quinta-feira, 16 de julho de 2020

1158 - Astrologia médica

Carlos Orsi *
A despeito da migração milenar do foco de interesse da astrologia, do coletivo para o individual, a ideia de ligação entre estrelas e desastres coletivos seguiu firme na consciência popular. O nome "oficial" da gripe, influenza (literalmente, “influência”), por exemplo, vem de uma epidemia da doença que começou na Itália em 1743 e que, segundo diversas fontes, foi considerada uma "influência dos astros" (o linguista Deonísio da Silva registra uma derivação diferente, influenza della stagione, "influência da estação", no caso, o inverno).
A "Encyclopedia of Medical Astrology" ("Enciclopédia de Astrologia Médica"), publicada nos Estados Unidos em 1933, tem verbetes para "pandemias" ("causadas por um máximo de influência planetária, por exemplo uma conjunção de vários planetas superiores num signo do ar") e "epidemias" ("causadas pelos planetas maiores em periélio, especialmente Saturno e Júpiter, e também por Marte em perigeu"). E avisa: "Pessoas nascidas sob o signo de Escorpião são muito suscetíveis a epidemias".
A astrologia médica atingiu um alto grau de sofisticação — e com isso, quero dizer requinte retórico e imaginação poética, nada a ver com eficácia ou relação com a realidade — entre a Idade Média e o Renascimento.
 Por meio de uma teia de correspondências mitológicas e metafóricas ligando partes do corpo humano aos quatro elementos clássicos da cultura greco-romana (terra, fogo, água e ar), aos planetas, ao Zodíaco e a animais, plantas e minerais, o médico chegava a diagnósticos e receitas. O guia de ervas medicinais publicado na Inglaterra por Nicholas Culpeper (1616-1654) , por exemplo, diz o seguinte sobre a margarida: "Esta erva é do signo de Câncer, e sob a regência de Vênus, e portanto é excelente para feridas no peito".
* Carlos Orsi é jornalista e editor-chefe da Revista Questão de Ciência, onde pode ser lido a íntegra do artigo.

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