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quinta-feira, 20 de março de 2025

1405 - A amnésia imunológica do sarampo

Entra em cena a "amnésia imunológica", um fenômeno misterioso que está conosco há milênios, embora tenha sido descoberto apenas em 2012.
Essencialmente, quando você é infectado com sarampo e seu sistema imunológico esquece abruptamente todos os patógenos que já encontrou antes — cada resfriado, cada surto de gripe, cada exposição a bactérias ou vírus no ambiente, cada vacinação etc. A perda é quase total e permanente. Uma vez que a infecção por sarampo acaba, as evidências sugerem que seu corpo tem que reaprender o que é bom e o que é ruim, quase do zero.
Cientistas sabem há décadas que, mesmo depois de se recuperarem, crianças que foram infectadas com sarampo têm significativamente mais probabilidade de adoecer e morrer de outras causas. Na verdade, um estudo de 1995 descobriu que a vacinação contra o vírus reduz a probabilidade geral de morte entre 30% e 86% nos anos seguintes.
Então, em 2002, um grupo de cientistas japoneses descobriu que o receptor ao qual o vírus do sarampo se liga – um tipo de trava molecular que permite que ele entre no corpo – não está nos pulmões, como seria de se esperar de um vírus respiratório. Em vez disso, está em células do sistema imunológico:
o sarampo é uma infecção do sistema imunológico.
Mas esse não foi o fim da história. A equipe descobriu principalmente que o receptor ao qual o sarampo se liga em um tipo específico de célula imune, o linfócito T. O trabalho deles é permanecer no corpo por décadas após uma infecção, procurando silenciosamente pelo patógeno específico que cada um foi treinado para atingir. Então, o sarampo infecta ativamente as únicas células que conseguem lembrar o que o corpo encontrou antes.
O que acontece depois ainda intriga os cientistas até hoje — tanto que foi chamado de "paradoxo do sarampo".
É que o sarampo suprime o sistema imunológico e o ativa ao mesmo tempo. Embora o sarampo exclua memórias imunológicas, há uma exceção a essas perdas. Estranhamente, o único vírus que você definitivamente será capaz de reconhecer depois de ficar doente com sarampo é o próprio sarampo.
* No cartoon: RFK Jr. Robert Francis Kennedy Jr., Secretário de Saúde dos EUA

domingo, 24 de maio de 2015

741 - A "amnésia imunológica" do sarampo

Já se sabia que o vírus do sarampo abala o sistema imunológico das crianças temporariamente, deixando-as expostas ao contágio de outras doenças oportunistas. Até agora, os cientistas acreditavam que essa vulnerabilidade se estendia por um ou dois meses após a infecção. Mas um novo estudo mostra que o sarampo pode enfraquecer as defesas do organismo das crianças por até três anos — deixando-as altamente suscetíveis a outras doenças mortais ao longo desse tempo. A pesquisa, realizada por cientistas da Universidade de Princeton (Estados Unidos), foi publicado neste mês (dia 8) na revista Science.
Com base nas conclusões do artigo, os autores afirmam que a vacinação contra o sarampo não oferece proteção apenas contra o vírus dessa doença, mas também impede que diversas outras doenças infecciosas tirem proveito do enfraquecimento do sistema imunológico causado por ela. De acordo com eles, a descoberta ajuda a explicar porque as campanhas de vacinação contra o sarampo têm impedido muito mais mortes do que se previa.
Para o autor principal do artigo, Michael Mina, da Universidade Emory, que participou do estudo como pesquisador pós-doutorando em Princeton, "o sarampo acaba aumentando a predisposição das pessoas às doenças mais prevalentes na população".
— Na maior parte, são infecções respiratórias bacterianas, como a pneumonia, a sepse, a bronquite e a bronquiolite. Mas o sarampo também abre caminho, em menor número, para doenças como diarreia e disenteria.
Segundo Mina, o estudo apresenta provas epidemiológicas de que o sarampo leva o organismo, por longo tempo, a um estado de "amnésia imunológica". As células de memória do sistema imunológico — capazes de identificar as partículas infecciosas que já tiveram contato com o organismo — são parcialmente exterminadas.
Outra dos autores do estudo, Jessica Metcalf, professora de Ecologia e Biologia Evolutiva de Princeton, disse que "já sabíamos que o sarampo ataca a memória imunológica — e que a doença enfraquece o sistema imunológico por algum tempo".
— Mas esse artigo sugere que a supressão imunológica dura muito mais do que se suspeitava. Em outras palavras, se você pegar sarampo, ao longo de três anos você poderia morrer de algo que não seria capaz de matá-lo sem a infecção por sarampo.
De acordo com Mina, a descoberta sugere que a vacinação contra o sarampo traz benefícios bem maiores que a proteção contra a própria doença. "É uma das intervenções com melhor custo benefício para a saúde global", disse ele sobre as campanhas de vacinação.
Extra dividends from measles vaccine
Science 8 May 2015: Vol. 348 no. 6235 pp. 694-699 DOI: 10.1126/science.aaa3662