quarta-feira, 15 de março de 2023

1299 - A vacina bivalente contra a covid-19

Dr. Julio Croda, Medscape, 10/02/2023
A covid-19 trouxe vários novos desafios para a saúde pública, e a vacinação é um deles. As recomendações sobre o esquema vacinal de prevenção da doença ainda estão no campo especulativo, uma vez que não temos uma sazonalidade marcada do vírus nem evidências suficientes sobre o melhor intervalo entre as doses dos imunizantes. Apesar disso, nos países do Hemisfério Norte, foi recomendada uma dose de reforço com a vacina bivalente, que contém a variante original e a Ômicron (variante BA.1 ou BA.4/BA.5), antes do período em que possivelmente haverá mais infectados pelo coronavírus. Essa recomendação foi respaldada por dados de segurança dos estudos de fases 1 e 2 da vacina bivalente BA.1 [e por dados de pesquisas sobre anticorpos produzidos contra as diferentes variantes.
Enquanto nos Estados Unidos a recomendação é de uma dose única de reforço em toda a população a partir de cinco anos de idade pelo menos dois meses após o esquema primário de qualquer vacina contra a covid-19, na União Europeia, a indicação é para pacientes e funcionários de instituições de longa permanência, profissionais de saúde, gestantes, idosos (60 anos), imunocomprometidos e pessoas com comorbidades relevantes.
No Brasil, a recomendação é ofertar a dose de reforço para pessoas acima de 60 anos, gestantes, puérperas, pacientes imunocomprometidos, pessoas com deficiência, pessoas vivendo em instituições de longa permanência, povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas e profissionais de saúde. No total, 52 milhões de pessoas são elegíveis para receber a dose de reforço.
Os dados de efetividade das vacinas bivalentes são escassos, mas indicam que houve proteção adicional para as pessoas que se vacinaram com o novo imunizante. Os resultados do estudo Effectiveness of bivalent boosters against severe omicron infection, recém-publicado no periódico New England Journal of Medicine, deixam evidente que a dose de reforço ajuda na prevenção de hospitalização e óbito por covid-19. Na Figura S2 do artigo, fica claro que, apesar de as vacinas de reforço monovalentes gerarem proteção adicional contra hospitalizações e óbitos por infecção pela variante Ômicron, a duração dessa proteção é mais curta quando comparada à das vacinas bivalentes. Talvez esse seja o principal argumento para utilizar as vacinas bivalentes em vez das vacinas monovalentes em população com maior risco de complicações por covid-19: garantir uma proteção mais duradoura contra hospitalizações e óbitos.
Quando pensamos em longo prazo, a oferta de vacinas atualizadas contra a covid-19, que confiram proteção contra as variantes que venham surgir no futuro para os grupos de maior risco, parece ser uma tendência de recomendação das agências reguladoras. A principal limitação dessa estratégia é identificar bons correlatos de proteção contra hospitalizações e óbitos. Na prática, o ideal seria ofertar a dose de reforço para os grupos de maior risco anualmente, eventualmente antes do período sazonal. Dessa forma, poderíamos utilizar a campanha de prevenção à gripe para ao mesmo tempo atualizar as vacinas contra influenza e contra covid-19 para o mesmo público-alvo, garantindo eficiência das campanhas de vacinação do ponto de vista operacional.
DOI: 10.1056/NEJMc2215471

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