Certa vez visitei o Hospital de Medicina Tradicional, em Lhasa, onde as paredes são revestidas com 76 thangkas enormes - imagens que ilustram os processos pelos quais o corpo humano se supõe funcionar, e que são usados como um auxílio no diagnóstico e tratamento. O chefe do hospital explicou o seu uso, que nestes dias é complementado por técnicas como raios-X e ultrassom. Apesar do fato de que eles não se encaixam com a nossa concepção ocidental de como o corpo funciona, foi surpreendente como muitas vezes o seu uso levou a um diagnóstico correto.
Um dia vou escrever um livro sobre eles - ou, pelo menos, vou terminá-lo já que foi iniciado. Nele, vou comparar o uso tibetano dos thangkas com a maneira pela qual o físico escocês Jame Clerk Maxwell diagnosticou corretamente a passagem das ondas eletromagnéticas (como ondas de luz ou ondas de rádio) através do espaço, apesar de usar um modelo que agora sabemos ser absurdo.
O modelo de Maxwell retratava o espaço como sendo preenchido com uma substância tênue, invisível e fluida, chamada de éter. Ele imaginou que o éter estaria cheio de vórtices de contra-rotação que agiriam como rodas de engrenagem para fazer passar uma perturbação ao longo do mesmo, e seu diagnóstico consistiu em escrever um conjunto de quatro equações para descrever este modelo em termos matemáticos.
Ainda hoje usamos essas equações. Elas são tão corretas quanto as medições podem provar, e até mesmo diante dos efeitos relativistas, ainda que Einstein só tenha desenvolvido suas teorias da relatividade algumas décadas mais tarde.
Mas, como sabemos agora, o éter não existe. O que só mostra que a correção de um diagnóstico não significa que a imagem que usamos para alcançá-lo também esteja correta. Meu único artigo publicado na filosofia expande essa ideia, mas não precisa de uma filosofia profunda para captar o ponto principal: modelos e imagens são uma grande ajuda para o pensamento, mas o fato de que eles funcionem não significa que devemos segui-los literalmente - na ciência, na medicina, ou mesmo pela vida inteira.
In: lenfisherscience.com, traduzido por PGCS
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