O médico escocês Alexander Wood é amplamente reconhecido como o inventor da seringa hipodérmica dos dias modernos. Wood pode não ter tido muita noção da importância de sua invenção na década de 1850. Mas sua criação — uma seringa toda de vidro com êmbolo e agulha de orifício fino — se tornaria um dispositivo médico tão simbólico quanto o estetoscópio.
As seringas, de uma forma ou de outra, existem pelo menos desde a época do médico grego Hipócrates no século 5 a.C. As primeiras versões eram rudimentares. Feitas a partir de bexigas de animais, tubos ou penas, eram amplamente usadas para irrigação — a prática de limpar ou lavar uma ferida ou corpo — ou enemas (lavagem que injeta água no intestino). No século 11, um oftalmologista egípcio usou a primeira ferramenta semelhante à seringa hipodérmica para remover cataratas. Mas somente em meados do século 17 que os primeiros experimentos confirmados de injeção intravenosa foram realizados.
Em experimentos com cães em 1656, o britânico Christopher Wren — mais conhecido como arquiteto — injetou drogas nos cachorros usando uma bexiga de animal presa a uma pena de ganso oca. Ele injetou ópio, álcool e crocus metallorum (emético, indutor do vômito, do século 17) em cães diferentes", explica a anestesista Christine Ball, curadora honorária do Museu Geoffrey Kaye de História da Anestesia em Melbourne, na Austrália.
Como era de se esperar, o primeiro foi dormir, o segundo ficou muito bêbado e o terceiro bem morto.
Em meados do século 19, a medicina começou a se concentrar em um sistema mais eficiente de administração de medicamentos. Em 1844, o cirurgião irlandês Francis Rynd inventou o que foi indiscutivelmente a primeira agulha oca do mundo. Mas era um dispositivo que usava a gravidade para fazer o líquido fluir e envolvia romper a pele com uma ferramenta conhecida como trocarte.
Em 10 anos, no entanto, surgiu a versão moderna da agulha hipodérmica.
Em 1853, o médico Alexander Wood, nascido em Fife, na Escócia, adicionou um êmbolo e desenvolveu a primeira seringa totalmente de vidro (fig. 1) que permitia aos médicos estimarem a dosagem com base na quantidade de líquido observada através do vidro. Sua primeira paciente foi uma mulher de 80 anos que sofria de uma forma de neuralgia. Preocupado em aliviar a dor local, ele injetou nela 20 gotas de solução vínica de morfina (morfina dissolvida em vinho xerez) na parte do ombro onde a dor era mais forte. Na sequência, ela adormeceu profundamente, mas depois se recuperou.
A invenção de Wood coincidiu, ao que tudo indica completamente por acaso, com a criação no mesmo ano de um instrumento semelhante pelo cirurgião francês Charles Pravaz.
Mas, enquanto o dispositivo de Wood era feito de vidro e apresentava um êmbolo, a invenção de Pravaz (fig. 2) era composta em grande parte por prata e usava um parafuso que precisava ser girado para empurrar o medicamento para dentro do corpo.
O Royal College of Physicians de Edimburgo (RCPE) diz que há duas razões pelas quais Wood, um dos ex-presidentes da organização, deve receber o crédito em vez de Pravaz.
"Em primeiro lugar, Wood testou sua nova seringa usando-a para injetar remédio (morfina) em uma paciente, enquanto Pravaz testou a sua numa ovelha. Portanto, a eficácia do método de Wood era mais clara", explica Daisy Cunynghame, gerente de biblioteca e patrimônio do RCPE. "Em segundo lugar, Pravaz morreu antes de publicar suas descobertas — enquanto Wood publicou sobre sua descoberta."
A agulha hipodérmica dos dias modernos mudou muito pouco em relação ao design de Wood. A principal diferença está no material de que a seringa é feita — mais plásticos descartáveis, menos vidro e metal —, mas, fora isso, o design permanece praticamente inalterado. A dosagem precisa que é necessária para muitos medicamentos, incluindo vacinas, só foi possível com a invenção de Wood.