quinta-feira, 27 de junho de 2019

1103 - O processo de banimento do amianto no Brasil

O Brasil levou mais de três décadas para concluir o processo de banimento do amianto, mineral que causa câncer. Após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2017, e um período de adaptação da indústria de exploração, as minas brasileiras de amianto pararam de extrair o mineral em 1º de fevereiro de 2019. No entanto, políticos estão empenhados em derrubar a decisão do Supremo e reativar a indústria do amianto. A estratégia é tentar desconstruir as evidências médicas e científicas do risco à vida que o amianto representa. 
Histórico
No Brasil, o alerta sobre os riscos do amianto são repetidos desde o início da década de 1990. Porém, em outros países, os estudos sobre o potencial cancerígeno são de 1955. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece o risco cancerígeno do amianto e recomenda o seu banimento.
"O amianto foi usado em mais de três mil tipos de produtos. Telhas, tubulações, divisórias, forros, pisos, revestimentos, caixas de água e outros materiais da construção civil. O segundo setor com bastante utilização foi a indústria automobilística, nas pastilhas de freio, discos de embreagens, revestimentos e juntas”, disse a auditora fiscal do trabalho Fernanda Giannasi, autora do recém-lançado livro A Eternidade - A construção social do banimento do amianto.
Conhecido como mineral mágico ou a seda mineral por conta da sua capacidade de isolamento térmico e maleabilidade, o amianto foi usado na indústria têxtil e em roupas especiais para bombeiros. Também foi usado em eletrodomésticos, como torradeiras e ferro de passar roupa. Há registros também da presença de amianto em brinquedos, filtros de cigarro e absorvente íntimo.
A nota técnica da Fundação Jorge Duprat e Figueiredo (Fundacentro), divulgada nesta semana por conta do risco da volta da exploração do amianto, destaca que 120 milhões de pessoas em todo planeta estão expostas a contaminação pelo amianto, que se dá pela inalação das fibras do mineral suspensas no ar, daí o nome "poeira da morte".
Segundo estimativas, essa exposição ocupacional (de quem trabalha diretamente com o mineral) ou ambiental (de quem vive próximo de produtos com amianto) mata 200 mil pessoas por ano. No Brasil, a população tem contato com cerca de 7 milhões de toneladas de amianto.
Extraído de: De mineral mágico a poeira assassina: volta do amianto pode causar epidemia de câncer, por Juca Guimarães. In: Brasil de Fato

quinta-feira, 20 de junho de 2019

1102 - Correlação entre posse de armas de fogo e tamanho do pênis

Se alguém discute sobre as restrições de armas de fogo frequentemente se depara com a afirmação de que os donos compram suas armas para compensar terem pênis pequenos.
Embora a associação entre a posse de armas e o tamanho pequeno do pênis seja lembrada com frequência nas discussões sobre essas armas, até agora não houve o apoio de evidências científicas.
O presente estudo tenta preencher esta lacuna, comparando os dados sobre o tamanho do pênis com a posse de armas para confirmar que a relação reivindicada possa existir.
Para obter informações sobre a taxa de posse de armas por estado (nos Estados Unidos), a equipe de pesquisa usou dados de um estudo da Universidade de Columbia de 2015 que avaliou as taxas de posse de armas com base em uma pesquisa de 2013, fornecendo uma porcentagem de residentes de cada estado que possuem armas.
Para determinar o tamanho do pênis, a equipe de pesquisa utilizou os resultados de um estudo de 2010 por condomania.com, que se apresenta como "a primeira loja de preservativos da América". O estudo classificou os 50 estados em ordem decrescente de tamanho, com base nas vendas de preservativos para cada estado.
Plotar o tamanho do pênis como uma função da taxa de posse de armas revela claramente uma correlação, com a classificação do tamanho do pênis de um estado diminuindo à medida que aumenta a porcentagem de posse de armas. Observe que uma classificação baixa indica um tamanho de pênis maior, ficando entre o número 1 (maior - New Hampshire) e # 50 (menor - algum estado pobre que não é New Hampshire). Com base nos dados, um estado como o Alasca, com uma taxa de propriedade de armas de 61,7%, pode ser classificado como 61 em 50 (sobre isto ver nota explicativa 3 no artigo original), comparado a New Hampshire no topo do ranking com uma taxa de posse de armas de apenas 14,4%.
Deve-se notar que o estudo mostra apenas uma correlação e não um efeito causal. Ou seja, enquanto os dados mostram claramente que o tamanho pequeno do pênis e a posse de armas de fogo estão correlacionados, não se pode dizer com certeza que compensar o tamanho do pênis pequeno seja a motivação para possuir uma arma. Pesquisas adicionais podem ser úteis para apoiar essa relação causativa.
Extraído de: Study Confirms Gun Owners Have Smaller Penises, publicado em The Truth About Guns, site que reúne praticantes de caça nos EUA. O controlador do Nova Acta não endossa a metodologia utilizada no presente estudo, embora concorde com a ideia de que uma correlação não implique uma causalidade.
624 - Correlações espúrias
627 - Guia rápido para detetar a "Má Ciência"
1017 - Ronald Fisher. Teste e controvérsias

quinta-feira, 13 de junho de 2019

1101 - Você é assim tão flexível?


Dinneen Viggiano 
9 de dezembro de 2018 
O que você está vendo é um "raio X" de um indivíduo em uma posição extrema da coluna vertebral.
Não conheço o indivíduo nem o histórico médico dele.
Isso levanta a questão: você pode ser assim tão flexível? Vamos ver...
Contorcionistas, ginastas, dançarinos, iogues, todos esses atletas se destacam em seu esporte com excepcional flexibilidade espinhal. Mas a que custo?
Eu imagino que o "raio-x" deva pertencer a um contorcionista. A "radiografia" é datada do mesmo ano em que foi feito um estudo (o único de sua espécie) para pesquisar o que acontece com a coluna vertebral de cinco contorcionistas, de 20 a 49 anos de idade, de uma escola de circo da Mongólia. Um sistema de imagem de RM cilíndrico 3T (Philips Achieva) foi usado para avaliar as alterações patológicas em suas colunas. O estudo foi pequeno, mas os pesquisadores não tinham uma escolha maior. Fico feliz que alguém finalmente tenha estudado alguns desses atletas e agradeço esses resultados em pequena escala. Espero que inspire outros pesquisadores a continuar este trabalho.
Confira os resultados (links).
Can you be too flexible? Retrain Back Pain

quinta-feira, 6 de junho de 2019

1100 - O sono pode não ser necessário?

Para os seres humanos, recomenda-se ter pelo menos oito horas de sono por dia. Existem vários proponentes para o sono e sua importância em nossas vidas diárias, levando ao aumento da produtividade, melhor funcionamento cognitivo e um processo regulatório geral que ajuda nosso corpo a recuperar a energia que gasta ao longo do dia.
Mas, para outros animais, o sono pode não ser necessário. O sono é potencialmente caro para muitos animais, tornando-os vulneráveis ​​a predadores e roubando-lhes tempo à coleta de recursos ou ao acasalamento. Por essa razão, os cientistas há muito tempo presumiram que o sono ofertaria aos animais alguma vantagem vital e evolutiva - talvez como um meio de conservar energia ou de dar tempo ao cérebro para organizar as memórias. Em qualquer caso, nenhum animal verdadeiramente insone foi encontrado em estado selvagem.
Em novo estudo, pesquisadores observaram moscas da fruta (Drosophila melanogaster) no laboratório, quando notaram uma distribuição muito grande na duração do sono. A maioria dormia entre 300 e 600 minutos por dia, mas cerca de 6% das fêmeas dormiam menos de 72 minutos por dia, e três indivíduos particularmente inquietos dormiam por apenas 15, 14 ou 4 minutos por dia, respectivamente.
Essa falta de sono parecia não ter efeitos nocivos à saúde. Moscas sem sono viviam tão bem quanto outras moscas, relatam os pesquisadores na revista Science Advances, e até mesmo moscas com horários típicos de sono não foram incomodadas quando alojadas dentro de um tubo rotativo que as obrigou a perder cerca de 96% do seu tempo de sono.
doi:10.1126/science.aax0861