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quinta-feira, 30 de julho de 2020

1160 - O segundo sono

Brendan Monroe
A ideia de que deveríamos dormir em pedaços de oito horas é relativamente recente. A população mundial dorme de maneiras variadas e surpreendentes. Milhões de trabalhadores chineses continuam a colocar a cabeça nas mesas por uma soneca de uma hora depois do almoço, por exemplo, e a soneca diurna é comum da Índia à Espanha.
Um dos primeiros sinais de que a ênfase em um sono direto de oito horas havia perdido sua utilidade surgiu no início dos anos 90, graças a um professor de história da Virginia Tech chamado A. Roger Ekirch, que passou horas investigando a história da noite e começou a notar estranhas referências ao sono. Um personagem dos "Contos de Canterbury", por exemplo, decide voltar para a cama depois de seu "sono firme". Um médico na Inglaterra escreveu que o tempo entre o "primeiro sono" e o "segundo sono" era o melhor momento para estudo e reflexão.
- - - Nascido em 1950, em Washington DC, Ekirch é conhecido internacionalmente por sua pesquisa pioneira em padrões de sono pré-industriais, a qual foi publicada pela primeira vez em "Sono que perdemos: sono pré-industrial nas ilhas britânicas" (The American Historical Review , 2001) e, mais tarde, em seu livro "At Day's Close: Night in Times Past" (WW Norton, 2005).
Diz Roger Ekirch:
"Primeiro, eu temia ter que investigar a história do sono. O sono humano parecia impermeável ao tempo e ao lugar, teimosamente imune ao elemento de mudança que anima a maioria das obras da história. Meu próprio sono foi alegremente tranquilo. Não surpreende, a meu ver, que os historiadores, com exceção de alguns estudos sobre sonhos, não tenham explorado um tópico manifestamente monótono e sem intercorrências. Samuel Johnson respondeu sua própria pergunta quando se perguntou em 1753 por que 'um benfeitor tão liberal e imparcial como o sono deveria encontrar-se com tão poucos historiadores'. Mas eu havia começado a escrever um livro sobre a noite nos séculos anteriores à Revolução Industrial, e omitir o sono era impensável."
"O irmão da morte ocupa uma terceira parte de nossas vidas", escreveu Sir Thomas Browne. Morte - tradicionalmente a metáfora mais comum para dormir."
"Mais do que isso, prossegue Ekirch, descobri que o sono pré-industrial era segmentado. Ao contrário do sono contínuo que buscamos alcançar, o sono costumava consistir em dois intervalos principais, um 'primeiro sono' e um 'segundo sono', intervalados após a meia-noite por uma hora ou mais de vigília, na qual as pessoas faziam praticamente tudo. A julgar pelas referências textuais já na "Odisséia" de Homero, o modo predominante de sono durante idades era bifásico. "Eneida" de Virgílio,composto no primeiro século aC , fala da 'hora que encerra o primeiro sono, quando o carro da noite ainda tinha realizado apenas metade de seu curso'.
Há muitas outras referências a esse padrão de sono segmentado em registros históricos e textos literários.
  • "Ele sabia disso, mesmo com o horror com que começou desde o primeiro sono, e levantou a janela para dissipá-lo pela presença de algum objeto, além do quarto, que não tinha sido, por assim dizer, a testemunha de sua morte." Charles Dickens, "Barnaby Rudge" (1840)
  • "Dom Quixote seguiu a natureza e, satisfeito com seu primeiro sono, não solicitou mais. Quanto a Sancho, ele nunca quis um segundo, pois o primeiro durou da noite para a manhã." Miguel Cervantes, "Dom Quixote" (1615)
  • "E ao despertar do seu primeiro sono, você terá feito um drink quente, e ao despertar do seu próximo sono, suas tristezas terão um abalo." Balada inglesa antiga, "Old Robin" de Portingale
Fontes:
http://www.nytimes.com/2012/09/23/opinion/sunday/rethinking-sleep.html
http://harpers.org/archive/2013/08/segmented-sleep/.
http://en.wikipedia.org/wiki/Roger_Ekirch
http://pt.quora.com/Quais-s%C3%A3o-os-fatos-curiosos-sobre-o-sono
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543 - Seus antepassados não dormiam como você

quinta-feira, 6 de junho de 2019

1100 - O sono pode não ser necessário?

Para os seres humanos, recomenda-se ter pelo menos oito horas de sono por dia. Existem vários proponentes para o sono e sua importância em nossas vidas diárias, levando ao aumento da produtividade, melhor funcionamento cognitivo e um processo regulatório geral que ajuda nosso corpo a recuperar a energia que gasta ao longo do dia.
Mas, para outros animais, o sono pode não ser necessário. O sono é potencialmente caro para muitos animais, tornando-os vulneráveis ​​a predadores e roubando-lhes tempo à coleta de recursos ou ao acasalamento. Por essa razão, os cientistas há muito tempo presumiram que o sono ofertaria aos animais alguma vantagem vital e evolutiva - talvez como um meio de conservar energia ou de dar tempo ao cérebro para organizar as memórias. Em qualquer caso, nenhum animal verdadeiramente insone foi encontrado em estado selvagem.
Em novo estudo, pesquisadores observaram moscas da fruta (Drosophila melanogaster) no laboratório, quando notaram uma distribuição muito grande na duração do sono. A maioria dormia entre 300 e 600 minutos por dia, mas cerca de 6% das fêmeas dormiam menos de 72 minutos por dia, e três indivíduos particularmente inquietos dormiam por apenas 15, 14 ou 4 minutos por dia, respectivamente.
Essa falta de sono parecia não ter efeitos nocivos à saúde. Moscas sem sono viviam tão bem quanto outras moscas, relatam os pesquisadores na revista Science Advances, e até mesmo moscas com horários típicos de sono não foram incomodadas quando alojadas dentro de um tubo rotativo que as obrigou a perder cerca de 96% do seu tempo de sono.
doi:10.1126/science.aax0861

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

585 - A origem de nosso relógio biológico

As investigações sobre o relógio biológico estão relacionadas particularmente com a melatonina, o hormônio responsável por regular o nosso ritmo circadiano.
De forma natural, o nosso corpo produz a melatonina (um hormônio fabricado a partir da serotonina) que se caracteriza por sua variabilidade em ciclos de 24 horas. Sua produção em função da iluminação do ambiente é fundamental para a determinação dos estados de sono e vigília.
O estudo da melatonina, portanto, não é apenas importante para a compreensão de problemas associados com a insônia. Como alterações em sua produção podem causar problemas de saúde, torna-se interessante saber, a partir de um ponto de vista científico, qual foi a sua origem e, se ao longo da evolução das espécies, têm havido importantes mudanças em sua produção.
Uma pesquisa recente conduzida pelo National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos, investigou a origem da melatonina, a fim de saber quando a produção do hormônio que regula o nosso ritmo circadiano começou. Em outras palavras, os cientistas procuraram saber quando entrou em funcionamento o relógio biológico que existe em muitos organismos vivos, incluindo os seres humanos.
Aparentemente, de acordo com os resultados publicados na revista PNAS, a melatonina pode ter se originado 500 milhões de anos atrás, quando os vertebrados se separaram evolutivamente de seus ancestrais invertebrados. Além disso, a pesquisa indicou que a melatonina pode ter surgido para eliminar compostos tóxicos no olho, sendo que, adiante, a sua função biológica mudou substancialmente para atuar como um verdadeiro relógio biológico.
Estes resultados são consistentes com os locais de produção da melatonina. Embora predominantemente formada na glândula pineal, pequenas quantidades deste hormônio ainda estão presentes na retina, o que está em conformidade com a função biológica original que os cientistas do NIH propuseram para a melatonina.
Este hormônio é produzido a partir da serotonina como resultado final de uma sequência de reações químicas. Através de uma "timezime" (enzima do tempo) chamada arilalquilamina N-acetiltransferase ou AANAT, um grupo acetil é fixado na molécula da serotonina para formar a N-acetilserotonina, também conhecida como normelatonina e sendo esta a precursora imediata da melatonina.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

543 - Seus antepassados não dormiam como você


Seus avós provavelmente dormiam como você. E talvez seus bisavós. Mas uma vez que você volte a antes de 1800, o sono começa a ser descrito de uma forma diferente. Seus antepassados ​​dormiam de uma maneira que você acharia bizarro: dormiam à noite em dois períodos.
A existência desse tipo de sono foi descoberta por Roger Ekirch, professor de História da Universidade de Virginia. Sua pesquisa mostrou que não se dormia ao longo de oito horas corridas, como estamos habituados a dormir. Dormia-se em cerca de doze horas: iniciando-se com um sono de três a quatro horas, a seguir, uma vigília de duas a três horas, e, finalmente, voltando-se a dormir até a manhã seguinte.
As referências estão espalhadas por toda a literatura, documentos judiciais, papéis pessoais, e outras fontes antigas. O que é surpreendente não é que as pessoas dormissem em duas sessões, mas que o conceito fosse tão incrivelmente aceito.
"Não é apenas o número de referências - é a forma como eles se referem a ele, como se fosse de aceitação comum", diz Ekirch.
Um médico inglês escreveu, por exemplo, que o tempo ideal para o estudo e a contemplação situava-se entre "o primeiro sono" e "o segundo sono". Em "Contos de Canterbury", Chaucer fala de um personagem que vai deitar-se para o seu primeiro sono.
O livro de Ekirch, At Day’s Close: Night in Times Past, está repleto de exemplos.
Mas o que as pessoas faziam durante essas horas intermediárias?
A maioria delas ficava em suas camas e quartos, às vezes, lendo, e, outras vezes, usando o tempo para orar. Manuais religiosos incluíam orações especiais para serem rezadas nessas horas. Também fumavam, conversavam ou tinham relações sexuais. Um médico do século 16 relatou que essas relações sexuais após o primeiro sono era a explicação por que a classe operária tinha muitos filhos.
Como sabemos, essa forma de dormir praticamente desapareceu. Ekirch atribui o desaparecimento à iluminação nas ruas e no interior das casas com o advento da eletricidade, bem como à popularidade das casas de café. A partir dessas mudanças, gastar o tempo dormindo em duas sessões passou a ser considerada uma forma de desperdício.
Your Ancestors Didn't Sleep Like You, Slumber Wise