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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

1426 - A tuberculose na História

John Green, em seu livro "Everything is Tuberculosis", sobre os assassinos adolescentes que mataram o arquiduque Francisco Ferdinando, o que deu início à Primeira Guerra Mundial: 
Eles estavam mais dispostos a morrer por sua causa, visto que já estavam morrendo de tuberculose? 
DeepSeek:
Os assassinos do arquiduque Francisco Ferdinando, cujo atentado em 28 de junho de 1914 desencadeou a Primeira Guerra Mundial, eram jovens nacionalistas sérvios ligados ao grupo "Mão Negra". O principal assassino foi Gavrilo Princip, que tinha 19 anos na época, e outros conspiradores envolvidos também eram jovens, como Nedeljko Čabrinović e Trifko Grabež.
A saúde de Gavrilo Princip e a disposição para morrer
Gavrilo Princip sofria de tuberculose, uma doença grave, sem tratamento eficaz e muitas vezes fatal na época. No entanto, não há evidências claras de que ele e seus companheiros estivessem ativamente morrendo no momento do atentado. A tuberculose era uma doença crônica que podia levar anos para se tornar fatal, e muitos dos conspiradores estavam doentes, mas não necessariamente à beira da morte.
Ainda assim, sua condição de saúde pode ter contribuído para sua disposição de arriscar a vida. Eles eram nacionalistas fanáticos, acreditando na libertação dos eslavos do sul do domínio austro-húngaro, e muitos estavam dispostos a se sacrificar pela causa. Quando presos, alguns tentaram suicídio, mas Princip não conseguiu porque sua cápsula de cianeto estava velha e só lhe causou vômitos.
O destino dos assassinos
Gavrilo Princip foi condenado a 20 anos de prisão (a pena de morte não podia ser aplicada a menores de 20 anos na Áustria-Hungria). Ele morreu de tuberculose na prisão em 1918, antes do fim da guerra.
Nedeljko Čabrinović também morreu na prisão, em 1916, de tuberculose.
Outros conspiradores foram executados ou morreram na prisão.
Conclusão
Embora a tuberculose tenha afetado sua saúde, não está claro que isso fosse o principal motivador de suas ações. Eles já eram extremamente comprometidos com a causa nacionalista sérvia e estavam dispostos a morrer por ela, independentemente de sua condição física. O atentado foi um ato de terrorismo político, não um "suicídio por doença", mas sua saúde debilitada pode ter reforçado sua disposição para o sacrifício.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

1417 - Conceitos-chave da tuberculose

Natalia Martinez Medina, Medscape

A tuberculose é um problema de saúde pública devido à sua alta morbidade e mortalidade. De acordo com o Relatório Mundial da Tuberculose de 2024 publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2023 foram relatados 8,2 milhões de novos casos, com 1,25 milhão de mortes pela doença.

A OMS salienta que, sem tratamento, a taxa de mortalidade por tuberculose pode atingir 50%. No entanto, com o uso de terapias atualmente aprovadas e recomendadas pela entidade (um ciclo de medicamentos antituberculose por 4 a 6 meses), cerca de 85% dos doentes alcançam a cura.

Existem cinco fatores de risco principais associados ao desenvolvimento da tuberculose: subnutrição, infecção por vírus da imunodeficiência humana, distúrbios relacionados ao consumo de álcool, doenças decorrentes do tabagismo e diabetes. Além disso, fatores como mudanças climáticas, migração, deslocamento forçado, escassez de financiamento e resistência antimicrobiana também afetam a disseminação e o controle da doença.

Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos têm diretrizes de diagnóstico e tratamento da doença, das quais quatro definições principais devem ser consideradas:

  1. Tuberculose latente: o paciente tem Mycobacterium tuberculosis no corpo, mas não apresenta sinais ou sintomas de doença ativa.
  2. Tuberculose ativa: a infecção progride e o paciente desenvolve sintomas da doença, representando risco de transmissão.
  3. Tuberculose multirresistente: o bacilo não responde à isoniazida nem à rifampicina, os dois fármacos antituberculose de primeira linha mais eficazes. Atenção: existem tratamentos de segunda linha.
  4. Tuberculose extremamente multirresistente: os bacilos responsáveis pela doença não são suscetíveis aos medicamentos mais eficazes contra a tuberculose multirresistente.

Existem várias opções disponíveis para o tratamento da tuberculose:

  • Tuberculose latente: isoniazida mais rifampicina. Alternativa: isoniazida mais rifapentina (uma vez por semana por 12 semanas, seja autoadministrada ou sob terapia diretamente observada-duração da resposta). Esses tratamentos não são recomendados para crianças com menos de 2 anos de idade, grávidas ou pacientes com uma cepa resistente a esses medicamentos.
  • Tuberculose ativa: isoniazida, rifampina, pirazinamida, etambutol ou estreptomicina (não utilizada na gravidez). Atenção a casos especiais: gestantes, crianças e portadores do vírus da imunodeficiência humana que necessitem de tratamento especial.
  • Tuberculose extrapulmonar: aplica-se o mesmo regime de tratamento de seis meses que para tuberculose pulmonar, exceto na meníngea e na osteoarticular, onde o tratamento pode se estender para 9 a 12 meses. Casos com complicações graves podem exigir terapia cirúrgica.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

1394 - Tuberculose - Aspectos históricos, realidade, seu romantismo e transculturação

Boa noite, Paulo!
Feliz 2025!

No apagar das luzes de 2024 eu digitei a monografia que o Rosemberg (foto) escreveu em 1999, intitulada: *TUBERCULOSE - ASPECTOS HISTÓRICOS, REALIDADE, SEU ROMANTISMO E TRANSCULTURAÇÃO* e postei em meu blog *Memórias*. A monografia foi publicada no Jornal de Pneumologia Sanitária e citada pelo dr. Gilmário MourãoTeixeira, no editorial do referido jornal. Também digitei e postei no final da monografia, o editorial do dr. Gilmário que está impecável. Meu trabalho foi hercúleo e prazeroso. Para apreciar o longo texto é preciso ter interesse em conhecer a saga do bacilo de Koch através do tempo, gostar de história, arte, cultura de maneira geral e ter muito fôlego para ler tão extenso texto nesse mundo digital de textos curtos. Enfim, acho que os médicos e, principalmente, os tisiólogos irão apreciar muito. Certamente aproveitei bem os últimos dias do ano findo.
Ana Margarida Rosemberg

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

1391 - Florence Sebert: da tuberculina ao PPD

Florence Barbara Seibert (1897 – 1991) foi uma bioquímica americana. Ela é conhecida por identificar o agente ativo do antígeno tuberculina como uma proteína e, posteriormente, por isolar uma forma pura de tuberculina, derivado proteico purificado (PPD, em inglês), permitindo o desenvolvimento e o uso de um teste confiável para a tuberculose.
Florence nasceu em 6 de outubro de 1897, em Easton, Pensilvânia. Aos três anos, contraiu poliomielite . Ela teve que usar aparelhos nas pernas e andou mancando durante toda a vida. Quando adolescente, Seibert teria lido biografias de cientistas famosos que inspiraram seu interesse pela ciência.
Em 1932, ela concordou em se mudar, com Long, para o Instituto Henry Phipps na Universidade da Pensilvânia . Ele se tornou professor de patologia e diretor de laboratórios no Instituto Phipps, enquanto ela aceitou uma posição como professora assistente em bioquímica. Seu objetivo era o desenvolvimento de um teste confiável para a identificação da tuberculose. O derivado anterior da tuberculina, a substância de Koch , produzia resultados falso-negativos em testes de tuberculose desde a década de 1890 por causa de impurezas no material.
Na década de 1920, ela conheceu Esmond R. Long, que estava trabalhando com tuberculose. Em 1932, ela concordou em se mudar, com ele, para o Instituto Henry Phipps na Universidade da Pensilvânia. Ele se tornou professor de patologia e diretor de laboratórios no Instituto Phipps, enquanto ela aceitou uma posição como professora assistente em bioquímica. Seu objetivo era o desenvolvimento de um teste confiável para a identificação da tuberculose. O derivado anterior da tuberculina, a substância de Koch desde a década de 1890, que produzia resultados falsos em testes de tuberculose por causa de impurezas no material.
Com a supervisão e o financiamento de Long, Florence identificou o agente ativo na tuberculina como uma proteína e passou vários anos desenvolvendo métodos para separar e purificar a proteína do Mycobacterium tuberculosis, obtendo o derivado proteico purificado (PPD) que permitiu a criação de um teste confiável para tuberculose.
Na década de 1940, o derivado proteico purificado (PPD) de Florence tornou-se um padrão nacional e internacional para os testes de tuberculina.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

1289 - O brasileiro que criou a abreugrafia

Ela é conhecida por vários nomes mundo afora. Roentgenfluorografia, na Alemanha; radiofotografia, na França; schermografia, na Itália; fotorradioscopia, na Espanha; fotofluorografia, na França e na Suécia; e microrradiografia, em Portugal. No Brasil, é chamada de abreugrafia e quem tem 50 anos ou mais deve ter feito uma para poder se matricular na escola ou ingressar num novo emprego.
Este exame do pulmão, que começou a ser desenvolvido há cerca de 100 anos e revolucionou o diagnóstico e o tratamento da tuberculose, foi inventado pelo médico brasileiro Manoel Dias de Abreu — daí o seu nome — e que, por isso, ele foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel, em 1946, 1951 e 1953.
A ideia, que demorou mais de uma década para ser desenvolvida, consistia em fotografar com um filme comum, bem mais barato, pois a fotografia com câmeras portáteis já era uma prática disseminada no começo do século passado.
"Assim, a imagem dos raios-x atravessando a pessoa examinada era gerada em uma tela de material fluorescente, que fazia parte do aparelho", explica Schulz. "E essa imagem, agora em luz visível, era fotografada da mesma forma como fotografamos uma paisagem qualquer."
Segundo o médico radiologista Cesar Higa Nomura, presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), "a abreugrafia era um método rápido e eficiente para diagnóstico de tuberculose com baixo custo, uma vez que os filmes fotográficos eram mais baratos que os radiográficos. Além disso, era um método portátil que permitiu o uso em larga escala", acrescenta. Enquanto um filme radiográfico tem um tamanho de 30 x 40 cm, os usados nas câmeras comuns — e na abreugrafia, portanto — medem apenas 35 mm ou 70 mm.
Abreu nasceu na cidade de São Paulo, no dia 4 de janeiro de 1892, terceiro filho do português da Província do Minho, Júlio Antunes de Abreu, e da paulista Mercedes da Rocha Dias, de Sorocaba. Ele ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro com apenas 15 anos e se formou aos 21, em 1913. Pouco depois ele e a família partiram para Paris, onde Abreu pretendia continuar e aperfeiçoar seus estudos. Por causa da 1ª Guerra Mundial, no entanto, teve de ficar em Lisboa até 1915, quando enfim se mudou para a capital francesa, onde permaneceu por 8 anos.
Em Paris, Abreu se convenceu de que a fotografia da tela fluorescente, o écran, nos exames feitos com raios-x, poderia ser uma forma barata de diagnosticar a tuberculose em massa. Ele até tentou, por volta de 1919, fazer a fotografia da tela, mas esbarrou em obstáculos técnicos. A luminosidade da fluorescência do écran era muito fraca, longe de ser suficiente para ficar marcada nos filmes com sais de prata das máquinas fotográficas comuns em tão mínima fração de segundo.
Finalmente em 1936, no Rio de Janeiro, ele conseguiu obter a radiofotografia do écran, então com nova tecnologia que dava maior fluorescência à tela. Abreu batizou seu invento de roentgenfotografia, em homenagem ao descobridor dos raios x (Wilhelm Conrad Röntgen). O nome foi usado no Brasil até 1939, quando o presidente do 1º Congresso Brasileiro de Tuberculose, Ary Miranda, propôs a mudança para abreugrafia, em honra de seu inventor. A proposta foi aprovada por unanimidade.
"A invenção ganhou destaque internacional", diz o médico Fabiano Reis, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. "A técnica rapidamente se disseminou e foi incorporada pelos serviços públicos de saúde do Brasil e de outros países." Na época, ela era 100 vezes mais barata que uma radiografia tradicional.
A médica e mestre em Saúde Coletiva, Dilene Raimundo do Nascimento, da área de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz da Fiocruz, lembra que na época a abreugrafia só tinha vantagens. "Pelo seu custo baixo e pela facilidade de operar, tornou possível o exame em massa para o diagnóstico precoce da tuberculose", explica."O diagnóstico precoce da doença possibilitou iniciar o tratamento antes que fosse tarde demais, reduzindo assim o número de mortes".
De acordo com Nomura, a inovação de Abreu teve impacto grande na saúde pública brasileira da época, que lutava contra a tuberculose, com grande número de acometidos pela doença, diagnosticados em estágio avançado e crescente número de mortes. "Só no Rio de Janeiro no início da década de 1920 as estimativas apontavam cerca de 300 mortes por grupo de 100 mil pessoas", diz.
Aparelho de abreugrafia e técnicos (Vitória, ES)
Com a diminuição progressiva da incidência da tuberculose e os progressos no seu tratamento, os programas de triagem em massa foram sendo interrompidos a partir anos 1970. "Afinal, no começo daquele século a incidência era de 150 casos por 100 mil habitantes (semelhante à covid-19 em algumas ondas em alguns países), mas em 1970 já era de apenas 5 casos por 100 mil", explica Schulz.
Por isso, em 1974, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se pronunciou contra o uso da abreugrafia em massa, por expor desnecessariamente a população a doses de radiação. "Atualmente, o exame para detecção de tuberculose é feito pela pesquisa do bacilo de Koch no escarro", conta Reis. "Para rastreamento de algumas patologias pulmonares, são preconizados estudos tomográficos dque permitem detecção de eventuais lesões em seus estágios iniciais."
Apesar disso, a abreugrafia continua sendo lembrada, pelo menos no Brasil, onde o seu Dia Nacional é comemorado em 4 de janeiro, data do nascimento de seu inventor. A homenagem foi estipulada pelo presidente Juscelino Kubitschek, por meio do Decreto nº 42.984, de 3 de janeiro de 1958. Por uma ironia de destino, Abreu viria a morrer quatro anos depois, no dia 30 abril, por causa de uma doença do pulmão — no caso, câncer.
P.S. Em 1963, o corpo clínico do Hospital de Messejana, em Fortaleza-CE, homenageou o insigne médico paulista ao colocar seu nome no Centro de Estudos da instituição. Tive a honra de presidir durante quatro anos (2003 - 2006) o referido Centro de Estudos, contando com a imprescindível colaboração do Sr. Vinício Firmeza de Brito.
Texto extraído de: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-62695479
Em arquivo: Post 11 - Abreu, inventor da abreugrafia, blog Nova Acta

quinta-feira, 10 de junho de 2021

1206 - Análise de um cartão McBee. O modelo da DNT


MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE SAÚDE PÚBLICA
DEPARTAMENTO NACIONAL DE PROFILAXIA E CONTROLE DE DOENÇAS
DIVISÃO NACIONAL DE TUBERCULOSE (DNT)


Analisando um exemplar:
Feitos de cartolina na cor amarelo-claro, medindo 20 x 25 cm, apresentando próximo às bordas 114 pequenos orifícios.

Parte central - para a colocação dos seguintes dados:
  • nome, matrícula e prontuário
  • data da internação, data da alta ou óbito, estada (em dias)
  • cor, sexo, idade, estado civil, nacionalidade, profissão, categoria
  • casuística: título e subtítulo. Se o espaço não fosse suficiente para anotar a casuística, a anotação prosseguia no verso do cartão.
Bordas (no sentido dos ponteiros do relógio):
  • superior, para os dados de identificação
  • direita, para as condições do paciente à entrada 
  • inferior, para o tratamento clínico e cirúrgico realizados
  • esquerda, para as condições do paciente à saída

quinta-feira, 4 de março de 2021

1192 - A fórmula de Rich

Patogenicidade – propriedade de um microrganismo provocar alterações fisiológicas no hospedeiro, ou seja, capacidade de produzir doença.

Interessante como esta antiga fórmula para explicar a patogenicidade na tuberculose pode ser aplicada em outras enfermidades infecciosas (como na Covid-19, por exemplo).

quinta-feira, 21 de maio de 2020

1150 - A vacina BCG e o acidente de Lübeck

A vacinação intradérmica com o BCG (Bacilo de Calmetti-Guérin) é uma medida importante no controle da tuberculose. Introduzida em 1921, esta vacina teve uma trajetória tortuosa e controvertida condicionada a diversos fatos, dos quais os mais importantes são:
  • O acidente de Lübeck (Alemanha), em 1930, quando, de 251 crianças vacinadas por via oral, 77 faleceram de tuberculose no primeiro ano e outras desenvolveram processos que se tornaram crónicos. Na verdade, após exaustivas investigações, ficou demonstrado que a vacina usada foi contaminada por germes da tuberculose e as crianças receberam, por engano, emulsões contendo um terço de BCG e dois terços de micobactérias causadoras da tuberculose.
  • Diversos estudos sobre a proteção da vacina, realizados nas décadas de 50 e 60, mostraram uma proteção diferente, variando entre 80 a 0%. A criteriosa análise destes estudos mostrou que as diferenças estavam relacionadas à potência das vacinas usadas (principalmente nas que deram baixa ou nenhuma proteção); a presença nas regiões estudadas de micobactérias não tuberculosas que estimulariam nas pessoas defesas cruzadas com a vacinação BCG; diferenças de técnicas de aplicação da vacina (o uso de injecções intradérmicas é superior ao de aplicações por multipuntura); e erros de metodologia do estudo.
  • Os resultados do estudo em Chingleput, na Índia, em que se comparou a vacina BCG contra "placebo", realizado exatamente para reavaliar as controvérsias anteriores, mostrou uma proteção nula no primeiro relatório, após 7 anos e meio. A última avaliação, entretanto, com 15 anos de observação, revelou fatos inesperados, com uma protecção média de 17%, sendo de 45% nos primeiros 5 anos e de 16% nos 5 anos seguintes entre os vacinados abaixo de 15 anos. A proteção para a população acima de 15 anos continuou a ser nula. A particularidade desta região, além da presença de micobactérias não tuberculosas, é de apresentar uma variedade do bacilo da tuberculose (variedade Sul-Índia), de baixa virulência, que provoca adoecimento tardio, portanto a proteção vacinal observada também deve ser tardia.
Com os estudos acumulados sobre a vacina BCG, podemos afirmar que ela protege o adoecimento imediatamente após a infecção tuberculosa (tuberculose de primo-infecção ou primária), sobretudo as formas graves observadas em crianças, como as formas trnsmitidas e as meningoencefálicas (tuberculose do sistema nervoso central e meninges) e formas extrapulmonares. Este fato fica bem claro quando se compara, no Brasil, os resultados da acentuada queda de notificação de meningite tuberculosa nos primeiros anos de vida nos estados que usavam a vacina logo após o nascimento contra a ocorrência desta forma da doença no Estado do Rio Grande do Sul, que só vacinava as crianças em idade de início da escola. Um recente trabalho retrospectivo realizado no país parece indicar que a vacinação BCG também oferece alguma protecção para os contatantes de tuberculose com bacilos multirresistentes.
O Brasil adota a vacinação BCG como uma das medidas de controle da tuberculose, prioritariamente indicada para as crianças da faixa etária de 0 a 4 anos, sendo obrigatória para os menores de um ano, como dispõe a portaria n.º. 452, de 06/12/76, do Ministério da Saúde (MS). O Ministério da Saúde recomenda vacinar os recém-nascidos, ainda na maternidade, com peso igual ou superior a 2 Kg e sem intercorrências clínicas. Para filhos de mães portadoras de HIV/AIDS, a vacinação deve ser aplicada, desde que não apresentem sintomas da doença e acompanhadas pelas unidade de referência para AIDS. É também recomendada para trabalhadores da saúde com prova tuberculínica negativa, que atendem habitualmente tuberculose e SIDA.
Em conclusão, a vacina BCG tem uma proteção específica e não para todas as formas da tuberculose, de tal sorte que uma pessoa vacinada pode adoecer de tuberculose. Principalmente das formas pós-primárias que aparecem tardiamente, depois da infecção tuberculosa e da própria vacinação, provocada por uma reativação dos bacilos hibernantes no organismo (reativação endógena) ou por uma nova infecção externa com uma carga de bacilos que superem a proteção imunológica da própria vacinação ou da primo-infecção sem adoecimento (reinfecção exógena).
Leitura recomendada
Do acidente de Lubeck ao advento do BCG recombinante com maior poder protetor e polivalente
Autor: José Rosenberg
Pulmão-RJ. Vol 4 - n.º 1; 29 a 46; 1994

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

1116 - Ouvido de tuberculoso

Ter ouvido de tuberculoso é um ditado popular muito comum no Brasil, (1) usado para se referir a alguém que escuta muito bem, ou seja, que tem uma audição bastante apurada.
Ao contrário do que muitos pensam, a tuberculose não aumenta a audição dos doentes, mas pode fazer o contrário. Em alguns casos, como a meningite tuberculosa, a pessoa corre o risco de perder a capacidade de ouvir. (2)
Origem da expressão "ouvido de tuberculoso"
Existem duas prováveis origens para a expressão ouvido de tuberculoso, sendo que ambas datam da primeira metade do século XX (por volta da década de 1940). Pelo fato de a tuberculose ser uma doença letal e muito contagiosa, por vários anos os seus portadores buscavam o sigilo absoluto sobre o assunto. (3) Por receio de ouvir comentários suspeitos de pessoas próximas, criou-se a ideia de que os tuberculosos estão sempre atentos aos cochichos e conversas alheias.
Por este motivo é comum falar que os fofoqueiros - pessoas intrometidas e que ficam constantemente atentas às conversas das outras pessoas - têm ouvido de tuberculoso.
Outra explicação para a origem desta expressão popular é que antigamente, devido a pouca eficácia dos tratamentos para a doença, os tuberculosos eram isolados, seja em casa ou nos sanatórios. Por este motivo, acabavam por estar em locais mais silenciosos e sossegados, ou seja, sem muito barulho. Assim, estavam sempre atentos aos mais ínfimos ruídos.
N. do E.
(1) Estranho. Atuando como tisiopneumologista há 48 anos eu nunca testemunhei alguém utilizar-se desta expressão ou ditado.
(2) Além de ser uma das sequelas da meningite tuberculosa, a perda ou diminuição da audição poderia ser causada pelo uso prolongado da estreptomicina. Injeções diárias deste antibiótico (que pode ocasionar a surdez por seus efeitos ototóxicos) eram aplicadas por três meses em pacientes tuberculosos que seguiam o esquema SM+INH+PAS.
(3) A propósito, ler: O CHIQUINHO DA CADEIA NA VIDA DO COMPOSITOR LAURO MAIA.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

1109 - Pesquisadores resgatam história da tuberculose no Cariri



Professores e acadêmicos da Universidade Regional do Cariri (Urca), iniciaram, neste semestre, um projeto de pesquisa cujo objetivo é desvendar como eram tratados os pacientes internados no antigo Hospital Manuel de Abreu (foto atual), em Crato, que funcionou por cerca de quatro décadas.
Ao todo, quatro professores e quatro estudantes das áreas de História, Enfermagem e Artes Visuais, pretendem produzir, até a metade do ano que vem, um livro e um documentário, que mostrem, principalmente, como era feito o tratamento dos pacientes tuberculosos na região do Cariri. Três visitas já foram feitas à antiga unidade de saúde, e a equipe encontrou documentos diversos abandonados que auxiliarão os trabalhos da pesquisa.

07/08/2019

quinta-feira, 31 de maio de 2018

1047 - Limair Sanatorium

Na virada do século 20, um engenheiro veterano de aquecimento e ventilação chamado T.C. Northcott construiu o que representava o primeiro edifício climatizado dos Estados Unidos no topo da cúpula de Cave Hill, em Luray, Virgínia . O edifício, conhecido como Limair Sanatorium, marcou o ponto culminante de uma obsessão de 20 anos de Northcott com o ar da caverna, que ele acreditava que poderia proporcionar benefícios restauradores milagrosos para aqueles que sofriam de doenças respiratórias.
As Cavernas de Luray foram descobertas e abertas ao público para passeios 22 anos antes, mas, quando o Northcott as arrendou no início de 1901, a má administração tinha levado os proprietários a uma série de problemas financeiros. De acordo com o historiador Bill Huffman, essas condições provavelmente contribuíram para a sua disposição de construir o Limair, o que implicou a perfuração até as cavernas para acessar o "ar de lima", que Northcott acreditava estar desinfetado após passar por quilômetros de câmaras de pedra calcária. "Caso contrário, (o empreendimento) provavelmente não teria acontecido", diz Huffman.
"Sr. Northcott (...) dedicou muitos anos ao problema de estabelecer uma instituição que combinasse as vantagens da luz solar e dos belos arredores com um suprimento de ar ao mesmo tempo volumoso e puro ", escreveu o Dr. Guy L. Hunner, cirurgião da John Hopkins University Medical School. Hunner visitou o Limair Sanatorium de Northcott enquanto viajava no Vale Shenandoah em 1901. "Depois de investigar as cavernas de Nova Iorque, Ohio e Virgínia, ele se fixou nos privilégios das Cavernas de Luray como um sítio que compreendia o maior número de saudáveis ​​e atraentes características."
Além de sua localização diretamente acima das cavernas, no sítio se desfrutavam as vistas panorâmicas das Montanhas Blue Ridge - a Cordilheira Massanutten, a oeste e a leste, do que é agora o Parque Nacional Shenandoah. Northcott perfurou diretamente na colina 60 pés de rocha até o teto de uma câmara proeminente agora conhecida como Morrison's Hall. Instalando um eixo de ventilação de cinco pés de diâmetro, ele efetivamente conectou o porão do sanatório às cavernas. Equipado com um ventilador alimentado por uma máquina a vapor de cinco cavalos de potência, o sistema permitiu que a Northcott bombeasse o ar da caverna nas instalações 24 horas por dia.
Não só isso, ele projetou o prédio para que o sistema substituisse completamente cada molécula de ar no prédio a cada cinco minutos no ponto", diz o engenheiro de instalações da Luray Caverns Chad Painter.
Assim, os convalescentes poderiam respirar um suprimento contínuo de "ar de lima", enquanto desfrutavam de abundante luz solar e vistas prodigiosas. "A ideia era que as pessoas vivessem aqui quase como se não estivessem doentes", diz Huffman. Havia janelas em todos os lugares. Havia atividades (recreacionais) e até danças. Havia comida excelente. A visão de Northcott era que, se um paciente iria melhorar, essa pessoa não deveria se sentir em quarentena do mundo e sim como parte dele.
A Northcott passou por grandes comprimentos para manter a temperatura em um perpétuo até 70 graus (21). Durante os verões, isso significava ar-condicionado, embora não da forma como concebemos o processo hoje. "O ar extraído das cavernas é de cerca de 54 (12) graus, quando forçado no prédio, esfria os cômodos até certo ponto, o conforto pode exigir, por mais intenso que seja o calor que prevalece no exterior", observou Hunner. No inverno, o ar comparativamente baral foi dado um impulso passando por uma série de câmaras com bobinas cheias de vapor. A umidade foi regulada por uma série de condensadores durante todo o ano. (revisar este parágrafo) (incluir gravura)
A fé de Northcott no ar da caverna derivou de uma crença de que, como a água que passa por um aquífero, o ar ficava limpo por um processo de filtração natural. "Encurralado nas cavernas, o ar era desinfetado pelo calcário através das rochas e do solo poroso", explica Huffman. "Ele falava sobre o ar como se fosse uma mistura entre água benta e vinho fino".
Embora pareça estranho agora, em seu tempo o entusiasmo da Northcott foi bastante convincente para inspirar profissionais médicos respeitados como Hunner para prosseguir a validação científica. Voltando ao Limair em 1902, um Hunner educado, porém cético, veio preparado para realizar uma série de experimentos. "Na minha primeira visita (...) eu vi demonstrados o volume notável com que o ar entra e sai de cada quarto e o fato de que o ar está praticamente isento de poeira atmosférica", escreveu. "Observando esse fato, fiquei interessado na condição bacteriológica e decidiu visitar Luray novamente, guarnecido com meios de cultura e placas estéreis".
Em dezembro, o médico passou quatro dias estudando o ar nas cavernas, sanatório, paisagens circundantes e casas vizinhas. Suas descobertas foram notáveis. Ele realizou inúmeros testes para culturas bacteriológicas. Ele testou cada quarto no sanatório e a placa mais contaminada produziu apenas nove colônias. O lar de um agricultor vizinho mostrou 143 colônias, e o escritório de um médico local mostrou 92. Com a comparação, Hunner testou o ar na sala de operações ginecológica do John Hopkins e encontrou 65 colônias. O ar ambiente fora de sua casa em Washington DC, enquanto isso, testou mais de 450.
"Mas, apesar da pureza bacteriológica do ar no Limair Sanatorium, estou certo de que muitos irão protestar contra a respiração das emanações poluídas e mofadas de uma fonte nunca penetrada pelos raios do sol. (...) Devo confessar que essa foi a minha primeira impressão e o mesmo preconceito foi expressado por muitos amigos com quem conversei ", escreveu Hunner. Argumentando a evidência experimental, as qualidades desinfectantes da lima e apontando para o fato de que "não encontramos matéria orgânica nas cavernas submetidas à decomposição", Hunner posteriormente confessou-se um convertido.
"Para a febre dos fenos, a asma e todas as afecções brônquicas, as condições (em Limair)são ideais", concluiu.
No final, apesar de seu testemunho entusiasmado, publicado em uma edição de 1904 da Popular Science Monthly, os colegas de Hunner não queriam reconhecer suas descobertas. Para o bem ou o mal, a sua opinião nunca ganhou força na comunidade médica e foi descartada como uma nota histórica curiosa. Limair continuou a operar silenciosamente nas colinas da Virgínia até fechar em abril de 1940. Depois disso, foi transformado em um elegante local de reuniões e convenções, no estilo sulista em tijolos, embora um com um sistema de refrigeração não convencional e ainda funcional.
https://www.atlasobscura.com/articles/limair-sanatorium-luray-caverns-air-conditioning
Notas relacionadas no Nova Acta
16 - A Era dos Sanatórios. Slideshow
49 - Sanatório de Messejana. Uma história que foi contada
70 - Saskatoon San. Concerto ao ar livre
219 - O sanatório voador
476 - Quando se tratava a tuberculose com a respiração das vacas
530 - A caverna da tuberculose

domingo, 10 de dezembro de 2017

1023 - Os postulados de Koch

O Doodle Google de hoje homenageia Robert Koch (1843 -1910). Ele recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1905 pela descoberta da bactéria que causa a tuberculose. Mas, o mais importante: Koch foi o cientista que descobriu como estudar bactérias.
Ele primeiro isolou culturas de bactérias em fatias de batata, depois se tornou uma dos primeiros a adotar a placa de Petri (o Doodle Google de hoje inclui imagens de ambos). Koch também foi pioneiro no uso de ágar que, ainda hoje, mais de um século depois, é o meio usado para a maioria das culturas bacterianas. Sem o seu trabalho, não poderíamos estudar como as bactérias crescem, como combatê-las ou quais produtos químicos potencialmente úteis elas produzem.
Koch também lançou as bases para a bacteriologia moderna, descrevendo os quatro critérios para ligar uma doença a um patógeno.
  1. O organismo deve sempre estar presente, em todos os casos da doença. 
  2. O organismo deve ser isolado de um hospedeiro contendo a doença e cultivado em cultura pura. 
  3. As amostras do organismo retirado da cultura pura devem causar a mesma doença quando inoculadas em um animal saudável e suscetível no laboratório. 
  4. O organismo deve ser isolado do animal inoculado e deve ser identificado como o mesmo organismo do hospedeiro inicialmente doente. 
Ele usou estes postulados para descobrir as bactérias que causam o antraz (em 1876), a tuberculose (em 1882) e a cólera (em 1884). Utilizando-se dos métodos de Koch, outros cientistas encontraram as bactérias responsáveis por várias outras doenças, inaugurando em torno da virada do século XX o que foi chamado de Era de Ouro da Bacteriologia.

sábado, 1 de julho de 2017

996 - A escarradeira Hygéa

Para a médica pneumologista e blogueira Ana Margarida Rosemberg, 
autora da nota " As escarradeiras na luta contra a tuberculose".


As escarradeiras foram intensamente utilizadas no século XIX, quando se considerava "de bom-tom" o hábito de se expelir secreções em público. Fabricadas em porcelana, faiança fina, vidro ou metais nobres eram utilizadas nos espaços sociais das unidades domésticas, basicamente na sala e no gabinete de fumantes, e eram também deixadas à disposição das visitas, no chão, em geral aos pares, ladeando os sofás. Eram um equipamento habitual nas residências das pessoas de alto e médio poder aquisitivo.
Um anúncio de 1926, nos apresenta uma escarradeira de "limpeza automática sem intervenção manual" e que "cumpria as exigências dos regulamentos de saúde pública". Tinha o sugestivo nome de "Hygéa" (imagem ao lado). Na mitologia romana, Hygea ou Hygia era a deusa da saúde, limpeza e saneamento.
Nos atuais nosocômios ainda são fornecidas escarradeiras aos pacientes que delas necessitam. São feitas com aço inoxidável e dispõem de uma tampa que sobe ao ser manualmente acionada. Na visita médica, costumamos pedir aos pacientes que abram as escarradeiras para que possamos ver as características das secreções respiratórias coletadas.
Fontes
http://anamargarida-memorias.blogspot.com.br/2016/11/as-escarradeiras-na-luta-contra.html
http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/09/escarradeira-hygea-1926.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Hygieia

sexta-feira, 16 de junho de 2017

991 - Luz, mais luz


"Licht, mehr Licht." ~ atribuída a Goethe
Em 1993, uma manchete no National Enquirer zombou da National Science Foundation (Fundação Nacional da Ciência) por financiar o professor Jonathon Copeland, da Geórgia do Sul, em seus estudos com os vagalumes (*) em Bornéu.
 - Não é uma ideia brilhante.
O tabloide atribuía a frase acima a um representante republicano de Wisconsin.
Ironicamente, na mesma semana em que este artigo foi publicado, apareceu outro artigo na revista Time relatando que os médicos estavam usando a luciferase, a enzima responsável pela bioluminescência dos insetos lampirídeos, em testes de resistência a drogas por cepas do bacilo da tuberculose.
Vagalume ou vaga-lume?
Ler: https://dicionarioegramatica.com.br/tag/vagalume-ou-vaga-lume/
Os vagalumes, pela beleza e pelos fachos de luz que carregam e proporcionam deslumbramento em locais mais escuros onde a natureza ainda impera, não deveriam ter hífen. Os vagalumes vagam acima da nova ortografia luso-brasileira. Comentário de um leitor do blog Nova Ortografia, de Gabriel Perissé.
(*) Numa edição revista e ampliada desta nota talvez eu escolha a opção "pirilampos". N. do E.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

851 - Tuberculose, ainda um problema de saúde pública no País

Crédito
Fortaleza é um dos municípios prioritários para o controle de tuberculose no Brasil. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, em 2014, para cada 100 mil habitantes de nossa Capital, 58 foram diagnosticados com tuberculose, sendo esta incidência maior do que a incidência no Ceará (38) e no Brasil (33).
Dra. Mônica Facanha, Blog do MG

A transmissão da tuberculose ocorre pela tosse, espirro e até pela fala. E a forma de controlar a doença é identificar os casos suspeitos, confirmar a enfermidade e tratar as pessoas acometidas pela tuberculose para que elas deixem de contaminar o meio ambiente. Cada pessoa portadora de tuberculose pulmonar, enquanto não está sendo tratada, é capaz de transmitir a infecção tuberculosa a outras 10 a 15 pessoas e, dentre estas, uma ou duas adoecerão nos próximos dois anos.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

827 - Unidades Sanitárias Aéreas

Noel Nutels (Ananyev, 1913 — Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1973) foi um médico e indigenista judeu brasileiro. Nascido na Ucrânia, ainda menino, veio para o Brasil com os pais para morar em Recife, no estado de Pernambuco.
Em 1938, formou-se pela Faculdade de Medicina do Recife e, no mesmo ano, naturalizou-se brasileiro. Em 1941, mudou-se para Botucatu, São Paulo, para trabalhar no Instituto Experimental de Agricultura. Foi o médico da primeira expedição Roncador-Xingu, em 1943.
A partir desse primeiro contato com os índios, resolveu se dedicar à defesa das populações indígenas e à erradicação das doenças oriundas do contato com o homem branco. Em 1931, passou a ser médico do Serviço de Proteção ao Índio (precursor da atual Fundação Nacional do Índio) e, em 1952, do Serviço Nacional de Tuberculose.
Noel Nutels idealizou e dirigiu o Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas, SUSA (foto), criado em 1956 pelo Ministério da Saúde, com a finalidade de levar os serviços de saúde pública ao interior da selva amazônica.
Arquivo
506 - O Índio Cor-de-Rosa

domingo, 21 de junho de 2015

750 - HeroRATS contra a tuberculose


A organização não-governamental belga APOPO dedica-se a treinar o olfato de ratos africanos gigantes na detecção de bombas em países pós-conflito e de casos de tuberculose nos países em desenvolvimento.
Esses HeroRATS, portanto, salvam a vida de muitas pessoas.
Eles são treinados, desde a tenra idade, através da motivação positiva (odor-alvo → clique → comida) e, ao final do treinamento, necessitam da aprovação em testes cegos para serem acreditados.
Lista de publicações

segunda-feira, 30 de março de 2015

723 - O teste rápido da tuberculose

O Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), unidade da Secretaria da Saúde, foi habilitado pelo Ministério da Saúde para ser o coordenador da realização do teste rápido de tuberculose. Com a habilitação, o Lacen fica responsável pelo treinamento e supervisão do serviço no Estado.
O teste é feito através do equipamento Gene Xpert (foto), apto a emitir o diagnóstico laboratorial da doença em apenas duas horas, agilizando assim o início do tratamento dos pacientes bacilíferos.
O diagnóstico de tuberculose é normalmente realizado pelo exame da baciloscopia do escarro pela coloração de Ziehl-Neelsen, um exame simples que pode ser realizado em todos os laboratórios. O processo todo, desde a chegada do material a ser examinado ao laboratório até a emissão do resultado, demora entre 24 e 48 horas.
O novo equipamento tem alta sensibilidade e especificidade que diminuem as chances de um laudo falso negativo e ainda indica se o paciente tem resistência a um dos medicamentos utilizados no tratamento.
O equipamento, fornecido pelo Ministério da Saúde, está funcionando em vários hospitais e unidades: Hospital de Messejana Dr Carlos Alberto Studart Gomes; Unidade Prisional Otávio Lobo; Centro de Saúde de Sobral; Centro de Especialidades Médicas José de Alencar; Hospital Abelardo Gadelha Rocha, em Caucaia: e, em breve no Hospital São José de Doenças Infecciosas, que está em fase de recebimento e implantação da metodologia.
Na realização do exame por meio do Gene Xpert coloca-se a amostra de escarro a ser examinada em um cartucho, semelhante ao de uma impressora, o qual, em seguida, é colocada no equipamento Gene Xpert e, em 50 minutos, sai o resultado como positivo ou negativo. O teste é muito mais sensível que a baciloscopia comum, ou seja, ele detecta mais resultados positivos e ainda indica se existe resistência à rifampicina, um medicamento utilizado no tratamento da tuberculose.

sábado, 10 de janeiro de 2015

697 - Teixobactina, o novo antibiótico sem resistência detectável

Elephtheria terrae
Um grupo de cientistas anunciou nesta semana a descoberta de uma molécula que representa a primeira de uma nova classe de antibióticos. Em testes com camundongos, a droga conseguiu debelar formas resistentes de tuberculose, sem que o micróbio causador da doença adquirisse resistência. Batizada de "teixobactina", a nova substância é produzida por uma bactéria (Elephtheria terrae) encontrada no solo.
A empresa start-up de biotecnologia NovoBiotic, de Cambridge, nos Estados Unidos, que descobriu a molécula, estima que deve conseguir levá-la a um teste em seres humanos dentro de dois anos.
Se tudo correr bem, a droga estaria disponível no mercado por volta do fim da década.
O fármaco foi encontrado após os cientistas analisarem mais de 10 mil amostras de micróbios usando um novo método, que permite o cultivo desses organismos em seu hábitat natural.
A descoberta, que foi publicada na revista científica "Nature" (v. resumo), surge como um alento em um momento difícil para a infectologia. No ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elevou o problema das bactérias resistentes a antibióticos ao status de crise global.
Segundo Kim Lewis, um dos cientistas que participaram do trabalho, a teixobactina ainda requer algumas alterações químicas antes de seguir para testes clínicos. Esse aprimoramento, que leva certo tempo, torna a administração da molécula mais fácil quando a intenção é produzir uma pílula ou uma solução para injeção.
Resumo 
A resistência aos antibióticos está se espalhando mais rápido do que a introdução de novos compostos na prática clínica, causando uma grave crise de saúde pública. A maioria dos antibióticos foi produzida pela triagem dos microrganismos do solo, mas este recurso limitado a bactérias cultiváveis esgotou-se na década de 1960. As abordagens sintéticas para a produção de antibióticos têm sido incapazes de substituir esta plataforma. Bactérias incultiváveis compõem cerca de 99% de todas as espécies em ambientes externos, e são uma fonte inesgotável de novos antibióticos. Desenvolvemos, porém, vários métodos para fazer crescer esses microrganismos pelo cultivo in situ ou usando fatores de crescimento específicos. Aqui, nós relatamos um novo antibiótico, a teixobactina, descoberto em bactérias não cultiváveis. A teixobactina atua destruindo a parede celular das bactérias e dos fungos, ao ligar-se a duas substâncias precursoras de dois lipídios da parede celular, cujo fabrico não é comandado pelos genes desses microrganismos. Não obtivemos quaisquer mutantes de Staphylococcus aureus ou de Mycobacterium tuberculosis que fossem resistentes a teixobactina. As propriedades deste composto sugerem um caminho para o desenvolvimento de antibióticos que evitam o desenvolvimento de resistência.

sábado, 8 de novembro de 2014

676 - PPD. As recomendações do MS em caso de falta do teste

O teste da tuberculina, também chamado de PPD (Derivado Proteico Purificado), usado para diagnosticar tuberculose latente, ou seja, antes dos sintomas da doença aparecerem, vai deixar de ser fabricado. O Ministério da Saúde divulgou NOTA INFORMATIVA para programas estaduais e municipais indicando as condutas a serem adotadas na falta do teste.
Segundo o Ministério da Saúde, o país ainda está abastecido do PPD, e a falta deste produto não vai comprometer o Programa Nacional de Tuberculose. A pasta afirma que está em contato com a Organização Mundial da Saúde para buscar alternativas para o problema.
Em 2013, a incidência de tuberculose foi 35 casos por 100 mil habitantes, 21,17% menor do que em 2003, quando esta taxa era 44,4 por 100 mil. O número de casos novos teve redução de 10,5%, passando de 78.606, em 2003, para 70.372 casos novos registrados em 2013.
Considerado importante problema de saúde pública, a tuberculose é uma doença causada pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis), que afeta vários órgãos do corpo, mas principalmente os pulmões. É transmitida pelo ar, quando o paciente tosse ou espirra. Os principais sintomas são tosse prolongada, geralmente mais de três semanas, com ou sem catarro, cansaço, emagrecimento, febre noturna e suor noturno.
09/11/2014 - Atualizando...
O problema ocorre porque o laboratório produtor do PPD (com sede na Dinamarca) foi vendido e interrompeu a fabricação.
Há dinheiro para comprar, mas não há quem venda. Agora, é discutir o que fazer, como substituir", diz Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e integrante do comitê técnico que assessora o Ministério da Saúde.
Nos Estados Unidos, o PPD foi substituído pelo Igra (ensaios de detecção de interferon gama em sangue, na sigla em inglês), exame mais caro, o que dificulta a compra em larga escala. Esse exame está disponível em laboratórios privados. É caro. Há a sugestão de que testes Igra sejam incorporados ao Programa de Controle da Tuberculose, mas isso depende de estudos econômicos.
Outra sugestão é que a tecnologia de produção do PPD seja transferida para algum laboratório brasileiro.