quinta-feira, 14 de julho de 2022

1264 - Mania principal: índio

Entre os imigrantes ucranianos que deram uma grande contribuição ao nosso país, figura o nome de Noel Nutels (1913-1973).
Em um depoimento à CPI do índio, em pleno regime militar em dezembro de 1968, o médico fez o seguinte desabafo:
"A essa hora alguém está matando um índio. É a cobiça da terra, é a cobiça do subsolo, é a cobiça das riquezas naturais. É um vício de estrutura econômica. Enquanto terra for mercadoria e objeto de especulação vai se matar índio."
Nutels é um personagem da saúde pública brasileira que notabilizou-se por rechaçar a naturalização do genocídio dos povos indígenas no Brasil. Judeu expulso de sua terra pela violência dos pogroms russos, Nutels que nasceu na cidade de Ananiev (na época Rússia, hoje Ucrânia) em 24 de abril de 1913.
Em 1920, sua família mudou-se para o Recife (PE) e, pouco depois, para o interior de Alagoas (na cidade de São José da Laje), onde o futuro médico concluiu o ensino básico.
Voltou para Pernambuco, em Garanhuns, para concluir sua formação escolar em um colégio católico e formou-se em Medicina em 1936, na Faculdade de Medicina do Recife, onde especializou-se em tuberculose, uma das doenças que mais vitimaram pessoas pobres no Brasil nesse período.
A saúde indígena foi a sua escolha, com destaque para a prevenção da tuberculose entre os povos originários do país, do Mato Grosso à Amazônia.
Avesso à burocracia e aos luxos comuns ao exercício da medicina no período em que viveu, Noel Nutels se embrenhou na floresta e no sertão para defender as populações indígenas e caboclas da tuberculose, malária, leishmaniose e varíola, que ameaçavam a sobrevivência desses povos.
Em um entrevista definiu-se:
"Noel Nutels, médico de saúde pública, eu não clinico, não tenho consultório. Fazia malária e agora faço tuberculose. Mania principal: índio."
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