quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

229 - A melioidose no Ceará

Em fevereiro de 2003, na zona rural do município de Tejuçuoca, Estado do Ceará, ocorreu um surto de formas graves de uma doença desconhecida em quatro adolescentes de uma mesma família. Três foram a óbito no início de março. O quadro clínico, segundo os infectologistas que assistiram aos pacientes, foi de pneumonia fulminante com septicemia.
Extensas investigações epidemiológica, clínica, laboratorial e ambiental foram realizadas, resultando no diagnóstico conclusivo de melioidose, a partir do isolamento da bactéria Burkholderia pseudomallei em hemoculturas.
Em 2004, novo caso da doença foi diagnosticado no município de Banabuiu - CE, em uma paciente de 39 anos com quadro clínico de abscesso em região genital e septicemia. O agente etiológico da meliodose foi também identificado em hemocultura dessa paciente.
A Burkholderia pseudomallei é um microrganismo de vida livre, saprófita em alguns tipos de solo, e que também sobrevive em águas superficiais por períodos prolongados. Pessoas e animais podem adquirir a infecção em contato com o solo e a água onde a bactéria está presente. É levantada a hipótese de que a sua inalação por hospedeiros suscetíveis é que responde pelas formas graves (pulmonares e sistêmicas) da enfermidade.
A meliodose é um problema de saúde pública em alguns países do mundo (os quais estão principalmente situados nas regiões tropical e subtropical), sendo endêmica no Sudeste da Ásia, no Norte da Austrália e no subcontinente indiano. No Brasil, até o surto de Tejuçuoca, não havia registros da ocorrência dessa doença.

Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará. Manual de Coleta de Amostras Ambientais da Burkholderia pseudomallei, Agente Etiológico da Melioidose, 2006.

Notas
(1) A pequena cidade de Tejuçuoca, distante 140 km da capital Fortaleza, é conhecida como a capital cearense do bode. Anualmente, a cidade realiza a Tejubode, feira de ovinos e caprinos que atrai cerca de 100 mil pessoas a este município de menos de 15 mil habitantes. Fonte: Blog do Guto Mota.
(2) Em 2005 e anos subsequentes, outros casos da doença têm sido informados. Oriundos dos municípios de Aracoiaba e Granja e do litoral cearense (este último, um turista holandês que veio a falecer em seu país). Fonte: internet (diversas).
(3) Ceftazidima (antibiótico que existe apenas na forma injetável) é a droga de primeira escolha para o tratamento da melioidose. Fonte: 2010 - Current Medical Diagnosis and Treatment, de Stephen J. McPhee e Maxine A. Papadakis.

07/11/2012 - Atualizando...
Francisco Fernando Pimenta Lima e colaboradores publicaram o relato de um caso de melioidose na Revista Científica do Instituto Dr. José Frota, nº. 15, de maio de 2011, sob o título de ABSCESSO ESPLÊNICO CAUSADO POR MELIOIDOSE.
Paciente FLR, 48, masculino, natural e procedente de Fortaleza/CE, portador de doença falciforme. Apresentava febre baixa, hipodinamia e dor no hipocôndrio esquerdo. TC mostrou baço aumentado com abscesso no órgão. Inicialmente medicado com ampicilina-sulbactam. A seguir, o paciente se submeteu a uma laparotomia exploradora. Realizada  esplenectomia e coletados 2.000 mL de secreção purulenta. Nesta secreção, isolou-se a Burkholderia pseudomallei. Instituído meropenem 6g/dia EV por 14 dias. O paciente recebeu alta hospitalar, clinicamente estável.
Esta revista é indexada no site http://geodados.pg.utfpr.edu.br

2 comentários:

Audinne Ferreira disse...

Adorei o post, informações novas (para mim!)... uma dúvida: o Ceftazidima está disponível pelo Governo?

♦ http://pacientesensinam.blogspot.com ♦

Paulo Gurgel disse...

Olá, Audinne.
A ceftazidima é disponibilizada pelo governo em seus hospitais para uso em pacientes internados.
Para pacientes ambulatoriais, creio que não.
Paulo