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quinta-feira, 19 de maio de 2022

1256 - A natureza probabilística da Medicina

Em Medicina, existe uma limitação poucas vezes confessada em consultório (porque isso quase que invariavelmente se traduz em demonstração de fraqueza): é que esse é um ofício de incerteza.
Neste fio, eu discorro sobre a natureza probabilística da Medicina. - José Alencar

A Medicina é uma ciência da incerteza porque:
1. Trabalhamos com incerteza na interpretação de exames
2. Trabalhamos com incerteza na interpretação da resposta dos pacientes às terapias
Vou explicar ambas.

1. Incerteza na interpretação de exames:
Nas mãos de um médico minimamente bem formado, a interpretação de um exame não é “positivo x negativo”, mas “verdadeiro x falso positivo, verdadeiro x falso negativo”.
Só isso já acrescenta uma camada de dificuldade maior à profissão.

Mas há outra camada ainda mais profunda: a maioria dos médicos acredita que “sensibilidade” e “especificidade”, duas características presentes em todos os testes da Medicina, são úteis para a interpretação de exames.

O problema disso é que, ao usar esses parâmetros, o médico não leva em consideração a clínica do paciente. É que, como expliquei diversas vezes, a interpretação de qualquer exame OBRIGATORIAMENTE tem que partir da probabilidade clínica da doença.

É literalmente impossível avaliar exames de outra forma que não seja essa. O que significa que “bateria de exames”, “check-ups”, exames solicitados antes da consulta, exames solicitados pelo paciente...
Tudo isso funciona muito pouco ou nada. Lamento ser eu a te dizer isso.

E uma limitação real da Medicina (e não do método) é que às vezes o médico simplesmente desconhece uma variável da fórmula: a probabilidade pré-teste.
De novo: essa é uma limitação da vida, não do método.
Não se justifica usar o método errado porque a vida te impõe um problema.

2. Incerteza na interpretação da resposta a tratamentos:
Na vida real, dificilmente pode-se dizer que houve cura de um paciente.
- A mortalidade de um infarto sem aspirina e sem reperfusão é de 13% e com eles é de 8%. Como saber se um sobrevivente não é um daqueles 87%?

- No NINDS 2, sem medicação, 39% dos pacientes com AVC melhoraram. Com medicação, 47%.
Se um paciente fica sem sequelas, como afirmar que foi o trombolítico que levou a esse desfecho e o paciente não seria um dos 39% que já ficaria bem?

- A probabilidade de morrer por coronavírus tem sido de 2,8% (no Brasil). Se alguém tomou ivermectina/cloroquina/qualquer bizarrice e se curou, como afirmar que foi a bizarrice que lhe curou? Como afirmar que ele não seria um dos 97,2% que sobrevivem?

A única forma de saber isso é com estudos científicos, como o dois primeiros exemplos em que se comprova que há uma REDUÇÃO DE PROBABILIDADES quando se usa o remédio.
Medicina de verdade é isso: uma arte das probabilidades.

A medicina é a ciência da incerteza e a arte da probabilidade.
A variabilidade é a lei da vida, e como duas faces não são iguais, não há dois corpos iguais e dois indivíduos não reagem e se comportam da mesma forma sob as condições anormais que conhecemos como doença.
Quanto maior a ignorância, maior o dogmatismo.
A dúvida é o travesseiro do médico.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

566 - Companheiros de espírito

Em 1966, instado a descrever a pessoa com menos probabilidade de desenvolver aterosclerose, Alan N. Howard, pesquisador da Cambridge respondeu: "Uma mulher anã, na pré-menopausa, ciclista, não fumante, desempregada, hipotensa, hipo-beta-lipoproteínica, hiper-alfa-lipoproteínica, vivendo na ilha de Creta antes de 1925 e sobrevivendo com com uma dieta de cereais não revestidos, óleo de cártamo e água."
E o médico Alan Norton, de Oxford, acrescentou a contrapartida masculina: "Um Bantu ectomórfico que trabalhava como motorista de ônibus em Londres, tinha passado a guerra em um campo de prisioneiros na Noruega, nunca comeu açúcar refinado, nunca bebeu café, sempre comeu cinco ou mais pequenas refeições por dia, e estava tomando grandes doses de estrogênio para deter o crescimento de um câncer de próstata."
"Todas essas características resultam de correlações estabelecidas, nos últimos anos, no campo das pesquisas médicas que, pelo menos em quantidade, mostra-se insuperável", observou Richard Mould, em Mould’s Medical Anecdotes. "O conflito de evidências é inigualável também."

Soulmates, Futility Closet

sexta-feira, 27 de abril de 2012

370 - Suas probabilidades de morrer de...


Varíola : 0
Colisão de asteróide: 1 em 960.000.000
Antraz: 1 em 55.052.999
Peste: 1 em 54.059.705
Picada venenosa: 1 em 54.049.600
(as 5 menores chances)

Lesões não intencionais: 1 em 2.941
Doenca respiratória crônica: 1 em 2.228
AVC: 1 em 1.658
Câncer: 1 em 499
Doença cardíaca: 1 em 388
(as 5 maiores chances)

Segundo Demon, que publicou no site My[confined]Space esta lista das chances de uma pessoa morrer, sem citar as fontes consultadas para essas probabilidades nem se reportar a questões de tempo e espaço.