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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

348 - Sobre o nervo laríngeo

Este nervo é uma das ramificações de um nervo craniano que provém diretamente do cérebro, o vago. Em ambos os lados do pescoço, um dos ramos do nervo laríngeo dirige-se à laringe, seguindo um percurso direto tal como seria escolhido por um projetista. O outro, no entanto, dirige-se à laringe, mas realiza um desvio surpreendente. Mergulha no tórax, circunda uma das principais artérias que sai do coração (1) e depois regressa ao pescoço para terminar a viagem. (2)
Como resultado de um projeto este nervo (recorrente) seria um disparate. Do ponto de vista de evolutivo faz todo o sentido. Para compreender isto temos de recuar ao tempo em que os nossos antepassados eram peixes. Os embriões humanos com cinco semanas assemelham-se a peixes com brânquias.
Num embrião humano com vinte e seis dias veremos que o abastecimento sanguíneo às "brânquias" se assemelha fortemente ao abastecimento sanguíneo às brânquias de um peixe. Estas ramificações procuram os seus órgãos-alvo, as brânquias, pelo caminho mais direto e lógico. Durante a evolução dos mamíferos, contudo, o pescoço cresceu (os peixes não o têm) e as brânquias desapareceram, transformando-se em tiróide, paratiróide e laringe. Estes órgãos herdaram o abastecimento que outrora servia às brânquias.
Durante a evolução dos mamíferos os nervos e vasos sanguíneos foram puxados e esticados em direções diversas. No tubarão, esse nervo laríngeo não apresenta desvio, já na girafa (que melhor exemplo se poderia arranjar para esta situação?!), este nervo tem um desvio de 4,5 metros. (3) Em sua jornada descendente, o nervo passa perto da laringe, que é o seu destino final. Todavia continua para baixo, percorrendo todo o pescoço antes de inverter o sentido e fazer o caminho de volta até esta. Isto exemplifica à perfeição como os seres vivos estão longe de terem sido bem projetados e refuta consistentemente a ideia de um "projeto inteligente".

Fonte: "O espectáculo da vida", Richard Dawkins. Via Biogeonorte
Notas do Editor
(1) O laríngeo esquerdo passa por baixo da crossa da aorta; o direito circunda a subclávia direita.
(2) A lesão deste nervo por uma patologia endotorácica (tumor, aneurisma etc.) no ser humano, ou por uma cirurgia para removê-la, causa a paralisia da corda vocal correspondente. Se for bilateral, causa asfixia.
(3) Mais de quatro metros para chegar a um local a poucos centímetros da origem do nervo. Um engenheiro que projetasse algo assim seria despedido por justa causa!

Vídeo. Richard Dawkins na necropsia de uma girafa


21/12/2012 - Atualizando...
Neuronas gigantescas, Antonio Orbe, ALT1040

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

347 - Capsaicina

Supostamente, os seres humanos foram feitos para evitar a pimenta. A fruta contém uma substância irritante chamado capsaicina. É tão ativa que um miligrama da substância, colocada na palma de uma mão, queima como um cigarro aceso, causando uma dor que dura horas.

capsaicina
A planta evoluiu esse mecanismo de defesa porque as suas sementes são destruídas no aparelho digestivo dos mamíferos. E a capsaicina foi a forma que a planta encontrou para afastá-los.
No entanto, as sementes da pimenta Chili sobrevivem ao serem comidas pelas aves, que não têm receptores para sentir a capsaicina. É como se a planta "desejasse" que suas frutas fossem comidas pelas aves, as quais são excelentes veículos para sua propagação.
Diferentemente da maioria dos mamíferos, os seres humanos desfrutam da ardência da capsaicina em sua alimentação.
Agora, há outra razão para apreciá-la além de sua forte emoção culinária: a capsaicina consegue neutralizar localmente os neurônios que enviam sinais de dor ao cérebro.
Este princípio está sendo explorado na fabricação de patches (adesivos transdérmicos) para o tratamento da dor de origem neuropática (*).


(*) Exemplos: nevralgia pós-herpética, polineuropatia pelo HIV, neuropatia diabética, lesão traumática de nervo etc.

N. do E.
1 - No Brasil, a capsaicina é comercializada sob as formas de cremes e loção.
2 - Nenhum organismo rearquiteta a si próprio. Evolui através de alguma mutação AO ACASO que é passada a seus descendentes. Se esta mutação traz alguma vantagem, com relação aos demais da espécie, estes descendentes tenderão a predominar no meio competitivo em que vivem.
Isso acontece em todo momento: no mundo dos microrganismos, por exemplo. Cepas resistentes de bactérias a antibióticos passam a ocupar cada vez mais o espaço das cepas sensíveis. Vírus aviários e suínos sofrem mutações, tornando-se infectantes ao hospedeiro humano a ponto de provocar pandemias.
No presente caso: sementes destruídas em tudo digestivo de mamíferos "não interessam" a plantas que produzem capsaicina; sementes preservadas em tubo digestivo de aves (melhores veículos de propagação, por sinal) "interessam".
"Interessam" e "não interessam" - aqui escritos entre aspas - por serem modelos que não dependem da volição das plantas. PGCS