quinta-feira, 26 de setembro de 2019

1116 - Ouvido de tuberculoso

Ter ouvido de tuberculoso é um ditado popular muito comum no Brasil, (1) usado para se referir a alguém que escuta muito bem, ou seja, que tem uma audição bastante apurada.
Ao contrário do que muitos pensam, a tuberculose não aumenta a audição dos doentes, mas pode fazer o contrário. Em alguns casos, como a meningite tuberculosa, a pessoa corre o risco de perder a capacidade de ouvir. (2)
Origem da expressão "ouvido de tuberculoso"
Existem duas prováveis origens para a expressão ouvido de tuberculoso, sendo que ambas datam da primeira metade do século XX (por volta da década de 1940). Pelo fato de a tuberculose ser uma doença letal e muito contagiosa, por vários anos os seus portadores buscavam o sigilo absoluto sobre o assunto. (3) Por receio de ouvir comentários suspeitos de pessoas próximas, criou-se a ideia de que os tuberculosos estão sempre atentos aos cochichos e conversas alheias.
Por este motivo é comum falar que os fofoqueiros - pessoas intrometidas e que ficam constantemente atentas às conversas das outras pessoas - têm ouvido de tuberculoso.
Outra explicação para a origem desta expressão popular é que antigamente, devido a pouca eficácia dos tratamentos para a doença, os tuberculosos eram isolados, seja em casa ou nos sanatórios. Por este motivo, acabavam por estar em locais mais silenciosos e sossegados, ou seja, sem muito barulho. Assim, estavam sempre atentos aos mais ínfimos ruídos.
N. do E.
(1) Estranho. Atuando como tisiopneumologista há 48 anos eu nunca testemunhei alguém utilizar-se desta expressão ou ditado.
(2) Além de ser uma das sequelas da meningite tuberculosa, a perda ou diminuição da audição poderia ser causada pelo uso prolongado da estreptomicina. Injeções diárias deste antibiótico (que pode ocasionar a surdez por seus efeitos ototóxicos) eram aplicadas por três meses em pacientes tuberculosos que seguiam o esquema SM+INH+PAS.
(3) A propósito, ler: O CHIQUINHO DA CADEIA NA VIDA DO COMPOSITOR LAURO MAIA.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

1115 - Everest, a prova física dos pulmões

As imagens dos engarrafanentos dos alpinistas - ou deveriam ser chamados de turistas? - a poucos metros do cume do Everest já foram suficientemente divulgadas pelo mundo. Os onze mortos em uma recente temporada, juntamente com os controles frouxos sobre os que praticam essa escalada extrema, nos lembram que subir essa montanha significa atingir o limite, não apenas da sobrevivência, mas do razoável.
O corpo no limite
Ao extraordinário esforço de subir a encosta de uma montanha acidentada, precisamos acrescentar as condições ambientais que afetarão o funcionamento do nosso corpo.
A mais de 5.000 metros, a atmosfera que nos protege é extremamente fina. A pressão atmosférica no topo é reduzida para menos de um terço daquela que teríamos ao nível do mar. A temperatura pode estar em torno de -20 ° C e cair para -60 ° C. Ao frio e à pressão muito baixa, acrescentem-se ainda a redução do oxigênio, a baixa umidade e o vento. As condições de sobrevivência são terríveis. Tudo isso sem considerar o risco de uma queda onde o resgate pode ser impossível.
Acima de 8.000 metros, portanto, estaremos na "zona da morte".
O ar em contato com o sangue
Respirar é um processo muito preciso que envolve uma série de princípios físicos fundamentais. O ar deve estar quase em contato direto com o sangue para que o oxigênio entre e o dióxido de carbono saia. Isso ocorre nos pulmões, em estruturas muito pequenas chamadas alvéolos. Suas paredes devem ser muito finas, mas ao mesmo tempo rígidas o suficiente para manter sua forma durante a respiração.
Isso é conseguido pelo corpo humano através do surfactante pulmonar, um complexo de lipídios e proteínas cuja síntese é essencial para evitar o colapso dos alvéolos. Ao nascer, por exemplo, um bebê prematuro não será capaz de produzi-lo em quantidade suficiente, o que dificulta a respiração e obriga os profissionais de saúde a intervir.
Além disso, para o suprimento adequado de oxigênio às células, é necessária uma grande quantidade de minúsculos transportadores no sangue, os glóbulos vermelhos, para transpotá-lo aos pulmões. O organismo, naturalmente, aumenta o número de glóbulos vermelhos no sangue de quem vive em local de altitude elevada para compensar a deficiência de oxigênio no ambiente. Daí o treinamento de atletas profissionais em locais montanhosos e a permanência de alpinistas em campos de base com altitudes crescentes ao escalar.
A redução de oxigênio nos tecidos (hipóxia tecidual) estimula a produção de um hormônio no rim, a eritropoietina, que favorece a formação de glóbulos vermelhos.
Por outro lado, para que o ar entre nos pulmões, estes devem criar uma pressão interna negativa. É o que precisamos fazer, por exemplo, quando chupamos um canudinho para que o refrigerante suba através dele. Se a pressão do ar externo for muito baixa, será muito mais difícil reduzir a pressão dentro dos pulmões para forçar a entrada de ar.
As pressões dos gases dissolvidos no sangue devem atender a condições precisas para que todo o processo funcione bem. Ao nível do mar, o sangue contém oxigênio a uma pressão três vezes maior do que poderíamos ter no Everest. Neste último, o aporte de oxigênio feito pelos pulmões torna-se muito menor, o que pode levar nosso corpo a uma situação de hipóxia, uma deficiência de oxigênio no sangue que afetará drasticamente as funções de nossas células.
A menor pressão atmosférica com a consequente menor disponibilidade de oxigênio não serão os únicos fatores que levarão o corpo do alpinista ao limite da sobrevivência. Excesso de esforços físicos, temperatura muito baixa e diminuição da umidade atmosférica também exercerão efeitos adversos sobre o corpo. [...]
El Everest, un turismo que pone a prueba la física de nuestros pulmones, Grandes Medíos
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Superlotação no pico do Everest, Blog EM

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

1114 - Oscar, o gato que previa mortes

Oscar era um gato que vivia no Centro de Enfermagem e Reabilitação Steere House, em Providence, Rhode Island, EUA.
Ele chamou a atenção do público em 2007, quando foi apresentado em um artigo pelo geriatra David Dosa, no New England Journal of Medicine (JAMA). Oscar parecia ter um talento incomum para prever quando os pacientes do lar de idosos morreriam, enroscando-se ao lado deles durante suas horas finais.
Sua precisão, observada em 25 casos, levou a equipe do Centro a ligar para os membros das famílias daqueles que o gato Oscar escolhia. Isso geralmente significava que eles teriam menos de quatro horas de vida.
Hipóteses para essa habilidade incluem:
  • o gato responder a odores liberados por quem está prestes a morrer;
  • ser um comportamento aprendido ao perceber a quietude e a falta de movimento no quarto;
  • não ter a capacidade de prever a morte de pessoas, tratando-se de mais um caso de viés de confirmação.
O viés de confirmação é a tendência de buscar, interpretar, favorecer e recordar informações de modo a confirmar suas crenças ou hipóteses pré-existentes. É um tipo de viés cognitivo e um erro sistemático do raciocínio indutivo . As pessoas exibem esse viés quando se reúnem ou se lembram de informações seletivamente ou quando as interpretam de maneira parcial . O efeito é mais forte para questões emocionalmente carregadas e para crenças profundamente arraigadas. WIKIPÉDIA
De acordo com o Dr. David Dosa (que, em 2010, ainda escreveu um livro sobre o assunto), muitos membros da família se consolavam com a atitude de Oscar. Eles apreciavam o companheirismo do gato a um ente querido que estava morrendo.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

1113 - Alerta sobre o Álcool

"É interessante que a espécie humana tenha uma reserva da enzima necessária para tornar o álcool inofensivo ao corpo - como se a natureza nos fizesse para beber álcool. Ao contrário dos animais, para os quais o álcool é um veneno".
- BUPA News, 1982, citado por Richard Gordon, Great Medical Mysteries, 2014

Metabolismo do Álcool: Uma Atualização


Beber pesadamente coloca as pessoas em risco de muitas consequências adversas à saúde, incluindo alcoolismo, danos ao fígado e vários tipos de câncer. Mas algumas pessoas parecem estar em maior risco do que outras para desenvolver esses problemas. Por que algumas pessoas bebem mais que outras? E por que algumas pessoas que bebem desenvolvem problemas, enquanto outras não?
Pesquisas mostram que o uso de álcool e problemas relacionados ao álcool são influenciados por variações individuais no metabolismo do álcool, ou a maneira pela qual o álcool é quebrado e eliminado pelo corpo. O metabolismo do álcool é controlado por fatores genéticos, como variações nas enzimas que destroem o álcool; e fatores ambientais, como a quantidade de álcool que um indivíduo consome e sua nutrição geral. Diferenças no metabolismo do álcool podem colocar algumas pessoas em maior risco de problemas com álcool, enquanto outras podem estar pelo menos um pouco protegidas dos efeitos nocivos do álcool.
Este Alerta sobre o Álcool descreve o processo básico envolvido na quebra do álcool, incluindo como subprodutos tóxicos do metabolismo do álcool podem levar a problemas como doença hepática alcoólica, câncer e pancreatite. Este Alerta também descreve populações que podem estar em risco particular de problemas resultantes do metabolismo do álcool, bem como pessoas que podem ser geneticamente "protegidas" desses efeitos adversos.