"Mas se a linguagem não mais se assemelha imediatamente às coisas que ela nomeia, não está por isso separada do mundo; continua, sob uma outra forma, a ser o lugar das revelações e a fazer parte do espaço onde a verdade, ao mesmo tempo, se manifesta e se enuncia." Michel Foucault - "As palavras e as coisas" - 1966
Se o assunto é tuberculose, a voz do paciente, embora importante, é pouco ou nada contemplada pela mídia. Por reconhecer autoridade de fala no governo e no meio acadêmico, os jornais fazem chegar a seus leitores os pontos de vista médicos e oficiais, deixando de lado o olhar daqueles que vivem a doença. Quem são essas pessoas e como se organizam em seu dia a dia são questões não mostradas, como aponta estudo do pesquisador Liandro Lindner, voltado à análise da tuberculose na cobertura jornalística. O trabalho resultou na dissertação de mestrado QUEM FALA, O QUE FALA E COMO FALA: conceitos, percepções e representações de saúde e doença na mídia: o caso da tuberculose, defendida em setembro de 2011 no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz.
Referente ao ano de 2009, ele analisou quatro jornais, dois do Rio de Janeiro — O Globo e Jornal do Brasil — e dois de São Paulo — Estadão e Folha —, escolhidos por suas posições no ranking do Instituto de Verificação de Circulação (IVC), e nos quais Liandro localizou 677 matérias contendo a citação do termo tuberculose. De acordo com o seu estudo, pesquisadores, centros de pesquisa e universidades foram a principal fonte da imprensa na maioria das matérias. Em segundo lugar, surgiram os gestores, conforme mostra o gráfico ao lado. Houve, porém, "uma invisibilidade do paciente e da questão da adesão ao tratamento, essencial para a cura", observou Liandro. Faltando assim, na maior parte das matérias pesquisadas, o caráter da polifonia, uma das principais qualidades do bom jornalismo.
Texto condensado do artigo de Elisa Batalha, publicado no nº. 113 da revista Radis.
Onde ler a íntegra da pesquisa.
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