segunda-feira, 18 de outubro de 2021

1226 - Estranha profissão é a de médico!

O pintor e ilustrador britânico Samuel Luke Fildes (1843 - 1927) perdeu seu primeiro filho, Philip, acometido de febre tifóide, no Natal de 1877. O desvelo do médico que o assistiu deixou em sua memória uma imagem de devoção profissional que inspirou, em 1891, o quadro "The Doctor", ora em pauta. Nela, provavelmente, Samuel retrata seu próprio drama pessoal e homenageia o Dr. Murray que assistiu, impotente, seu filho no leito de morte.
No centro do quadro, em primeiro plano, a luz de um lampião sobre uma mesa ilumina um médico contemplativo e uma criança gravemente enferma, acomodada sobre duas cadeiras. Pela janela da humilde casa, adentram os primeiros raios de sol iluminando o lado esquerdo da face do pai, que repousa a mão nas costas de sua esposa para apoiá-la e confortá-la no momento dramático. A luz ilumina a mãe debruçada em uma mesa revelando seu profundo sofrimento com a grave doença da filha.
Os utensílios sobre os móveis, indicando a preparação de medicamentos, mostram que o médico passou a madrugada ao lado da criança pálida, fraca, largada, gravemente enferma, tentando, em vão, uma terapia eficaz. É impossível apreciar o quadro sem sentir forte emoção diante da força do olhar do médico sobre a pequena paciente e do olhar do pai, colocando suas esperanças no médico.
Trata-se de uma das representações mais tocantes e icônicas da medicina. Em 1892, um professor de medicina escreveu, no British Medical Journal:
"Uma biblioteca de livros feitos em nossa honra não faria o que esta pintura tem feito e fará pela profissão médica, ao tornar os corações de nossos semelhantes aquecidos com confiança e afeto por nós."
Extraído de: "Apreciação Crítica da Obra 'The Doctor' de Luke Fildes", por Dra. Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg, médica e historiadora da Sobrames Ceará e da Academia Cearense de Medicina. Publicada originalmente no Jornal do Médico Digital, de 18 a 23 de outubro de 2020.

O Médico
Dele se pede toda a sensibilidade que um ser humano pode abrigar. Para que entenda a linguagem da dor, da angústia, do medo, da desesperança e do sofrimento.Para que fale com a alma de seus pacientes. Para que transforme tênues fímbrias de esperança no lenho ardente da vontade de viver. De pessoa assim tão rica de sentimentos se pede, paradoxalmente, o mais frio domínio das emoções. Para que um franzir de cenhos ou um arquear de boca não semeiem, no espírito do paciente, dúvidas e opressões. Para que o tremer da mão não imprima, ao bisturi, o erro milimétrico que separa a vida da morte. Para que o marejar dos olhos não o prive da clareza meridiana que se pede ao diagnosticista. Para que o embargo da voz não roube credulidade à sua mensagem de fé.
SEMPRE ME PARECEU DIFÍCIL REUNIR, NUM MESMO INDIVÍDUO, TÃO NOBRE TEXTURA E TÃO RUDE COURAÇA.
Pronunciamento do Dr MARIO RIGATTO na AULA DA SAUDADE da minha turma MEDICINA 74 no Centro de Convenções e publicado em seu livro MÉDICOS e SOCIEDADE. ~ Dra. Ana Nocrato

3 comentários:

Adail disse...

Paulo. Procurava dados de Mário RIGATTO pois passei a só usar gravata borboleta e queria mostrar a minha neta o mestre inspirador e achei seu blog. Saudações cordiais. Adail

Paulo Gurgel disse...

Mario Rigatto e o Estilo
"Gosto de vestir bem. Acho que uma pessoa bem vestida faz bem a si própria e aos outros. Mantenho-me atento à moda. Não para segui-la. Mas para evitá-la. Acho que a moda é um desrespeito a um dos maiores esforços do criador – o de não fazer nada igual no mundo: não há duas faces iguais na espécie humana, não há dois pelos iguais num rebanho, não há duas folhas iguais numa árvore, não há duas penas iguais numa ave, não há duas impressões digitais iguais nos sessenta bilhões de dedos que habitam o planeta; ninguém tem as duas metades do rosto idênticas, ninguém tem os dois pés iguais. Nada é igual. O criador usou um número fantástico de combinações genéticas para evitar repetições. A moda é a consagração da mesmice, a anulação do singular, a sufocação da criatividade: todos vestidos na mesma cor e com a mesma linha fundamental de corte. Como no Exército. A moda é tão aplastadora da individualidade que é precisa estar de olho nela. Não só para não ser por ela dominado. Também para que a gente dela não se desvie a ponto de chegar às raias do ridículo. Um pouco fora da moda, me parece o ideal. O risco que comigo correm as centenas de gravatas-borboletas que possuo é o de que elas, um dia, virem moda. Se virarem, virarão museu."
Um abraço, Adail.

Anônimo disse...

Bela postagem, Paulo. Parabéns!
Abraço
Ana margarida rosemberg