Celina Côrte Pinheiro, médica traumatologista e ortopedista
Presidente da Sobrames - Regional Ceará
Como pedestre, sinto agudamente a rudeza do trânsito nesta cidade, face à fragilidade inerente ao meu corpo e o visível descompromisso de muitos com minha comodidade e segurança. Não se trata de um discurso egocêntrico. Ao perceber a dificuldade e os riscos a que me encontro sujeita no enfrentamento às barreiras existentes na Cidade, sensibilizo-me com a problemática de toda coletividade.Em Fortaleza, tem-se incentivado o uso das bicicletas com programas de compartilhamento, construção de ciclovias e ciclofaixas. Um sinal de civilidade, voltado ao lazer e à melhoria da mobilidade urbana! Contudo, os aparatos nem sempre correspondem ao ideal, por terem sido criados em vias já bastante comprometidas com o tráfego. Estreitas, inclinadas, com imperfeições na pavimentação e, por vezes, ocupadas por motociclistas apressados que as invadem para se deslocarem mais facilmente.
Não bastando isso, em algumas ciclofaixas a circulação de bicicletas pode se dar nos dois sentidos, embora a via tenha mão única. Esta simpática alternativa intensifica o risco de acidentes para os ciclistas que surgem inesperadamente na contramão, em trajetos por vezes mal iluminados, diante dos carros que tentam atravessar os cruzamentos.
Para o pedestre, nem se fala!
Está sujeito agora a maior risco de atropelamento não apenas pelos motorizados, como também por ciclistas que se consideram os cidadãos eleitos e não obedecem às normas do trânsito.
Todos os veículos motorizados, parados no semáforo vermelho, antes da faixa de retenção, enquanto o ciclista ultrapassa o cruzamento como dono da rua. Várias vezes precisei interromper a travessia na faixa de pedestres para dar passagem ao irresponsável ciclista. Caso contrário, seria atropelada, correndo risco de morte.
Os ciclistas se sentem à vontade para se apropriarem das ruas e das calçadas. É útil lembrar que as normas de trânsito são para todos e que ciclistas também podem atropelar e matar pedestres. Na escala de vulnerabilidade, este é o mais frágil.
Não basta darmos aos cidadãos a impressão de que a Cidade se tornou mais humana com a presença dos ciclistas nas ruas. Há necessidade premente de educação continuada para a mobilidade segura, civilizada e respeitosa, além da punição para os infratores. Ninguém está isento!
Publicado originalmente em O POVO (Opinião), de 21/08/2015
Celina,
Dentre todos eles (motoristas, motoqueiros, ciclistas e pedestres), os pedestres são aqueles que, a meu ver, estão na base da "cadeia alimentar".
PGCS
Transcrevo e-mail de Celina Côrte Pinheiro:
ResponderExcluirOi, Paulo,
Os ciclistas são bastante vulneráveis e houve momentos em que eles eram vítimas em maior número. Contudo, com o advento das motocicletas e seu expressivo aumento numérico neste estado, os motociclistas se tornaram as principais vítimas. A velocidade do veículo também influi na vitimação. Como os motociclistas encontram-se em grande número, trafegam com muita ousadia e se encontram em estado de grande vulnerabilidade por não terem um revestimento pessoal que os proteja, acabam se tornando as principais e as mais graves vítimas do trânsito. Esta mesma ousadia leva-os a serem atropeladores em calçadas, onde se encontram os pedestres, pois apreciam bastante driblar as normas de trânsito...
Abraço.
Celina
Enviado do meu iPad