bíblica dos filhos de Isaque, em que Jacó de disfarça com a pele de cabritos, para receber a bênção paterna no lugar de Esaú (Gênesis, 27).

Um estudo realizado em bebês sugere que a percepção de faces pareidólicas passa a se desenvolver por volta de 8 a 10 meses após o nascimento.

O mecanismo de reconhecimento de padrões em nossos cérebros é tão eficiente em descobrir uma face em meio a muitos outros pormenores que, às vezes, vemos faces onde elas não existem. Reunimos pedaços desconectados de luz e sombra, e inconscientemente tentamos ver uma face. (Carl Sagan)

A pareidolia no sistema de resposta de luta ou fuga (fight or flight).

Tabela de decisão:

HIPÓTESE

Verdadeira

Falsa

Aceita

Correta

Erro do tipo II

Rejeitada

Erro do tipo I

Correta

Na lógica evolutiva é melhor prevenir do que remediar e, por isso, é mais vantajoso ver um excesso de padrões, mesmo onde eles não existem, do que negligenciá-los e correr riscos desnecessários.

Na comunicação não verbal. Um exemplo de como a pareidolia está presente no cotidiano das pessoas acontece com o uso dos populares emoticons (abreviatura de emotic icons) e de seus sucessores, os modernos emojis. Estes sinais gráficos e desenhos são entendidos pelo cérebro humano como representações pictóricas de rostos. Uma simples reunião de traços pode ser rapidamente percebida como um rosto e até mesmo interpretada como expressão de uma emoção em particular.

Na visão computacional, especialmente em programas de reconhecimento de imagens. Quando se trata de sistemas de autenticação biométrica há muitas opções disponíveis: a impressão digital, o reconhecimento do rosto, das características do olho (íris e retina), da voz etc. É uma área com forte demanda por inovação e melhoria, e isto inclui o reconhecimento facial.

No diagnóstico por imagem. Ao associar um determinado aspecto radiológico a um animal, os médicos melhoram suas habilidades de diagnóstico e reforçam as estratégias mnemônicas na prática radiológica. São exemplos de percepções pareidólicas de animais em neuroimagem: o sinal do beija-flor na paralisia supranuclear progressiva, o sinal do panda na doença de Wilson e na sarcoidose, o sinal do elefante na doença de Alzheimer, o sinal do olho do tigre na doença degenerativa associada à enzima PKAN, o sinal da borboleta em glioblastomas etc.

Nos testes projetivos. O teste de Rorschach recorre ao fenômeno da pareidolia para avaliar o estado mental de uma pessoa. O teste consiste em dar respostas sobre com o que se parecem dez pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir das respostas, procura-se obter um quadro da dinâmica psicológica da pessoa entrevistada.

Na religiosidade. Refletindo as crenças de pessoas extremamente religiosas, a pareidolia visual mostra-se frequente naquelas que alegam ver figuras ou silhuetas de santos em determinados lugares. Agnósticos e ateus não compartilham de tais alterações da percepção.

Contudo, a aleatoriedade não está presente em todas as situações pareidólicas. Imagens podem ser forjadas para serem percebidas como não o são - seja para perpetrar uma mistificação, seja por ludismo ou criatividade.

A pareidolia não é uma doença (embora pessoas ansiosas ou estressadas sejam mais suscetíveis ao fenômeno). Trata-se de uma resposta tão comum a estímulos sobre nossos sentidos que a incapacidade de a executar é que é vista como sendo algum problema. E, de um modo geral, mostra o potencial criativo de nossas mentes para "ressignificar" algo com que nos deparamos.

Web grafia

Wikipedia/Pareidolia

Stairway to Heaven Backwards < http://youtu.be/FNE75XznfIE>

Kato M, Mugitani R (2015) Pareidolia in Infants. PLoS ONE 10 (2): e0118539.

Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.67 nº 4 São Paulo Dec. 2009

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

1218 - Scott e o escorbuto

Tendemos a pensar que o conhecimento, uma vez adquirido, é algo permanente. Em vez disso, até mesmo mantê-lo exige um esforço constante e cuidadoso.
Membros da expedição de Robert Scott ao Polo Sul
Escrevendo sobre o primeiro inverno que os homens passaram no gelo, Cherry-Garrard casualmente menciona uma palestra surpreendente sobre o escorbuto por um dos médicos da expedição:
Atkinson inclinou-se para a teoria de Almroth Wright de que o escorbuto é devido a uma intoxicação ácida do sangue causada por bactérias ... Havia pouco escorbuto na época de Nelson; mas a razão não é clara, já que, de acordo com pesquisas modernas, o suco de limão apenas ajuda a preveni-la. Tínhamos, no Cabo Evans, um sal de sódio para ser usado para alcalinizar o sangue como um experimento, se necessário. A escuridão, o frio e o trabalho árduo são, na opinião de Atkinson, causas importantes do escorbuto.
Bem, eu havia aprendido na escola que o escorbuto havia sido vencido em 1747, quando o médico escocês James Lind provou em um dos primeiros experimentos médicos controlados que as frutas cítricas eram uma cura eficaz para a doença. Daquele ponto em diante, disseram-nos, a Marinha Real exigia que uma dose diária de suco de limão fosse misturada com o grogue dos marinheiros, e o escorbuto deixou de ser um problema em longas viagens oceânicas.
Mas aqui estava um cirurgião da Marinha Real em 1911, aparentemente ignorando o que causava a doença ou como curá-la. De alguma forma, um grupo de cientistas altamente treinados no início do século 20 sabia menos sobre o escorbuto do que o capitão do mar da época napoleônica. Scott deixou uma base farta de carnes frescas, frutas, maçãs e suco de limão, e seguiu no gelo por cinco meses sem proteção contra o escorbuto, o tempo todo confiante de que não corria risco. O que aconteceu?
Segundo todos os relatos, o escorbuto é uma doença horrível. Scott, que tem motivos para saber, dá uma descrição sucinta: 
Os sintomas do escorbuto não ocorrem necessariamente em uma ordem regular, mas geralmente o primeiro sinal é uma condição inflamada e inchada das gengivas. O tom rosa esbranquiçado próximo aos dentes é substituído por um vermelho forte; à medida que a doença ganha terreno, as gengivas ficam mais esponjosas e adquirem uma cor arroxeada, os dentes ficam frouxos e as gengivas inflamadas. Manchas aparecem nas pernas e a dor é sentida em velhas feridas e hematomas; mais tarde, devido a um leve edema, as pernas e, em seguida, os braços aumentam de tamanho e escurecem atrás das articulações. Depois disso, o paciente logo fica incapacitado, e os últimos estágios horríveis da doença se iniciam, dos quais a morte é uma liberação misericordiosa.
Uma das características mais marcantes da doença é a desproporção entre sua gravidade e a simplicidade de cura. Hoje sabemos que o escorbuto se deve unicamente à deficiência de vitamina C, composto essencial ao metabolismo que o corpo humano deve obter dos alimentos. O escorbuto é rápida e completamente curado com a restauração da vitamina C na dieta.
Exceto pela natureza da vitamina C, os médicos do século XVIII também sabiam disso. Mas, na segunda metade do século XIX, a cura para o escorbuto foi perdida. A história de como isso aconteceu é uma demonstração notável do problema da indução e de como o progresso em um campo de estudo pode levar a retrocessos involuntários em outro.
Siga lendo... 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

1217 - Proteção da camada de ozônio evitou aquecimento maior do planeta, diz estudo

AFP - O Protocolo de Montreal, que permitiu lutar contra o buraco na camada de ozônio, também evitou um aquecimento adicional do planeta de 2,5 °C aproximadamente até 2100 ao proibir determinados aerossóis, segundo um estudo publicado na quarta-feira passada (18) na revista Nature.
O aquecimento global provocado pelos gases de efeito estufa, atualmente situado em 1,1 °C em relação à era pré-industrial, já provoca catástrofes como ondas de calor, inundações, incêndios, furacões etc.
O Protocolo de Montreal foi assinado em 1987 para suprimir progressivamente os gases CFC (usados na refrigeração e nos aerossóis), responsáveis pelo "buraco" nesta camada gasosa que protege a Terra dos raios que causam câncer de pele, danos oculares e imunológicos.
Sem este acordo, o aquecimento global atingiria os 4 °C, mesmo se os países conseguirem limitar a alta nos termômetros causada por outros gases abaixo de 1,5 °C, um dos objetivos do Acordo de Paris, segundo este estudo.
Chefiados por Paul Young, pesquisadores da Universidade de Lancaster estudaram através de modelos o impacto da progressiva supressão dos produtos que danificam a camada de ozônio. Além de danificar a camada de ozônio, os gases CFC são de fato potentes gases de efeito estufa que retêm o calor até 10.000 vezes mais do que o dióxido de carbono (CO2).
Relacionadas

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

1216 - Pedras para leitura

ANTES DE 1200
Os povos antigos definiram a visão como "o mais maravilhoso dos cinco sentidos" e dedicaram estudos inteiros sobre o olho e a visão. Eles sabiam como aumentar as coisas com esferas de vidro cheias de água através das quais podiam observar objetos ampliados. Os antigos romanos, que conheciam os mecanismos de ampliação e sabiam fazer vidro, não sabiam como produzir lentes para auxílio visual.
1200
Em Veneza, eles sabiam que o cristal de rocha, quando moldado em formas fortemente convexas, ajudava na visão durante a leitura, e essas "lapides ad legendum", ou seja, "pedras para leitura", são reconhecidas no Capítulo que governava a Guilda dos "Artesãos de Cristal": usados como lentes de aumento e simplesmente colocados sobre o próprio objeto.
Além disso, esses artesãos também faziam discos de cristal que eram chamados de "roidi da boticelis", ou seja, tampões de vidro que eram usados para fechar potes contendo pomadas preciosas. O estudioso Luigi Zecchin deduziu que, ao aproximar os olhos de um dos discos, todos os objetos se tornavam claramente visíveis. De qualquer forma, em 1284 os "roidi da ogli", "vidro redondo para os olhos", estão presentes na lista de itens de rotina da produção.
É nesta fase em Veneza que podemos dizer que a invenção dos óculos ocorre, ou seja, quando as lentes são devidamente montadas e colocadas diante dos olhos: a história da fabricação de lentes de vidro leva à história dos óculos.
1300
Em 1301, os Giustizieri Vecchi, os superintendentes das Artes Venezianas, concederam permissão a todos os artesãos para fazer "Vitreos to oculis ad legendum" (lentes de vidro para leitura), desde que as vendessem como vidro e não como cristal para evitar fraudes.
Quando a pasta de vidro transparente e incolor foi descoberta, as lentes tornaram-se acessíveis, portanto, o comércio de óculos pôde ultrapassar as fronteiras da lagoa veneziana pela primeira vez. De acordo com esses documentos registrados, pode-se pensar que em 1300 a arte de fazer óculos era uma prática comum.
Em seguida, os primeiros óculos foram feitos com lentes redondas biconvexas, para melhorar a visão para longe. Eles consistiam em duas lentes; cada um montado com um aro de metal ou de couro forjado, rebitados juntos na extremidade de cada alça. Eram segurados diante dos olhos com as mãos, para facilitar a leitura, mas ainda não havia como usá-los com segurança e firmeza.
Siga lendo em LUXOTTICA
Ilustração - Primeiros óculos em uma pintura por Conrad von Soest. (Este trabalho está em domínio público em seu país de origem e em outros países e áreas onde o termo de direitos autorais é a vida do autor mais 100 anos ou menos.)

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

1215 - Elisabeth Bik, uma especialista em integridade científica

A holandesa Elisabeth Bik (foto) tem se dedicado a uma tarefa peculiar no meio científico: ela passa horas diante de seu computador, analisando centenas de estudos, atenta a falhas (intencionais ou acidentais) como duplicações ou adulterações de imagens, plágio, conflitos de interesse nos dados apresentados ou incongruências nas evidências científicas.
A microbiologista virou uma especialista em "integridade científica": na prática, isso consiste na análise (não remunerada) de milhares de estudos biomédicos, em busca de erros que possam comprometer seus resultados. Bik também tem um trabalho pago, de consultoria e palestras para universidades e centros de pesquisa, sobre como melhorar seus processos.
Faz pouco mais de um ano que Bik foi uma das cientistas a levantar preocupações sobre um estudo que ganharia proporções não previstas na época: tratava-se da pesquisa do instituto médico francês IHU-Méditerranée Infection, em Marselha, publicada inicialmente em março de 2020 com a afirmação de que "a cloroquina e a hidroxicloroquina eram eficientes contra o SARS-CoV-2", o vírus da covid-19.
Bik levantou questionamentos sobre a metodologia usada pelo estudo, que segundo ela prejudicam as conclusões, como:
  • Lapsos no cronograma: os dados apresentados no estudo não deixam claro qual foi o resultado do teste PCR dos pacientes na metade do estudo, como havia sido originalmente planejado. Isso despertou preocupações quanto a se dados potencialmente negativos poderiam ter sido omitidos.
  • Havia muitas diferenças entre os grupos de controle (ou seja, pessoas que não foram tratadas com hidroxicloroquina) e o grupo de pacientes do estudo, o que dificulta a comparação entre ambos e, portanto, os resultados da pesquisa.
  • Embora o estudo tenha começado com 26 pacientes, termina apresentando dados de apenas 20 deles. Dos seis faltantes, três haviam sido transferidos para a UTI, um morreu e dois abandonaram a medicação. "É como dizer 'meus resultados são incríveis se eu tiro as pessoas em que eles se saíram muito mal'. É claro que (o estudo) parece ótimo (se você tira os pacientes que morreram), mas não é honesto fazer isso", diz Bik à BBC News Brasil.
  • Um dos autores é também editor-chefe do periódico onde o estudo foi publicado, o International Journal of Antimicrobial Agents. "Isso pode ser percebido como um enorme conflito de interesses, em particular ao lado de um processo de revisão de pares (quando cientistas revisam o estudo de seus colegas) que durou menos de 24 horas", escreveu Bik na época. "É o equivalente a permitir que um estudante dê a nota de seu próprio trabalho escolar."
A principal lição tirada por Bik de 2020, ano em que tanta pesquisa foi feita, é de que "normalmente, estudos médicos levam muito tempo. Um bom projeto costuma levar ao menos um ano ou vários anos para ser concluído, então qualquer coisa pesquisada em poucas semanas em uma pandemia não vai ter a melhor qualidade, embora seja necessária - em uma emergência, você quebrar as regras, porque todos estão esperando por respostas. Mas aprendemos que a ciência rápida não é necessariamente a melhor ciência".
Extraído de: Covid-19: a cientista 'detetive' que acendeu alerta sobre hidroxicloroquina, BBC News

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

1214 - A invenção da seringa hipodérmica

O médico escocês Alexander Wood é amplamente reconhecido como o inventor da seringa hipodérmica dos dias modernos. Wood pode não ter tido muita noção da importância de sua invenção na década de 1850. Mas sua criação — uma seringa toda de vidro com êmbolo e agulha de orifício fino — se tornaria um dispositivo médico tão simbólico quanto o estetoscópio.
As seringas, de uma forma ou de outra, existem pelo menos desde a época do médico grego Hipócrates no século 5 a.C. As primeiras versões eram rudimentares. Feitas a partir de bexigas de animais, tubos ou penas, eram amplamente usadas para irrigação — a prática de limpar ou lavar uma ferida ou corpo — ou enemas (lavagem que injeta água no intestino). No século 11, um oftalmologista egípcio usou a primeira ferramenta semelhante à seringa hipodérmica para remover cataratas. Mas somente em meados do século 17 que os primeiros experimentos confirmados de injeção intravenosa foram realizados.
Em experimentos com cães em 1656, o britânico Christopher Wren — mais conhecido como arquiteto — injetou drogas nos cachorros usando uma bexiga de animal presa a uma pena de ganso oca. Ele injetou ópio, álcool e crocus metallorum (emético, indutor do vômito, do século 17) em cães diferentes", explica a anestesista Christine Ball, curadora honorária do Museu Geoffrey Kaye de História da Anestesia em Melbourne, na Austrália.
Como era de se esperar, o primeiro foi dormir, o segundo ficou muito bêbado e o terceiro bem morto.
Em meados do século 19, a medicina começou a se concentrar em um sistema mais eficiente de administração de medicamentos. Em 1844, o cirurgião irlandês Francis Rynd inventou o que foi indiscutivelmente a primeira agulha oca do mundo. Mas era um dispositivo que usava a gravidade para fazer o líquido fluir e envolvia romper a pele com uma ferramenta conhecida como trocarte.
Em 10 anos, no entanto, surgiu a versão moderna da agulha hipodérmica.
Em 1853, o médico Alexander Wood, nascido em Fife, na Escócia, adicionou um êmbolo e desenvolveu a primeira seringa totalmente de vidro (fig. 1) que permitia aos médicos estimarem a dosagem com base na quantidade de líquido observada através do vidro. Sua primeira paciente foi uma mulher de 80 anos que sofria de uma forma de neuralgia. Preocupado em aliviar a dor local, ele injetou nela 20 gotas de solução vínica de morfina (morfina dissolvida em vinho xerez) na parte do ombro onde a dor era mais forte. Na sequência, ela adormeceu profundamente, mas depois se recuperou.
A invenção de Wood coincidiu, ao que tudo indica completamente por acaso, com a criação no mesmo ano de um instrumento semelhante pelo cirurgião francês Charles Pravaz.
Mas, enquanto o dispositivo de Wood era feito de vidro e apresentava um êmbolo, a invenção de Pravaz (fig. 2) era composta em grande parte por prata e usava um parafuso que precisava ser girado para empurrar o medicamento para dentro do corpo.
O Royal College of Physicians de Edimburgo (RCPE) diz que há duas razões pelas quais Wood, um dos ex-presidentes da organização, deve receber o crédito em vez de Pravaz.
"Em primeiro lugar, Wood testou sua nova seringa usando-a para injetar remédio (morfina) em uma paciente, enquanto Pravaz testou a sua numa ovelha. Portanto, a eficácia do método de Wood era mais clara", explica Daisy Cunynghame, gerente de biblioteca e patrimônio do RCPE. "Em segundo lugar, Pravaz morreu antes de publicar suas descobertas — enquanto Wood publicou sobre sua descoberta."
A agulha hipodérmica dos dias modernos mudou muito pouco em relação ao design de Wood. A principal diferença está no material de que a seringa é feita — mais plásticos descartáveis, menos vidro e metal —, mas, fora isso, o design permanece praticamente inalterado. A dosagem precisa que é necessária para muitos medicamentos, incluindo vacinas, só foi possível com a invenção de Wood.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

1213 - Doença e saúde

"O que a maioria dos médicos faz quando recebe um relatório laboratorial é, obviamente, verificar a faixa normal para os testes em questão. Tradicionalmente, um intervalo normal é calculado de forma que inclua 95% dos resultados encontrados em um grupo de pessoas normais ou saudáveis e, consequentemente, há um risco de 5% de uma pessoa saudável apresentar um exame de laboratório com resultado anormal. Então, imagine que você faz dez testes em uma pessoa normal. Nesse caso, o risco de pelo menos um desses testes ser anormal é (1 - 0,95 10), o que equivale a 0,40 ou 40%. Se você fizer vinte e cinco exames (o que não é incomum na prática clínica), essa chance é de 72%!"
Como Edmond A. Murphy coloca com tanta propriedade: 
"Portanto, uma pessoa normal é qualquer pessoa que não foi suficientemente investigada".
- Henrik R. Wulff, Stig Andur Pedersen e Raben Rosenberg, Philosophy of Medicine: An Introduction, 1990, citando Murphy, The Logic of Medicine, 1976

quinta-feira, 22 de julho de 2021

1212 - Virginia Apgar, uma mulher fantástica

por Alfredo Guarischi, médico
"Está tudo bem com meu filho?". Essa pergunta foi que Virgina Apgar (1909-1974) buscou responder a todas as mães. É também o título de seu livro publicado em 1972. Apgar quando se formou em medicina, na renomada faculdade de Columbia, Nova York, em quarto lugar numa turma de 81 homens e 9 mulheres, com apenas 24 anos de idade, já tinha o diploma de Zoologia. Enfrentou dificuldades financeiras, chegando a ser catadora de gatos.
Queria ser cirurgiã, mas foi "convidada" a optar pela anestesia. Na época, apenas 4% dos médicos americanos eram mulheres e 11% delas administravam anestesia, não considerada por alguns uma especialidade médica. Mas Apgar era determinada e, aos 28 anos de idade, se tornou a primeira professora de anestesia e chefe de serviço do Columbia Presbyterian Hospital.
Na época não se tinha uma maneira uniforme de descrever os problemas que ocorriam com os recém-nascidos, o que levou Apgar a estudar o desfecho de milhares de partos, naturais ou por cesariana. Classificou as condições clínicas dessas crianças pela Atividade (movimentação dos membros), Pulsação (coração forte), Gesticulação (reflexos ao estímulo), Aparência (rosada) e Respiração (choro) com uma pontuação de 0, 1 ou 2. Os bebês cuja soma dessas cinco condições era abaixo de 3 tinham problemas graves, e os com escore abaixo de 7 requeriam cuidados especiais.
Sua proposta pioneira foi publicada em 1953, sendo adotada em todo o mundo, contribuindo para criar rotinas de atendimento aos pequeninos. Virginia adorou o acrônimo APGAR (Activity, Pulse, Grimace, Appearance, Respiration) sugerido em 1961 por um aluno e que foi traduzido em diversas línguas. Muitos acabaram se esquecendo que Apgar é o sobrenome de Virginia, uma mulher que tocava violino e construiu seu próprio instrumento. Participou de três pequenas orquestras, incluindo a "Sociedade Acústica Catgut" – em homenagem ao fio usado em cirurgia. Cuidava de um orquidário, gostava de beisebol, pescar, colecionar selos e tomar aulas de pilotagem. Fez mestrado em saúde pública e posteriormente foi professora de pediatria e genética. Apgar não cozinhava bem e dizia que não se casou porque não encontrara um homem que soubesse cozinhar melhor que ela.
A partir da década de 1980, vários estudos afirmaram que seu escore era falho em prever o futuro completo das crianças e que deveria ser substituído por testes mais sofisticados e custosos. A vida seguiu... e recentes análises de milhões de recém-nascidos, comparando a proposta de Apgar com testes invasivos, confirmam a validade de seu método simples de avaliar o risco imediato de recém-nascidos, idealizado há 65 anos por essa mulher fantástica.
Transcrito do Blog do Marcelo Gurgel
Ilustração: doodle do Google

quinta-feira, 15 de julho de 2021

1211 - Appendicitis / Apendicite

De Zachary Cope, 
The Diagnosis of the Acute Abdomen in Rhyme, 1947:

The symptoms of a typical attack
A clearly ordered sequence seldom lack;
The first complaint is epigastric pain
Then vomiting will follow in its train,
After a while the first sharp pain recedes
And in its place right iliac pain succeeds,
With local tenderness which thus supplies
The evidence of where the trouble lies.
Then only — and to this I pray be wise —
Then only will the temperature rise,
And as a rule the fever is but slight,
Hundred and one or some such moderate height.
‘Tis only then you get leucocytosis
Which if you like will clinch the diagnosis,
Though in my own experience I confess
I find this necessary less and less.

Os sintomas de um ataque típico
Uma sequência claramente ordenada raramente falta;
A primeira queixa é a dor epigástrica
Então o vômito seguirá em sua sequência,
Depois de um tempo a primeira dor aguda recua
E em seu lugar a dor ilíaca direita sucede,
Com uma sensibilidade local que assim fornece
A evidência de onde está o problema.
Então só - e peço a isso seja sábio -
Só então a temperatura aumentará,
E como regra a febre é apenas leve,
Cento e uma ou alguma altura moderada.
Só então você terá leucocitose
Que, se quiser, firmará o diagnóstico,
Embora em minha própria experiência eu confesse
que acho isso cada vez menos necessário.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

1210 - "Les Petites Curies"

Marie Curie
A primeira mulher a receber o Prêmio Nobel, Marie continua a ser a única pessoa a receber um Nobel em duas ciências diferentes (Física e Química). 
Mas, além disso, ela foi uma heroína humanitária de visão, determinação e coragem incomparáveis.
Apesar da eficácia em salvar vidas com sua pequena frota móvel de raios-X, os esforços de Curie eram frustrados pela escassez de motoristas e técnicos qualificados.
Acima de tudo, ela precisava de um colaborador em quem pudesse confiar para consertar a feiura da guerra, radiografando os milhares de soldados que chegavam feridos em suas unidades móveis de raios-X (conhecidas como "Les Petites Curies").
Marie e Irène Curie
Ela encontrou em sua filha Irène Curie, de dezessete anos, o colaborador de que precisava.
Irène se tornaria uma cientista e também ganharia o Prêmio Nobel.
Marie Curie, Brain Pickings
Petites Curies, Wikipedia

quinta-feira, 1 de julho de 2021

1209 - Caderneta de vacinação para maiores de 60 anos

Influenza (gripe):
Recomendação: tomar uma vez por ano, geralmente entre abril e julho.
Disponível na rede pública. Há dois tipos de vacina, trivalente e quadrivalente. A quadrivalente só está disponível na rede particular.

Herpes zóster:
Recomendação: dose única após os 60 anos. É recomendada mesmo para aqueles que já tiveram varicela/zóster.
Disponível na rede privada.

Pneumocócica (VPP23):
Recomendação: primeira dose ao completar 60 anos e reforço após cinco anos
Disponível na rede pública. Há outra vacina pneumocócica chamada de conjugada (VPC13), que não está disponível na rede pública, mas pode ser tomada a partir dos 60 anos em um esquema combinado com a VPP23 (polissacarídica).

Dentre as vacinas de rotina indicadas pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) para maiores de 60 anos, estão algumas doses recomendadas para adultos, como a dupla adulto (contra difteria e tétano) a cada dez anos, as vacinas contra as hepatites A (2 doses) e B (3 doses) e a vacina contra a febre amarela (dose única).

quinta-feira, 24 de junho de 2021

1208 - Os vírus que vivem no intestino humano

Os vírus são as entidades biológicas mais numerosas do planeta. Agora, pesquisadores do Instituto Wellcome Sanger e do Instituto Europeu de Bioinformática da EMBL (EMBL-EBI) identificaram mais de 140.000 espécies virais que vivem no intestino humano, mais da metade das quais nunca foram vistas antes.
O artigo, publicado em 18 de fevereiro de 2021, na Cell, contém uma análise de mais de 28.000 amostras do microbioma intestinal coletadas em diferentes partes do mundo. O número e a diversidade dos vírus encontrados pelos pesquisadores foram surpreendentemente altos, e os dados abrem novos caminhos de pesquisa para a compreensão de como os vírus que vivem no intestino afetam a saúde humana.
O intestino humano é um ambiente com uma biodiversidade incrível. Além das bactérias, centenas de milhares de vírus chamados bacteriófagos, que podem infectar bactérias, também vivem ali.
Ilustração de um vírus bacteriófago
Sabe-se que desequilíbrios no microbioma intestinal podem contribuir para doenças e condições complexas como doença inflamatória intestinal, alergias e obesidade. Mas relativamente pouco se sabe sobre o papel que nossas bactérias intestinais e os bacteriófagos que as infectam desempenham na saúde e nas doenças humanas.
Usando um método de sequenciamento de DNA chamado metagenômica, os pesquisadores identificaram mais de 140.000 espécies virais que vivem no intestino humano, mais da metade das quais nunca foram vistas antes.
O Dr. Alexandre Almeida, pós-doutorado do EMBL-EBI e do Instituto Wellcome Sanger, disse: "É importante lembrar que nem todos os vírus são prejudiciais, mas representam um componente integrante do ecossistema intestinal. Por um lado, a maioria dos vírus que encontramos têm como material genético o DNA, que é diferente dos patógenos que a maioria das pessoas conhece, como o SARS-CoV-2 ou o Zika, que são vírus de RNA. Em segundo lugar, essas amostras vieram principalmente de indivíduos saudáveis que não compartilhavam nenhuma doença específica. É fascinante ver quantas espécies desconhecidas vivem em nosso intestino e tentar desvendar a ligação entre elas e a saúde humana."
Via ScienceDaily

quinta-feira, 17 de junho de 2021

1207 - "Estou bem, mas o que eu tenho?"

Uma senhora idosa telefona para o hospital e pergunta:
- É possível saber como está uma paciente?
Ao que a telefonista responde:
- Claro, senhora, diga-me o nome e o número do quarto, por favor.
- Otília das Couves, e o quarto é 208.
Após alguns minutos, a operadora informa:
- A paciente está bem, os exames estão dentro da normalidade e o médico diz que vai dar alta na semana que vem.
- Muito obrigada, eu estava realmente muito preocupada.
- Eu entendo, é angustiante quando se tem um parente hospitalizado.
- Parente? Estou perguntando sobre mim, sou Otília das Couves e estou no quarto 208. Mas ninguém me diz nada do que eu tenho.
http://www.tudoporemail.com.br/content.aspx?emailid=16362

quinta-feira, 10 de junho de 2021

1206 - Análise de um cartão McBee. O modelo da DNT


MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE SAÚDE PÚBLICA
DEPARTAMENTO NACIONAL DE PROFILAXIA E CONTROLE DE DOENÇAS
DIVISÃO NACIONAL DE TUBERCULOSE (DNT)


Analisando um exemplar:
Feitos de cartolina na cor amarelo-claro, medindo 20 x 25 cm, apresentando próximo às bordas 114 pequenos orifícios.

Parte central - para a colocação dos seguintes dados:
  • nome, matrícula e prontuário
  • data da internação, data da alta ou óbito, estada (em dias)
  • cor, sexo, idade, estado civil, nacionalidade, profissão, categoria
  • casuística: título e subtítulo. Se o espaço não fosse suficiente para anotar a casuística, a anotação prosseguia no verso do cartão.
Bordas (no sentido dos ponteiros do relógio):
  • superior, para os dados de identificação
  • direita, para as condições do paciente à entrada 
  • inferior, para o tratamento clínico e cirúrgico realizados
  • esquerda, para as condições do paciente à saída

quinta-feira, 3 de junho de 2021

1205 - O limite superior da mortalidade humana

Num estudo publicado 25 de maio na Nature Communications, uma equipe de investigadores afirma ter identificado o limite superior da mortalidade humana: 150 anos. Este número supera o recorde atual para o ser humano mais velho - Jeanne Calment, que faleceu em 1997 aos 122 anos.
Com o recurso de um app e uma enorme quantidade de dados médicos de voluntários no Reino Unido e nos EUA, os cientistas acreditam que esta é a idade máxima que as pessoas podem esperar viver.
A inteligência artificial analisou as informações relacionadas à saúde e à boa forma, e os investigadores determinaram que a esperança de vida humana é mais significativamente baseada em dois aspectos: idade biológica (associada ao estresse, estilo de vida e doenças crônicas) e resiliência (a rapidez com que a pessoa volta ao normal após responder a um fator de estresse).
Com essas descobertas e tendências relacionadas, os investigadores estimam que, dos 120 aos 150 anos de idade, o corpo humano mostra "uma perda completa" de resiliência, resultando numa incapacidade de recuperar.
Humans Could Live up to 150 Years, New Research Suggests SCIENTIFIC AMERICAN
Jeanne Louise Calment (21 de fevereiro de 1875 - 4 de agosto de 1997) foi uma supercentenária francesa e o ser humano mais velho com a idade verificada, tendo alcançado uma vida útil de 122 anos e 164 dias. Sua longevidade atraiu a atenção da mídia e estudos médicos sobre sua saúde e estilo de vida. Calment atribuiu sua longevidade e aparência relativamente jovem para sua idade a uma dieta rica em azeite de oliva. Aos 118 anos, ela foi submetida a repetidos exames neurofisiológicos e tomografia computadorizada. Os testes mostraram que sua memória verbal e fluência de linguagem eram comparáveis às de pessoas com o mesmo nível de escolaridade, nas casas dos 80 e 90 anos.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

1204 - Filarioses


Troca de mensagens no FB com Everardo de Carvalho (foto), pesquisador de oncocercose (Unicamp e Ministério da Saúde):
[...] Em sua conferência, sobre as moléstias tropicais, (Dr. Camurça) destacou a oncocercose, doença causada pelas microfilárias do verme Onchocerca volvulus. Raramente fatal, é uma causa infecciosa de cegueira, que é também conhecida por "cegueira dos rios". Essa doença é transmitida por mosquitos do gênero Simulium, conhecidos por pium no Norte do Brasil e por borrachudo nas outras regiões.
A palestra do colega de Manaus foi à noite, num caramanchão (devidamente telado) que eu mandei construir, uns dias antes, no terreno do hospital. No dia seguinte, a aula de laboratório sobre a oncocercose. A ocasião em que o colega nos mostrou as microfilárias em fragmentos de pele tirados a gilete, macerados com soro fisiológico e postos sem coloração ao microscópio. Pertencia o material examinado a índios de uma tribo Tikuna que, em nome dos altos propósitos da ciência, haviam comparecido ao hospital para os tais exames. Em vista de cujos resultados pontificou o especialista: a oncocercose era endêmica entre eles! [...]
http://gurgel-carlos.blogspot.com/.../pium-e-carapana.html
Paulo Gurgel, para mim é novidade a oncocercose entre os Tikuna. Até meados da década de 2000, ainda estava restrita aos Yanomamis que viviam na Serra do Parima, com prevalência acima de 90% comprovada por exame oftalmológico, uveíte ativa. A espécie de simulídeo envolvido na transmissão é endêmica somente acima de 700 metros de altitude.
Usamos ivermectina como ferramenta terapêutica mas ela se limita a ação sobre as microfilarias e não sobre os parasitas adultos que sobrevivem até 14 anos. A experiência mexicana em Chiapas de eliminação dos nódulos subcutâneos não foi positiva.
O meu foco na pesquisa era como uma categoria nosologica ocidental era incorporada no mosaico de interpretação cultural yanomami e como obter adesão de longo prazo ao tratamento levando em conta os regimes semi-nomádico desses povos.
Localização no tempo e no espaço do meu relato: 1974, município de Benjamin Constant, no Alto Solimões.
Paulo Gurgel, entre os Tikuna somente Mansonella ozzardi.
Paulo Gurgel!
Doença de além-mar: estudos comparativos da oncocercose na América Latina e África
http://doi.org/10.1590/S0104-59702003000100008
Tanto a O. volvulus quanto a M. ozzardi são nematoides filariais, vermes que causam doenças genericamente conhecidas como filarioses. Ambas pertencem à superfamília Filarioidea. A primeira causa a "cegueira dos rios"; quanto à segunda, que habita os mesentérios, peritônio e tecido subcutâneo do hospedeiro humano, precisa ter a patogenicidade mais bem esclarecida. A transmissão para o ser humano se dá pelo pium ou borrachudo (gênero Simulium), para a O. volvulus, e pelos mosquitos picadores (gênero Culicoides) e moscas negras (gênero Simulium), para a M. ozzardi.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

1203 - "Escritos em tempos da Covid-19"

O professor do curso de Medicina e membro do Grupo de Trabalho para enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, da Uece, Marcelo Gurgel, lançou na última sexta-feira (14), às 13h, durante a sessão de encerramento da XIX Bienal da Academia Cearense de Medicina (ACM), o livro "Escritos em tempos da Covid-19".
Leia abaixo o resumo da obra, descrito pelo autor:
Em fevereiro pretérito completou-se um ano da identificação oficial do primeiro caso da Covid-19 no Brasil, aportada em 26 de fevereiro de 2020.
Como vaticinou o adivinho a César para se ter “cuidado com os idos de março”, o Ceará, logo a seguir, diagnosticou o seu caso-índice dessa doença em 15 de março de 2020.
Em 17/03/2020 deu-se a reunião que oficializou o “Grupo de Trabalho de Enfrentamento à pandemia do coronavírus no âmbito da Fundação Universidade Estadual do Ceará, composto por docentes ueceanos, para assessorar as decisões gerenciais das autoridades universitárias no tocante ao combate da Covid-19.
A vigência dessa pandemia agregou compromissos inerentes a essa nova situação. Assim, sob o pressuposto de ser médico sanitarista e formador de opinião, contribuímos com mais de meia centena de entrevistas concedidas às mídias locais, que estão aqui referidas, e publicamos dezenas de artigos, nos moldes de crônicas e ensaios, na grande mídia cearense, todos eles focados na Covid-19, ora oportunamente enfeixados nesse livro.
Como professor, pesquisador e professor universitário, trouxemos à baila diversos estudos científicos relacionados com a pandemia por SARS-CoV-2, que foram convertidos em trabalhos apresentados, artigos, capítulos e livros, os quais encontram-se sumarizados nessa obra.
Apesar das muitas perdas e dos sofrimentos impingidos à nossa gente, uma pitada de tom burlesco foi adicionada ao final desta publicação, inserindo-se nela alguns causos jocosos, mitigando a aridez de tão excruciante temática.
Conferindo um toque cultural ao livro em epígrafe, foi inclusa uma “iconografia pestilencial” com reprodução de pinturas e gravuras pelacionadas com as grandes epidemias que assolaram a humanidade.
Com o desiderato de uma saudável leitura, invoquemos ao Criador para que, com o suporte da Ciência, sobrevenham dias melhores em nossas vidas.
Localizador do tema Covid-19

quinta-feira, 13 de maio de 2021

1202 - Um conhecimento antigo interessante

Praticado por curandeiros africanas, há um tipo de sutura que se utiliza de cabeças de formigas:
426 - O poder curativo das formigas
Na amazônia brasileira, também há índios que usam esta mesma forma de suturar. 
Inspirando-se em tais práticas, a pesquisadora brasileira Thays Obando Brito, da Universidade Federal do Amazonas, desenvolveu um novo grampo para sutura, que imita o formato da mandíbula das formigas-cortadeiras do gênero Atta, também conhecidas como saúvas.
Lucas Ferreira, http://pt.quora.com

quinta-feira, 6 de maio de 2021

1201 - Inalação acidental de preservativo

O caso, descrito em 2004 na National Library of Medicine, foi classificado como o primeiro com suas características. Não foi por menos, é claro.
Uma senhora de 27 anos apresentou tosse persistente, expectoração e febre nos últimos seis meses. Apesar do uso de antibióticos para tratamento de infecção respiratória e do tratamento de tuberculose (não confirmada) nos quatro meses anteriores, seus sintomas não melhoraram. Uma radiografia de tórax subsequente mostrou consolidação não homogênea no lobo superior direito. A videobroncoscopia revelou uma estrutura tipo bolsa invertida no brônquio do lobo superior direito e a remoção broncoscópica confirmou a presença de um preservativo ("camisinha").
A história retrospectiva detalhada confirmou a inalação acidental do preservativo durante uma prática de sexo oral.
Arya CL, Gupta R, Arora VK. Accidental condom inhalation. Indian J Chest Dis Allied Sci. 2004 Jan-Mar;46(1):55-8. PMID: 14870871.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

1200 - Caracterização de alta dimensão das sequelas pós-agudas da COVID-19

Um estudo publicado (22/04) na revista científica Nature sobre a Covid persistente, um dos termos que se refere aos sintomas que permanecem após a Covid-19, indica que pessoas que se curaram da doença têm 59% mais chances de morrer dentro de seis meses do que as pessoas que não foram contaminadas pelo coronavírus.
RESUMO
As manifestações clínicas agudas de COVID-19 são bem caracterizadas; no entanto, suas sequelas pós-agudas não foram descritas de forma abrangente. Aqui, usamos os bancos de dados nacionais de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA para identificar de forma sistemática e abrangente as sequências de incidentes por 6 meses, incluindo diagnósticos, uso de medicamentos e anormalidades laboratoriais em sobreviventes de COVID-19 aos 30 dias. Mostramos que, além dos primeiros 30 dias de doença, as pessoas com COVID-19 apresentam maior risco de morte e maior utilização dos recursos de saúde. Nossa abordagem de alta dimensão identifica sequelas incidentes no sistema respiratório e vários outros, incluindo sistema nervoso e distúrbios neurocognitivos, distúrbios de saúde mental, distúrbios metabólicos, distúrbios cardiovasculares, distúrbios gastrointestinais, mal-estar, fadiga, dores musculoesqueléticas e anemia. Mostramos o aumento do uso incidente de várias terapêuticas, incluindo analgésicos (opioides e não opioides), antidepressivos, ansiolíticos, anti-hipertensivos e hipoglicemiantes orais e evidências de anormalidades laboratoriais em vários sistemas orgânicos. A análise de uma série de resultados pré-especificados revela um gradiente de risco que aumentou ao longo da gravidade da infecção aguda por COVID-19 (não hospitalizado, hospitalizado, admitido em terapia intensiva). Os resultados mostram que, além da doença aguda, o fardo substancial da perda de saúde - abrangendo vários sistemas de órgãos pulmonares e extrapulmonares - é vivenciado pelos sobreviventes do COVID-19. Os resultados fornecem um roteiro para informar o planejamento do sistema de saúde e o desenvolvimento de estratégias de cuidados multidisciplinares para reduzir a perda crônica de saúde entre os sobreviventes do COVID-19.
Al-Aly, Z., Xie, Y. & Bowe, B. High-dimensional characterization of post-acute sequalae of COVID-19. Nature (2021).
http://doi.org/10.1038/s41586-021-03553-9

quinta-feira, 22 de abril de 2021

1199 - Um espécime enervante

Rufus Weaver foi um anatomista do final do século XIX. Sua especialidade era preparar amostras anatômicas, ou seja, preservar partes e órgãos do corpo humano para as aulas de medicina da Hahnemann Medical College. O projeto mais famoso de Weaver foi a recuperação, preservação e exibição de todo um sistema nervoso humano, o que nunca havia sido feito antes. Em 1888, Weaver dissecou um corpo e separou o sistema nervoso - nervos, cérebro e globos oculares, e o preservou como você vê aqui. O espécime é enervante para quem o vê, e você deve estar se perguntando quem foi essa pessoa. Não foi até 1915 que ela foi identificada como "Harriet Cole", uma mulher negra que trabalhava na faculdade, a qual teria deixado seu corpo para a ciência.
Visitantes tiram fotos de "Harriet Cole"
Essa história é difícil de acreditar, considerando que alguém doar o corpo para a ciência não era uma atitude frequente em 1888. Os cadáveres de espécimes médicos da época vinham de roubos de túmulos e reclamação de corpos que de outra forma seriam enterrados pelo estado. Alaina McNaughton, Matt Herbison e Brandon Zimmerman têm tentado rastrear o mistério de Harriet Cole. Ela era uma pessoa real e a dona desse sistema nervoso? Weaver deixou poucas pistas sobre como preparou a amostra, e a identidade do doador não estava em seus registros.
Fonte: The Mystery of "Harriet Cole", por Jessica L. Heister. Atlas Obscura

quinta-feira, 15 de abril de 2021

1198 - Melocirurgia

Em inglês, elas são chamadas de earworms ("vermes de ouvido"). Em português do Brasil, a denominação é um pouco menos nojenta: música-chiclete. O efeito é o mesmo em qualquer lugar do mundo. São músicas que grudam na cabeça de onde não saem mais com bons modos.
Música: não abuse

quinta-feira, 8 de abril de 2021

1197 - Vacinação pode ter evitado 2.ª onda da Covid-19 em profissionais da saúde no Ceará

Levantamento realizado pela Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), aponta uma relação direta entre a vacinação e a diminuição do número de casos de Covid-19 entre profissionais de saúde cearenses. A leitura dos dados indica que a imunização seria um dos possíveis fatores responsáveis por evitar os efeitos de uma segunda onda da doença neste grupo.
A análise dos indicadores foi feita considerando as informações da plataforma IntegraSUS. A cientista de dados da ESP/CE, Camila Colares, ficou encarregada de gerar um gráfico baseado nos resultados percebidos no comparativo das curvas de contágio entre a população em geral e profissionais de saúde do Ceará.
Ela explica que, no período referente à primeira onda da Covid-19 no Estado, principalmente entre abril e junho de 2020, houve aumento paralelo dos casos registrados em trabalhadores da saúde e de outros grupos da sociedade.Entretanto, analisando os indicadores de janeiro a março de 2021, nota-se que as curvas dos dois grupos adotam comportamentos distintos. "Enquanto a curva da população geral indica a ocorrência da segunda onda de Covid-19, a dos profissionais de saúde permanece estável", argumenta a cientista.
O cientista-chefe da Saúde do Ceará, José Xavier Neto, ressaltou a eficácia da vacinação como um possível resultado que impactou diretamente na imunização dos profissionais de saúde e na consequente diminuição dos números de trabalhadores infectados. "Isso significa que a vacina funciona e, quanto mais pessoas forem vacinadas, mais indivíduos protegidos teremos".
O consultor em infectologia da ESP/CE, Keny Colares, associa a celeridade no processo de imunização desse grupo também aos planos de operacionalização da vacinação, tanto na escala municipal quanto na estadual. "O gráfico mostra uma mudança na curva bem interessante e é um dado ilustrativo dos primeiros benefícios da vacinação, já que essa população dos profissionais de saúde tem tido acesso à vacinação mais rapidamente", afirma.
http://www.esp.ce.gov.br/2021/04/05/vacinacao

quinta-feira, 1 de abril de 2021

1196 - Covid-19: o que muda depois que eu tomar a vacina?

Prof. Julio Abreu, médico e Doutor em Pneumologia:

Eula Biss:
1 - Se imaginarmos a ação de uma vacina não apenas em termos de como ela afeta um único corpo, mas também em termos de como ela afeta o corpo coletivo de uma comunidade, é justo pensar na vacinação como uma espécie de banco de imunidade.
2 - As contribuições para este banco são doações para aqueles que não podem ou não serão protegidos por sua própria imunidade. Este é o princípio da imunidade de rebanho, e é por meio desta que a vacinação em massa se torna muito mais eficaz do que a vacinação individual.

quinta-feira, 25 de março de 2021

1195 - Taturanas assassinas

taturana (s.f.), é o estágio larval (lagarta) de insetos do gênero Lonomia.
Também conhecidas como lagartas-de-fogo, elas possuem pilosidades com propriedades urticantes (o que justifica não terem aves e mamíferos como inimigos naturais) e, por vezes, são potencialmente perigosas. Algumas espécies são letais, como a Lonomia obliqua, sendo por este motivo denominadas "taturanas assassinas", pois podem provocar hemorragia, insuficiência renal e até levar à morte.
Lonoma obliqua
O único remédio eficaz para acidentes com Lonomia é o soro antilonômico, feito a partir das cerdas de taturana no Instituto Butantan.
Depois da metamorfose para mariposa, acasalam durante dez horas. A fêmea morre em oito dias, e o macho, em seis. Na fase adulta, não se alimentam mais.
Fonte: Wikipédia
(LINK futuro p/ blog EM)

quinta-feira, 18 de março de 2021

1194 - DNA: uma nova reviravolta na vida

28/02/1953 James Watson, desde a madrugada deste sábado, passou seu tempo no Laboratório Cavendish, em Cambridge, embaralhando modelos de recortes de papelão das moléculas das bases do DNA: adenina (A), guanina (G), citosina (C) e timina (T) . Depois de um tempo, em uma centelha de engenhosidade, ele descobriu seu par complementar. Ele percebeu que A unido a T tinha uma semelhança próxima com C unido a G, e que cada par poderia se manter unido por meio de ligações de hidrogênio. Esses pares também poderiam se encaixar perfeitamente como degraus que se encontram em ângulos retos entre duas estruturas helicoidais antiparalelas de açúcar-fosfato de DNA enroladas em torno de um eixo comum. Tal estrutura era consistente com a evidência do padrão de difração de raios-X conhecido. Cada hélice separada com sua metade dos pares poderia formar um modelo para reproduzir a molécula: o segredo da vida.
Primeiro anúncio de Francis Crick e James Watson de que haviam chegado à conclusão sobre a estrutura de dupla hélice da molécula de DNA. Seu artigo, A Structure for Deoxyribose Nucleic Acid, foi publicado na edição de 25 de abril de 1953 da revista Nature.


DNA - uma nova reviravolta na vida (resumo editorial)
A determinação em 1953 da estrutura do ácido desoxirribonucléico (DNA), com suas duas hélices entrelaçadas e bases orgânicas emparelhadas, foi um tour de force na cristalografia de raios-X. Mas, mais significativamente, também abriu o caminho para uma compreensão mais profunda do que talvez seja o processo biológico mais importante. Nas palavras de Watson e Crick: "Não escapou à nossa observação que o par específico que postulamos sugere imediatamente um possível mecanismo de cópia do material genético."

quinta-feira, 11 de março de 2021

1193 - Sundowning: a confusão do fim do dia

O termo sundowning ("pôr do sol") aqui se refere a um estado de confusão que ocorre no final da tarde e se estende pela noite. O sundowning pode causar uma variedade de comportamentos, como confusão, ansiedade, agressão ou ignorar instruções. O sundowning também pode levar a um ritmo lento ou errante.
O sundowning não é uma doença, mas um grupo de sintomas que ocorrem em um horário específico do dia e que podem afetar pessoas com demência, como a doença de Alzheimer. 
A causa exata desse comportamento é desconhecida.

Os fatores que podem agravar a confusão no final do dia incluem:
  • Fadiga
  • Iluminação baixa
  • Sombras aumentadas
  • Perturbação do "relógio interno" do corpo
  • Dificuldade em separar a realidade dos sonhos
  • Presença de infecção, como infecção do trato urinário
Dicas para reduzir o sundowning:
  1. Tente manter uma rotina previsível de hora de dormir, acordar, refeições e atividades.
  2. Planeje atividades e exposição à luz durante o dia para estimular a sonolência noturna.
  3. Limite a soneca durante o dia.
  4. Limite a cafeína e o açúcar às primeiras horas da manhã.
  5. Mantenha uma luz noturna acesa para reduzir a agitação que ocorre quando os arredores são escuros ou desconhecidos.
  6. À noite, tente reduzir o ruído de fundo e atividades estimulantes, incluindo assistir TV, que às vezes pode ser perturbador.
  7. Em um ambiente estranho ou desconhecido, traga itens familiares - como fotografias - para criar um ambiente mais familiar e descontraído.
  8. Toque uma música suave familiar à noite ou sons relaxantes da natureza, como o som das ondas.
  9. Converse com o médico do seu ente querido se você suspeitar que uma condição subjacente, como uma infecção do trato urinário ou apnéia do sono, pode estar piorando o comportamento ao pôr do sol, especialmente se o pôr do sol se desenvolve rapidamente.
Algumas pesquisas sugerem que uma dose baixa de melatonina - um hormônio natural que induz a sonolência - sozinha ou em combinação com a exposição à luz forte durante o dia pode ajudar a aliviar o sundowning.
Fonte: Sundowning: Late-day confusion. Resposta de Jonathan Graff-Radford, MD, MAYO CLINIC
Sundowning em uma  portadora de metástase de melanoma cerebral. Caso descrito por um leigo: Mike, em sua coluna Friday Firesmith, no BITS AND PIECES

quinta-feira, 4 de março de 2021

1192 - A fórmula de Rich

Patogenicidade – propriedade de um microrganismo provocar alterações fisiológicas no hospedeiro, ou seja, capacidade de produzir doença.

Interessante como esta antiga fórmula para explicar a patogenicidade na tuberculose pode ser aplicada em outras enfermidades infecciosas (como na Covid-19, por exemplo).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

1191 - A Iniciativa GISAID

A Iniciativa GISAID promove o rápido compartilhamento de dados de todos os vírus influenza e do coronavírus causador da COVID-19. Isso inclui a sequência genética e dados clínicos e epidemiológicos relacionados associados a vírus humanos e dados geográficos e específicos de espécies associadas a vírus aviários e de outros animais, para ajudar os pesquisadores a compreender como os vírus evoluem e se espalham durante epidemias e pandemias.
Um ano desde que os primeiros genomas de SARS-CoV-2 foram lançados para o mundo em 10 de janeiro de 2020 00: 41UTC (eis a primeira imagem disponível do coronavírus recém-descoberto em Wuhan).
Um ano atrás, respostas críticas de saúde pública em todo o mundo foram iniciadas, quando o China compartilhou via GISAID os primeiros genomas inteiros do SARS-CoV-2 e dados associados.
Esses dados com curadoria de alta qualidade disponibilizados por meio do GISAID permitiram o início do desenvolvimento das primeiras vacinas, testes de diagnóstico e outras respostas a uma velocidade sem precedentes, incluindo as primeiras vacinas a serem aprovadas e disponibilizadas (Polack et al N Engl J Med 2020 ), e o desenvolvimento dos primeiros testes moleculares baseados em NAAT e RT-PCR para detectar o coronavírus pandêmico (Bohn et al Clin Chem Lab Med 2020).
======================================================================================================================
SURGIMENTO DE MUTAÇÕES PARA INICIANTES 👉
1. Vírus precisam invadir uma célula para usar algumas de suas estruturas como uma máquina copiadora.
2. Usando material em conjunto com o maquinário celular, o vírus produz milhões de cópias.
3. A copiadora não é perfeita, então algumas cópias não saem exatamente iguais a original.
4. Esses erros nas cópias (mutações) ocorrem aleatoriamente, mas, em geral, uma taxa mínima de erros a cada x número de cópias é esperada, dependendo do vírus e do gene copiado.
5. Alguns erros na cópia (mutações) não vão afetar em nada o desempenho do vírus: seja a capacidade de gerar novas cópias, a de se transmitir ou a de infectar mais facilmente. Outras vão até prejudicar o vírus nessas capacidades. Essas tendem a simplesmente desaparecer, simplesmente porque as cópias originais são mais capacitadas p/ se copiarem, transmitirem ou infectarem que as novas. É a teria de Darwin em tempo real.
6. O problema acontece quando um desse erros provoca uma alteração na estrutura de proteínas importantes que o vírus utiliza p/ se transmitir ou infectar células. É como se o vírus aperfeiçoasse alguma ou algumas ferramentas que utiliza para chegar a outro hospedeiro e/ou invadir novas células.
7. Cópias com mutações favoráveis possuem uma vantagem adaptativa sobre as cópias originais e, portanto, tendem a prevalecer sobre essas à medida que infectam novas células e novamente se copiam.
8. Qual a chance de acontecer um erro na cópia que favorece o vírus? É uma questão de probabilidades. Se é esperado a ocorrência de um erro (mutação) a cada x cópias, se você tem 10, 100 ou 1000 processos de cópias a chance de mutações acontecerem são de 10x, 100x e 1000x, respectivamente. Lembrem, nem todas serão mutações favoráveis. Supondo que em um paciente emergiu uma cópia mutante que acabou se sobrepondo sobre as originais, isso é garantia de sucesso? Claro que não, pois esse mutante ainda precisa se transmitir para outro indivíduo para se manter, porque o ciclo invariavelmente vai acabar naquele organismo, por resolução da doença pelo sistema imune (maioria das vezes) ou pelo óbito do paciente. Em suma, a mutante precisa passar adiante!
9. Então, onde temos mais chance de ter mutantes circulando? Considere as variáveis: taxa de mutação (erros de cópia) esperada (isso é fixo, não podemos mudar), número de cópias ativas acontecendo (conseguimos modificar diminuindo o número de pessoas infectadas), e número de oportunidades de transmissão (isso conseguimos mantendo as medidas individuais e coletivas de proteção). Logo, chance de mutante com vantagem adaptativa sobre original = n.º de mutações esperadas a cada X cópias X n.º de cópias sendo feitas X n.º de transmissões ocorrendo. Portanto, facilmente se compreende que a maior chance de aparecer um mutante são em contextos de muitas infecções e poucas medidas de controle.
Thread de Alexandre Zavascki

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

1190 - Alimentos mofados

Os mofos ou bolores são uma concentração muito grande de fungos, organismos considerados decompositores na natureza e presentes em qualquer lugar em que haja matéria orgânica disponível. Assim, a tal "penugem" que costumamos ver no alimento mofado são as hifas, ou seja, as estruturas filamentares que compõem o corpo dos fungos.
O fungo, por si só, não causa mal. Mas alguns tipos deles produzem micotoxinas (substâncias tóxicas) que causam desde intoxicações alimentares até câncer hepático. Como existem milhares de tipos de mofos, fica difícil saber se o que se desenvolveu em determinado alimento fará mal ou não à saúde. Então, na dúvida, o melhor é não consumir o pão, a fruta, o iogurte ou qualquer outra comida com o aspecto mofado.
Contudo, nem todos os alimentos mofados podem ser considerados maléficos ao organismo humano. Desde muito tempo, os fungos são utilizados na preparação de queijos como o gorgonzola (imagem abaixo), certos tipos de salame e bebidas fermentadas. Nesses casos, os fungos são de utilização controlada e suas propriedades são conhecidas.
Leitura complementar
Somos queijo gorgonzola, por Maitê Proença. Blog EM