quinta-feira, 27 de novembro de 2025

1442 - O chá da vovó

por Nelson José Cunha
Durante os anos de faculdade, exerci por algum tempo a função de monitor de Farmacologia. Passava horas testando substâncias naturais - folhas, cascas e raízes às quais a sabedoria popular atribuía virtudes medicinais. Em suma, eu fazia chá.
Curiosamente, é também assim que começam muitos remédios: cientistas extraem, isolam e purificam o princípio ativo de uma planta, para transforma-lo em comprimidos. Da infusão doméstica à indústria farmacêutica, muda apenas o grau de rigor - e o lucro, que no meu caso era nenhum, mas na indústria faz dos seus donos milionarios.
Em casa, contudo, não dispomos de centrífugas, solventes nem métodos de purificação. Mergulhamos tudo - o que cura e o que envenena - na mesma água fervente.
Acreditamos, por tradição, que a natureza é sempre benigna, quando na verdade ela é apenas exuberante, complexa e, às vezes fatal.
O uso de plantas medicinais é milenar e atravessa todas as civilizações. Mas a recente moda dos chás "naturais" como panaceia tem obscurecido um princípio elementar da farmacologia: toda substância biologicamente ativa pode ser também potencialmente tóxica, conforme a dose.
Ao preparar uma infusão, extraímos um coquetel de compostos - alcaloides, flavonoides, taninos, saponinas e outros metabólitos secundários. Alguns oferecem benefícios reais; outros, porém, podem irritar mucosas, lesar o fígado, sobrecarregar rins ou interferir em processos bioquímicos vitais. A ausência de controle sobre a concentração final desses componentes transforma o inocente chá caseiro num experimento cego - sobretudo perigoso para gestantes, crianças e portadores de doenças crônicas.
A farmacologia moderna surgiu precisamente para domar essa complexidade. Nos laboratórios, cada molécula é isolada e estudada com método: avaliam-se doses eficazes mínimas, doses letais medianas ,índices terapêuticos e suas interações com o sistema que nos mantêm vivos, mas nem sempre inteligentes. Só após esse percurso rigoroso o princípio ativo é administrado em níveis seguros, capazes de curar sem ferir.
Ter cautela com o chá da vovó, portanto, não é renegar sua sabedoria, nem desprezar os saberes ancestrais - é reconhecer que "natural" não significa "inócuo". A diferença entre o remédio e o veneno, como já advertia Paracelso, médico suiço da idade média, está na dose.
N. do E.
A Natureza é a mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele e ela existe dentro e fora do homem. ~ Paracelso

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

1441 - Pesquisadores da Unicamp desenvolvem filtros que removem substâncias tóxicas da água

O novo sistema em desenvolvimento na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp elimina os resíduos da água que não são excluídos pelos métodos convencionais. Nele entra o material que é produzido a partir da casca de tacumã (tucumã), um fruto típico da Amazônia, e do tronco da bananeira. Transformados em biocarvões com partículas de ferro, que são capazes de remover as substâncias tóxicas que, em interação com outros poluentes como os metais pesados e os microplásticos, podem trazaer riscos para a saúde humana e o ambiente.Testado com sucesso em escala de laboratório, os testes realizados na FEQ serão agora conduzidos para uma escala maior (escala piloto).

Coordena esta pesquisa minha sobrinha Melissa Gurgel, professora da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp.

Ver também: X-caboquinho (Blog EM)

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

1440 - Desengasgo: novas diretrizes

🩺O que muda
A partir de agora, a recomendação da American Heart Association (AHA) para vítimas conscientes de engasgos — crianças e adultos — é alternar cinco pancadas nas costas com cinco compressões abdominais (a conhecida manobra de Heimlich).
Até então, o protocolo orientava começar diretamente pelas compressões.
“A atualização consolida décadas de estudos e testes clínicos. É um retorno às evidências que mostram que as pancadas nas costas ajudam a deslocar o objeto antes mesmo das compressões abdominais”, explica Ashish Panchal, médico e coordenador do comitê de emergência cardiovascular da AHA. Para bebês com menos de 1 ano, o procedimento também foi ajustado: deve-se alternar cinco pancadas nas costas e cinco compressões no peito, usando a base da palma da mão, até que o corpo estranho seja expulso ou até que o bebê perca a consciência.
Segundo a AHA, o objetivo é aumentar a eficácia e reduzir o risco de lesões. Vale reforçar que, nos menores de um ano, as compressões abdominais estão proibidas por poderem ferir órgãos internos.
Siga lendo em g1.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

1439 - Velocidade de Onda de Pulso (VOP)

É a velocidade com que a onda de pressão gerada pelo batimento cardíaco viaja pelas artérias. Pense nela como a "velocidade do impacto" do seu coração pulsando através dos seus vasos sanguíneos.
Imagine que você dá uma pancada em uma extremidade de um cano longo cheio de água. A "onda" desse impacto viaja pelo cano até a outra extremidade. A velocidade com que essa onda viaja é análoga à Velocidade de Onda de Pulso. Quanto mais rígido o cano, mais rápido a onda viaja.
A VOP é um indicador da rigidez arterial. É considerada um "padrão ouro" não invasivo para avaliar a saúde das artérias.
  • Artérias Rígidas (como canos de metal): a onda viaja mais rápido.
  • Artérias Flexíveis e Saudáveis (como mangueiras de borracha): a onda viaja mais devagar.
Portanto, uma VOP mais alta indica artérias mais rígidas e menos saudáveis, que é um fator de risco importante para doenças cardiovasculares, como infarto e derrame.
Como é medida?
A medição mais comum é a VOP Carótido-Femoral. Ela é feita da seguinte forma:
Dois sensores são colocados no corpo: um sobre a artéria carótida (pescoço) e outro sobre a artéria femoral (virilha).
Mede-se o tempo que a onda de pulso leva para percorrer a distância entre esses dois pontos.
A velocidade é calculada pela fórmula: Velocidade = Distância / Tempo.
Um valor de VOP considerado normal para um adulto saudável é geralmente inferior a 10 m/s. Valores acima disso indicam rigidez arterial aumentada.
Em resumo, a Velocidade de Onda de Pulso funciona como um "medidor de idade vascular". Artérias rígidas (envelhecidas ou doentes) têm uma VOP alta (> 10m/s), enquanto artérias jovens e saudáveis têm uma VOP baixa (< 10m/s).
Onde fazer este exame em Fortaleza
Dra. Maria Tereza Sá Leitão Ramos Borges / Sâmia. Clínica Carlos Chaves, Rua Assis Chateaubriand, 17, Dionísio Torres, 3264-4598.