Mostrando postagens com marcador guerra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador guerra. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 8 de julho de 2021

1210 - "Les Petites Curies"

Marie Curie
A primeira mulher a receber o Prêmio Nobel, Marie continua a ser a única pessoa a receber um Nobel em duas ciências diferentes (Física e Química). 
Mas, além disso, ela foi uma heroína humanitária de visão, determinação e coragem incomparáveis.
Apesar da eficácia em salvar vidas com sua pequena frota móvel de raios-X, os esforços de Curie eram frustrados pela escassez de motoristas e técnicos qualificados.
Acima de tudo, ela precisava de um colaborador em quem pudesse confiar para consertar a feiura da guerra, radiografando os milhares de soldados que chegavam feridos em suas unidades móveis de raios-X (conhecidas como "Les Petites Curies").
Marie e Irène Curie
Ela encontrou em sua filha Irène Curie, de dezessete anos, o colaborador de que precisava.
Irène se tornaria uma cientista e também ganharia o Prêmio Nobel.
Marie Curie, Brain Pickings
Petites Curies, Wikipedia

quinta-feira, 23 de maio de 2019

1098 - As primeiras práticas cirúrgicas em lesões por armas de fogo

A descoberta da pólvora tem sido consensualmente aceita na comunidade científica como originária da China no século IX. Descoberta pelos alquimistas chineses na busca do elixir da imortalidade, a pólvora resultou de séculos de experimentação. A palavra chinesa para "pólvora" significa "fogo da Medicina", estando a primeira referência às propriedades incendiárias da pólvora descrita num texto "taoista" (真元妙道要略) de meados do século IX: "... aquecidos juntos, enxofre, realgar (derivado do ácido sulfúrico) e salitre com mel originaram chamas e fumo, de tal forma que as suas mãos e rostos foram queimados, e até mesmo toda a casa ardeu." (Fig. 1).
Quando os ingleses utilizaram pela primeira vez as armas de fogo (1346), na batalha de Créçy, Guy de Chauliac, ital. Guido De Cauliaco (1298-1368), foi um dos primeiros autores que fez anotações sobre o tratamento deste tipo de lesões.
Escreveu em 1363 a sua grande obra Chirurgia magna (titulo original: Inventorium sive collectorium in parte chirurgiciali medicin) considerado até ao século XVI o grande livro, e referência da cirurgia do seu tempo. No seu livro Chauliac seleccionou e compilou de todos os seus antecessores as técnicas e as práticas cirúrgicas consideradas mais importantes e de maior referência à época, comentando e acrescentando pormenores da sua prática clínica e experiência cirúrgica. Neste incluem-se textos de Galeno, Hipócrates, Aristóteles, Razi (Rhazes), Abul Kasim (Albucasis), Avicenna (Ibn Sina), entre outros autores.
Sobre este livro, Ambroise Paré afirmou: "Guy de Chuliac escreveu um livro imortal que estará sempre ligado ao destino e aprendizagem da escola cirúrgica francesa da sua época".
As feridas causadas por armas de fogo levantaram inicialmente grandes problemas aos cirurgiões militares, por se entender que os projéteis disparados causavam três efeitos distintos no corpo do ferido e que cada um deles necessitava de tratamento próprio. O projétil provocava uma ferida contusa, o efeito da explosão provocava uma queimadura e a pólvora provocava envenenamento. A grande destruição dos tecidos fornecia consequentemente um ótimo meio de crescimento bacteriano e os cirurgiões depararam-se com um novo tipo de ferida e gangrena desconhecidos.
Depois de Guy de Chauliac, Giovanni de Vigo (1450-1525), médico italiano, escreveu sobre o tratamento de ferimentos por arma de fogo, e defendia que todas as feridas por arma de fogo descritas pelo próprio como "contusas e queimadas", não necessitavam de cauterização com ferro em brasa mas sim azeite a ferver para combater a ação tóxica da pólvora, uma vez que era esta a razão principal da evolução catastrófica das feridas por arma de fogo; "as propriedades venenosas e tóxicas da pólvora".
Em seu grande livro, "Practica Copiosa in Arte Chirurgie", reúne uma serie de autores gregos e árabes, e caracteriza e descreve os ferimentos por arma de fogo afirmando que teriam de ser tratados com óleo a ferver ao invés de cauterizados com ferro em brasa. O prestígio de Vigo no meio médico europeu pode ser avaliado pelo facto de sua obra "Practica in chirurgia", publicada em 1514, ter alcançado 30 edições.
Este tipo de pensamento arrastou-se durante muito tempo até que um cirurgião mais atento, Bartolomeo Maggi (1477-1552), cirurgião militar e professor da Universidade de Bolonha, resolveu investigar e verificar que nada se passava assim. Disparou balas de arcabuzes sobre pólvora, enxofre e fatos de soldados e verificou que a bala não fazia arder nenhum destes elementos, o que facilmente comprovava que estas, por si só, não provocavam queimaduras. Verificou também que a ingestão de pólvora ou dos seus componentes não provocava qualquer envenenamento, acabando de vez com a ideia antiga de que a pólvora tinha esse efeito.
Extraído de: "As Primeiras Lesões por Armas de Fogo – novo paradigma para o cirurgião militar – Ambroise Paré"
Autores: Miguel Onofre Domingues e Madalena Esperança Pina
Rev. Port. Cir. no.23 Lisboa dez. 2012
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-69182012000400013
A seguir: Ambroise Paré (1510-1590) – O cirurgião militar

domingo, 17 de agosto de 2014

648 - O mel como arma

65 a.C. – Os soldados de Pompeu, o Grande, estavam exaustos. As legiões romanas haviam marchado em torno da margem sul do Mar Negro e lutado contra Mitrídates VI, o governante do Ponto. Então, algo mágico aconteceu: As tropas romanas descobriram estoques de favos de mel espalhados pelo caminho e se lançaram sobre essas guloseimas pegajosas como ursos famintos.
Dentro de pouco tempo, as tropas começaram a cambalear às cegas e a cair no chão. E os partidários de Mitrídates, que haviam plantado os favos de mel ao longo da rota dos soldados, prontamente apareceram e massacraram seus inimigos incapacitados.
Pompeu perdeu três esquadrões nas escaramuças, uma derrota que ele poderia ter evitado se tivesse estudado a história militar da região. Num livro publicado quase 400 anos antes, o general grego Xenofonte relatou que os seus homens, depois de banquetearem-se com o mel silvestre da região, "acabaram todos nocauteados".
Somente em 1891, é que os cientistas descobriram a causa do "mel louco": rododendros (ao lado, a imagem de uma das espécies). As abelhas que frequentam as flores dessas plantas sugam, não só o néctar, como também a graianotoxina, um veneno que perturba o funcionamento das células nervosas.
Os sintomas da ingestão da toxina pelo ser humano são: náuseas, dor de cabeça, tonturas, perda do controle muscular, e inconsciência, podendo assemelhar-se a uma intoxicação pelo álcool.
Mas Mitrídates não precisava saber disso para usar o mel como arma. Seus soldados venceram a batalha, atrasando (embora não impedindo) a transformação do reino do Ponto em uma província romana.
Quanto aos romanos, nunca mais cometeriam esse erro em particular. Décadas mais tarde, o escritor Plínio, o Velho, ainda advertia das "qualidades perniciosas do mel dourado do Mar Negro".
Extraído de 4 Toxic Moments in History, Neatorama

quarta-feira, 10 de abril de 2013

485 - Os dentes de Waterloo

As primeiras próteses dentárias eram de madeira, porcelana e marfim. E os dentes que se incrustavam nelas eram de origem animal, de condenados à morte e, por vezes, obtidos da profanação de tumbas. Cumpriam, à sua maneira, uma função "estética". Esses dentes. porém, deixavam muito a desejar e eram difíceis de se conseguir. A grande “revolução” dos dentes postiços se produziu com a batalha de Waterloo (1815).
Napoleão saiu derrotado e no campo de batalha havia 50 mil soldados mortos de ambos os exércitos. Esses soldados eram jovens e sadios, sinônimo de... dentes perfeitos! Antes de serem enterrados, tiveram seus dentes extraídos, os quais, em sua totalidade, foram parar no "mercado inglês". A esse tipo de dentadura se denominou “Waterloo Teeth” (dentes de Waterloo) e, durante muitos anos, todas as dentaduras postiças fabricadas com dentes sãos continuaram sendo assim chamadas, independentemente de sua procedência.

Batalha de Waterloo
In: Historias de la Historia.

domingo, 8 de agosto de 2010

188 - "Dr. Auschwitz"

As "pesquisas" do médico nazista Josef Mengele foram abomináveis. Em sua obsessão para conhecer os segredos que pudessem aumentar as taxas de natalidade da "raça ariana", ele realizava suas "experiências" em crianças gêmeas, principalmente.
In anima nobile - e sempre sem anestesia - ele comandou no campo de concentração de Auschwitz a prática de inúmeras atrocidades pseudocientíficas, tais como:
extração de fragmentos ósseos, produção artificial de xipófagos (irmãos siameses), injeção de produtos químicos nos olhos (para lhes mudar a cor), transfusões de sangue, infecções e submersões em água gelada (para testar a resistência), remoção de órgãos, castrações, amputações e promoção de gravidezes incestuosas.
Dos aproximadamente três mil gêmeos que passaram por suas mãos, apenas 26 sobreviveram. Mengele correspondeu de fato ao epíteto de "Anjo da Morte".
Após a guerra, ele se refugiou na América do Sul, onde viveu na clandestinidade e (aparentemente) sem remorsos o resto de sua vida. Morreu por afogamento acidental em Bertioga, no litoral paulista, aos 68 anos.

Publicado em EntreMentes

quinta-feira, 8 de julho de 2010

157 - O homem que desafiou a bomba

Morreu em 04/01/10, o japonês Yamaguchi Tsutomu, reconhecido como sobrevivente dos dois bombardeios atômicos sofridos pelo japão, ao fim da II Guerra Mundial.
Na manhã de 6 de agosto de 1945, Yamaguchi se encontrava a negócios em Hiroshima, quando a cidade sofreu o bombardeio atômico. Com os tímpanos rotos, cegueira temporária e graves queimaduras pelo corpo, ele passou a noite em um abrigo antiaéreo local e, no dia seguinte, voltou para Nagasaki, a cidade onde morava, em busca de algum tratamento.
Três dias após, Nagasaki sofreu o seu bombardeio atômico. E Yamaguchi estava lá, sobrevivendo novamente.
Considerado um hibakusha (sobrevivente da radiação) pelo governo de seu país, o japonês recebeu cuidados médicos e compensações financeiras ao longo de sua vida. Desfrutou de uma regular saúde e somente veio a falecer aos 93 anos de idade por câncer de estômago.
Era um intransigente defensor do desarmamento nuclear.

Publicado em EntreMentes