segunda-feira, 13 de agosto de 2012

406 - SAMU: o pioneirismo do Ceará

A propósito da nota 403 - SAMU 192, aqui postada em 04/08, recebo do colega Winston Graça um relato bem circunstanciado do processo de criação do primeiro SAMU no Brasil. Deu-se em Fortaleza, Ceará, a partir de 1988, quando se iniciaram os trabalhos do Grupo de Coordenação do Sistema de Emergência Médica Pré-Hospitalar, do qual Winston tomou parte. Aqui implantado, o sistema serviria de modelo para a criação dos serviços de emergência pré-hospitalar que existem em muitos municípios brasileiros. PGCS
Paulo,
Você cometeu o mesmo pecado de todo cearense, melhor dizendo, de todo brasileiro: a falta de memória histórica dos fatos e acontecimentos relevantes, apegando-se às notícias mais recentes que emanam da mídia bairrista do sul-maravilha! Digo isso porque alguém tem de contar a verdadeira história dos serviços de urgências no Brasil. E o fio da meada dos serviços de urgência pré-hospitalar, exatamente nos moldes americanos e europeus à época, e exatamente nos moldes copiados pelos SAMU’s brasileiros, tiveram início no Ceará, mais precisamente na SESA-CE sob a regência do secretário à época, Dr. Marcos Penaforte, utilizando uma seleção de escol do pessoal do Corpo de Bombeiros. O que o Sr. Humberto da Costa fez foi nada mais, nada menos do que adaptar, em nível nacional, e passar para os municípios essa prestação de serviços de saúde, delegando aos militares apenas as missões de socorro pré-hospitalar para determinadas situações tais como: grandes desastres, naturais ou não, ou situações de aprisionamento em veículos. Eu fiz parte do projeto de criação, treinamento de pessoal, instalação e inauguração desse serviço (que também atendia pelo primeiro número 192 implantado no Ceará), juntamente com os médicos Júlio César Penaforte, Marcus Davis, Carlos Brás, um médico português que era professar visitante da UFC, uma enfermeira da UFC (não lembro o nome preciso), um médico americano e dois paramédicos também americanos, na fase de treinamento prático da tropa de escol que agiria como paramédicos, sob a regência do então comandante dos Bombeiros, o Cel. Duarte da Frota que também participou ativamente do curso de 1 ano e dos treinamentos práticos de rua. Esse convênio doou 1 tonelada de materiais e equipamentos para socorro de urgência pré-hospitalar que aportou no P.Martins em um avião Jumbo lotado! O projeto nos tomou 1 ano de planejamento, 1 ano de curso e 1 ano de treinamento prático sob a batuta dos americanos que faziam parte de um convênio da Universidade de Michigan com a UFC. A inauguração, foi realizada sem grandes alardes (infelizmente) no apagar das luzes do governo Tasso Jereissati. Após a inauguração fomos mostrar nosso projeto, já funcionando, ao governo do Rio de Janeiro, no auditório do Conselho Federal de Medicina, em Botafogo, onde fiz uma apresentação em Power-Point de 2 horas de duração, seguida de discussões e perguntas da plateia, lotada de médicos, autoridades e militares; babaram (e devem ter pensado: “no Ceará tem disso, sim?”) e dois anos após, inauguraram o 192 carioca e logo a seguir, o paulista, que teve manchete em todos os grandes jornais e revistas nacionais. Em 1990, publiquei um resumo e etapas desse projeto na revista RECCS, do C.C.S da Unifor, sob o título: “Urgência pré-hospitalar no Ceará – um projeto pioneiro”. Em 2004 Humberto Costa municipalizou esse serviço com o nome de SAMU e excluiu os militares do front. Seria muito importante que voce lesse (e passasse adiante) o arquivo .doc, em anexo, escrito pelo Cel. Duarte para o site do Corpo de Bombeiros Sapadores do Ceará. Um grande abraço,
Winston Graça
O Grupo de Socorro de Urgências do Ceará e sua história

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