sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

10 - Queima de plantação de cana-de-açúcar e morbidade respiratória

Para se informar sobre o assunto acima, recomendo a leitura da tese de doutorado de Marcos Abdo Arbex, cujo título original é
Avaliação dos efeitos do material particulado proveniente da queima da plantação de cana-de-açúcar sobre a morbidade respiratória na população de Araraquara - SP
que foi desenvolvida sob a orientação de Paulo Hilário Nascimento Saldiva e defendida pelo autor perante uma banca examinadora em 10/05/2002.

Resumo original
"Desde o início do século passado, estudos na literatura médica documentaram uma significativa associação entre poluição atmosférica decorrente da emissão de combustíveis fósseis e morbimortalidade na raça humana, inclusive para níveis de poluentes no ar considerado como seguro para a saúde da população exposta. Na década de 70, durante a crise do petróleo o governo brasileiro implementou um programa chamado Proálcool com o objetivo de produzir um combustível alternativo, renovável, e não poluente: o etanol, derivado da cana-de-açúcar. Esse programa culminou com uma grande produção de veículos movidos a álcool a partir da década de 80, e um grande incremento da cultura da cana-de-açúcar na região central do Estado de São Paulo. Com a crescente utilização do álcool como combustível em veículos automotores houve uma melhora na qualidade do ar nos grandes centros urbanos. Existe, porém, o contraponto: a cana-de-açúcar é uma cultura agrícola singular, uma vez que, por razões de produtividade e de segurança, a colheita é realizada após a queima dos canaviais, o que gera uma grande quantidade de elemento particulado negro denominado "fuligem da cana". Esse material particulado modifica as características do meio ambiente nas regiões onde a cana-de-açúcar é cultivada, colhida e industrializada. A queima da biomassa é a maior fonte de emissão de material particulado e de gases tóxicos no planeta, e não havia na literatura médica qualquer trabalho, que relacionasse a poluição atmosférica em conseqüência da queima desse tipo especifico de biomassa, com a saúde humana. Esse estudo epidemiológico de séries temporais avalia a associação entre o material particulado coletado durante a queima de plantações de cana-de-açúcar e um indicador de morbidade respiratória em Araraquara (SP). Entre 26 de maio e 31 de agosto de 1995, o número diário de pacientes que necessitaram inalações em um dos principais hospitais da cidade foi quantificado, e utilizado para estimar a morbidade respiratória. Para estimar o nível da poluição do ar foi quantificado diariamente o peso do sedimento do material particulado proveniente da fuligem da cana-de-açúcar, obtido por sedimentação simples, em dois pontos da cidade, um localizado no centro e o segundo na zona rural. A associação entre o peso do sedimento e o número de pacientes que necessitaram de terapia inalatória, foi avaliada pelo modelo aditivo generalizado da regressão de Poisson com controle para sazonalidade, temperatura e dias da semana. Encontrou-se uma associação positiva significante e dose dependente entre o número de terapia inalatória e o peso do sedimento. Um aumento de 10 mg no peso do sedimento está associado a um risco relativo de terapêutica inalatória de 1,09 (1-1,19). Nos dias mais poluídos o risco relativo de terapêutica inalatória é de 1,20 (1,03-1,39). Esses resultados indicam que a queima das plantações da cana-de-açúcar pode causar efeitos deletérios à saúde da população exposta."
Lembrar que o autor é o titular dos direitos autorais da tese que você está prestes a baixar em seu computador. Portanto, destina-se a mesma a uso pessoal ou científico, sendo proibida a sua comercialização.

Download (arquivo PDF com 1827 Kbs)

2 comentários:

Bell disse...

Ola, cheguei a seu blog procurando informaçoes sobre os efeitos da queimada absurda e sem medida da minha cidade, Araraquara. Sou natural daqui, mas vivi anos fora do Brasil e ao voltar pra ca
juntamente com meu marido, a apenas 1 mes e meio(época em que começaram as queimadas), nos deparamos com esse horror que felizmente havia esquecido, mas parece que encontrei algo ainda pior e tanto eu como meu marido, estamos ja sofrendo efeitos desse terror que cai sobre nossas cabeças e entra dentro de nossa casa todos os dias de quando chegamos aqui. Queremos saber o que fazer para melhorar nossa saude respiratoria nessa situaçao. Sabemos que acabar com tal pratica deixara milhares de pessoas desempregadas(segundo dizem), mas nao é possivel "viver" assim. A tese do Dr Arbex é clara, porém basta vir aqui em minha casa no fim da tarde, ou pela manha e presenciar a quantidade e material queimado que recolhemos, mas nao é esse que me preocupa, pois para mim, o pior sao as particulas sutis que nòs donas de casa chamamos de "oh pozinho desgraçado pra varrer", pois sò se leva com o esguicho d'agua.
O podemos fazer, com quem podemos brigar, existe alguma associaçao que nos assista?
Obrigada pelo espaço!
Isabel

Paulo Gurgel disse...

Prezada Isabel:
A queima de canaviais para a coleta da cana pela forma manual, além dos danos ambientais, contribui para o aumento de incidência das doenças respiratórias nas regiões em que é praticada, isso é fato.
Não há medidas efetivas que protejam a população que se expõe à fuligem dessas queimadas.
No Estado de São Paulo, já existe uma lei (47.700, de 11/03/03) para que essa forma de coleta seja substituída pela coleta mecanizada. A implantação da referida lei é gradativa, os prazos são longos, mas protocolos assinados pelo governo local com o setor canavieiro tentam reduzi-los.
É a esperança, no momento.
Atenciosamente,
Paulo Gurgel, Acta Pulmonale