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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

1117 - A Seção de Documentação Científica do Hospital de Messejana

Período 1965-1977
No início de 1965, em uma sala situada no pavimento térreo do recentemente reformado Pavilhão Central, foi instalada a Seção de Documentação Científica (SDC), para dar continuidade aos trabalhos do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) do então Sanatório de Messejana.
Chefes da SDC:
Dr. Abner Cavalcante Brasil
Dr. Francisco Sampaio de Oliveira
Dr. Amaury Teófilo Brasil
Dr. Abner Cavalcante Brasil (2.ª vez)
Depois dos trabalhos realizados pelo Dr. Pope Figueiredo, no Sanatório Santa Maria, da Prefeitura do Rio de Janeiro, e publicados em revistas especializadas, o Sanatório de Messejana passou a usar um sistema de fichas de dados exclusivamente direcionados à tuberculose. Essas fichas eram chamadas de cartões McBee.[link]
Na última gestão deste período, uma parte dos prontuários foi transformada em slides pelo fotógrafo Milton Nascimento, ao tempo que se planejou uma futura microfilmagem.
Fonte: "Sanatório de Messejana: uma história a ser contada", do tisiopneumologista Dr. Carlos Alberto Studart Gomes que, por 39 anos, dirigiu esta instituição. [link]
Período 1978-1994
Chefe da SDC: Dr. Paulo Gurgel Carlos da Silva
Em 1977, quando cheguei ao Hospital de Messejana, então dirigido pelo Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, a SDC ocupava a casa que, no período dessa instituição como Sanatório, fora o local de repouso dos médicos plantonistas.
Designado pelo Dr. Carlos Studart para auxiliar o Dr. Abner Brasil na SDC, com o afastamento do colega Abner para exercer o cargo de Secretário de Saúde do Piauí, em 1998, assumi a chefia da Seção.
Como estava previsto, iniciou-se, através da firma Gustavo Silva, a execução da microfilmagem de alguns lotes de prontuários do Hospital de Messejana. Contando com a anuência do Dr. Carlos Studart, decidi que, inicialmente, seriam microfilmados os prontuários: 1) de pacientes falecidos; 2) de antigos pacientes que não tinham retornado para atendimento no Hospital de Messejana, nos últimos cinco anos. Máquinas leitoras foram instaladas em vários pontos do Hospital de Messejana e uma máquina copiadora permaneceu à disposição dos interessados na SDC.
A experiência com a microfilmagem de prontuários e radiografias, que não vinha alcançando bons resultados, foi encerrada alguns anos após por falta de recursos financeiros com esta destinação.
Crescendo o problema da falta de espaço para o arquivamento da documentação médica, optei por implantar o prontuário de ambulatório, o qual tinha a vantagem de apresentar dimensões reduzidas. Este modelo de prontuário era exclusivamente utilizado no atendimento de pacientes externos que não haviam passado por alguma internação no Hospital de Messejana.
Adiante, houve a necessidade de construir uma SDC mais ampla. Durante a administração do Dr. Jorge Matos, que sucedeu a Dr. Carlos Studart, um  novo prédio foi construído, em comunicação com as Unidades de Pacientes Externos e de Emergência. Tivemos alguma dificuldade para torná-lo aceitável pelos funcionários do setor, pois a climatização não constava do projeto.
Por determinação da Administração Central do INPS, passamos a usar na SDC, em substituição aos cartões McBee, as fichas de Médico Assistente, Diagnóstico, Operação e Óbito para coletar os dados dos pacientes que recebiam alta hospitalar.
Finalmente, entramos na era de processamento de dados. Havia um computador CP 500, que se encontrava ocioso no Centro Cirúrgico, e para o qual o anestesiologista Henrique Torres, a nosso pedido montou o programa CID para receber os dados da Classificação Internacional de Doenças..
Foi pela Documentação Científica que, de fato, o processamento de dados entrou no Hospital de Messejana. Com a chegada do funcionário Haroldo de Castro Araújo, em 1989, quando a SDC já reunia uma estrutura mais adequada na área da informática, diversos programas foram implantados.
Ressalte-se que alguns deles, trinta anos depois, ainda continuam sendo operacionais.
A partir de 1990, quando esta instituição passou a integrar a rede de hospitais da Secretaria de Saúde do Ceará, a SDC, em parceria com o setor de Contas Médicas e a assessoria da firma Hospidados, foram responsáveis pela implantação no Hospital de Messejana da AIH - Autorização de Internação Hospitalar.
Em 1992, a SDC teve o nome mudado para Centro de Arquivo Médico e Estatística (CAME) pela SESA-CE.
Período 1995-2019
Chefes da SDC:
Dr. Abelardo Soares de Aguiar  [link]
Dr. Leandro Cruz Demétrio de Souza
Dra. Ana Lúcia Araújo Nocrato
Em 20/09/2019, atendendo a um convite da colega Ana Lúcia Araújo Nocrato, visitei a Unidade de Documentação Científica (UNDOC, nome atual da SDC). Uma oportunidade para rever antigos funcionários do setor, como o Marcos Aurélio, o João Soares e o José Marcelo, e conhecer os novos funcionários. Haroldo Araújo, que atualmente é o chefe das Contas Médicas, foi lá para me abraçar. E fui conduzido para uma sessão de fotos próximo a uma placa lisonjeira.
Foto: vejo-me, entre Marcos Aurélio e Ana Nocrato, coordenadores administrativo e médico da UNDOC - Unidade de Documentação Científica
Percorrendo as instalações pude observar algumas mudanças: a abertura de uma saída de emergência (indispensável em situação de incêndio) com a porta dando para uma rampa; modernas estantes com seções móveis para os prontuários, em substituição às fixas que antes existiam, e a criação de um jardim (de onde veio o capim santo para o chá que me foi servido com sequilhos).
Fui informado de que o arquivamento de uma grande parte dos prontuários encontra-se terceirizado (fora do Hospital). Numa prova de que um arquivo de documentos hospitalares está sempre a enfrentar o problema da falta de espaço para o cumprimento de sua missão.
Auxiliares (que trabalharam comigo):
Eronita, Leda, Antônio Medeiros, Antônio Serpa, Tarcísio, Erialdo, Clécio, Helena, Francisco Tertulino (Chiquinho), Fco. José (MS), Ana, Malveira, Haroldo de Castro Araújo (programador, chefe das Contas), Lúcia de Fátima (Farm.), Pedro, Dilma Bastos (Enf.ª, nora de Zivaldo) [link], Regina Cleide Ximenes (Enf.ª), Evandro (analista de sistema), João Soares, Marcos Aurélio, Eduardina (Dudu), Leônia Solon. Fizeram o curso superior enquanto trabalhavam na SDC: Lúcia (Farmácia), Dilma (Enfermagem) e Regina (Enfermagem).

domingo, 11 de março de 2012

355 - Amianto: a polêmica do óbvio

Nas últimas semanas, o tema Amianto voltou a ganhar espaço na mídia nacional e internacional. No Brasil, em consequência à interpelação judicial, promovida pelo Instituto Brasileiro do Crisotila, contra o Dr. Hermano de Castro Albuquerque, pesquisador do Centro de Estudos do Trabalho e Ecologia Humana, FIOCRUZ, relacionada a achados de pesquisa sobre o mesotelioma, publicado em um periódico científico, e por suas declarações na mídia sobre riscos para a saúde associados à exposição ao amianto.
Essa repercussão foi potencializada pelo julgamento criminal ocorrido em Turim, Itália, condenando dois ex-proprietários de ramos do Grupo Eternit por omissão de informações sobre os problemas de saúde associados à manipulação do amianto, e quase 3 mil mortes que ocorreram entre ex-trabalhadores e habitantes do entorno de uma de suas empresas em Casale Monferrato.
Há duas décadas, profissionais brasileiros de renome na área do trabalho, médica e ambiental vem, de público, advertindo sobre as desastrosas consequências da manutenção da utilização do amianto no Brasil. Infelizmente, o Estado Brasileiro se esquivou, repetidamente, do problema, não respeitando o valor constitucional de proteger seus cidadãos. Nos últimos anos, perderam-se diversas oportunidades de proibir seu uso no território nacional. Perdeu-se também, a oportunidade de evitar que o risco continue a se estender a populações de outros países importadores do asbesto brasileiro (praticamente, todos com condições sanitárias tão ruins ou piores que a nossa).
Estima-se que mais de sete milhões de pessoas morram de câncer anualmente, em todo o mundo (Jemal A, et al. CA CANCER J CLIN 2011). Hábitos pessoais e condições de ambiente são responsáveis por 40% dos casos de câncer, o que significa que cerca de 3 milhões de óbitos anuais poderiam ser prevenidos.
O ambiente de trabalho é responsável por 4 a 20% de todos os casos de câncer na população. Dentre estes, o amianto, isoladamente, é responsável por 1/3 dos casos e, restringindo-se apenas ao câncer de pulmão de origem ocupacional, a parcela do amianto chega a 50% dos casos. Percentual ainda maior ocorre em relação ao mesotelioma, um câncer raro da membrana que envolve os pulmões, de péssimo prognóstico, no qual o amianto é o agente causal de mais de 80% dos casos. Dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde mostram uma curva francamente ascendente de mortes por mesotelioma em São Paulo.
Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de amianto. Entre 1975 e 2005, o mercado brasileiro consumiu 5 milhões de toneladas, traduzido em produção, transformação (produtos de cimento-amianto e outras centenas), instalação, remoção e descarte. Entre 2008 e 2010 a produção aumentou, assim como a importação e o consumo interno. Em 2010, o consumo estimado foi de 0,9 Kg/brasileiro. Estes produtos estão espalhados pelo ambiente.
Não é necessário esforço para entender que o problema extrapola o ambiente de trabalho. A chance de um cidadão se expor ao amianto, assim como a outros cancerígenos reconhecidos, aumenta na proporção do seu uso.
A nocividade do amianto crisotila é inconteste, classificado desde 1987 dentro do Grupo 1 das substâncias carcinogênicas pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), organismo da Organização Mundial da Saúde (OMS). Isto significa que há suficientes evidências experimentais e epidemiológicas que permitem classificá-lo como cancerígeno para humanos.
A OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) entendem que a única forma de se prevenir as doenças associadas ao amianto é através da cessação da sua utilização (http://www.who.int/occupational_health/publications/asbestosrelateddiseases.pdf, http://www.ilo.org/public/english/standards/relm/ilc/ilc95/pdf/pr-20.pdf). Em adição ao câncer de pulmão e do mesotelioma, o amianto é, também, causalmente associado ao câncer de laringe e câncer de ovário (www.thelancet.com/oncology, Vol. 10 Maio 2009).
Sob o conceito de “fato relevante”, a Eternit no Brasil encaminhou matéria paga a veículos de grande circulação, em que tenta se distanciar da gravidade da questão, reduzindo um grave problema de Saúde Pública a uma suposta querela comercial e de disputa de mercado. Apega-se, de má-fé, à Lei Federal no. 9.055/95, cuja flagrante inconstitucionalidade já tem parecer favorável do Ministério Público Federal e do Ministro Relator do STF, e ainda, tenta desqualificar a inteligência e a sensibilidade dos legisladores dos estados onde o amianto já foi proibido, reduzindo o clamor de milhares de vítimas das doenças do amianto crisotila, à suposta pressão de concorrentes da Eternit.
A “utilização segura” e o “uso controlado” do amianto, no seu ciclo de vida e ao longo da cadeia produtiva, são conceitos enganosos e inviáveis. Quem controla a sua “utilização segura” na construção civil? Quem controla a sua “utilização segura” em manutenção de máquinas, equipamentos e instalações que o contenham? Quem controla a sua “utilização segura” em reformas e demolições? Quem controla a contaminação de locais previamente utilizados para armazenamento e/ou a produção de produtos contendo amianto? Quem controla o descarte de materiais contendo amianto após o seu uso?
Qual é a necessidade de se manter a sua produção e uso? Há substitutos seguros para todas as utilizações conhecidas do asbesto. Nenhuma fibra substituta faz parte da lista de cancerígenos da IARC. Em adição, há estudos que demonstram a viabilidade técnica e econômica de sua substituição.
Como cidadãos e profissionais ligados à Saúde, registramos a indignação pela manutenção da produção, transporte, consumo, descarte, exportação e importação do amianto, e conclamamos o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Executivo Federal que se unam para acelerar as iniciativas pelo banimento total do amianto crisotila no Brasil, imediatamente.
Que o Brasil não faça vexame na Conferência Rio + 20, de junho, e consiga mostrar – a nós e ao mundo – que suas políticas públicas não são definidas pelos lobbies de uma empresa, e sim, são comprometidas com a defesa da saúde e do ambiente, como reza a Constituição Federal.

Subscrevem o documento 12 instituições/organizações e 41 profissionais. Seus nomes constam da nota Amianto: Entidades e profissionais querem banimento já, publicada em 10/03/2012, no sítio eletrônico VI O MUNDO (acessada em 11/03/2012).