sexta-feira, 19 de setembro de 2014

659 - A guerra dos químicos

Em meados da década de 1920, o governo estadunidense foi ao auge da sagacidade para combater o consumo de bebidas alcoólicas.
As estritas leis de proibição da época tinham provado serem fúteis, pois os americanos ainda estavam bebendo. Eles apenas o faziam às escondidas, frequentando bares clandestinos e comprando álcool nos sindicatos do crime. As gangues roubavam grandes quantidades de álcool industrial (que era usado em outras finalidades como, por exemplo, na esterilização de instrumentos) e o redestilava para remover as impurezas, antes de colocá-lo no mercado como bebida alcoólica.
Em seu esforço para ganhar a luta, o Bureau of Prohibition veio com uma ideia chocante:
E se for envenenado o abastecimento de álcool industrial? 
Em 1926, o governo federal comprou essa ideia, emitindo normas que exigiam que os fabricantes produzissem um álcool industrial mais letal. As novas fórmulas incluíam o acréscimo de sais de mercúrio, benzeno e querosene, e os resultados foram de arrepiar. As mortes relacionadas ao álcool dispararam, com os funcionários do próprio governo atribuindo mais de mil mortes ao programa apenas em seu primeiro ano.
As pessoas ficaram indignadas. "O governo dos Estados Unidos deveria ser cobrado pela responsabilidade moral por essas mortes", disse o médico legista nova-iorquino Charles Norris, um dos inimigos declarados da medida.
Mas o governo manteve-se firme em sua posição, mesmo quando a contagem de corpos continuava a crescer. Em Nova York, 400 pessoas morreram no primeiro ano. Cerca de 700 morreram no ano seguinte, e o padrão foi replicado em várias cidades do país. No entanto, os proibicionistas continuaram a defender a lei.
Foram precisos mais de 10.000 mortes e uma reação pública furiosa para o governo acabar a sua "guerra dos químicos". Aconteceu por volta de 1933, quando as normas – daquilo que Norris apelidara de "nossa experiência nacional em extermínio" – foram silenciosamente eliminadas e o programa foi oficialmente extinto.
Ver também
O beijo da temperança, blog EntreMentes

Nenhum comentário:

Postar um comentário