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quinta-feira, 26 de junho de 2025

1419 - Efeitos da maconha fumada sobre a fertilidade masculina

"O THC (tetrahidrocanabinol), certamente em sua forma fumada, pode afetar o sêmen e, portanto, prejudicar a fertilidade masculina." ~ Pastuszak, urologista na Universidade de Utah
Como o THC afeta os espermatozoides
Os especialistas sabem há muito tempo que o uso de tabaco e álcool pode afetar a fertilidade masculina. E desde pelo menos a década de 1970, pesquisadores suspeitam que o uso de cannabis tenha um efeito semelhante. Mas só recentemente eles conseguiram descrever como isso afeta os espermatozoides, mudando sua forma, tornando-os mais lentos e alterando seu material genético.
Isso não é surpreendente, já que muitos canabinoides são tóxicos para células vivas, disse Gerald Berkowitz, especialista em cannabis da Universidade de Connecticut. "Se você pegar células vegetais ou animais e colocá-las em uma placa de cultura celular e adicionar THC nessa placa, verá que as células morrem ao redor do THC."
Em estudos conduzidos ao longo da década de 1990, cientistas da Universidade de Buffalo descobriram que um canabinoide no corpo chamado anandamida desempenha um papel fundamental na reprodução, impedindo que mais de um espermatozoide fertilize um óvulo ao mesmo tempo. E que os mesmos receptores usados pela anandamida podem ser sequestrados pelo THC da maconha, possivelmente sobrecarregando o sistema de sinalização do esperma.
Mais recentemente, especialistas investigaram como isso funciona no mundo real. Por exemplo, em sua revisão de 2019 , Pastuszak e vários colegas relataram que o uso de cannabis estava fortemente associado a uma menor contagem e concentração de espermatozoides, bem como a uma maior incidência de espermatozoides com formato anormal.
No ano seguinte, um estudo com 229 homens jamaicanos mostrou que mesmo o uso moderado de cannabis estava associado a uma probabilidade quase três vezes e meia maior de desenvolver espermatozoides deformados, o que reduz as chances de fertilização bem-sucedida.
Além disso, um novo estudo com 113 homens jordanianos descobriu que o movimento dos espermatozoides, chamado motilidade, era muito menor em usuários de cannabis do que em fumantes e não fumantes de tabaco, disse Mohamed Eid Hammadeh, cujo laboratório na Universidade de Saarland, na Alemanha, conduziu o estudo. Eles descobriram que, após se ligar aos receptores canabinoides no esperma, o THC danificou as mitocôndrias dentro da célula.
Conhecidas como o motor da célula, as mitocôndrias impulsionam o esperma em direção ao óvulo, explicou Houda Amor, coautora do estudo com Hammadeh. Se as mitocôndrias não funcionam, o espermatozoide tem dificuldade para nadar.
Por fim, pesquisas com animais sugerem que a cannabis pode afetar o DNA dentro de um espermatozoide que contribui para um novo embrião. Um estudo de 2020 com ratos, realizado por cientistas da Duke, descobriu que o uso de cannabis pelos pais prejudicou o desenvolvimento cerebral dos filhos.
Como mitigar os riscos
É claro que a cannabis também pode afetar a saúde sexual masculina de maneiras que não têm nada a ver com o esperma.
"O uso crônico em altas doses pode contribuir para a disfunção erétil, ejaculação retardada e diminuição do desejo sexual ao longo do tempo", disse Ryan S. Sultan, psiquiatra clínico da Universidade de Columbia. Ele alertou que mesmo fumar apenas uma vez por semana pode desencadear alguns desses efeitos.
Extraído de: Fumar marihuana podría afectar tu esperma y tu capacidad de tener hijos, The New York Times

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

1331 - O novo normal em temperatura corporal

Como chegamos a 37,0°C para a temperatura corporal normal? Conseguimos isso com o médico alemão Carl Reinhold August Wunderlich.
Em 1851, Wunderlich divulgou suas medições de mais de 1 milhão de temperaturas corporais obtidas de 25 mil alemães – um processo meticuloso na época, que empregava um termômetro de 30 centímetros de comprimento e levava 20 minutos para obter uma medição.
A temperatura média medida, claro, foi de 37° C.
Já estamos há mais de 150 anos após Wunderlich e a pessoa média nos Estados Unidos pode ser um pouco diferente do alemão médio de 1850. Além disso, podemos fazer muito melhor do que apenas medir uma tonelada de pessoas e calculando a média, porque temos estatísticas. O problema de medir um monte de gente e considerar a temperatura média como normal é que você não pode ter certeza de que as pessoas que você está medindo são normais. Existem causas óbvias de temperatura elevada que você pode excluir. Não vamos levar em consideração pessoas com infecção respiratória ou que estejam tomando Tylenol, por exemplo. Mas, conforme destacado neste artigo no JAMA Internal Medicine, podemos fazer muito melhor do que isso.
O estudo aproveita o fato de que a temperatura corporal é normalmente medida durante todas as consultas médicas e registrada no sempre presente prontuário eletrônico.
Pesquisadores de Stanford identificaram 724.199 consultas de pacientes com dados de temperatura ambulatorial. Eles excluíram temperaturas extremas — menores que 34° C ou maiores que 40° C —, excluíram pacientes com menos de 20 ou mais de 80 anos e excluíram aqueles com extremos de altura, peso ou IMC.
Você acaba com uma distribuição como esta. Observe que o pico é claramente inferior a 37° C.
Mas ainda não estamos no “normal”. Algumas pessoas consultariam o médico para problemas que afetam a temperatura corporal, como infecções. Você poderia usar códigos de diagnóstico para sinalizar esses indivíduos e descartá-los, mas isso parece um pouco arbitrário.
Então, qual é a temperatura normal real?
É 36,64° C, ou cerca de 98,0° F.
É claro que a temperatura normal variou dependendo da hora do dia em que foi medida – mais alta à tarde.
A temperatura normal nas mulheres tende a ser mais elevada do que nos homens. A temperatura normal também diminuiu com a idade.
Na verdade, os pesquisadores criaram uma bela calculadora on-line onde você pode inserir seus próprios parâmetros ou os do paciente e calcular a temperatura corporal normal para eles.
Então, todos nós temos mais sangue frio do que pensávamos. Isso se deve apenas a métodos melhores? Talvez. Mas estudos demonstraram que a temperatura corporal pode diminuir ao longo do tempo nos seres humanos , possivelmente devido aos níveis mais baixos de inflamação que enfrentamos na vida moderna (graças a melhorias na higiene e nos antibióticos).

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

1326 - Vacina terapêutica contra o câncer de pulmão

Uma nova vacina aumenta a sobrevivência de pacientes com câncer de pulmão em estágio avançado. De acordo com a empresa de biotecnologia Ose Immunotherapeutics, a vacina Tedopi reduziu em 41% o risco de morte no prazo de um ano em pessoas com câncer de pulmão de células não pequenas — a forma mais comum da doença, geralmente causada pelo cigarro —, em estado de metástase.
O estudo também indica que a vacina terapêutica provoca menos efeitos colaterais que a quimioterapia. O índice desses problemas foi de 11% nos participantes que receberam a vacina contra 35% nos pacientes submetidos à quimioterapia.
No estudo de fase 3 - a última etapa antes da obtenção do registro sanitário -, foram incluídos 219 pacientes dos Estados Unidos e da Europa com resistência a outros tratamentos. Destes, 139 pacientes receberam a vacina e 80, a quimioterapia. Os resultados publicados recentemente na revista científica Annals of Oncology mostraram que além da redução no risco de morte, a vacina também permitiu aos pacientes melhorar sua qualidade de vida.
A taxa de sobrevida global em um ano com Tedopi foi de 44,4% versus 27,5% com quimioterapia.
"Foi observada uma redução significativa de 41% no risco de morte, associada a uma melhoria no índice de tolerância e à manutenção da qualidade de vida", disse o professor Benjamin Besse, do Instituto Gustave Roussy, principal autor do estudo, em comunicado.
A Tedopi é a vacina terapêutica em desenvolvimento clínico mais avançado contra o câncer. Ao contrário das vacinas tradicionais, que têm como objetivo principal prevenir uma doença, a vacina terapêutica busca tratar o câncer.
Elas "treinam" o sistema imunológico para reconhecer e destruir especificamente as células tumorais. Ou seja, utilizam o sistema de defesa do próprio paciente para combater o câncer. Por isso, esse tipo de tratamento é considerado uma imunoterapia.
O campo da imunoterapia fez avanços consideráveis ​​desde 2010 e o campo de vacinas se beneficiou dos estudos durante a pandemia, que "aceleraram a produção de vacinas, especificamente vacinas de mRNA", segundo a Cancer Research UK.
Desde então, vários tratamentos imunoterapêuticos foram aprovados e muitas outras pesquisas estão em andamento.
Fonte: https://www.annalsofoncology.org/article/S0923-7534(23)00790-1/fulltext
O câncer de pulmão é o quinto tumor mais incidente no Brasil, depois do câncer de pele não-melanoma, dos cânceres de mama, próstata e cólon e reto, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Estima-se que esse tipo de tumor é responsável por 4,6% dos casos de câncer registrados no país.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

1288 - Novos potenciais benefícios da vitamina B12

O potencial benefício das vitaminas é um tema sempre em alta. Novos achados sugerindo que a vitamina B12 possa ter um papel protetor contra a doença de Parkinson, a progressão da esclerose lateral amiotrófica e a gravidade da esteatose hepática, recentemente aumentou o interesse dos leitores do Medscape sobre o tema.

No International Congress of Parkinson's Disease and Movement Disorders (MDS) 2022, pesquisadores apresentaram resultados de um estudo feito com mais de 80.000 mulheres e quase 50.000 homens. A análise avaliou informações sobre alimentação, suplementação e ingestão total de ácido fólico, vitamina B6 e vitamina B12 ao longo de cerca de 30 anos até 2012. Durante o acompanhamento, 495 mulheres e 621 homens foram diagnosticados com doença de Parkinson. Os pesquisadores ajustaram por possíveis fatores de confusão como idade, ano, tabagismo, atividade física, ingestão de bebidas alcoólicas ou cafeína, uso de hormônios (mulheres), ingestão de laticínios e flavonoides, e pontuação na dieta mediterrânea. Eles encontraram uma relação significativa entre o consumo durante o intervalo de 20 anos e o diagnóstico da doença de Parkinson. De modo geral, os resultados respaldam um possível efeito protetor do consumo precoce de vitamina B12 em termos da ocorrência da doença de Parkinson.

Em outro estudo do início de 2022, foi considerado que a administração de uma dose ultra-alta de metilcobalamina (uma forma ativa de análogo da vitamina B12) diminuiu em 43% o declínio funcional de pacientes com esclerose lateral amiotrófica em estágio inicial. A dose de 50 mg foi administrada duas vezes por semana por via intramuscular. No estudo de fase 3, a eficácia foi maior para os participantes que também estavam tomando riluzol, que foi aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA para tratar a esclerose lateral amiotrófica. O estudo foi feito com pacientes ambulatoriais de 25 centros de neurologia no Japão com diagnóstico (definitivo ou provável) de esclerose lateral amiotrófica e cujos sinais e sintomas haviam iniciado no ano anterior. Após 12 semanas de observação, os 130 participantes que permaneceram ambulatoriais e tiveram apenas uma redução de um ou dois pontos na pontuação total da Revised Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale (ALSFRS-R) foram designados para um tratamento com 16 semanas de duração. A diferença na escala de classificação funcional da esclerose lateral amiotrófica revista entre o medicamento ativo e o placebo foi de 43% em todos os pacientes e de 45% nos pacientes em uso de riluzol.

Outro estudo constatou que a vitamina B12 e o ácido fólico também podem desempenhar algum papel na prevenção ou no retardo da progressão da doença na esteatoepatite não alcoólica (NASH, do inglês NonAlcoholic SteatoHepatitis).Em modelos pré-clínicos, os pesquisadores descobriram que complementar a alimentação com vitamina B12 e ácido fólico aumenta os níveis de sintaxina hepática 17, restaura o seu papel na autofagia e diminui a progressão da esteatoepatite não alcoólica, revertendo a inflamação e a fibrose hepáticas.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

1265 - Teste de equilíbrio monopodal

Conseguir se equilibrar em uma perna só pode ser um indicador de sobrevida.
Pesquisadores sabem há pelo menos meio século que o equilíbrio e a mortalidade estão conectados. Uma das razões para esse fato são as quedas. Mundialmente, cerca de 700 mil pessoas morrem por ano como resultado de uma queda, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, e mais de 37 milhões de quedas necessitam de atendimento médico anualmente. Entretanto, como indica o novo estudo, as quedas não são o único problema. Esse vídeo apresenta, sucintamente, um artigo científico liderado pelo Dr. Claudio Gil Araújo e publicado, como online first em 21 de junho de 2022 no British Journal of Sports Medicine, pelo grupo de pesquisa da CLINIMEX.
O estudo relaciona os resultados obtidos com o teste de equilíbrio monopodal de 10 segundos - completar ou não completar, seja com a perna direita ou esquerda - e o risco de mortalidade por todas as causas em 1702 indivíduos (68% homens) entre 51 e 75 anos de idade, acompanhados pelo período mediano de 7 anos.

O Dr. Claudio Gil e colaboradores trabalham com formas de melhorar o equilíbrio e a força à medida que as pessoas envelhecem. Além do teste de equilíbrio monopodal (ou unipodal), os pesquisadores já demonstraram que a capacidade de se levantar da posição sentada no chão (o teste de sentar e levantar,  TSL) também é um forte preditor de longevidade.
http://dx.doi.org/10.1136/bjsports-2021-105360
Prefixos: mono (do grego, preferível) e uni (do latim)

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

1066 - A ciência precisa de uma solução para a tentação dos resultados positivos

Há alguns anos, os cientistas da empresa de biotecnologia Amgen tentaram replicar 53 estudos de referência que defendiam novas abordagens para o tratamento de cânceres usando moléculas existentes e novas. Eles conseguiram replicar as descobertas da pesquisa original apenas 11% das vezes.
A ciência tem um problema de reprodutibilidade. E as ramificações são generalizadas.
Esses 53 artigos foram publicados em periódicos de alto nível, e os 21 publicados nos periódicos de maior impacto foram citados em média 231 vezes em trabalhos subsequentes.
Em 2011, os produtos farmacêuticos da Bayer relataram um trabalho semelhante de reprodução. Dos 67 projetos que realizaram para reexecutar experimentos (dos quais 47 envolveram câncer), apenas cerca de 25% terminaram com resultados alinhados com os achados originais.
Acontece que a maioria das empresas farmacêuticas realiza regularmente esses tipos de programas de validação internos. Eles parecem céticos sobre as descobertas da literatura publicada. Dado que seu valioso tempo e seu investimento de bilhões de dólares em recursos de pesquisa dependem diretamente do sucesso dos projetos, suas preocupações parecem justificadas.
Infelizmente, não somos todos tão cuidadosos. Mais e mais dados mostram que deveríamos sê-lo.
Em 2015, os pesquisadores relataram sua replicação de 100 experimentos publicados em 2008 em três importantes periódicos de psicologia. Os estudos de psicologia geralmente não geram muito dinheiro ou produtos comercializáveis, portanto, as empresas não se concentram em verificar sua robustez. No entanto, neste experimento, os resultados da pesquisa foram igualmente questionáveis. As descobertas das réplicas coincidiram com os estudos originais de um terço a metade das vezes, dependendo dos critérios usados ​​para definir "similar".
Há várias razões para esta crise. Os próprios cientistas são um pouco culpados. A pesquisa é difícil e raramente perfeita. Uma melhor compreensão da metodologia e as falhas inerentes podem produzir um trabalho mais reprodutível.
O ambiente de pesquisa e seus incentivos agravam o problema . Os acadêmicos são recompensados ​​profissionalmente quando publicam em um periódico de alto nível. Essas revistas são mais propensas a publicar um trabalho novo e sensacionalista. Isso é o que os financiadores querem também . Isso significa que há um incentivo, quase invisível, para alcançar novos e excitantes resultados em experimentos.
Alguns pesquisadores podem ficar tentados a garantir que obtenham "resultados novos e empolgantes". Isso é fraude . Por mais que queiramos acreditar, isso nunca acontece. Claramente, os resultados fabricados não serão replicáveis ​​em experimentos de acompanhamento.
Mas a fraude é rara. O que acontece com muito mais frequência é muito mais sutil. Os cientistas são mais propensos a tentar publicar resultados positivos do que negativos. Eles são levados a conduzir experimentos de forma a aumentar a probabilidade de obter resultados positivos. Eles, às vezes, medem muitos resultados e relatam apenas os que apresentaram resultados maiores. Às vezes, eles mudam as coisas apenas o suficiente para obter uma medida crucial de probabilidade - o valor p - até 0,05 e reivindicar significância. Isso é conhecido como p-hacking.
Siga lendo em: Science Needs a Solution for the Temptation of Positive Results, NY Times

quinta-feira, 3 de maio de 2018

1043 - Linus Pauling e as vitaminas

Depois de ultrapassar os quarenta anos de idade, em 1941, Linus Carl Pauling descobriu que estava afetado por uma forma grave da doença de Bright, uma enfermidade renal potencialmente mortal, considerada incurável pela medicina da época. Com a ajuda do doutor Thomas Addis, de Stanford, Pauling conseguiu controlar a doença seguindo uma dieta pobre em proteínas e sem sal, algo fora do comum para a época. Addis também receitava a todos os seus pacientes maiores consumos de vitaminas e sais minerais e Pauling não foi uma exceção.
Em finais da década de 1950, Pauling investigou a ação das enzimas sobre as funções cerebrais. Pensava que as doenças mentais poderiam ser causadas, em parte, por disfunções enzimáticas. Quando em 1965 leu "A terapia de niacina em psiquiatria", publicação de Abram Hoffer, deu-se conta de que as vitaminas podiam ter importantes efeitos bioquímicos no organismo, para além dos relacionados com a prevenção de doenças provocadas por deficiência vitamínica. Em 1968, Pauling publicou na revista Science o seu mais importante artigo nesta área: "Psiquiatria ortomolecular [....]", em que inventou a palavra ortomolecular para descrever o conceito de controlo da concentração dos compostos presentes no corpo humano, no sentido de prevenir e tratar doenças. As ideias aí apresentadas constituíram a base da Medicina Ortomolecular, fortemente criticada pelos profissionais da medicina tradicional.
Nos anos seguintes, as investigações de Pauling sobre a vitamina C foram fonte de controvérsias, e alguns consideraram-nas fruto de charlatanismo. Em 1966, Irwin Stone desenvolveu o conceito de cura à base de altas doses de vitamina C. Depois deste desenvolvimento, Pauling começou a tomar vários gramas da vitamina (3 gramas por dia, segundo algumas fontes) para prevenir os resfriados. Entusiasmado com os resultados, interessou-se pela literatura sobre o tema e, em 1970, publicou "Vitamin C and the Common Cold" ("A vitamina C e o resfriado comum"). No ano seguinte, Pauling iniciou uma extensa colaboração com o oncologista britânico Ewan Cameron, trabalhando sobre o uso da vitamina C por via intravenosa ou por via oral em doentes de câncer em fase terminal.
Cameron e Pauling escreveram vários artigos e um livro de divulgação chamado "A vitamina C e o câncer", descrevendo as suas observações. Ainda que os resultados parecessem ser favoráveis, a campanha de publicidade negativa de que foi alvo, minou-lhe a credibilidade e as suas investigações durante muitos anos.
Desde as suas campanhas na luta contra os testes nucleares, na década de 1950, até às suas investigações em Biologia Ortomolecular, Pauling sempre esteve na corda bamba. Em 1985, Pauling ficou sem apoio, tanto financeiro institucional, como dos seus colegas. Não obstante, Pauling colaborou com o médico Abram Hoffer no desenvolvimento de uma dieta que incluía a vitamina C em altas doses, como um tratamento complementar contra o câncer.
A ideia que Pauling promoveu, de elevar as doses de vitamina C de forma prolongada para prevenir várias doenças, sempre foram causa de controvérsia (QuackWatch, Plos, WebMD), não impedindo, no entanto, que estudos posteriores voltassem a abordar o tema.
Em 1973, Linus Pauling fundou, juntamente com dois colegas seus, o Instituto de Medicina Ortomolecular, em Menlo Park. Neste instituto, cujo nome foi alterado, em seguida, para Instituto Linus Pauling de Ciência e Medicina, Pauling continuou a dirigir investigações sobre a vitamina C, mas também manteve o seu interesse em trabalhos de química e física teórica, até à sua morte em 1994. Durante os seus últimos anos de vida, interessou-se particularmente no possível papel que a vitamina C teria na prevenção da arteriosclerose, tendo publicado três artigos sobre o uso da vitamina C e da lisina, usadas para o alívio da angina de peito. Em 1996, dois anos depois da sua morte, o instituto mudou as suas instalações para Corvallis (Oregon), para fazer parte da Universidade Estadual do Oregon. No instituto realizam-se investigações sobre micronutrientes, fitonutrientes e outras maneiras de prevenir e tratar doenças através da dieta humana. WIKIPÉDIA
As vitaminas no Nova Acta
32 - Os bebedores de limão
202 - O orgasmo feminino
479 - Agnotologia
582 - O ácido fólico na gravidez
591 - Rússia, 1977
668 - Gaiolas para bebês
693 - A vitamina C e o zinco na prevenção do resfriado comum

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

1003 - Richard Doll: um estudo de 50 anos

Sir William Richard Shaboe Doll (Londres, 28 de outubro de 1912 — Oxford, 24 de julho de 2005), epidemiologista inglês.
Nunca saberemos com certeza que nomes serão lembrados no futuro como referências no campo das ideias e da produção de conhecimento nas esferas da Epidemiologia e da Saúde Pública, mas além de John Snow, seguramente Richard Doll estará entre eles. Seus trabalhos sobre a associação entre tabagismo e câncer de pulmão são presença obrigatória nos livros texto de Epidemiologia e uma constante nas atividades de formação de profissionais de saúde e pesquisadores nestas áreas.
Finalizada a 2ª Guerra, ganhava força o debate entre trabalhadores e os dirigentes conservadores na Inglaterra para a criação do Sistema Nacional de Saúde a primeira experiência desta natureza no mundo capitalista. É no meio deste debate, que Doll é convidado por Bradford Hill – um dos grandes nomes da Bioestatística naquele período –, para ajudá-lo na análise da crescente elevação de casos de câncer de pulmão em homens que estavam sendo diagnosticados no país.
O que Doll, tanto como Hill, então acreditavam piamente que a causa daquele fenômeno era a crescente poluição urbana decorrente da ampliação da frota de automóveis circulando por Londres e demais grandes cidades inglesas. Esta convicção era tão marcada que seus estudos iniciais foram realizados analisando a distribuição do câncer de pulmão em guardas de trânsito, em comparação com aquela verificada entre os demais trabalhadores.
Para sua surpresa, a similitude de resultados em ambos grupos, levou-os a ampliar o espectro dos possíveis fatores de risco, o que acabou conduzindo aos clássicos resultados dos estudos revelando a associação daquela neoplasia com o hábito de fumar, hipótese então considerada inusitada e surpreendente. Na Inglaterra dos anos 40, cerca de 80% dos homens adultos eram fumantes, hábito de vida então considerado como sofisticado e de bom gosto. As contra-capas de importantes revistas médicas daquele período apresentavam propagandas da indústria do tabaco com pretensos diálogos, nas quais os personagens centrais eram profissionais de saúde, como médicos e enfermeiras, destacando suas preferências pelas diferentes marcas de cigarro, assim associadas à imagem de credibilidade e aceitabilidade social daqueles profissionais.
Com os trabalhos de Doll e a contundência de seus resultados, o tabagismo sofre um de seus primeiros grandes golpes e, em poucos anos, diminui a prevalência de fumantes nas camadas socais de maior escolaridade e renda na Inglaterra. Seu impacto geral para a saúde pública e nas atividades de promoção da saúde foi tão marcado que Doll recebe da realeza inglesa o grau de "Sir", sendo seu nome várias vezes sugerido posteriormente na indicação para Premio Nobel de Medicina, o que acabou nunca se materializando.
Extraído de "We Lost Richard Doll", por Sergio Koifman
http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2005000300002
Ver também: Sir Richard Doll: A life's research, BBC News
No final da década de 1970, Richard Doll esteve em Fortaleza onde proferiu uma palestra para o corpo clínico do Hospital de Messejana.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

944 - A promessa de novos analgésicos

Por milhares de anos, os seres humanos têm usado os extratos da papoula (uma flor da família das Papaveraceae) para o alívio da dor. Nos últimos 200 anos, o ópio e a mais refinada morfina e seus derivados têm sido o remédio para o alívio da dor, particularmente após a cirurgia. Mas os efeitos colaterais são temíveis. Enquanto nada melhor para o alívio da dor for encontrado, os cientistas estão trabalhando com os opioides para separar os efeitos analgésicos dos outros efeitos.
Os opioides tradicionais - incluindo a morfina, o potente fentanil sintético e o Vicodin - todos agem ligando-se aos receptores opioides no sistema nervoso. Estes receptores são de três tipos: μ (mu ou mi), κ (kappa) e δ (delta). É no receptor mu-opioide que os opioides fazem sua magia, ativando uma cascata de sinalização celular que desencadeia seus efeitos analgésicos. Na linguagem da neurociência, os opioides são "agonistas" dos receptores mu, ao contrário dos "antagonistas", que são compostos que se ligam a um receptor e o bloqueiam, impedindo a sinalização celular. Quando um opioide se liga com o receptor mu-opioide, ele reduz ao final a participação dos nervos que comunicam a dor. Isto, naturalmente, é o efeito desejado.
Infelizmente, isso não é tudo o que ele faz. Opioides também liberam o neurotransmissor dopamina, que causa euforia e pode levar ao vício. Compostos como este também inibem as células nervosas de disparar de uma forma mais geral, incluindo as regiões do cérebro que regulam a respiração - o que pode ser perigoso. Ao tomar excessivamente  de um opiáceo, você pode parar de respirar e morrer. Isso é o que é a overdose. O CDC estima que 91 americanos morrem diariamente de uma overdose de opioides. Os efeitos colaterais também vão de uma prisão de ventre e náuseas até o rápido desenvolvimento de uma tolerância de modo que serão necessárias doses progressivamente maiores para se obter o mesmo efeito.
Mas... e se pudéssemos refinar o ópio só para atuar nos receptores mu e não nos outros? Isso diminuiria a dor sem inibir a respiração? Várias novas formulações estão em andamento, incluindo a Oliceridina, que funciona ainda mais rápido do que a morfina e está agora em fase III de ensaios clínicos.
Fonte: America's long-overdue opioid revolution is finally here, Smithsonian magazine

sábado, 17 de dezembro de 2016

931 - Cientistas imaginários influentes, nestes tempos de fatos imaginários influentes

Por que falsificar dados quando você pode falsificar um cientista?
Inventar nomes e currículos é um dos mais recentes truques em Ciência.
Essa é a manchete de um artigo na revista Nautilus, escrito por Adam Marcus e Ivan Oransky. Aqui está parte do artigo:
 ... O fato é que o avanço profissional para cientistas de todo o mundo está se tornando um desafio cada vez maior em uma era de financiamento para a investigação científica cada vez mais escasso e, com isso, apertando a competição por pontos no corpo de pesquisadores. Para ter sucesso no ambiente de publicar-ou-perecer da academia, a maioria dos cientistas tranca-se no laboratório e joga dentro das regras. Alguns, porém, abrem uma escotilha....
[Uma] da maior parte das novas fraudes de hoje é incrivelmente simples: invente novas pessoas.
Jesús Ángel Lemus é um médico veterinário espanhol que perdeu 13 trabalhos por retratação devido à falta de veracidade em seus dados. Essa conduta não é tão incomum - mesmo 13 retrações não coloca Lemus entre os 30 maiores pesquisadores por retrações. O que torna Lemus interessante é que ele parece ter criado um coautor fictício para cinco de seus artigos, um "big Xavier" (cujas vagas filiações, ironicamente, fizeram dele um grande homem no campus da Universidade de Castilla -La Mancha ). É difícil entender por que o fato de aumentar o número de autores seja também uma forma de aumentar a aparente credibilidade de um estudo, especialmente se eles acontecem em uma prestigiada instituição.

sábado, 5 de dezembro de 2015

805 - A questão do café

Boston, MA - Pessoas que bebem de três a cinco xícaras de café por dia podem ser menos propensos a morrer prematuramente por algumas doenças do que aqueles que não bebem ou bebem menos café, de acordo com um novo estudo por pesquisadores da Harvard T.H. Chan School of Public Health.
O estudo é: "Associação de Consumo de Café com a Mortalidade Total e por Causas Específicas em Três Grandes Coortes Prospectivas", Ding Ming, Ambika Satija, Shilpa N. Bhupathiraju, Yang Hu, Qi Sun, Walter Willett, Rob M. van Dam, Frank B. Hu, Circulation on-line, 16 de novembro de 2015.
Os autores e sua instituição fizeram um vídeo para informar ao público de que a questão do café agora tem resposta:
O consumo de três a cinco xícaras de café por dia pode reduzir o risco de morrer por:
  • doença cardiovascular
  • doença de Parkinson
  • diabetes tipo 2
  • suicídio

quinta-feira, 30 de julho de 2015

763 - O papel da microbiota na prevenção de alergias

O corpo humano é habitado por bilhões de bactérias simbióticas, criando uma diversidade que é única para cada indivíduo. A microbiota está envolvida em muitos mecanismos importantes, incluindo a digestão, a síntese de vitaminas e a defesa do hospedeiro. Está bem estabelecido que uma perda de bactérias simbiontes promove o desenvolvimento de alergias. Os cientistas do Instituto Pasteur conseguiram explicar esse fenômeno e demonstrar como a microbiota age sobre o equilíbrio do sistema imunológico: a presença de microrganismos bloqueia especificamente as células do sistema imunológico responsáveis por desencadear alergias. Estes resultados são publicados na revista Science.
A hipótese da higiene sugere uma associação entre o declínio das doenças infecciosas e o aumento de doenças alérgicas em países industrializados. Melhorias nos níveis de higiene conduzem necessariamente a um reduzido contato com microrganismos o qual é acompanhado por um aumento da incidência de doenças alérgicas e autoimunes.
Estudos epidemiológicos comprovaram esta hipótese, mostrando que as crianças que vivem em contato com animais da fazenda – e, portanto, com mais agentes microbianos – desenvolvem menos alergias durante a sua vida. Por outro lado, estudos experimentais demonstram que administrar antibióticos aos ratos nos primeiros dias de vida resulta em perda de microbiota e, posteriormente, em um aumento da prevalência de alergia.
Referência
C. Ohnmacht, J.-H. Park, S. Cording, J. B. Wing, K. Atarashi, Y. Obata, V. Gaboriau-Routhiau, R. Marques, S. Dulauroy, M. Fedoseeva, M. Busslinger, N. Cerf-Bensussan, I. G. Boneca, D. Voehringer, K. Hase, K. Honda, S. Sakaguchi, G. Eberl. The microbiota regulates type 2 immunity through ROR t T cells. Science, 2015; DOI: 10.1126/science.aac4263

sexta-feira, 8 de maio de 2015

736 - Paracetamol inibe a dor, mas também as emoções

Um estudo recente demonstrou que o paracetamol (acetaminofen), popular remédio contra a dor,
também pode tornar as pessoas insensíveis a emoções positivas e negativas.
Em uma experiência randomizada e controlada, 85 pessoas tomaram 1.000 miligramas de paracetamol ou um placebo. Uma hora depois, os investigadores apresentaram-lhes 40 imagens em sequência aleatória. As imagens eram muito agradáveis (por exemplo, crianças a rir com gatinhos num parque), neutras (espaguete em cima de uma mesa) ou muito desagradáveis (uma vaso sanitário cheio de excrementos). O estudo foi publicado online na revista Psychological Science.
Os participantes que tomaram paracetamol estavam 20% menos propensos a classificar as imagens como sendo muito desagradáveis e 10% menos propensos a classificá-las como bastante agradáveis, em comparação com os que tomaram placebo.
Embora os mecanismos permaneçam incertos, pesquisas anteriores sugeriram que o paracetamol reduz a dor agindo no lobo da  ínsula (imagem), parte do cérebro que influencia as emoções sociais, entre outras funções.
«Não queremos dar conselhos sobre o uso do paracetamol. Essas diferenças são modestas e foram obtidas num ambiente muito controlado. Recomendamos seguir o conselho do seu médico para o controle da dor com o paracetamol», afirmou Geoffrey R.O. Durso, doutor em Psicologia Social da Universidade Estadual de Ohio.
Durso também planeja realizar estudos para investigar se outros analgésicos, como o ibuprofeno e a aspirina, têm o mesmo efeito.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

729 - Os resultados das pesquisas nos meios de comunicação

Em 2003, em um artigo na revista JAMA (Journal of American Medicine) pesquisadores escreveram algo que deveria mudar a forma como você recebe as notícias médicas. Eles revisaram 101 estudos, publicados nas principais revistas científicas entre 1979 e 1983, que anunciavam como muito promissora uma nova terapia ou uma nova tecnologia médica . Apenas cinco, descobriram eles, haviam chegado ao mercado dentro de uma década. E apenas um, formado pelo grupo dos inibidores da ECA (enzima conversora da angiotensina), ainda era amplamente utilizado no momento da revisão.
"Há uma grande, grande diferença entre a forma como a mídia pensa sobre as notícias e como os cientistas pensam sobre notícias," Naomi Oreskes , um professor de Harvard da história da ciência, me disse recentemente em uma entrevista:
"Para você, o que faz ser notícia é o que há de novo – o que cria um viés nos meios de comunicação em sua busca pelos resultados novíssimos. Em meu ponto de vista, os resultados novíssimos com maior probabilidade vão estar errados."
This is why you shouldn’t believe that exciting new medical study, por Julia Belluz. In; Vox, 23/03/2015
Tudo o que comemos pode causar ou prevenir câncer

Atualização
Esta nota foi republicada, em 22/05/2015, no Jornal GGN. Foi comentada por 3 leitores do portal.

sábado, 31 de janeiro de 2015

704 - A síndrome da vibração fantasma

Você está sentado à mesa, de pé na cozinha, assistindo a TV etc. De repente, o telefone celular vibra, informando que você tem uma nova mensagem de texto, chamada ou e-mail. Você leva a mão ao bolso em que costuma deixar o aparelho, apenas para descobrir que essa mensagem não existe ou que, talvez, o telefone móvel nem mesmo esteja naquele momento em seu bolso.
A vibração parecia tão real, mas talvez não o fosse. Independentemente disso, não foi causada pelo seu telefone celular.
Aquela  sensação de ter a bunda agarrada por um fantasma. E praticamente todo mundo já se sentiu acariciado por ele.
Se isso já aconteceu com você, tenha a certeza de que você não está sozinho.
Em 2010, uma equipe de pesquisadores do Baystate Medical Center, em Springfield, Massachusetts, pediu a 232 de seus colegas que respondessem um questionário sobre vibrações fantasmas de telefones celulares. Dos 176 que responderam o questionário, 115 (68%) afirmaram que já haviam experimentado os desconcertantes alertas falsos, como o que foi descrito acima. Conclusão: "A síndrome da vibração fantasma é comum entre aqueles que usam dispositivos eletrônicos." (1)
O que provoca isso?
Há um monte de teorias. Poderia ser porque os telefones celulares produzem sinais elétricos que transmitem a sensação de vibração diretamente para os nervos do portador da síndrome ou, simplesmente, por causa de alguma antecipação mental de alertas (vibranxiety). (2)
Este aspecto de antecipação não é muito diferente de qualquer outro tipo de condicionamento psicológico. "Estamos tão acostumados com a vibração de nossos telefones que o cérebro nos faz sentir que está a acontecer – quando ele "quer", e não quando ela realmente acontece. (3)
Há uma evidência mais recente que sugere que tudo se passa em nossas cabeças. Em julho de 2012, pesquisadores publicaram outro estudo sobre o fenômeno das vibrações fantasmas em estudantes de graduação. A grande maioria experimentava as tais vibrações. (4)
Mas é nos extrovertidas e nos neuróticos que isso acontece com mais freqüência. Os extrovertidos, como explica Slate, verificam muito seus telefones porque manter contato com os amigos é uma parte importante de suas vidas. Já os neuróticos, por sua vez, como se preocupam muito com o estado de suas relações, procuram obter o maior número possível de mensagens de texto para saber o que outras pessoas dizem deles. (5)
Em qualquer caso, acreditam os pesquisadores que essas vibrações falsas (apesar de chatas) são inofensivas e que poucas pesquisas (argh!) já foram feitas sobre elas.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

677 - A solução à brasileira

Pesquisadores do Reino Unido mantêm-se na liderança das pesquisas sobre piolhos pubianos ("chatos").
Em 2006, foram Nicola Armstrong e Janet Wilson, do Departamento de Medicina Geniturinária, em Leeds, que se destacaram com este trabalho: Did the "Brazilian" kill the pubic louse? No qual apontavam uma relação entre o desaparecimento do habitat primário (pelos pubianos) do parasita e o número de casos de infestações por Pthirus pubis descritos por profissionais médicos. A DEPILAÇÃO À BRASILEIRA
Agora, um estudo de acompanhamento realizado por Shamik Dholakia, Jonathan Buckler, John Paul Jeans, Andrew Pillai, Natasha Eagles e Shruti Dholakia no Hospital Geral Milton Keynes, em Buckinghamshire, Reino Unido, com base em 3850 questionários preenchidos durante um período de dez anos, não só confirma a diminuição da incidência de infestações por piolhos pubianos como liga a mudança fortemente às práticas de remoção dos pelos pubianos.
No relatório "Pubic Lice: An Endangered Species?" (Os Piolhos Púbicos: Uma Espécie em Extinção?), publicado recentemente em Sexually Transmitted Diseases 41 (6): 388-391, eles afirmam com firmeza:
Resultados: Observou-se uma correlação significativa e forte entre a queda de infestações por piolhos pubianos e o aumento na remoção dos pelos pubianos.
Conclusões: O aumento da incidência de depilação, pela destruição do habitat natural do parasita,pode levar a padrões atípicos de infestações por piolhos pubianos ou à sua erradicação completa.
No entanto, eles ainda veem algum futuro para a espécie. Nos padrões atípicos de infestações em que os piolhos púbicos podem colonizar outros habitats, como os pelos do peito e das sobrancelhas.

561 - O uso do mercúrio contra a pediculose na Renascença

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

566 - Companheiros de espírito

Em 1966, instado a descrever a pessoa com menos probabilidade de desenvolver aterosclerose, Alan N. Howard, pesquisador da Cambridge respondeu: "Uma mulher anã, na pré-menopausa, ciclista, não fumante, desempregada, hipotensa, hipo-beta-lipoproteínica, hiper-alfa-lipoproteínica, vivendo na ilha de Creta antes de 1925 e sobrevivendo com com uma dieta de cereais não revestidos, óleo de cártamo e água."
E o médico Alan Norton, de Oxford, acrescentou a contrapartida masculina: "Um Bantu ectomórfico que trabalhava como motorista de ônibus em Londres, tinha passado a guerra em um campo de prisioneiros na Noruega, nunca comeu açúcar refinado, nunca bebeu café, sempre comeu cinco ou mais pequenas refeições por dia, e estava tomando grandes doses de estrogênio para deter o crescimento de um câncer de próstata."
"Todas essas características resultam de correlações estabelecidas, nos últimos anos, no campo das pesquisas médicas que, pelo menos em quantidade, mostra-se insuperável", observou Richard Mould, em Mould’s Medical Anecdotes. "O conflito de evidências é inigualável também."

Soulmates, Futility Closet

segunda-feira, 24 de junho de 2013

510 - Respondedores excepcionais

O que acontece quando uma droga funciona - mas apenas para uma pessoa?
Realmente, é muito intrigante este artigo de Heidi Ledford, publicado em Nature News. É sobre uma classe de pacientes conhecidos por "respondedores excepcionais" (exceptional responders). Aqueles pacientes que recebem o benefício de um medicamento ou tratamento, que, de forma diversa, não acontece com os demais que participam de um ensaio clínico.
Quando se faz um ensaio clínico, observam-se os resultados nas médias dos grupos. Pretende-se saber, com isso, se uma droga apresenta um desempenho melhor do que o placebo, quando ela é administrada a muita gente. Às vezes, porém, as drogas, que não funcionam na maioria dos pacientes, parecem ter um efeito positivo sobre alguns felizardos.
Agora, os cientistas estão tentando descobrir por que isso acontece. O que torna essas pessoas especiais? E como isso pode mudar a forma de fazer pesquisas?

terça-feira, 30 de outubro de 2012

432 - Sem retorno



Este gráfico apresenta o número de vezes em que animais são citados em artigos biomédicos a partir da década de 1950.
Fonte: PubMed

Uma rápida observação sobre o gráfico mostra como ratos e camundongos, "descolando" das demais categorias, vêm se destacando na preferência dos pesquisadores. Não os considero animais sortudos, por isso.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

381 - ♪Coca-Cola Douche♪

Esta música, criada na década de 1960 (gravada pelos Fugs), parece uma homenagem presciente aos vencedores do Ig Nobel de Química de 2008.


O prémio foi dado naquele ano a:
- Sharee A. Umpierre, da Universidade de Porto Rico, Joseph A. Hill, do Centro de Fertilidade da Nova Inglaterra (EUA), Deborah J. Anderson, da Boston University School of Medicine e da Harvard Medical School (EUA), por descobrirem que a Coca-Cola é um espermicida eficiente; (1)
- Chuang-Ye Hong, Shieh CC, Wu P. e BN Chiang (todos da Universidade Médica de Taipei, Taiwan) por descobrirem que não é. (2)
Referências
(1) Efeito da Coca-Cola sobre a motilidade dos espermatozóides
(2) A potência espermicida da Coca-Cola e da Pepsi-Cola