quarta-feira, 21 de outubro de 2015

790 - O caso Sally Clark

Em 1999, uma mulher na Grã-Bretanha chamada Sally Clark foi considerada culpada pelo assassinato de dois de seus filhos, que morreram subitamente como bebês. Um fator em sua condenação foi a apresentação de evidências estatísticas de que as chances de duas crianças da mesma família morrerem de síndrome de morte súbita infantil (SMSI) eram apenas 1 em 73 milhões – um índice amplamente interpretado como bastante contundente.
No entanto, ter sido considerado apenas uma hipótese deixou de fora uma parte importante da investigação. "O júri precisava comparar duas explicações concorrentes para as mortes dos bebês: SMSI ou assassinato", escreveu o estatístico Peter Green, em nome da Royal Statistical Society, em 2002 (ver: go.nature.com/ochsja). "O fato de que duas mortes por SMSI são bastante improváveis é, por si só, de pouco valor. Duas mortes por assassinato podem ser ainda mais improváveis. O que importa é a probabilidade relativa das mortes no âmbito de cada hipótese, não apenas quanto improvável que elas são sob uma explicação.
O matemático Ray Hill, da Universidade de Salford, Reino Unido, mais tarde estimou que uma morte dupla por SMSI ocorreria em aproximadamente 1 de 297.000 famílias, enquanto dois filhos seriam assassinados por um dos pais em aproximadamente 1 de 2,7 milhões de famílias – uma taxa de probabilidade de 9-1 contra o assassinato.
Em 2003, a condenação de Sally foi anulada com base em novas provas. E o Procurador-Geral da Inglaterra e País de Gales conseguiu a libertação de duas outras mulheres que haviam sido condenadas pelo assassinato de seus filhos por razões estatísticas semelhantes.
How scientists fool themselves – and how they can stop, por Regina Nuzzo, Nature, volume 526, edição 7572

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