quinta-feira, 26 de maio de 2022

1257 - Dados! Dados! Dados!

Sir Arthur Conan Doyle (22 de maio de 1859 - 7 de julho de 1930), escritor e médico escocês.
Ele foi um firme defensor da vacinação compulsória e escreveu vários artigos defendendo a prática. Seu detetive fictício, Sherlock Holmes, emula o cientista que pesquisa diligentemente os dados.
"É um erro capital teorizar antes de você ter todas as evidências. Isso influencia o julgamento." ("Um Estudo em Vermelho", 1887)
"Eu nunca adivinho. É um hábito chocante - destrutivo para a faculdade lógica." ("O Sinal dos Quatro",1890) 
"Uma vez eliminado o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade." ("Escândalo na Boêmia", 1891)
"Você vê, mas não observa. A distinção é clara." ("Escândalo na Boêmia", 1891) 
"Ainda não tenho dados. É um erro crasso formular teorias antes de se obter dados. Insensivelmente, começa-se a distorcer os fatos para atender às teorias, em vez de criar teorias para atender aos fatos." ("Escândalo na Boêmia", 1891)
"Dados! Dados! Dados!" ele gritou impaciente. "Eu não posso fazer tijolos sem barro." ("As Faias Cor de Cobre",1892)
Tradução: PGCS

quinta-feira, 19 de maio de 2022

1256 - A natureza probabilística da Medicina

Em Medicina, existe uma limitação poucas vezes confessada em consultório (porque isso quase que invariavelmente se traduz em demonstração de fraqueza): é que esse é um ofício de incerteza.
Neste fio, eu discorro sobre a natureza probabilística da Medicina. - José Alencar

A Medicina é uma ciência da incerteza porque:
1. Trabalhamos com incerteza na interpretação de exames
2. Trabalhamos com incerteza na interpretação da resposta dos pacientes às terapias
Vou explicar ambas.

1. Incerteza na interpretação de exames:
Nas mãos de um médico minimamente bem formado, a interpretação de um exame não é “positivo x negativo”, mas “verdadeiro x falso positivo, verdadeiro x falso negativo”.
Só isso já acrescenta uma camada de dificuldade maior à profissão.

Mas há outra camada ainda mais profunda: a maioria dos médicos acredita que “sensibilidade” e “especificidade”, duas características presentes em todos os testes da Medicina, são úteis para a interpretação de exames.

O problema disso é que, ao usar esses parâmetros, o médico não leva em consideração a clínica do paciente. É que, como expliquei diversas vezes, a interpretação de qualquer exame OBRIGATORIAMENTE tem que partir da probabilidade clínica da doença.

É literalmente impossível avaliar exames de outra forma que não seja essa. O que significa que “bateria de exames”, “check-ups”, exames solicitados antes da consulta, exames solicitados pelo paciente...
Tudo isso funciona muito pouco ou nada. Lamento ser eu a te dizer isso.

E uma limitação real da Medicina (e não do método) é que às vezes o médico simplesmente desconhece uma variável da fórmula: a probabilidade pré-teste.
De novo: essa é uma limitação da vida, não do método.
Não se justifica usar o método errado porque a vida te impõe um problema.

2. Incerteza na interpretação da resposta a tratamentos:
Na vida real, dificilmente pode-se dizer que houve cura de um paciente.
- A mortalidade de um infarto sem aspirina e sem reperfusão é de 13% e com eles é de 8%. Como saber se um sobrevivente não é um daqueles 87%?

- No NINDS 2, sem medicação, 39% dos pacientes com AVC melhoraram. Com medicação, 47%.
Se um paciente fica sem sequelas, como afirmar que foi o trombolítico que levou a esse desfecho e o paciente não seria um dos 39% que já ficaria bem?

- A probabilidade de morrer por coronavírus tem sido de 2,8% (no Brasil). Se alguém tomou ivermectina/cloroquina/qualquer bizarrice e se curou, como afirmar que foi a bizarrice que lhe curou? Como afirmar que ele não seria um dos 97,2% que sobrevivem?

A única forma de saber isso é com estudos científicos, como o dois primeiros exemplos em que se comprova que há uma REDUÇÃO DE PROBABILIDADES quando se usa o remédio.
Medicina de verdade é isso: uma arte das probabilidades.

A medicina é a ciência da incerteza e a arte da probabilidade.
A variabilidade é a lei da vida, e como duas faces não são iguais, não há dois corpos iguais e dois indivíduos não reagem e se comportam da mesma forma sob as condições anormais que conhecemos como doença.
Quanto maior a ignorância, maior o dogmatismo.
A dúvida é o travesseiro do médico.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

1255 - O perigo do sistema de sucção de uma piscina

Uma criança não deve se aproximar de um orifício de sucção de uma piscina, especialmente em uma grande piscina coletiva onde a bomba de sucção costuma ser potente.
Se um dreno não tiver uma grade de proteção, por exemplo, é um perigo potencial.
A criança pode ficar presa debaixo d'água, sugadas pelos buracos. Sem falar nos casos, felizmente muito raros, de crianças que sentaram em bueiros e foram evisceradas pelo ânus.
Os cabelos compridos também podem ser sugados por esses sistemas de sucção, como no caso mostrado neste vídeo.

Os mesmos perigos também existem em banheiras de hidromassagem.
Portanto, é necessário ensinar as crianças a ter cuidado com esses sistemas de sucção que, muitas vezes, podem parecer divertidos. E sempre ficar de olho nelas, é claro.
Arquivo
208 - Escalpelamentos na Amazônia
541 - Campanha Nacional de Combate ao Escalpelamento
1141 - Escalpelamento pelo kart

quinta-feira, 5 de maio de 2022

1254 - Dispositivo "worm-on-a-chip" na detecção precoce do câncer de pulmão

SAN DIEGO, 20 de março de 2022 – Os cães podem usar seu incrível olfato para farejar várias formas de câncer na respiração humana, sangue e amostras de urina. Da mesma forma, no laboratório, um organismo muito mais simples, o verme C. elegans, abre caminho em direção às células cancerígenas seguindo um rastro de odor. Hoje, os cientistas apresentam um dispositivo que usa os minúsculos vermes para detectar células de câncer de pulmão. Esse "worm-on-a-chip" pode um dia ajudar os médicos a diagnosticar o câncer de forma não invasiva em um estágio inicial.
O diagnóstico precoce do câncer é fundamental para o tratamento eficaz e a sobrevivência, diz Nari Jang, estudante de pós-graduação que trabalhou no projeto. Portanto, os métodos de rastreamento do câncer devem ser rápidos, fáceis, econômicos e não invasivos. Atualmente, os médicos diagnosticam o câncer de pulmão por exames de imagem ou biópsias, mas esses métodos geralmente não conseguem detectar tumores em seus estágios iniciais. Embora os cães possam ser treinados para farejar câncer humano, eles não são práticos para manter em laboratórios.
Então, Jang e Shin Sik Choi, Ph.D., investigadores principais do projeto, decidiram usar esses vermes nematóides com ~ 1 mm de comprimento, fáceis de cultivar em laboratório e que têm um olfato extraordinário, para desenvolver um teste de diagnóstico de câncer não invasivo.
"As células de câncer de pulmão produzem um conjunto de moléculas de odor diferente do das células normais", diz Choi, da Universidade de Myongji, na Coréia. "É bem conhecido que o nematóide do solo, C. elegans, é atraído ou repelido por certos odores, então tivemos a ideia de que este poderia ser usado para detectar câncer de pulmão". Os pesquisadores colocaram nematóides em placas de Petri e adicionaram gotas de urina humana, observando que os vermes rastejavam preferencialmente em direção a amostras de urina de pacientes com câncer.
Jang e Choi queriam fazer um teste preciso e fácil de medir. Então, a equipe fez um chip de elastômero de polidimetilsiloxano que tinha uma câmara em cada extremidade conectado por canais a uma câmara central. Os pesquisadores colocaram o chip em uma placa de ágar. Em uma extremidade do chip, eles adicionaram uma gota de meio de cultura de células de câncer de pulmão e, na outra extremidade, adicionaram um meio de cultura de fibroblastos pulmonares normais como controle. Em seguida,  colocaram vermes na câmara central e, depois de uma hora, observaram que mais vermes haviam rastejado em direção ao meio de câncer de pulmão do que ao meio de controle.
Com base nesses testes, os pesquisadores estimaram que o dispositivo era cerca de 70% eficaz na detecção de células cancerosas em meio de cultura celular diluído. Eles esperam aumentar a precisão e a sensibilidade do método usando vermes que foram previamente expostos a meio de células cancerígenas e, portanto, têm uma "memória" das moléculas de odor específicas do câncer. Uma vez que a equipe otimizou o "worm-on-a-chip" para detectar células de câncer de pulmão em cultura, eles planejam passar a testar urina, saliva ou até mesmo respiração exalada de pessoas.
Em outros estudos usando o "worm-on-a-chip", os pesquisadores identificaram as moléculas odoríferas específicas que atraem o C. elegans para células de câncer de pulmão, incluindo um composto orgânico volátil chamado 2-etil-1-hexanol, que tem um aroma floral. "Não sabemos por que C. elegans são atraídos por tecidos de câncer de pulmão ou 2-etil-1-hexanol, mas achamos que os odores são semelhantes aos aromas de seus alimentos favoritos", diz Jang.
Fonte: American Chemical Society