quinta-feira, 30 de março de 2023

1301 - A fratura do boxeador

De acordo com a terceira lei de Newton, se Mike Tyson desferisse um soco nocauteador em alguém, ele estaria aplicando a mesma força daquele soco na própria mão?
Sim, ele exerceria a mesma força na própria mão. Contudo, a força é dissipada pela luva de boxe. 
Antes de começarem a usar luvas de boxe no pugilismo, era comum os boxeadores quebrarem ossos das mãos - a chamada "fratura do boxeador".
As luvas de boxe se tornaram obrigatórias, no final do século 19, com as regras de Queensberry. O propósito inicial era não quebrar as mãos e pulsos dos lutadores.
Atualmente, apesar da controvérsia, as luvas são destinadas a proteger não só as mãos de um lutador, mas também proteger o outro lutador de lesões aparentes. A controvérsia está em que usando luvas, um lutador pode gerar um impacto muito maior nos golpes que aplica, repetidas vezes, sem machucar as mãos, aumentando o risco de lesionar o oponente de modo mais severo.

quinta-feira, 23 de março de 2023

1300 - Dentro de um pulmão de ferro há 65 anos

Quando Paul Alexander tinha apenas seis anos, ele foi acometido de poliomielite, que o deixou paralisado do pescoço para baixo e incapaz de respirar por si próprio.
Nas sete décadas seguintes, Paul contou com um pulmão de ferro para fazer o que seu diafragma não conseguia mais fazer. O pulmão de ferro usava a pressão do ar para expandir e desinflar seus pulmões, mas, apesar das repetidas tentativas dos médicos de fazê-lo respirar sozinho, Paul simplesmente não conseguia.
Isso foi até que ele descobriu uma técnica conhecida como respiração glossofaríngea (respiração de sapo). Essa técnica envolvia engolir o ar para forçá-lo a entrar nos pulmões. Com a ajuda de sua fisioterapeuta, a Sra. Sullivan, Paul praticou essa técnica de respiração até conseguir fazê-la sozinho por três minutos inteiros, ganhando um cachorrinho chamado Ginger, conforme prometido. Com o tempo, Paul foi capaz de usar essa técnica fora do pulmão de ferro e até se formou em direito.
Apesar de suas deficiências, Paul viveu uma vida plena e significativa. Ele viajava de avião, morava sozinho, frequentava clubes de strip-tease e rezava na igreja. Ele escreveu um livro sobre sua vida intitulado "Three minutes for a dog: My life in an iron lung", que escreveu inteiramente sozinho com uma caneta presa na boca.

quarta-feira, 15 de março de 2023

1299 - A vacina bivalente contra a covid-19

Dr. Julio Croda, Medscape, 10/02/2023
A covid-19 trouxe vários novos desafios para a saúde pública, e a vacinação é um deles. As recomendações sobre o esquema vacinal de prevenção da doença ainda estão no campo especulativo, uma vez que não temos uma sazonalidade marcada do vírus nem evidências suficientes sobre o melhor intervalo entre as doses dos imunizantes. Apesar disso, nos países do Hemisfério Norte, foi recomendada uma dose de reforço com a vacina bivalente, que contém a variante original e a Ômicron (variante BA.1 ou BA.4/BA.5), antes do período em que possivelmente haverá mais infectados pelo coronavírus. Essa recomendação foi respaldada por dados de segurança dos estudos de fases 1 e 2 da vacina bivalente BA.1 [e por dados de pesquisas sobre anticorpos produzidos contra as diferentes variantes.
Enquanto nos Estados Unidos a recomendação é de uma dose única de reforço em toda a população a partir de cinco anos de idade pelo menos dois meses após o esquema primário de qualquer vacina contra a covid-19, na União Europeia, a indicação é para pacientes e funcionários de instituições de longa permanência, profissionais de saúde, gestantes, idosos (60 anos), imunocomprometidos e pessoas com comorbidades relevantes.
No Brasil, a recomendação é ofertar a dose de reforço para pessoas acima de 60 anos, gestantes, puérperas, pacientes imunocomprometidos, pessoas com deficiência, pessoas vivendo em instituições de longa permanência, povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas e profissionais de saúde. No total, 52 milhões de pessoas são elegíveis para receber a dose de reforço.
Os dados de efetividade das vacinas bivalentes são escassos, mas indicam que houve proteção adicional para as pessoas que se vacinaram com o novo imunizante. Os resultados do estudo Effectiveness of bivalent boosters against severe omicron infection, recém-publicado no periódico New England Journal of Medicine, deixam evidente que a dose de reforço ajuda na prevenção de hospitalização e óbito por covid-19. Na Figura S2 do artigo, fica claro que, apesar de as vacinas de reforço monovalentes gerarem proteção adicional contra hospitalizações e óbitos por infecção pela variante Ômicron, a duração dessa proteção é mais curta quando comparada à das vacinas bivalentes. Talvez esse seja o principal argumento para utilizar as vacinas bivalentes em vez das vacinas monovalentes em população com maior risco de complicações por covid-19: garantir uma proteção mais duradoura contra hospitalizações e óbitos.
Quando pensamos em longo prazo, a oferta de vacinas atualizadas contra a covid-19, que confiram proteção contra as variantes que venham surgir no futuro para os grupos de maior risco, parece ser uma tendência de recomendação das agências reguladoras. A principal limitação dessa estratégia é identificar bons correlatos de proteção contra hospitalizações e óbitos. Na prática, o ideal seria ofertar a dose de reforço para os grupos de maior risco anualmente, eventualmente antes do período sazonal. Dessa forma, poderíamos utilizar a campanha de prevenção à gripe para ao mesmo tempo atualizar as vacinas contra influenza e contra covid-19 para o mesmo público-alvo, garantindo eficiência das campanhas de vacinação do ponto de vista operacional.
DOI: 10.1056/NEJMc2215471

quarta-feira, 8 de março de 2023

1298 - O Museu da Vacina

A cidade de São Paulo ganha hoje (8) o primeiro museu da América Latina dedicado exclusivamente à vacina. Este equipamento cultural faz parte do Parque da Ciência, do Instituto Butantan, e constitui um espaço interativo onde se explica como os imunizantes foram desenvolvidos, ao longo dos anos, e  qual a importância deles para a humanidade.
No espaço, os visitantes poderão conhecer, de forma cronológica, a evolução da ciência no desenvolvimento das vacinas.
A ideia do Museu da Vacina nasceu em 2018 e sofreu atrasos em sua execução por conta da pandemia. Ele foi construído na Casa Rosa (foto), prédio que foi a primeira sede da Fazenda Butantan.
Serviço
Onde fica: Instituto Butantan, na Avenida Vital Brasil, 1.500 - São Paulo (SP)
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 16h45
Ingressos: R$6 adultos; R$2,50 estudantes; crianças até 7 anos, idosos e alunos de escolas públicas em grupo agendado e pessoas com deficiência não pagam.

quinta-feira, 2 de março de 2023

1297 - Os genes de Mendel oferecem pistas sobre sua vida

Segunda parte
A escavação da tumba de Mendel revelou cinco caixões, empilhados um em cima do outro. Isso foi uma surpresa, visto que a lápide da tumba tinha os nomes de apenas quatro irmãos agostinianos.
O caixão de Mendel parecia ser de metal no fundo. Estava forrado com alguns jornais datados de pouco antes de sua morte, o que parecia bastante conclusivo. Ainda assim, Pardy diz que eles queriam evidências ainda melhores de que este caixão continha os restos mortais de Mendel.
"Na verdade, tivemos a ideia de examinar seus pertences pessoais porque sabíamos que precisávamos de algum material de referência para confirmar sua identidade", diz Pardy.
Curadores de museus locais permitem que eles esfreguem itens como os microscópios de Mendel, seus óculos, registros escritos de suas medições meteorológicas e uma cigarreira. A equipe também procurou cuidadosamente nos livros favoritos de Mendel e, em um livro sobre astronomia, encontrou um fio de cabelo.
Ao olhar para o DNA de tudo isso e compará-lo com o DNA do esqueleto, eles tiveram certeza de que haviam encontrado o corpo de Mendel. O sequenciamento de seu DNA revelou variantes genéticas ligadas a diabetes, problemas cardíacos e doenças renais. A variante que mais intrigou Fairbanks estava em um gene associado à epilepsia e a problemas neurológicos.
“Ele sofreu ao longo de sua vida de algum tipo de distúrbio psicológico ou neurológico que o levou a ter colapsos nervosos muito graves”, diz Fairbanks. “Isso pode muito bem ter sido uma condição hereditária – e essa foi uma descoberta fascinante que esses cientistas fizeram”.
O que Mendel faria?
Fairbanks pensou em como Mendel se sentiria ao ser perturbado em seu túmulo para satisfazer a curiosidade dos cientistas de hoje.
"Tendo a pensar, pelo que sei sobre ele, que ele pode ter ficado muito feliz com isso", diz Fairbanks. "Mas é claro que não podemos perguntar diretamente a ele."
Pospíšilová também se inclina para essa teoria.
"Acreditamos que ele ficaria feliz. Sabemos que ele estava muito entusiasmado com todos os tipos de pesquisa", diz ela - observando que pouco antes de morrer, Mendel solicitou que uma extensa autópsia fosse feita.
"Ele não era contra a pesquisa em seu próprio corpo", diz ela.
Embora Mendel não soubesse nada sobre o DNA ou o papel que ele desempenhava nos padrões de herança que ele observava tão de perto, diz ela, com toda a probabilidade "ele não se importaria de fazer parte da pesquisa, mesmo depois de sua morte".
(fim)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

1296 - Exumação de Mendel, o pai da genética

Primeira parte
Quando o homem conhecido como "pai da genética" completa 200 anos, como você comemora?
Desenterrando seu corpo e sequenciando seu DNA, é claro.
Foi isso que uma equipe de cientistas da República Tcheca fez em 2022 para homenagear Gregor Mendel, um cientista e frade cujos experimentos em meados do século XIX lançaram as bases para a genética moderna.
Mendel viveu e trabalhou em Brno, a segunda maior cidade da República Tcheca. Com 2022 marcando o bicentenário do nascimento de Mendel, os pesquisadores locais - onde Mendel continua sendo uma espécie de herói da cidade natal - procuraram maneiras de lembrar o homem e homenagear o momento. As possibilidades incluíam um festival, uma conferência científica e uma estátua.
O astrônomo Jiří Dušek, diretor do Observatório e Planetário de Brno, questionou se o fundador da genética já havia sido submetido a algum teste genético.
"Então esse foi o começo", diz Šárka Pospíšilová , geneticista que também é vice-reitor de pesquisa da Universidade Masaryk em Brno.
Uma ideia 'maluca' se torna realidade
A princípio, ela diz que a ideia de analisar os genes de Mendel parecia "louca".
Ainda assim, Pospíšilová consultou diferentes especialistas da universidade para perguntar o que seria possível.
"Perguntei aos antropólogos que tinham experiência com análise de restos mortais de várias personalidades históricas", lembra ela. Ela também consultou arqueólogos.
Exumar Mendel de seu túmulo em Brno e realizar testes genéticos em seus restos mortais acabou sendo um projeto factível – contanto que eles pudessem obter permissão dos agostinianos. Essa é a ordem religiosa à qual Mendel pertencia e com a qual ele permanece: pensava-se que a tumba agostiniana no cemitério central da cidade continha o corpo de Mendel.
Os líderes religiosos locais consultaram os agostinianos em Praga, seu bispo e, finalmente, os agostinianos em Roma. Eventualmente, a permissão foi concedida.
Um gigante da genética
Filip Pardy , um biólogo molecular da equipe de pesquisa, sentiu que um grande senso de responsabilidade vinha fazer parte desse esforço.
"Gregor Mendel é uma pessoa que é ensinada no primeiro curso de genética da universidade", diz Pardy. "Todo mundo sente que ele é muito importante, especialmente aqui em Brno. Ele é uma espécie de modelo... que esteve no início de tudo o que fazemos."
Mendel estava à frente de seu tempo na maneira como usou a matemática para estudar padrões de herança em plantas de ervilha ao olhar para coisas como cor da flor e altura da planta, diz Pardy.
"Ele analisou um conjunto de cerca de 25.000 plantas para realmente acertar seus números e criar as fórmulas", diz Pardy. "E, nesse sentido, ele também foi um tipo de visionário e um passo à frente."
Os experimentos de Mendel com plantas foram conhecidos e respeitados durante sua vida, mas sua fama realmente decolou depois de 1900, quando os geneticistas redescobriram seu trabalho e perceberam suas implicações.
"Ninguém na época, incluindo Mendel, creio eu, suspeitava que seu trabalho seria tão inovador em termos de ser uma importante teoria científica", diz Daniel Fairbanks, geneticista de plantas e autor de um livro chamado Gregor Mendel: His Life and Legado.
(continua)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

1295 - Envenenamentos pelo arsênico

"Muitos envenenamentos lentos estão acontecendo na Grã-Bretanha", escreveu um médico em Birmingham em 1857.
Mas nem todos tinham tanta certeza.
O arsênico, o elemento básico do mistério do assassinato moderno, estava em toda parte na vida de qualquer pessoa rica e de bom gosto na Inglaterra vitoriana.
Depois que os químicos descobriram que podiam produzir verdes brilhantes com arsênico no final de 1700, a cor tornou-se irresistível para aqueles que podiam pagar. E se você fosse saudável, sua vida com ele seria ótima.
Senhoras e senhores do final dos anos 1700 e início dos anos 1800 já tinham arsênico em sua maquiagem, em suas perucas e nos tecidos que usavam. Ninguém sabia ao certo por que alguns deles estavam ficando doentes.
Famílias na Grã-Bretanha perderam todos os seus filhos para o que agora sabemos ser envenenamento por arsênico sem nunca saber a verdade, mesmo quando alguns médicos e cientistas começaram a falar sobre o perigo no início de 1800.
Mas o mistério começou a ser desvendado com o papel de parede. As pessoas já sabiam que o arsênico podia matar e, à medida que os sintomas surgiam naqueles que não tinham uma constituição tão forte, alguns viram escrito na parede de que algo estava muito, muito errado.
A pressão pública fez com que os fabricantes relutantemente removessem o arsênico de seus produtos. E o momento era certo, pois os fabricantes já estavam lançando cores novas e ainda mais brilhantes com a invenção de corantes sintéticos já em 1850.
Embora os resistentes ainda ridicularizassem a noção de que o arsênico poderia saltar do papel de parede ou do vestido de alguém e matá-los, a evidência acabou se tornando clara demais para ser ignorada e, no final dos anos 1800, a era do arsênico havia sido amplamente ocultada para aguardar uma geração futura para descobrir.
Que aqueles de vocês que descobrem esses fragmentos luminescentes da história sejam os mais sábios, e tenham cuidado!
Samaha, L. What's a substance that was once used widely but is now known to be toxic? QUORA
Trad.: PGCS
Arquivo
495 - O trono do conhecimento
993 - O teste de Marsh

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

1294 - Zoonoses

São as infecções transmitidas de animais para seres humanos. Estima-se que cerca de 6 em cada 10 doenças infecciosas que acometem seres humanos sejam transmitidas por animais.
Classicamente, consideramos zoonose apenas as doenças de transmissão entre vertebrados. Entretanto, há autores que também consideram como parte desse grupo as infecções transmitidas por artrópodes, tais como carrapatos, pulgas, piolhos e mosquitos.
As doenças zoonóticas podem ser causadas por vírus, bactérias, protozoários, fungos e helmintos. Frequentemente, os animais que transmitem esses germes são domesticados e têm aparência saudável.
São mais de 200 as doenças que podem ser transmitidas entre animais e homens. 
E o risco de transmissão de doença de um animal para seu tutor é ainda maior se este for uma pessoa com imunossupressão.
Também é oportuno lembrar que diversas zoonoses são transmitidas por animais domesticados, mas não caseiros, como porcos, bois, ovelhas, patos e galinhas.
As principais formas de transmissão das zoonoses são:
  • Contato direto: com saliva, sangue, pus, urina, fezes, secreções respiratórias e outros fluidos corporais de um animal infectado. Mordidas e arranhões entram nesse grupo.
  • Contato indireto: com áreas onde os animais vivem, incluindo objetos, meios ou superfícies que possam ter sido contaminados.
  • Vetores: picadas de carrapato, mosquito, percevejo ou pulga.
  • Alimentos: ingestão de alimentos contaminados, como leite não pasteurizado, carne ou ovos mal cozidos ou frutas e vegetais crus contaminados com dejetos de um animal infectado. Manuseio de comidas para pets.
Lista das doenças zoonóticas (em inglês)
Fonte: http://www.gov.uk/government/publications/list-of-zoonotic-diseases/list-of-zoonotic-diseases

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

1293 - Óculos para o olfato

Uma equipe de pesquisadores da Virginia Commonwealth University acaba de inventar um nariz biônico. O dispositivo (óculos para o olfato) é capaz de restaurar as conexões nervosas de pessoas que perderam este sentido devido a doenças, como em alguns casos de Covid-19.
A equipe desenvolveu seu protótipo e agora está se preparando para iniciar testes clínicos. O principal problema não é exatamente restaurar o olfato de uma pessoa, mas sim ensinar o aparelho a simular cada cheiro. Embora os seres humanos não tenham o melhor olfato do mundo animal, nossos narizes têm um número respeitável de 400 receptores olfativos que podem reconhecer milhares de cheiros diferentes. Mapear esses odores em um processador requer treinamento personalizado para cada paciente.
Nesse caso, os pesquisadores esperam começar um pouco mais humildes. O primeiro objetivo é restaurar a capacidade dos pacientes de perceber odores que são importantes para eles.
Discussão
- Não tenho certeza até que ponto uma pessoa estaria disposta a se submeter a uma cirurgia para recuperar o olfato.
- Ninguém dá valor ao que tem até perdê-lo.
https://es.gizmodo.com/estas-gafas-no-son-gafas-de-ver-son-gafas-de-oler-1849680797
https://spectrum.ieee.org/covid-smell-prosthetic

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

1292 - Experimento. Seis médicos engolem cabeças de LEGO

Em 2018, um experimento científico se tornou viral porque envolveu seis médicos engolindo cabeças de LEGO, apenas para ver quanto tempo levariam para passar por seus sistemas digestivos. Agora, os médicos envolvidos se reuniram em um artigo para explicar seus métodos e motivações. O médico de emergência, Dr. Andrew Tagg, sempre se interessou pela natureza das muitas coisas que as crianças engoliam. As mais comuns são as moedas, seguidas dos brinquedos de plástico. Já havia pesquisas sobre quanto tempo as crianças demoravam para defecar uma moeda, mas nenhuma para brinquedos de plástico. Enquanto isso, pais frenéticos vasculhavam vasos sanitários para encontrar o que havia sido engolido. Mas havia uma segunda motivação, compartilhada por muitos médicos pesquisadores - a emoção de um artigo que poderia ser publicado na famosa edição de dezembro do British Medical Journal, onde recebem destaque os estudos estranhos e, muitas vezes, engraçados. Esse desejo ajudou Tagg a recrutar outros médicos pediatras. Em seguida, eles tiveram que definir os parâmetros, concordar em como coordenar seus movimentos intestinais e seus métodos de busca. E eles tiveram também que escolher seus brinquedos.
Eu não acho que alguém saiu especificamente para comprar cabeças de Lego para descobrir qual era a mais saborosa. Era muito mais um caso de qual cabeça tinha o rosto mais bonito para engolir. Você não aceitaria um que pareça meio chocado e assustado enquanto desce.
Quatro anos depois, os médicos contam tudo o que passaram para testar a passagem das cabeças de LEGO:
https://www.neatorama.com/2022/11/28/Six-Pediatricians-Explain-Why-They-Swallowed-LEGO-Minifig-Heads/
https://defector.com/an-oral-history-of-the-time-six-doctors-swallowed-lego-heads-to-see-how-long-theyd-take-to-poo/
https://www.neatorama.com/2018/11/27/How-Long-Does-It-Take-to-Pass-a-LEGO-Piece/
https://www.metafilter.com/197353/Its-a-One-Way-Trip-to-Brown-Town

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

1291 - Homem é atingido por um disparo de sua arma de fogo durante a realização de um exame de RM

Um advogado de 40 anos foi atingido por um disparo de sua arma de fogo, enquanto acompanhava a mãe num procedimento de ressonância magnética (RM), na tarde de segunda-feira (16). O advogado, que divulga conteúdos pró-armas no TikTok, está internado em estado grave.
O caso ocorreu dentro do Laboratório Cura, no Jardim Paulista, na região central de São Paulo.
Fonte: Carla Bigatto, Band  News
Aparelhos de ressonância magnética são ímãs superpotentes (capazes de criar campos magnéticos até 100.000 vezes maiores do que o da Terra). Por isso, é proibido haver objeto ferromagnético na sala de RM, durante o funcionamento do aparelho.
Fotografia de outro caso

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

1289 - O brasileiro que criou a abreugrafia

Ela é conhecida por vários nomes mundo afora. Roentgenfluorografia, na Alemanha; radiofotografia, na França; schermografia, na Itália; fotorradioscopia, na Espanha; fotofluorografia, na França e na Suécia; e microrradiografia, em Portugal. No Brasil, é chamada de abreugrafia e quem tem 50 anos ou mais deve ter feito uma para poder se matricular na escola ou ingressar num novo emprego.
Este exame do pulmão, que começou a ser desenvolvido há cerca de 100 anos e revolucionou o diagnóstico e o tratamento da tuberculose, foi inventado pelo médico brasileiro Manoel Dias de Abreu — daí o seu nome — e que, por isso, ele foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel, em 1946, 1951 e 1953.
A ideia, que demorou mais de uma década para ser desenvolvida, consistia em fotografar com um filme comum, bem mais barato, pois a fotografia com câmeras portáteis já era uma prática disseminada no começo do século passado.
"Assim, a imagem dos raios-x atravessando a pessoa examinada era gerada em uma tela de material fluorescente, que fazia parte do aparelho", explica Schulz. "E essa imagem, agora em luz visível, era fotografada da mesma forma como fotografamos uma paisagem qualquer."
Segundo o médico radiologista Cesar Higa Nomura, presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), "a abreugrafia era um método rápido e eficiente para diagnóstico de tuberculose com baixo custo, uma vez que os filmes fotográficos eram mais baratos que os radiográficos. Além disso, era um método portátil que permitiu o uso em larga escala", acrescenta. Enquanto um filme radiográfico tem um tamanho de 30 x 40 cm, os usados nas câmeras comuns — e na abreugrafia, portanto — medem apenas 35 mm ou 70 mm.
Abreu nasceu na cidade de São Paulo, no dia 4 de janeiro de 1892, terceiro filho do português da Província do Minho, Júlio Antunes de Abreu, e da paulista Mercedes da Rocha Dias, de Sorocaba. Ele ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro com apenas 15 anos e se formou aos 21, em 1913. Pouco depois ele e a família partiram para Paris, onde Abreu pretendia continuar e aperfeiçoar seus estudos. Por causa da 1ª Guerra Mundial, no entanto, teve de ficar em Lisboa até 1915, quando enfim se mudou para a capital francesa, onde permaneceu por 8 anos.
Em Paris, Abreu se convenceu de que a fotografia da tela fluorescente, o écran, nos exames feitos com raios-x, poderia ser uma forma barata de diagnosticar a tuberculose em massa. Ele até tentou, por volta de 1919, fazer a fotografia da tela, mas esbarrou em obstáculos técnicos. A luminosidade da fluorescência do écran era muito fraca, longe de ser suficiente para ficar marcada nos filmes com sais de prata das máquinas fotográficas comuns em tão mínima fração de segundo.
Finalmente em 1936, no Rio de Janeiro, ele conseguiu obter a radiofotografia do écran, então com nova tecnologia que dava maior fluorescência à tela. Abreu batizou seu invento de roentgenfotografia, em homenagem ao descobridor dos raios x (Wilhelm Conrad Röntgen). O nome foi usado no Brasil até 1939, quando o presidente do 1º Congresso Brasileiro de Tuberculose, Ary Miranda, propôs a mudança para abreugrafia, em honra de seu inventor. A proposta foi aprovada por unanimidade.
"A invenção ganhou destaque internacional", diz o médico Fabiano Reis, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. "A técnica rapidamente se disseminou e foi incorporada pelos serviços públicos de saúde do Brasil e de outros países." Na época, ela era 100 vezes mais barata que uma radiografia tradicional.
A médica e mestre em Saúde Coletiva, Dilene Raimundo do Nascimento, da área de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz da Fiocruz, lembra que na época a abreugrafia só tinha vantagens. "Pelo seu custo baixo e pela facilidade de operar, tornou possível o exame em massa para o diagnóstico precoce da tuberculose", explica."O diagnóstico precoce da doença possibilitou iniciar o tratamento antes que fosse tarde demais, reduzindo assim o número de mortes".
De acordo com Nomura, a inovação de Abreu teve impacto grande na saúde pública brasileira da época, que lutava contra a tuberculose, com grande número de acometidos pela doença, diagnosticados em estágio avançado e crescente número de mortes. "Só no Rio de Janeiro no início da década de 1920 as estimativas apontavam cerca de 300 mortes por grupo de 100 mil pessoas", diz.
Aparelho de abreugrafia e técnicos (Vitória, ES)
Com a diminuição progressiva da incidência da tuberculose e os progressos no seu tratamento, os programas de triagem em massa foram sendo interrompidos a partir anos 1970. "Afinal, no começo daquele século a incidência era de 150 casos por 100 mil habitantes (semelhante à covid-19 em algumas ondas em alguns países), mas em 1970 já era de apenas 5 casos por 100 mil", explica Schulz.
Por isso, em 1974, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se pronunciou contra o uso da abreugrafia em massa, por expor desnecessariamente a população a doses de radiação. "Atualmente, o exame para detecção de tuberculose é feito pela pesquisa do bacilo de Koch no escarro", conta Reis. "Para rastreamento de algumas patologias pulmonares, são preconizados estudos tomográficos dque permitem detecção de eventuais lesões em seus estágios iniciais."
Apesar disso, a abreugrafia continua sendo lembrada, pelo menos no Brasil, onde o seu Dia Nacional é comemorado em 4 de janeiro, data do nascimento de seu inventor. A homenagem foi estipulada pelo presidente Juscelino Kubitschek, por meio do Decreto nº 42.984, de 3 de janeiro de 1958. Por uma ironia de destino, Abreu viria a morrer quatro anos depois, no dia 30 abril, por causa de uma doença do pulmão — no caso, câncer.
P.S. Em 1963, o corpo clínico do Hospital de Messejana, em Fortaleza-CE, homenageou o insigne médico paulista ao colocar seu nome no Centro de Estudos da instituição. Tive a honra de presidir durante quatro anos (2003 - 2006) o referido Centro de Estudos, contando com a imprescindível colaboração do Sr. Vinício Firmeza de Brito.
Texto extraído de: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-62695479
Em arquivo: Post 11 - Abreu, inventor da abreugrafia, blog Nova Acta

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

1288 - Novos potenciais benefícios da vitamina B12

O potencial benefício das vitaminas é um tema sempre em alta. Novos achados sugerindo que a vitamina B12 possa ter um papel protetor contra a doença de Parkinson, a progressão da esclerose lateral amiotrófica e a gravidade da esteatose hepática, recentemente aumentou o interesse dos leitores do Medscape sobre o tema.

No International Congress of Parkinson's Disease and Movement Disorders (MDS) 2022, pesquisadores apresentaram resultados de um estudo feito com mais de 80.000 mulheres e quase 50.000 homens. A análise avaliou informações sobre alimentação, suplementação e ingestão total de ácido fólico, vitamina B6 e vitamina B12 ao longo de cerca de 30 anos até 2012. Durante o acompanhamento, 495 mulheres e 621 homens foram diagnosticados com doença de Parkinson. Os pesquisadores ajustaram por possíveis fatores de confusão como idade, ano, tabagismo, atividade física, ingestão de bebidas alcoólicas ou cafeína, uso de hormônios (mulheres), ingestão de laticínios e flavonoides, e pontuação na dieta mediterrânea. Eles encontraram uma relação significativa entre o consumo durante o intervalo de 20 anos e o diagnóstico da doença de Parkinson. De modo geral, os resultados respaldam um possível efeito protetor do consumo precoce de vitamina B12 em termos da ocorrência da doença de Parkinson.

Em outro estudo do início de 2022, foi considerado que a administração de uma dose ultra-alta de metilcobalamina (uma forma ativa de análogo da vitamina B12) diminuiu em 43% o declínio funcional de pacientes com esclerose lateral amiotrófica em estágio inicial. A dose de 50 mg foi administrada duas vezes por semana por via intramuscular. No estudo de fase 3, a eficácia foi maior para os participantes que também estavam tomando riluzol, que foi aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA para tratar a esclerose lateral amiotrófica. O estudo foi feito com pacientes ambulatoriais de 25 centros de neurologia no Japão com diagnóstico (definitivo ou provável) de esclerose lateral amiotrófica e cujos sinais e sintomas haviam iniciado no ano anterior. Após 12 semanas de observação, os 130 participantes que permaneceram ambulatoriais e tiveram apenas uma redução de um ou dois pontos na pontuação total da Revised Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale (ALSFRS-R) foram designados para um tratamento com 16 semanas de duração. A diferença na escala de classificação funcional da esclerose lateral amiotrófica revista entre o medicamento ativo e o placebo foi de 43% em todos os pacientes e de 45% nos pacientes em uso de riluzol.

Outro estudo constatou que a vitamina B12 e o ácido fólico também podem desempenhar algum papel na prevenção ou no retardo da progressão da doença na esteatoepatite não alcoólica (NASH, do inglês NonAlcoholic SteatoHepatitis).Em modelos pré-clínicos, os pesquisadores descobriram que complementar a alimentação com vitamina B12 e ácido fólico aumenta os níveis de sintaxina hepática 17, restaura o seu papel na autofagia e diminui a progressão da esteatoepatite não alcoólica, revertendo a inflamação e a fibrose hepáticas.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

1287 - Os cinco estágios do luto

A psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross foi convidada por estudantes para participar de um projeto de pesquisa do Seminário Teológico de Chicago. Por meio de discussões a respeito das crises humanas escolheram a morte como tema de estudo, por ser ela a experiência mais complexa e desafiadora.
Foram levantados dados sobre esse tema por meio de entrevistas com pacientes em fase terminal. Durante a realização do estudo surgiram muitas questões e ela observou nos relatos que apareciam algumas situações comuns aos pacientes, sendo elencados pela autora como os cinco estágios ou atitudes diante da morte e do morrer.
  • O primeiro estágio é marcado pela negação e o isolamento, onde o paciente nega aquele diagnóstico e isola-se como forma de evitar as comunicações que poderiam acabar com sua negação.
  • O segundo estágio é a raiva, quando não é mais possível manter a negação do diagnóstico. Diante da nova realidade o paciente pergunta indignado: “Por que isto foi acontecer comigo”?
  • A autora segue relatando os estágios e o terceiro é a barganha. Após a revolta com Deus e com as pessoas, a nova tentativa é barganhar ou tentar adiar o inevitável. Na maioria das vezes as barganhas são feitas com Deus.
  • O quarto estágio é a depressão. Nesse estágio já não se pode mais negar, e a revolta e a raiva cederão lugar a um sentimento de grandes perdas. A depressão é um instrumento na preparação da perda eminente para facilitar o estado de aceitação.
  • O quinto e último estágio é a aceitação. Ele pode ser visto como uma fuga de sentimentos. Seria como se a luta tivesse cessado e fosse chegando o momento de repouso, preparação para o descanso final.
Esses estágios têm uma duração variável, podendo um substituir o outro ou encontrar-se. O único fator que acompanha na maioria das vezes todos os estágios é a esperança de encontrar alguma cura ou produto para estancar a morte em curso.
A morte no dicionário da filosofia, por Bárbara Figueiredo. Academia Médica.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

1285 - O mundo grisalho

Toda pessoa com mais de 60 anos é um idoso, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Criada em 1948, com o objetivo principal de garantir que todas as pessoas do planeta tenham acesso ao mais elevado nível de saúde, a OMS (que é ligada à Organização das Nações Unidas, a ONU) classifica o processo de envelhecimento hunano em quatro estágios:
- meia-idade, de 45 a 59 anos;
- idoso, de 60 a 74;
- ancião, de 75 a 90;
- velhice extrema, acima de 90 anos.
No Brasil, é a Lei nº 10.741/2003 que reconhece a idade de 60 anos como a passagem para essa fase da vida e que instituiu, no dia 1º de outubro, o "Estatuto do Idoso", destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Desde que entrou em vigor, este estatuto já foi alterado em mais de 20 pontos, por 11 leis. Uma das mais recentes, de 2017, deu prioridade especial no atendimento a idosos que tenham a partir de 80 anos.
Ilustração de Luciano Luz / Instituto Envelhecer


Arquivo
73 - Vacinação em idosos
580 - Que é envelhecer?
842 - Saúde dom idoso
980 - A confusão mental dos idosos
1131 - Kane Tanaka e os supercentenários
1138 - O direito do paciente hospitalar a ter acompanhante

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

1284 - O que é o jet lag

O jet lag é a síndrome da mudança de fuso horário, ou seja, é a alteração do ritmo biológico de 24 horas consecutivas que ocorre após mudanças do fuso horário em longas viagens de avião. Caracteriza-se por problemas físicos e psíquicos, especialmente do ciclo do sono, decorrentes de alterações dos níveis hormonais de hidrocortisona.
Trata-se de uma condição fisiológica resultante de alterações no ritmo circadiano (distribuição dos períodos de sono-vigília em um ciclo de 24 horas) provocadas por uma viagem, geralmente em aviões a jato (daí o nome em inglês: jet, redução de jet plane, "avião a jato"; e lag, "atraso, retardo"), atravessando vários fusos horários. Em consequência, após a viagem, o relógio interno (relógio biológico) não estará ajustado ao horário local. Ocorre então um distúrbio do transitório sono.
Causa
Quando uma pessoa viaja entre vários fusos horários, o horário do seu relógio biológico não é igual ao do local de destino. Os períodos de vigília e de repouso, assim como a regulação hormonal, deixam de corresponder ao ciclo dia-noite do ambiente. Desde o momento da sua chegada ao destino até a adaptação ao horário local, a pessoa estará sofrendo um jet lag.
A rapidez em que o corpo se ajusta ao novo horário varia de pessoa para pessoa. Enquanto algumas pessoas demoram muitos dias para se adaptar ao novo horário, outras demoram poucas horas para fazê-lo.
A condição não depende da duração do voo, mas da distância leste-oeste (ou oeste-leste) viajada. Por exemplo, num voo entre Frankfurt e Joanesburgo, a rota está marcada na mesma zona de fuso horário e, portanto, a viagem não provoca jet lag, enquanto um voo de Nova Iorque a Los Angeles pode causá-lo.
Sintomas
Dentre os sintomas do jet lag, estão principalmente as alterações do sono e a dificuldade em criar um horário certo para dormir ou para fazer refeições. Porém, a pessoa também pode apresentar sintomas como mal estar, diarreia, náuseas, dores de cabeça, ansiedade e irritabilidade.
Como evitar
Para evitar os sintomas do jet lag, é recomendável que a pessoa durma bem antes da viagem e, alguns dias antes, tente se adaptar ao fuso horário de destino, fazendo pequenas mudanças em sua rotina como nos horários das refeições e de dormir. Evite as bebidas alcoólicas durante o voo e procure não ficar deitado e/ou sentado o tempo todo durante a viagem.
Ler também: 

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

1283 - Casos misteriosos de doença com uma causa incomum

Christoph Renninger (Medscape)
8 de agosto de 2022
Em 2021, em estados americanos distantes uns dos outros, surgiram numerosos casos de melioidose (doença de Whitmore), alguns com desfecho fatal. Qual é o fator comum que liga todos os afetados? Assim começa a busca por provas.
Sem relações ou jornadas comuns
Entre março e julho de 2021, casos da doença infecciosa bacteriana surgiram na Geórgia, Kansas, Minnesota e Texas, com a doença sendo fatal para dois dos afetados. Normalmente, os casos de melioidose ocorrem nos Estados Unidos após viajar para regiões onde o patógeno é prevalente. No entanto, nenhum dos pacientes havia realizado qualquer viagem internacional anterior.
Quando os genomas das cepas bacterianas (Burkholderia pseudomallei) foram sequenciados, eles mostraram um alto nível de concordância, sugerindo uma fonte comum de infecção. A cepa bacteriana é semelhante àquelas encontradas principalmente no Sudeste Asiático. Um produto importado de lá foi levado em consideração como gatilho.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) examinaram amostras de sangue dos pacientes, bem como amostras do solo, água, alimentos e utensílios domésticos em suas casas.
Spray de aroma como um gatilho
Em outubro, a causa da melioidose foi finalmente identificada na casa do paciente da Geórgia: um spray de aromaterapia. A impressão digital genética da cepa bacteriana combinava com a dos outros pacientes. O gatilho comum foi assim descoberto.
O spray contaminado, com aroma de lavanda e camomila para perfumaria de ambientes, foi vendido entre fevereiro e outubro em algumas filiais do Walmart, bem como em sua loja online. O produto foi, portanto, recolhido e verificado se os ingredientes também estavam sendo usados ​​em outros produtos.
O CDC solicitou aos médicos que também levassem em consideração a melioidose se fossem apresentados a infecções bacterianas agudas que não respondessem aos antibióticos normais e que perguntasse se o spray de ambiente afetado havia sido usado.
Mais informações sobre a melioidose
A melioidose é uma doença infecciosa que afeta humanos e animais. O gatilho é a bactéria B pseudomallei . A doença aparece predominantemente em regiões tropicais, especialmente no Sudeste Asiático e no norte da Austrália.
Transmissão
A bactéria pode ser encontrada em água e solo contaminados. É disseminado entre humanos e animais através do contato direto com a fonte infecciosa, como inalação de partículas de poeira ou gotículas de água, ou através do consumo de água ou alimentos contaminados. A transmissão de humano para humano é extremamente rara. Recentemente, no entanto, peixes tropicais de água salgada foram identificados como potenciais portadores.
Sintomas
A melioidose tem uma ampla gama de sintomas, o que pode levá-la a ser confundida com outras doenças, como tuberculose ou outras formas de pneumonia. Existem diferentes formas da doença, cada uma com sintomas diferentes.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

1282 - Anúncio do Hospital de Messejana na década de 1930


É uma propaganda ("reclame") do SANATÓRIO DE MESSEJANA, à época em que era dirigido pelos fundadores, os Drs. Otávio Lobo, Pedro Sampaio e Lineu Jucá. Inaugurado em 1.º de maio de 1933, no próximo ano essa importante instituição estará completando 90 anos. 
É hoje o HOSPITAL DE MESSEJANA DR. CARLOS ALBERTO STUDART GOMES.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

1281 - Equação de Drake aplicada à pandemia da covid-19

A Universidade Johns Hopkins, nos EUA, tornou-se referência mundial durante a pandemia, ao compilar os dados globais da covid-19 que estavam sendo usados pela imprensa e pelas autoridades de saúde. Mas uma equipe da Escola de Engenharia da mesma universidade acreditou que seria possível ir bem mais longe do que apenas compilar os dados do que já aconteceu. 
Como se tinha mostrado extremamente difícil prever as ondas da pandemia e os efeitos das diversas medidas adotadas para tentar conter a disseminação da doença, Rajat Mittal e seus colegas foram buscar uma ferramenta que poucos pensariam em utilizar para questões de saúde pública.
A ferramenta é a famosa Equação de Drake, uma fórmula matemática de sete variáveis que o astrônomo Frank Drake desenvolveu em 1961 para estimar a probabilidade de encontrar vida alienígena inteligente na Via Láctea. 
Quanto aos ETs, diversas interpretações dessa equação já deram resultados indicando que existem 36 civilizações inteligentes na Via Láctea ou que, se você não acredita em ETs, está contra as probabilidades. Mas Mittal e seus colegas decidiram aplicar a metodologia para calcular as chances de uma pessoa ser contaminada pela covid-19 pelo ar.
"Ainda há muita confusão sobre as vias de transmissão da covid-19. Isso ocorre em parte porque não há uma 'linguagem' comum que facilite o entendimento dos fatores de risco envolvidos," disse Mittal. "O que realmente precisa acontecer para alguém se infectar? Se pudermos visualizar esse processo de forma mais clara e quantitativa, poderemos tomar melhores decisões sobre quais atividades retomar e quais evitar."
Mas o risco de se infectar depende muito das circunstâncias. Por isso, o modelo da equipe ampliou a Equação de Drake de sete para dez variáveis de transmissão, incluindo as taxas de respiração das pessoas infectadas e não infectadas, o número de gotas transportadoras do vírus expelidas, o ambiente circundante e o tempo de exposição.
A equação não dá respostas diretas e fáceis. Dependendo do cenário, a previsão de risco da pandemia pode variar muito. Mas, dados os mesmos parâmetros, a comparação entre situações pode ser útil.
Considere o caso de uma academia, por exemplo. A imprensa tem falado exaustivamente que fazer exercícios em uma academia pode aumentar suas chances de pegar covid-19, mas quão arriscado é realmente? "Imagine duas pessoas em uma esteira na academia; ambas respiram com mais dificuldade do que o normal. A pessoa infectada está expelindo mais gotas e a pessoa não infectada está inalando mais gotas. Nesse espaço confinado, o risco de transmissão aumenta em 200 vezes," citou o pesquisador.
A equipe destacou que o modelo pode ser útil para quantificar o valor do uso de máscaras e do distanciamento social. Se ambas as pessoas - contaminada e não contaminada - estiverem usando máscaras N95, o risco de transmissão é reduzido por um fator de 400, ou seja, menos de 1% de chance de pegar o vírus. Mas mesmo uma máscara simples de tecido reduz significativamente a probabilidade de transmissão, de acordo com o modelo.
A equipe também descobriu que o distanciamento social tem uma correlação linear com o risco. Se você dobrar a distância, você dobra o fator de proteção, ou reduz o risco pela metade.
Ajuste dos parâmetros
Como acontece com a previsão da existência de civilizações alienígenas e com a maioria dos modelos de covid-19, algumas variáveis são conhecidas e outras ainda são um mistério. Por exemplo, ainda não sabemos quantas partículas do vírus SARS-CoV-2 inaladas são necessárias para desencadear uma infecção. Variáveis ambientais, como vento ou sistemas de ar-condicionado também são difíceis de especificar com precisão.
"Com mais informações, é possível calcular um risco bem específico. De maneira mais geral, nosso objetivo é apresentar como todas essas variáveis interagem no processo de transmissão," disse Mittal. "Acreditamos que nosso modelo pode servir como base para estudos futuros que irão preencher essas lacunas em nosso entendimento sobre a covid-19 e fornecer uma melhor quantificação de todas as variáveis envolvidas em nosso modelo."
DOI: 10.1063/5.0025476

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

1280 - Quanto tempo uma pessoa sobrevive sem respirar?

Uma vez que a respiração em nível celular continue ocorrendo, enquanto houver oferta de oxigênio suficiente nos pulmões, mesmo sem o contato com o ar atmosférico, os seres pulmonados podem sobreviver em apneia durante alguns minutos. Os seres humanos, em média, suportam 2–3 minutos sem respirar. Alguns atletas especialistas conseguem ultrapassar os 5 minutos, mantendo a lucidez.
Os mergulhadores Bajau, da Indonésia, que passam muito tempo no oceano caçando criaturas marinhas (peixes, polvos e crustáceos), podem passar até 13 minutos debaixo d'água - sem equipamento de mergulho! Tempo esse que rivaliza com o tempo das lontras marinhas, que podem ficar submersas até 13 minutos de cada vez.
Houve uma adaptação evolutiva nos povos Bajau, que apresentam baços 50% maiores do que os dos indonésios que nâo têm o mesmo estilo de vida aquático. Os baços são importantes no mergulho porque liberam oxigênio no sangue quando a pessoa prende a respiração embaixo d'água.
https://sciencetrends.com/this-group-of-diving-people-have-evolved-larger-spleens-to-spend-more-time-underwater/
Atualmente, o recorde mundial de apneia estática (maior tempo de mergulho parado sem respirar) pertence ao suiço Peter Colat, que em 17 de Setembro de 2011, se tornou o ser humano com o maior tempo de apneia, com 21 minutos e 33 segundos sem respirar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

1279 - De mongolismo a síndrome de Down

À primeira vista, é impossível deduzir da história dos mongóis qualquer justificativo da sua associação à síndrome de Down. Mas tanto em português (mongol, mongoloide*), como em inglês (mongol, mongoloid), em espanhol (mongólico) ou francês (mongole), os significados sobrepõem-se. De onde partiu então tal fusão, e o que fez com que o seu sentido permanecesse até os nossos dias?
Para responder estas questões, é necessário explorar a história da trissomia 21, que se inicia em 1860. Enquanto trabalhava no asilo de Royal Easlwood, na Grã-Bretanha, o doutor John Langdon Down começou a classificar os doentes psiquiátricos, então referidos como "idiotas", baseando-se nos trabalhos de Johann Blumenbach, que dividia a espécie humana em 5 raças (Astecas, Caucasianos, Malaios, Etíopes e Mongóis) de acordo com a descrição e proporções do crânio e face. Notou assim que um grupo tinha uma aparência característica e similar entre todos os indivíduos, e, utilizando um dos pacientes como modelo, escreveu em sua publicação "Observations on an ethnic classification of idiots": um grande número de idiotas congênitos são mongóis típicos. [...]
Na continuidade do seu legado, o seu filho, Reginald Down, era da opinião que a síndrome "devia ser uma regressão para um tipo ainda mais retrógrado que a raça mongol, de onde alguns etnologistas acreditam que todas as raças humanas se originaram". Esta declaração foi citada por Francis Graham Crookshank, epidemiologista britânico, em seu livro "The Mongol in Our Midst". O livro, considerado posteriormente "racismo científico", defendia que a "imbecilidade mongoloide", como chamou à síndrome, era um atavismo retrógrado para a raça mongol, que considerava mais primitiva. Como consequência, os “imbecis mongóis” eram uma raça à parte, diferentes dos outros homens e mulheres. Como argumentos da sua tese, Crookshank apresentou exemplos das características físicas e comportamentais supostamente partilhadas entre os "imbecis" e o povo mongol. No início do século XX, "mongolismo" tinha sido largamente adoptado como descritivo da trissomia 21.
Cariótipo de doente com síndrome de Down

Foi apenas em 1959, após Jérôme Lejeune descobrir uma cópia extra do cromossoma 21 no cariótipo dos portadores, que começou a ser sugerido o uso de um termo diferente de "mongoloide" ou "mongol". Geneticistas prestigiados, incluindo o próprio neto de John Down, Norman L. Down, elaboraram uma carta conjunta ao jornal médico The Lancet, insistindo que o termo era derrogatório para as etnias orientais, e apelando a um consenso sobre uma nova nomenclatura para a condição.
Também a Mongólia se envolveu nos pedidos de retificação. Depois de se tornar membro das Nações Unidas em 1961, juntou-se à Organização Mundial de Saúde em 1965, e requereu a redesignação do termo "mongoloide". A partir daí, a condição passou a ser oficialmente chamada síndrome de Down. É mais fácil compreender o prejuízo que esta associação de conceitos traz para mongóis e portadores da síndrome após conhecer a sua origem. Pessoas com a síndrome e mongóis, de igual modo, são rebaixados a uma categoria inferior, menos evoluída, a um erro de Darwin. [...]
Extraído de: Mongólia e os mongolóides, por Margarida Vieira Lisboa. Revista Frontal.
N. do E. 
* A grafia "mongolóide" foi alterada para "mongoloide" pelo Acordo Ortográfico de 1990.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

1278 - Criança fica presa pelos cabelos numa piscina de bolinhas

(Pietra Carvalho/Folhapress) Uma menina de 9 anos perdeu parte do cabelo após ficar presa a um brinquedo do Shopping Recife, no bairro de Boa Viagem. Segundo a família, ela teve os fios sugados por um exaustor na piscina de bolinhas da atração, que reúne também tobogãs, escorregadores e um pula-pula para as crianças que visitam o centro comercial montado na Praça de Eventos.
Semelhantes a ventiladores, exaustores são aparelhos utilizados para evitar superaquecimento, umidade, vapores, fumaça, mofo, odores e outros poluentes. Tallita Assunção, tia da menina ferida, relatou que um dos equipamentos estava instalado por baixo das bolinhas onde as crianças estavam brincando e que, em dado momento, a sobrinha acabou com as pontas dos fios presas ao fundo.
A menina passou cerca de 10 minutos com os cabelos presos ao exaustor, ainda segundo a familiar. A avó da criança, que a acompanhava no passeio, teria pedido ajuda dos funcionários que operavam a atração, mas acabou sendo a responsável por socorrer a própria neta, girando os fios que a prendiam ao aparelho para o lado oposto ao de sua rotação, enquanto as duas aguardavam a chegada dos bombeiros.
"Esse brinquedo, por mais inocente que pareça ser, é um perigo para as crianças. Como podem ver, existem cabelos presos no exaustor. Pois bem, meus caros, esses cabelos são da minha sobrinha. (...) Minha sobrinha passou cerca de 10 minutos sendo puxada por esse exaustor", detalhou Tallita nas redes sociais.
http://www.otempo.com.br/brasil/crianca-de-9-anos-fica-presa-pelos-cabelos-em-brinquedo-de-shopping-em-recife-1.2739838
Arquivo 

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

1277 - Primeiras cesáreas: no mundo, no Brasil e no Ceará

A primeira cesárea (no mundo) resultando em sobrevida foi feita na cidade de Praga em 1337. Aos 17 anos, a princesa Beatrice (de Bourbon) entrou em trabalho de parto, mas as dores lancinantes fizeram a delicada criatura desmaiar. Uma equipe médica, que cuidava da saúde de seu pai e estava no palácio real, foi chamada e resolveu retirar o menino que nasceu vivo. Após o abdômen ser fechado, para surpresa geral, a princesa acordou e viveu ainda por mais quarenta anos. O filho da parturiente feliz tornou-se o rei Venceslau da Boêmia. Essa data histórica foi comprovada por pesquisadores tchecos que encontraram relatos de conselheiros da Corte descrevendo o ato cirúrgico como um verdadeiro milagre. Antes desse achado, tinha-se como data inaugural da cirurgia heroica o ato realizado em 1500 por um veterinário prático na própria mulher na Suíça.

[...] em 1822, o médico José Correia Picanço realizou em Pernambuco a primeira cesárea em solo brasileiro.

No dia 21 de fevereiro de 1933 foi realizada a primeira cesárea em Fortaleza - Ceará, na Maternidade Dr. João Moreira, da Praça da Lagoinha. A equipe chefiada por Cesar Cals, médico de larga envergadura moral e profissional, contou com a ajuda dos colegas José Frota, José Deusdedit e Juvenil Hortêncio. Concluía-se assim o ciclo de excelência de nossa prática obstétrica e esse ato operatório teve grande importância social.

Fontes
Freitas, Mariano. Cinquenta Mil Mulheres. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2022
http://super.abril.com.br/historia/a-primeira-cesarea-da-historia (ilustração)

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

1276 - Prêmio Nobel 2022 em Fisiologia ou Medicina para Svante Pääbo, anunciou o Instituto Karolinska

Comunicado de imprensa
A Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska
decidiu hoje (03/10/2022) conceder
o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2022
para o cientista sueco Svante Pääbo
por suas descobertas sobre os genomas de hominídeos extintos e a evolução humana

A humanidade sempre foi intrigada por suas origens. De onde viemos e como nos relacionamos com aqueles que vieram antes de nós? O que nos torna, Homo sapiens, diferente de outros hominídeos?
Por meio de sua pesquisa pioneira, Svante Pääbo realizou algo aparentemente impossível: sequenciar o genoma do Neandertal, um parente extinto dos humanos atuais. Ele também fez a descoberta de um hominídeo anteriormente desconhecido, o Denisova. É importante ressaltar que Pääbo também descobriu que a transferência de genes ocorreu desses hominídeos agora extintos para o Homo sapiens após a migração para fora da África há cerca de 70.000 anos. Esse antigo fluxo de genes para os humanos atuais tem relevância fisiológica hoje, por exemplo, afetando como nosso sistema imunológico reage a infecções.
A pesquisa seminal de Pääbo deu origem a uma disciplina científica inteiramente nova; paleogenômica. Ao revelar diferenças genéticas que distinguem todos os humanos vivos de hominídeos extintos, suas descobertas fornecem a base para explorar o que nos torna exclusivamente humanos. De onde nós viemos?
A questão de nossa origem e o que nos torna únicos tem engajado a humanidade desde os tempos antigos. A paleontologia e a arqueologia são importantes para os estudos da evolução humana. A pesquisa forneceu evidências de que o humano anatomicamente moderno, Homo sapiens, apareceu pela primeira vez na África há aproximadamente 300.000 anos, enquanto nossos parentes mais próximos, os neandertais, se desenvolveram fora da África e povoaram a Europa e a Ásia Ocidental de cerca de 400.000 anos até 30.000 anos atrás, ponto em que foram extintos. Há cerca de 70.000 anos, grupos de Homo sapiens migraram da África para o Oriente Médio e, de lá, se espalharam pelo resto do mundo. Homo sapiens e os neandertais coexistiram em grande parte da Eurásia por dezenas de milhares de anos. Mas o que sabemos sobre nosso relacionamento com os extintos neandertais? As pistas podem ser derivadas de informações genômicas. No final da década de 1990, quase todo o genoma humano havia sido sequenciado. Este foi um feito considerável, que permitiu estudos posteriores da relação genética entre diferentes populações humanas. No entanto, estudos da relação entre os humanos atuais e os extintos neandertais exigiriam o sequenciamento de DNA genômico recuperado de espécimes arcaicos.[...]
Paleogenômica e sua relevância
Através de sua pesquisa inovadora, Svante Pääbo estabeleceu uma disciplina científica inteiramente nova, a paleogenômica . Após as descobertas iniciais, seu grupo concluiu análises de várias sequências genômicas adicionais de hominídeos extintos. As descobertas de Pääbo estabeleceram um recurso único, que é amplamente utilizado pela comunidade científica para entender melhor a evolução e a migração humana. Novos métodos poderosos para análise de sequência indicam que hominídeos arcaicos também podem ter se misturado com Homo sapiens na África. No entanto, nenhum genoma de hominídeos extintos na África ainda foi sequenciado devido à degradação acelerada do DNA arcaico em climas tropicais.
Graças às descobertas de Svante Pääbo, agora entendemos que sequências de genes arcaicos de nossos parentes extintos influenciam a fisiologia dos humanos atuais. Um exemplo é a versão denisovana do gene EPAS1, que confere uma vantagem para a sobrevivência em grandes altitudes e é comum entre os tibetanos atuais. Outros exemplos são os genes neandertais que afetam nossa resposta imune a diferentes tipos de infecções.
http://www.nobelprize.org/prizes/medicine/2022/press-release/
N. do T.
Valor do prêmio: 10 milhões de coroas suecas (cerca de 4,8 milhões de reais)
Em 1982, Sune Bergström, o pai de Svante Pääbo, também ganhou o Nobel de Fisiologia ou Medicina.




quinta-feira, 29 de setembro de 2022

1275 - A água da chuva não é mais potável?

A água da chuva não é mais potável em nenhum lugar do planeta.
A notícia apocalíptica do dia, no entanto, que é mencionada apenas de passagem nas notícias é que a água da chuva não é mais potável em nenhum lugar do mundo devido aos agentes químicos prejudiciais à saúde que ela contém . E não é que isso aconteça apenas perto de áreas habitadas e altamente poluídas; refere-se à água da chuva de todos os lugares, incluindo a Antártida, o último canto virgem do planeta.
Os dados vêm de um estudo intitulado "Outside the Safe Operating Space of a New Planetary Boundary for Per- and Polyfluoroalkyl Substances (PFAS)". Os PFAS também são conhecidos como "produtos químicos para sempre". No trabalho, os cientistas compararam os números atuais com os previstos e calcularam o valor planetário global; os resultados antecipam o desastre se as emissões e a produção de PFAS não forem reduzidas imediatamente.
Haverá água para beber, e o problema tem solução, mas não de forma natural, barata ou global.
Em outras palavras: a água deve ser profusamente purificada antes de consumi-la, e podemos gradualmente esquecer a pureza idílica da "água fresca da chuva recém caída do céu".
https://doi.org/10.1021/acs.est.2c02765

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

1274 - O que torna o açúcar viciante

Dr. Mark Hyman: 
Nossos hormônios, papilas gustativas e a química cerebral são todos sequestrados pelo açúcar. Não metaforicamente, mas biologicamente. Simplificando, você fica viciado, como faria com algumas das drogas mais mortais do planeta, com açúcar e qualquer coisa que se transforma em açúcar em seu corpo como a farinha branca.
Isso ocorre porque os alimentos não contêm apenas calorias ou energia para alimentar nossas células; comida contém informação. Quando comemos açúcar, aumenta a glicose no sangue e diz ao corpo para aumentar a insulina, a fim de transportar a glicose para as células. Porém, quando ingerimos açúcar constantemente e apresentamos a glicose sanguínea cronicamente alta desenvolvemos resistência à insulina, que é o predador do desenvolvimento de diabetes tipo 2. A resistência à insulina geralmente vem com aumento do armazenamento de gordura, pressão alta e um perfil de colesterol ruim. A insulina e o açúcar no sangue elevados promovem a inflamação e causam uma cascata hormonal que dificulta pensar com clareza, manter um peso saudável, um bom humor, ter um desejo sexual saudável e muito mais.
Em nosso cérebro, um pequeno receptor, o receptor de dopamina D2 (ou DRD2 para abreviar), deve ser ativado para que possamos sentir prazer. O aminoácido dopamina desencadeia essa resposta. Açúcar e outros vícios estimulantes aumentam a dopamina a curto prazo, e é isso que os torna viciantes. Alguns de nós somos mais propensos a isso geneticamente do que outros.
Extraído de: How to Quit Sugar Without Being Miserable
https://medium.com/wake-up-call/how-to-quit-sugar-healthy-diet-tips-fc5aee5e8cd0

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

1273 - A pediatria, seus recursos

A espécie humana tem apenas uma arma realmente eficaz: o riso. No momento em que o riso surge, toda nossa dureza se desfaz, toda nossa irritabilidade e ressentimentos desaparecem, e um espírito iluminado ocupa seu lugar. (Mark Twain)

Slideshow CHUPETAS

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

1272 - Neuromodulação bimodal para o zumbido

O zumbido é uma percepção auditiva fantasma codificada no cérebro que pode ser incômoda ou debilitante, afetando 10 a 15% da população. Não há tratamento universalmente eficaz para o zumbido. Conlon et al. estudaram os efeitos da neuromodulação bimodal usando um dispositivo que fornece estimulação elétrica para a língua e som para os ouvidos. Os participantes relataram redução da gravidade dos sintomas ao final de 12 semanas de tratamento, que persistiu por 12 meses. Os resultados recomendam a segurança e a utilidade potencial da neuromodulação bimodal para o zumbido.
http://doi.org/10.1126/scitranslmed.abb2830
Com o título de Homenagem ao Zumbido (Você está sempre comigo) alguém transcreveu uma percepção auditiva fantasma para a pauta musical. Não tenho conhecimento técnico para dizer se a partitura acima corresponde à realidade. Eu só sei tocar de ouvido.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

1271 - Talco e amianto

Subo nesse palco / minha alma cheira a talco / feito bumbum de bebê.
(Gilberto Gil) 
Talco é um mineral argiloso composto de silicato de magnésio hidratado com a fórmula química Mg3Si4O10(OH)2. Talco em pó, muitas vezes combinado com amido de milho, é usado como talco de bebê. Este mineral é usado como agente espessante e lubrificante. É um ingrediente em cerâmica, tinta e material de cobertura, e também o ingrediente principal em muitos cosméticos. A escala de dureza mineral de Mohs define o valor 1 para a dureza do talco, o mineral mais macio (outros: quartzo: 7; diamante: 10, o mineral mais duro).
Segurança
Suspeitas foram levantadas de que o uso de talco contribui para certos tipos de doenças, principalmente câncer de ovário e pulmão. De acordo com a IARC, o talco contendo amianto é classificado como agente do grupo 1 (carcinogênico para humanos), o uso de talco no períneo é classificado como grupo 2B (possivelmente carcinogênico para humanos) e o talco sem amianto é classificado como grupo 3 (inclassificável) quanto à carcinogenicidade em humanos). Análises da Cancer Research UK e da American Cancer Society concluem que alguns estudos encontraram uma ligação, mas outros não. A colocalização frequente de depósitos de talco com amianto pode resultar na contaminação do talco extraído com amianto branco, de modo a apresentar sérios riscos à saúde quando disperso no ar e inalado.
Portfólio
Uma investigação da Reuters, de 2018, afirmou que a empresa farmacêutica Johnson & Johnson sabia há décadas que havia amianto em seu talco de bebê. Em 2020, porque a demanda do produto havia caído pelo que chamou de "desinformação", e em meio a muitos processos judiciais, a empresa parou de vender seu talco de bebê nos EUA e no Canadá. Na época, a empresa disse que continuaria a vender seu talco para bebês no Reino Unido e no resto do mundo. Houve pedidos dos maiores acionistas da Johnson & Johnson forçando a empresa a encerrar as vendas globais de talco para bebês.
Finalmente: 
"Como parte de uma avaliação de portfólio mundial, tomamos a decisão comercial de fazer a transição para um portfólio de talco para bebês à base de amido de milho", afirmou a Johnson & Johnson em comunicado.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

1270 - Do prontuário médico tradicional e sua evolução até o prontuário eletrônico do paciente

A necessidade da existência de um documento no qual as informações relativas ao histórico de saúde do indivíduo fossem registradas não é recente. A palavra prontuário origina-se do latim promptuarium e significa "lugar onde são guardadas coisas de que se pode precisar a qualquer momento" ou "manual de informações úteis" ou, ainda, "ficha que contém os dados pertinentes de uma pessoa" (Houaiss, 2009).
Considera-se importante relatar um pouco da história do surgimento do prontuário médico tradicional (PMT) e sua evolução até os dias atuais com a criação do prontuário eletrônico do paciente (PEP).
O prontuário médico tradicional
A ideia de se ter um meio onde as informações fossem registradas para poderem auxiliar na continuidade do tratamento, da investigação da doença e no compartilhamento dessas informações, começou com Hipócrates no século V a.C. No século V a.C., Hipócrates estimulou médicos a fazerem registros escritos, dizendo que o prontuário tinha dois propósitos: (1) refletir de forma exata o curso da doença e (2) indicar as possíveis causas das doenças.
Massad, Marin e Azevedo (2003, apud Cristiane Rodrigues) explicam que o prontuário em suporte de papel já vinha sendo utilizado há muitos anos e revelam, ainda, que Florence Nightingale, precursora da Enfermagem Moderna, quando tratava feridos na Guerra da Crimeia (1853-1856), já relatava que a documentação das informações relativas aos doentes era de fundamental importância para a continuidade dos cuidados ao paciente, principalmente no que se refere à assistência de Enfermagem. 
É clássica a frase de Nightingale, quando observa a importância dos registros de saúde: "Na tentativa de chegar à verdade, eu tenho buscado em todos os locais, informações; mas, em raras ocasiões eu tenho obtido os registros hospitalares possíveis de serem usados para comparações. Estes registros poderiam nos mostrar como o dinheiro tem sido usado, o que de bom foi realmente feito com ele...". (Massad, Marin; Azevedo, 2003, p. 2).
O prontuário em suporte de papel, portanto, vem sendo utilizado há muito tempo. Até o início do século XIX, os médicos baseavam suas observações, e consequentemente suas anotações, no que ouviam, sentiam e viam e as observações eram registradas em ordem cronológica, estabelecendo assim o chamado prontuário orientado pelo tempo.
Massad, Marin; Azevedo (2003) relatam que William Mayo fundou em 1880, junto com um grupo de amigos, a Clínica Mayo em Minnesota nos Estados Unidos, onde foi observado com o passar dos anos, que a maioria dos médicos mantinha o registro de anotações das consultas de todos os pacientes em forma cronológica em um documento único - fato que dificultava o acesso às informações de um determinado paciente.
Detectada essa dificuldade, a Clínica Mayo adotou, em 1907, um registro individual das informações de cada paciente. As informações passaram a ser arquivadas separadamente e isso possibilitou uma melhor organização e arquivamento dos prontuários. Em 1920 a Clínica Mayo deu consideráveis passos no sentido de padronizar o conteúdo dos prontuários por meio do estabelecimento de um conjunto mínimo de dados a serem registrados.
O prontuário eletrônico do paciente
Os PEPs surgiram na década de 70, oriundos dos esforços em se estabelecer estruturas mínimas para os registros médicos ambulatoriais (Lovis et al., 2011).
O PEP surgiu não só para substituir o prontuário em papel, mas também para elevar a qualidade da assistência à saúde por meio de novos recursos e aplicações. Novaes (2003, p. 43) chama atenção para o fato de que, ao longo das últimas décadas, os prontuários deixaram de ser denominados "prontuários médicos" e passaram para "prontuários do paciente".
Os prontuários são instrumentos essenciais para o desenvolvimento das atividades de administração de qualquer unidade hospitalar, para os cuidados e atenção aos pacientes e ainda para subsidiar as pesquisas.
DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i9.18031 (Cristiane Rodrigues da Silva)
Links internos:

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

1269 - Mel alucinógeno

🐻Uma ursa marrom, que se intoxicou depois de comer um mel que causa efeitos alucinógenos, teve que ser resgatada em uma floresta na província de Duzce, no noroeste da Turquia.
"Mel louco", ou "deli bal" em turco, é um tipo de mel de rododendro, uma espécie de arbusto cujas flores pequenas e coloridas contêm uma toxina chamada graianotoxina no pólen e no néctar. Por isso, o mel produzido a partir dessas plantas é venenoso, podendo inclusive causar alucinações.
Usando esse tipo de mel como arma, Mitídrates venceu uma batalha contra os soldados de Pompeu, em 65 a.C., atrasando (embora não impedindo) a transformação do reino do Ponto em uma província romana. Nunca mais os romanos cometeriam esse erro em particular. Décadas mais tarde, o escritor Plínio, o Velho, ainda advertia sobre as "qualidades perniciosas do mel dourado do Mar Negro".
Link interno: 648 - O mel como arma
Quanto à ursa "chapada", foi levada a uma clínica veterinária, onde recebeu tratamento e, provavelmente, será solta na natureza nos próximos dias.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

1268 - Primeiros socorros por Mr. Bean

O famoso personagem do ator inglês Rowan Atkinson socorre um senhor que aparentemente sofreu um ataque cardíaco em uma parada de ônibus.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

1267 - Efeitos neuroprotetores da metformina

Um par de estudos sugere que a metformina pode ter benefícios neuroprotetores.
Um estudo pré-impresso, que ainda não foi revisto pelos especialistas, descobriu que o uso do medicamento provavelmente reduz o risco da doença de Alzheimer na população geral. O uso de metformina geneticamente aproximada equivalente a uma redução de 6,75 mmol/mol (1,09%) da hemoglobina glicada (A1c) foi associado a 4% menos chances de doença de Alzheimer (p =1,06 ˣ 10-4) em pessoas sem diabetes.
Outra revisão sistemática com metanálise dos dados longitudinais constatou que a metformina pode estar associada a uma diminuição mais ampla do risco de doença neurodegenerativa. Dados agrupados mostraram que o risco relativo associado ao início da doença neurodegenerativa foi de 0,77 (IC 95% de 0,67 a 0,88) para os pacientes com diabetes tomando metformina. O efeito foi maior com uso mais prolongado, com risco relativo de 0,29 (IC 95% de 0,13 a 0,44) para os que tomaram metformina durante quatro anos ou mais.
Saiba mais sobre metformina.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

1266 - A varíola dos macacos

A varíola dos macacos é causada por um vírus chamado Monkeypox (na imagem de microscopia / National Institute of Allergy and Infectious Diseases) que pertence ao gênero Ortopoxvírus da família Poxviridae.
O vírus é transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados como roupas de cama. A doença também pode ser transmitida pelo contato com a pele durante o sexo, incluindo beijos, toques e sexo oral com alguém que tenha sintomas.
A transmissão, portanto, é basicamente através de lesões na pele, as quais são altamente infectantes. "Não precisa alguém pegar na lesão especificamente, o cumprimento de mãos, por exemplo, pode transmitir a doença", explica o médico infectologista Antônio Bandeira, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A OMS afirma que, embora o contato físico seja um fator de risco bem conhecido para a transmissão, não está elucidado - até o momento - como a varíola símia pode ser transmitida especificamente por via sexual.
Desde o início do surto, médicos e cientistas de diversos países buscam respostas para explicar por que o vírus tem conseguido, pela primeira vez, se espalhar de forma significativa fora da África e por quais os motivos ele tem afetado principalmente os homens que fazem sexo com homens.
Redes conectadas 
Entre as hipóteses discutidas pela comunidade científica está a possibilidade de o vírus ter entrado em circulação em redes sexuais interconectadas na comunidade HSH ("homens que fazem sexo com homens"), de onde está se espalhando de maneira mais eficiente.
Muitos – mas não todos os casos – relatam parceiros sexuais casuais ou múltiplos, às vezes associados a grandes eventos ou festas. 
O período de incubação é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias. Os sintomas incluem vesículas (pústulas) no rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais, febre, linfonodos inchados, dores de cabeça e musculares e falta de energia.
Como medidas de proteção, a OMS recomenda evitar contato próximo com qualquer pessoa que tenha sintomas.
Estigma e desinformação
É fundamental entendermos que a doença acomete qualquer pessoa.
No início da epidemia de HIV, na década de 1980, os casos de Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) foram associados aos homossexuais e a outros quatro grupos populacionais: hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e profissionais do sexo (hoockers), recebendo à época o nome de "Doença dos 5 H".
"Nós temos que ter todo o cuidado, toda a ponderação, para não criarmos fantasmas e preconceitos inaceitáveis depois que o mundo todo vem lutando, há décadas, para superar preconceitos que foram cristalizados, em determinados períodos, sobretudo em relação ao HIV", afirma o infectologista Rivaldo Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Fonte: Lucas Rocha, da CNN (26/07/2022)

quinta-feira, 21 de julho de 2022

1265 - Teste de equilíbrio monopodal

Conseguir se equilibrar em uma perna só pode ser um indicador de sobrevida.
Pesquisadores sabem há pelo menos meio século que o equilíbrio e a mortalidade estão conectados. Uma das razões para esse fato são as quedas. Mundialmente, cerca de 700 mil pessoas morrem por ano como resultado de uma queda, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, e mais de 37 milhões de quedas necessitam de atendimento médico anualmente. Entretanto, como indica o novo estudo, as quedas não são o único problema. Esse vídeo apresenta, sucintamente, um artigo científico liderado pelo Dr. Claudio Gil Araújo e publicado, como online first em 21 de junho de 2022 no British Journal of Sports Medicine, pelo grupo de pesquisa da CLINIMEX.
O estudo relaciona os resultados obtidos com o teste de equilíbrio monopodal de 10 segundos - completar ou não completar, seja com a perna direita ou esquerda - e o risco de mortalidade por todas as causas em 1702 indivíduos (68% homens) entre 51 e 75 anos de idade, acompanhados pelo período mediano de 7 anos.

O Dr. Claudio Gil e colaboradores trabalham com formas de melhorar o equilíbrio e a força à medida que as pessoas envelhecem. Além do teste de equilíbrio monopodal (ou unipodal), os pesquisadores já demonstraram que a capacidade de se levantar da posição sentada no chão (o teste de sentar e levantar,  TSL) também é um forte preditor de longevidade.
http://dx.doi.org/10.1136/bjsports-2021-105360
Prefixos: mono (do grego, preferível) e uni (do latim)

quinta-feira, 14 de julho de 2022

1264 - Mania principal: índio

Entre os imigrantes ucranianos que deram uma grande contribuição ao nosso país, figura o nome de Noel Nutels (1913-1973).
Em um depoimento à CPI do índio, em pleno regime militar em dezembro de 1968, o médico fez o seguinte desabafo:
"A essa hora alguém está matando um índio. É a cobiça da terra, é a cobiça do subsolo, é a cobiça das riquezas naturais. É um vício de estrutura econômica. Enquanto terra for mercadoria e objeto de especulação vai se matar índio."
Nutels é um personagem da saúde pública brasileira que notabilizou-se por rechaçar a naturalização do genocídio dos povos indígenas no Brasil. Judeu expulso de sua terra pela violência dos pogroms russos, Nutels que nasceu na cidade de Ananiev (na época Rússia, hoje Ucrânia) em 24 de abril de 1913.
Em 1920, sua família mudou-se para o Recife (PE) e, pouco depois, para o interior de Alagoas (na cidade de São José da Laje), onde o futuro médico concluiu o ensino básico.
Voltou para Pernambuco, em Garanhuns, para concluir sua formação escolar em um colégio católico e formou-se em Medicina em 1936, na Faculdade de Medicina do Recife, onde especializou-se em tuberculose, uma das doenças que mais vitimaram pessoas pobres no Brasil nesse período.
A saúde indígena foi a sua escolha, com destaque para a prevenção da tuberculose entre os povos originários do país, do Mato Grosso à Amazônia.
Avesso à burocracia e aos luxos comuns ao exercício da medicina no período em que viveu, Noel Nutels se embrenhou na floresta e no sertão para defender as populações indígenas e caboclas da tuberculose, malária, leishmaniose e varíola, que ameaçavam a sobrevivência desses povos.
Em um entrevista definiu-se:
"Noel Nutels, médico de saúde pública, eu não clinico, não tenho consultório. Fazia malária e agora faço tuberculose. Mania principal: índio."
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quinta-feira, 7 de julho de 2022

1263 - Quando os mitos médicos duram mais que as evidências

por Thomas R. Collins
Muitos médicos ainda mantêm crenças, apesar das evidências claras de que elas estão incorretas, disse um palestrante na reunião anual do American College of Physicians.
Esses dogmas duradouros – ou "mitos médicos" – foram inculcados durante a formação ou no início da carreira de muitos médicos, e dificilmente são superados, observou o médico Dr. Douglas Paauw, professor de medicina da University of Washington, nos Estados Unidos.
"Eu acho que os mitos persistem porque os médicos são ensinados de uma maneira na formação: aprendem uma 'verdade' ou 'Esta é a maneira como fazemos isso'. Então, nunca repensam: 'Isso é verdade?'”, disse o médico em uma entrevista. "Estudos surgem para questionar a sabedoria convencional, mas a menos que sejam amplamente divulgados, não são notados."
O Dr. Douglas disse que espera que os médicos reconsiderem as evidências regularmente ao decidir como tratar seus pacientes, em vez de confiar em dogmas.
"Eles ficam conosco", disse, "e às vezes há outras maneiras de fazer as coisas".
E o Dr. Shien Tze, especialista em medicina interna, disse que os pacientes às vezes também têm crenças equivocadas, baseadas em dogmas desatualizados, que precisam ser dissipadas.
"Eu tento convencê-los de que este é um mito que não se baseia em evidências, não se baseia na ciência", disse o médico. "Acho que depende da forma como você fala. Se você diz isso de uma maneira calma, firme, e não indecisa, os pacientes acreditam em você."
MDedge.com (ou https://portugues.medscape.com/verartigo/6507970)

Durante sua apresentação, o Dr. Douglas discutiu quatro do que ele considera ser alguns dos mitos médicos que mais precisam ser derrubados.
  1. Alergia a frutos do mar e meios de contraste
  2. Dogma da colonoscopia
  3. Metronidazol e álcool
  4. Cefaleia por sinusite

quinta-feira, 30 de junho de 2022

1262 - Impacto global do primeiro ano de vacinação COVID-19

A primeira vacina COVID-19 fora de um ambiente de ensaio clínico foi administrada em 8 de dezembro de 2020.
Em 23 de junho de 2022, The Lancet publicou um estudo de modelagem matemática sobre o impacto global do primeiro ano de vacinação COVID-19. Neste estudo, um modelo matemático de transmissão e vacinação de COVID-19 foi ajustado separadamente para a mortalidade por COVID-19 relatada e mortalidade por todas as causas em 185 países e territórios.
O impacto dos programas de vacinação COVID-19 foi determinado pela estimativa das vidas adicionais perdidas se nenhuma vacina tivesse sido distribuída.
Com base nas mortes oficiais relatadas por COVID-19, foi estimado que as vacinações evitaram 14,4 milhões mortes por COVID-19 em 185 países e territórios entre 8 de dezembro de 2020 e 8 de dezembro de 2021. Essa estimativa subiu para 19,8 milhões de mortes por COVID-19 evitadas quando usamos o excesso de mortes como estimativa da verdadeira extensão da pandemia, representando um redução global de 63% no total de mortes (19,8 milhões de 31,4 milhões) durante o primeiro ano de vacinação contra a COVID-19.
DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(22)00320-6
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1220 - O excesso de óbitos no Brasil durante a atual pandemia (COVID-19)