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sexta-feira, 8 de julho de 2016

877 - A descoberta da praia

Édouard Manet
Até o século 18, a beira-mar não era um lugar que as pessoas fossem para relaxar. Nos tempos antigos, era onde você podia correr o risco de ser atacado por monstros marinhos como Cila e Caríbdis, piratas sanguinários ou mesmo pegar a varíola. Então, algo mudou. O historiador da Universidade de Sorbonne Alain Corbin explora esta história incomum no livro "The Lure of the Sea: The Discovery of  the Seaside in the Western World, 1750-1840" (O Fascínio do Mar: A Descoberta da Praia no Mundo Ocidental, 1750-1840), uma das fontes para um artigo fascinante na revista Smithsonian sobre a "invenção da praia":
Por volta de meados do século 18, de acordo com Corbin, as elites europeias começaram a divulgar as qualidades curativas do ar fresco, dos exercícios e dos banhos de mar. Especialmente na Grã-Bretanha, onde aristocratas e intelectuais estavam preocupados com a própria saúde. Eles viam os trabalhadores, nas fábricas e novas cidades industriais, com a destreza física reforçada através do trabalho. Em comparação com estes, as classes economicamente superiores pareciam frágeis e decadentes. A noção do "mar restaurador" nascia. Médicos prescreviam um mergulho em águas frias para revigorar e animar. O primeiro resort à beira-mar foi aberto na costa oriental da Inglaterra, na pequena cidade de Scarborough, perto de York. E outras comunidades costeiras surgiram para atender uma clientela cada vez maior de banhistas, que procuravam tratamento para uma série de condições: raquitismo, lepra, tuberculose, gota, impotência, problemas menstruais, melancolia e histeria. Em uma versão anterior da cultura de bem-estar de hoje, a prática de banhos de mar havia entrado para o mainstream.
Descrevendo esta reviravolta notável do "despertar irresistível de um desejo coletivo para a costa marítima", Corbin conclui que, em 1840, a praia passou a significar algo novo para os europeus. Tornou-se um lugar de consumo humano; um cobiçado "escape" da cidade e do trabalho penoso da vida moderna. A ascensão da indústria e do turismo facilitou este processo cultural e comercial. A viagem tornou-se acessível e fácil. e famílias da classe média buscavam a costa em números cada vez maiores. "On the beach" (na praia), no jargão dos marinheiros, em vez da conotação de desamparo (ser preso ou deixado para trás), agora transmitia a ideia de saúde e prazer. E o termo "vacation" (férias), antes utilizado para descrever uma ausência involuntária no trabalho, era a partir de então um interlúdio desejado. (PGCS)
Inventing the Beach: The Unnatural History of a Natural Place (Smithsonian)
The Lure of the Sea: The Discovery of the Seaside in the Western World, 1750-1840 (Amazon)

quarta-feira, 16 de março de 2016

839 - Frase em desuso

Por alguma razão desconhecida, muitos médicos sentem que eles devem saber toda a medicina. Assim, muitos médicos temem a frase, "eu não sei", tão obstinadamente, que ela saiu do seu léxico devido à atrofia pelo desuso.
 Ervin Epstein, California Medicine, vol. 82, no. 2 (1955) p. 116-117.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

105 - O abafador

O médico e escritor Miguel Torga refere em "Alma-Grande", em "Novos Contos da Montanha", a figura do abafador: o homem que, nas aldeias, abreviava a vida do moribundo.
"Entrava, atravessava impávido e silencioso a multidão que há três dias, na sala, esperava impaciente o último alento do agonizante, metia-se pelo quarto adentro, fechava a porta, e pouco depois saía com uma paz no rosto, pelo menos igual à que tinha deixado ao morto."
Como o abafador executava o seu trabalho?
Na estória de Miguel Torga, esganando o moribundo com as mãos e pressionando-lhe o peito com o joelho. Ou, segundo a descrição de Aurélio Buarque de Holanda em seu dicionário, sufocando-o com o emprego de almofadas. Acrescentando, ainda, o dicionarista que o abafador só aceitava atuar "se o moribundo já tivesse se confessado e comungado".

Link para a leitura de Novos Contos da Montanha.

Publicado em EntreMentes