- O acidente de Lübeck (Alemanha), em 1930, quando, de 251 crianças vacinadas por via oral, 77 faleceram de tuberculose no primeiro ano e outras desenvolveram processos que se tornaram crónicos. Na verdade, após exaustivas investigações, ficou demonstrado que a vacina usada foi contaminada por germes da tuberculose e as crianças receberam, por engano, emulsões contendo um terço de BCG e dois terços de micobactérias causadoras da tuberculose.
- Diversos estudos sobre a proteção da vacina, realizados nas décadas de 50 e 60, mostraram uma proteção diferente, variando entre 80 a 0%. A criteriosa análise destes estudos mostrou que as diferenças estavam relacionadas à potência das vacinas usadas (principalmente nas que deram baixa ou nenhuma proteção); a presença nas regiões estudadas de micobactérias não tuberculosas que estimulariam nas pessoas defesas cruzadas com a vacinação BCG; diferenças de técnicas de aplicação da vacina (o uso de injecções intradérmicas é superior ao de aplicações por multipuntura); e erros de metodologia do estudo.
- Os resultados do estudo em Chingleput, na Índia, em que se comparou a vacina BCG contra "placebo", realizado exatamente para reavaliar as controvérsias anteriores, mostrou uma proteção nula no primeiro relatório, após 7 anos e meio. A última avaliação, entretanto, com 15 anos de observação, revelou fatos inesperados, com uma protecção média de 17%, sendo de 45% nos primeiros 5 anos e de 16% nos 5 anos seguintes entre os vacinados abaixo de 15 anos. A proteção para a população acima de 15 anos continuou a ser nula. A particularidade desta região, além da presença de micobactérias não tuberculosas, é de apresentar uma variedade do bacilo da tuberculose (variedade Sul-Índia), de baixa virulência, que provoca adoecimento tardio, portanto a proteção vacinal observada também deve ser tardia.
O Brasil adota a vacinação BCG como uma das medidas de controle da tuberculose, prioritariamente indicada para as crianças da faixa etária de 0 a 4 anos, sendo obrigatória para os menores de um ano, como dispõe a portaria n.º. 452, de 06/12/76, do Ministério da Saúde (MS). O Ministério da Saúde recomenda vacinar os recém-nascidos, ainda na maternidade, com peso igual ou superior a 2 Kg e sem intercorrências clínicas. Para filhos de mães portadoras de HIV/AIDS, a vacinação deve ser aplicada, desde que não apresentem sintomas da doença e acompanhadas pelas unidade de referência para AIDS. É também recomendada para trabalhadores da saúde com prova tuberculínica negativa, que atendem habitualmente tuberculose e SIDA.
Em conclusão, a vacina BCG tem uma proteção específica e não para todas as formas da tuberculose, de tal sorte que uma pessoa vacinada pode adoecer de tuberculose. Principalmente das formas pós-primárias que aparecem tardiamente, depois da infecção tuberculosa e da própria vacinação, provocada por uma reativação dos bacilos hibernantes no organismo (reativação endógena) ou por uma nova infecção externa com uma carga de bacilos que superem a proteção imunológica da própria vacinação ou da primo-infecção sem adoecimento (reinfecção exógena).
Leitura recomendada
Do acidente de Lubeck ao advento do BCG recombinante com maior poder protetor e polivalente
Autor: José Rosenberg
Pulmão-RJ. Vol 4 - n.º 1; 29 a 46; 1994
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