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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

1373 - Perfuração de traqueia por espirro

Segurar um espirro, por mais inofensivo que pareça, pode levar a consequências graves e inesperadas para a saúde. É o que mostram pesquisadores do Reino Unido, que publicaram na revista científica BMJ Case Reports o relato de um caso em que o paciente sofreu uma perfuração na traqueia devido ao aumento da pressão interna causado por esta simples ação.
O acontecimento é raro. Os médicos estimam que a pressão nas vias aéreas superiores durante um espirro é de 1 a 2 kPa (quilopascal, unidade padrão de pressão); entretanto, "se a boca e o nariz estiverem fechados, a pressão pode aumentar em até 20 vezes".
"Suspeitamos que a traqueia do paciente tenha sido perfurada devido ao rápido aumento de pressão na interior da traqueia ao espirrar com o nariz comprimido e a boca fechada", disseram. "Todos devem ser orientados a não abafar os espirros apertando o nariz e mantendo a boca fechada, pois isso pode resultar em perfuração traqueal, conforme relatado aqui".
No caso, um homem de 30 anos com rinite alérgica sentiu fortes dores no pescoço imediatamente depois de um episódio em que segurou espirros. Ao sentir o incômodo, buscou a emergência hospitalar.
Um exame de tomografia computadorizada de pescoço e tórax revelou uma ruptura na traqueia de 2 mm x 2 mm x 5 mm com pneumomediastino (presença de ar no espaço existente entre os dois pulmões). 
Ele foi tratado com analgésicos para a dor e antialérgicos para a rinite.
Nenhuma intervenção cirúrgica foi indicada, pois o paciente estava sistemicamente bem. Ele permaneceu internado em observação por 48 horas, período em que não precisou de intervenções adicionais. Ao fim, recebeu alta com indicação de uso de analgésicos, tratamento prolongado para rinite alérgica e orientação para evitar atividades físicas e evitar segurar os espirros.
Cinco semanas depois, uma nova tomografia computadorizada revelou a resolução do problema, sem a ruptura na traqueia ou qualquer outra anormalidade.
https://www.osul.com.br/segurar-um-espirro-por-mais-inofensivo-que-pareca-pode-levar-a-consequencias-graves/
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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

1128 - Obsessão por batom e urina vermelha

Estudo de caso
Uma mulher de 28 anos apresentou-se à clínica de nefrologia com uma história de 5 dias de eliminação de urina de cor vermelha (Figura 1a) sem dor no flanco, disuria, rigidez ou calafrios. Ela negou qualquer história de exposição recente a medicamentos, ingestão de beterraba ou agentes corantes em alimentos. No exame, a única característica notável foi seu batom vermelho brilhante (Figura 1b). Seu hemograma, creatinina sérica, função hepática e exames de urina eram normais. Sua cultura de urina era estéril. Em outro interrogatório clínico, ela revelou que aplicava o batom 20 a 25 vezes por dia e estava achando difícil superar essa obsessão.
💄Felizmente, a paciente se recuperou completamente - depois de se abster do uso (excessivo) de batom.
Veja: Lipstick obsession and red urine, in Kidney International (o jornal oficial da sociedade internacional de nefrologia), julho de 2018, volume 94, número 1, página 223.
https://doi.org/10.1016/j.kint.2017.11.030

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

1086 - Expectoração de um molde do brônquio direito

Um homem de 36 anos foi internado na unidade de terapia intensiva com uma exacerbação aguda de insuficiência cardíaca crônica. Sua história clínica incluía insuficiência cardíaca com fração de ejeção de 20%, substituição valvular aórtica (bioprótese) para estenose aórtica bicúspide, implante de stent endovascular de aneurisma aórtico e colocação de marca-passo permanente para bloqueio cardíaco completo.
Um dispositivo de assistência ventricular foi colocado para o tratamento da agudização da insuficiência cardíaca e uma infusão contínua de heparina foi iniciada para a anticoagulação sistêmica. Durante a semana seguinte, o paciente apresentou episódios de hemoptise de pequeno volume, aumentando o desconforto respiratório e necessitando do uso de oxigênio suplementar (até 20 litros administrados por meio de uma cânula nasal de alto fluxo).
Por ocasião de uma crise intensa de tosse, o paciente expectorou espontaneamente um molde intacto da árvore brônquica direita. A árvore brônquica direita consiste de três ramos segmentares no lobo superior (setas azuis), dois ramos segmentares no lobo médio (setas brancas) e cinco ramos segmentares no lobo inferior (setas pretas).
O paciente foi subsequentemente entubado e a broncoscopia flexível revelou uma pequena quantidade de sangue nos ramos basilares do lobo inferior direito. Extubado dois dias depois, não teve mais episódios de hemoptise.
Uma semana após a extubação, ele morreu de complicações da insuficiência cardíaca (sobrecarga de volume e débito cardíaco hipossuficiente).
Cast of the right bronchial tree
N Engl J Med 2018; 379:2151
DOI: 10.1056/NEJMicm1806493
Gavitt A. Woodard, MD
 Georg M. Wieselthaler, MD 
Universidade da Califórnia, São Francisco - CA
Ver também... 
Minha resposta no blog EM a esta pergunta: Árvore em brotamento?

quinta-feira, 10 de maio de 2018

1044 - Enfisema mediastinal após orgia de sax

Para o Editor:
Recentemente, cuidamos de um homem de 24 anos, admitido no setor de emergência com sintomas de desconforto no tórax subesternal, falta de ar, dificuldade de deglutição e mudança na fala. O paciente afirmou estar bem até a noite anterior, quando passou a apresentar estes sintomas após tocar saxofone durante três horas.
Sua história médica não apresentou destaques. O paciente não era fumante e não possuía história de distúrbios respiratórios. No exame físico, foram percebidos uma crepitação no pescoço e um ruído mediastinal que variava com o ciclo cardíaco. O RX de tórax mostrou a presença de ar no pescoço e no mediastino, bem como no pericárdio. Não havia pneumotórax. Estudos de laboratório foram normais. O paciente foi internado para observação e oxigenoterapia. Seus sintomas melhoraram em dois dias, um RX de tórax subsequente foi normal, e ele recebeu alta hospitalar.
O risco de pneumonia de hipersensibilidade associada com o saxofone já foi relatado. No entanto, não encontramos relatos de barotraumas relacionados com o saxofone. Uma revisão dos problemas médicos apresentados por músicos tampouco menciona o potencial de barotrauma por outros instrumentos de sopro. Observou-se apenas que a alta pressão intratorácica provocada por oboé ou por trombeta pode prejudicar o retorno venoso. Comentários sobre barotrauma e enfisema mediastinal não mencionaram instrumentos de sopro, embora outras causas incomuns de barotrauma tenham sido relatadas.
Desejamos chamar a atenção de outros médicos para o risco potencial aparentemente associado a alguns instrumentos de sopro. Na ausência de diretrizes claras na literatura médica, fizemos algumas recomendações específicas para o nosso paciente, como a de praticar o "sax seguro" no futuro.
Richard W. Snyder, MD, Henry S. Mishel, MD, G. Chris Christensen, III, DO
Abington Pulmonary Associates, Ltd., Abington, PA 19001
N Engl J Med 1990; 323:758-759September 13, 1990DOI: 10.1056/NEJM199009133231116
8 Referências
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM199009133231116#t=article
91 - Soprando em si (pneumoparótida em tocador de tuba)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

639 - Onde há fumaça, há fogo

Deveria ter sido um assassinato perfeito. Em 1850, o conde Hyppolyte de Bocarme e sua esposa, a condessa Lydie, planejaram matar um rico irmão dela. Sua arma: a nicotina. Mas o plano era mais sutil do que fornecer-lhe cigarros e esperar que ele ficasse com enfisema pulmonar.
Nicotina é um alcaloide vegetal espetacularmente letal. A ingestão de menos de 30 miligramas de nicotina pura mata um ser humano adulto. E, para um assassinato, a droga parecia ser o veneno certo, pois os cientistas, em meados do século 19, não sabiam como detetar venenos de plantas em cadáveres.
Trabalhando em sua propriedade no sul da Bélgica, onde possuía um laboratório, o conde dizia a todos que misturava perfumes. Na realidade, ele estava a extrair nicotina de folhas de tabaco.
Quando o irmão rico da condessa veio visitá-los, o conde e sua esposa serviram-lhe um jantar envenenado e atribuíram sua morte, que aconteceu logo depois, a um acidente vascular cerebral. Mas os servos, lembrando-se dos estranhos experimentos do conde no laboratório, desconfiaram que algo estava errado. Entraram em contato com a polícia, que, por sua vez, contatou Jean Servais Stas, o melhor químico da Bélgica.
Stas, cujo trabalho sobre pesos atômicos foi essencial para a criação da tabela periódica, aceitou o desafio. Ele passou três meses à procura de uma maneira de extrair a nicotina de tecidos mortos. Finalmente, ele descobriu a mistura exata de ácidos e solventes para detetar a substância letal.
Os resultados obtidos pelo químico selaram o caso. E o conde foi condenado à guilhotina. A condessa, alegando que tinha sido forçada a participar da trama, escapou da condenação.
Hoje, o crime que eles cometeram ainda é lembrado por estudiosos forenses, embora ali mesmo terminasse o uso da nicotina como arma de um crime perfeito.
Extraído de 4 Toxic Moments in History, Neatorama

sábado, 21 de junho de 2014

629 - Gelatina explosiva confeitada

Gelignite, ou gelatina explosiva, é uma mistura de nitroglicerina, algodão e uma substância combustível como polpa de madeira. Assemelha-se a dinamite (também inventado por Alfred Nobel), mas pode ser facilmente moldada com as mãos nuas. Um cartucho de gelignite da Segunda Guerra Mundial foi encontrado em 2012, em Kalbarri, Australia.
A 6 de outubro de 1904, o Roussky Vratch (Русский врач , ou "Doutor russo", um jornal que ainda hoje existe) relatou o caso de uma jovem, em Kavalieroff, que "encontrando um cartucho com essa substância, comeu-o, tomando-o por um produto de confeitaria".
Os sintomas eram os de envenenamento com nitroglicerina, nitrito de amila etc. E a dose de nitroglicerina tomada pela paciente fora de seis mil vezes a dose terapêutica.
Apesar dos receios, ela não explodiu até seis semanas depois. quando já haviam expirados os efeitos do veneno.
Em vista do fato de que a gelatina explosiva emite vapores de ácido nitroso, quando em decomposição, o seu estômago foi lavado com uma solução de bicarbonato de sódio. Uma dose de óleo de rícino foi administrada por sonda gástrica, e a paciente recebeu injeções subcutâneas de cafeína, benzoato de sódio, e ergotina, além de café per os.
Ela teve uma evacuação abundante e se recuperou rapidamente.
Podemos encontrar relatos posteriores de russos que confundiram explosivos à base de nitroglicerina com doces, havendo rumores de que o ministério imperial de minas tenha mudado a formulação da gelignite para ser menos apetitosa.
The dangers of delicious dynamite, Improbable Research

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

577 - Um câncer curado por um raio

Reuben Stephenson, lavrador em Langtoft, Inglaterra, foi atingido no campo por um raio. A descarga elétrica deixou-o muito ferido e dois cavalos seus foram mortos no local.
Após o acidente, o médico Dr. Allison, de Birdlington, que participou do atendimento, descobriu que o lavrador sofria de uma lesão maligna no lábio.
Quando o Sr. Stephenson tinha-se recuperado suficientemente dos efeitos do raio, um acordo foi firmado para a remoção cirúrgica do câncer. Mas, por estranho que pareça, justamente quando a operação estava para ser realizada, uma inspeção feita momentos antes evidenciou que um processo de cura se iniciara na lesão cancerosa.
A operação foi suspensa e, num tempo razoável, o homem ficou completamente curado da lesão.
Lancet, 1855. Citado por Paul Fitzsimmons em A Collection of Remarkable Cases in Surgery, 1857.
N. do E.
Um relato de caso tem baixo nível de evidência científica (nível 4, segundo o Oxford Centre for Evidence-based Medicine).