terça-feira, 27 de outubro de 2015

792 - Somos todos pedestres

Muitos somos motoristas e/ou motoqueiros. Muitos somos também ciclistas. E um só, no Brasil, é astronauta (o tenente-coronel R-1 Marcos Cesar Pontes, da Força Aérea Brasileira). Um fato, porém, é inconteste: SOMOS TODOS PEDESTRES. Como afirma a traumatologista e ortopedista Celina Pinheiro, presidente da Sobrames-CE, neste imperdível artigo publicado no Jornal O Povo, de 25/09/15. ~ Paulo Gurgel
Há alguns dias, a AMC impôs o controle da velocidade máxima dos veículos automotores em uma das vias urbanas em Fortaleza. Vários cidadãos se colocaram contra a medida, alegando que 40 km/h causariam transtorno no trânsito, comprometendo a mobilidade. Este raciocínio é peculiar aos que ajuízam o trânsito com base apenas nos transportes motorizados. Os pedestres são menosprezados ou mesmo esquecidos. Há, aqui, a cultura do desrespeito habitual a quem anda a pé.
O veículo vem a dois quarteirões de distância, com tempo hábil para nossa travessia com segurança. No entanto, a sensação que se tem é que o motorista não se preocupa em, pelo menos, retirar o pé do acelerador. Ao contrário, faz da buzina a sua arma e ainda acelera o veículo quando não desvia o mesmo na direção do desprotegido pedestre. Pura falta de sentimento de urbanidade!
A Organização Mundial da Saúde (OMS) observa que 90% das mortes no trânsito ocorrem em países com baixos rendimentos e menor frota de veículos. Parece paradoxal, mas é a realidade, sobretudo porque a educação nesses países, entre os quais se inclui o Brasil, também é mais precária. A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou a Década de Ação pelo Segurança de Trânsito, de 2011 a 2020, tomando medidas para redução do número de vítimas.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 12 mil pedestres/ano são vítimas fatais nos acidentes de trânsito brasileiro. Já está comprovado que a gravidade do atropelamento, com óbito, aumenta com a velocidade do veículo. Um pedestre atingido por veículo a 40 km/h tem 30% de chance de ir a óbito. Caso o veículo esteja a 60 km/h, o percentual já se eleva a 85%. Além de 80 km/h, a possibilidade de óbito é de 100%. Salvar-se nestas circunstâncias será absolutamente fortuito.
A analogia entre velocidade dos veículos e gravidade do atropelamento levou muitos países a imporem redução da velocidade autorizada nas zonas urbanas para 30km/h a 50 km/h, com a intenção de moderar o tráfego e reduzir o número de óbitos de pedestres. Precisamos nos curvar às evidências para vivermos melhor. O sentimento de pertença à comunidade passa também pela segurança e conforto que o pedestre sente ao circular nas calçadas e nas ruas. Esta cidade ainda tem muito a avançar neste sentido!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

790 - O caso Sally Clark

Em 1999, uma mulher na Grã-Bretanha chamada Sally Clark foi considerada culpada pelo assassinato de dois de seus filhos, que morreram subitamente como bebês. Um fator em sua condenação foi a apresentação de evidências estatísticas de que as chances de duas crianças da mesma família morrerem de síndrome de morte súbita infantil (SMSI) eram apenas 1 em 73 milhões – um índice amplamente interpretado como bastante contundente.
No entanto, ter sido considerado apenas uma hipótese deixou de fora uma parte importante da investigação. "O júri precisava comparar duas explicações concorrentes para as mortes dos bebês: SMSI ou assassinato", escreveu o estatístico Peter Green, em nome da Royal Statistical Society, em 2002 (ver: go.nature.com/ochsja). "O fato de que duas mortes por SMSI são bastante improváveis é, por si só, de pouco valor. Duas mortes por assassinato podem ser ainda mais improváveis. O que importa é a probabilidade relativa das mortes no âmbito de cada hipótese, não apenas quanto improvável que elas são sob uma explicação.
O matemático Ray Hill, da Universidade de Salford, Reino Unido, mais tarde estimou que uma morte dupla por SMSI ocorreria em aproximadamente 1 de 297.000 famílias, enquanto dois filhos seriam assassinados por um dos pais em aproximadamente 1 de 2,7 milhões de famílias – uma taxa de probabilidade de 9-1 contra o assassinato.
Em 2003, a condenação de Sally foi anulada com base em novas provas. E o Procurador-Geral da Inglaterra e País de Gales conseguiu a libertação de duas outras mulheres que haviam sido condenadas pelo assassinato de seus filhos por razões estatísticas semelhantes.
How scientists fool themselves – and how they can stop, por Regina Nuzzo, Nature, volume 526, edição 7572

domingo, 18 de outubro de 2015

789 - DIA DO MÉDICO 2015

Para salvar vidas, médicos brasileiros fazem de tudo com quase nada. Mas eles não querem ser heróis. São profissionais que exigem condições dignas de trabalho para cuidar da saúde e lutar pela vida das pessoas. Assim, eles cumprem a missão de todo o médico.
A campanha do Conselho Federal de Medicina traz histórias baseadas em fatos reais.
Pensamentos
A missão do médico: curar algumas vezes , aliviar frequentemente e consolar sempre.
O bom médico não é o que trata pessoas enfermas. É aquele que trata enfermos como pessoas. ~ Ismael Torquatto
O bom médico conhece bem os guidelines, mas o ótimo médico sabe quando não utilizá-los. ~ J. W. Hurst
A morte é o último médico das doenças. ~ Sófocles


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

788 - Uma resposta à altura do insulto

Se você precisa amamentar, 
por favor, cubra-se
Quando um grupo de apoiadores do aleitamento materno (o Breastfeeding Mama Talk), como nós, se deparou com um cartaz como esse, dizendo às mães para se cobrir durante a amamentação, eles deram uma resposta à altura do insulto. O grupo compartilhou uma foto do cartaz em sua fanpage, juntamente com a foto de duas mães cobertas, amamentando.
O grupo convidou também outras mães a compartilhar as suas próprias fotos cobertas com a hashtag #ThisIsHowWeCoverBFMT. As fotos postadas repercutiram muito bem. Havia desde cobertores na cabeça a máscaras de Darth Vader. As mães lactantes mostraram que elas sabem como "se cobrir" com grande estilo.
Ler também:
72 - O aleitamento materno
249 - Perversos e drogados
489 - As 7 vantagens do leite materno
573 - Brasil, referência mundial em doação de leite materno

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

787 - Por que as mulheres vivem mais do que os homens?

"Esta vantagem notavelmente consistente da sobrevivência das mulheres em relação aos homens, no início da vida, no fim da vida e na vida total, é observada em cada país e em cada ano onde há registros de nascimentos e de mortes confiáveis. Não pode haver nenhum padrão mais robusto na biologia humana."
Em artigo publicado no "BBC - Future", David Robson faz uma abordagem sobre as respostas disponíveis para a pergunta acima. No entanto, todas elas estão no terreno das hipóteses e sofrem contestações.
Highlights
  • Uma ideia inicial era a de que os homens trabalhavam numa "sepultura adiantada".  Assim, morejando nas minas ou arando a terra, os homens colocariam uma pressão adicional sobre seus corpos e acumulariam lesões arcando com isso consequências mais tarde na vida. 
  • Os homens são mais abusivos com seus corpos. Fatores tais como fumar, beber e comer demais podem explicar parcialmente o tamanho do "hiato dos gêneros", que varia entre os países. Homens russos, por exemplo, são propensos a morrer 13 anos mais cedo do que as mulheres russas, em parte porque eles bebem e fumam mais fortemente.
  • Existem mecanismos potenciais relacionados com o DNA cromossomial presente nas células. Cromossomos vêm em pares, sendo que as mulheres têm dois cromossomos X, e os homens têm um cromossoma X e um Y. Essa diferença poderia alterar o modo como as células enfrentam a idade. Tendo dois cromossomos X, as mulheres conservam cópias de cada gene, o que significa que elas têm um gene sobressalente se outro, por acaso, estiver com defeito. Os homens não têm esse back-up. O resultado é que mais células podem avariar com o tempo, deixando os homens em maior risco de doenças.
  • Outra hipótese está ligada a ideia da frequência cardíaca. Por estar aumentada na mulher, durante a segunda metade do ciclo menstrual, ofereceria os mesmos benefícios do exercício moderado. O resultado disso seria adiar o risco de doença cardiovascular para mais tarde na vida.
  • Poderia também ser uma simples questão de tamanho. Pessoas mais altas têm mais células em seus corpos, o que significa que eles são mais propensas a desenvolver mutações prejudiciais. Corpos maiores também queimam mais energia, adicionando um maior desgaste aos tecidos. Desde que os homens tendem a ser mais altos do que as mulheres, eles devem, portanto, sofrer mais danos em longo prazo.
  • Talvez, a verdadeira razão resida na testosterona que influencia  a maioria das características masculinas, A testosterona pode tornar nossos corpos mais fortes em curto prazo, mas essas mesmas mudanças, mais tarde na vida, também nos deixam propensos para as doenças cardiovasculares, as infecções e o câncer.
  • As mulheres não só escapam dos riscos da testosterona como também podem se beneficiar de seu próprio "elixir da juventude" para reparar alguns dos estragos do tempo. O hormônio sexual feminino, o estrogênio, é um "antioxidante" natural, o que significa que limpa as células dos produtos químicos venenosos do estresse oxidativo.
  • Além de tudo, há uma espécie de pay-off evolutiva que dá a homens e mulheres as melhores chances de passar seus genes. Durante o acasalamento, as mulheres seriam mais receptivas aos machos alfas, "bombados" de testosterona. "Mas, uma vez que as crianças nascem, os homens são mais descartáveis", diz Kirkwood. "O bem-estar da prole está intimamente ligado ao bem-estar do corpo materno. A questão de fundo é que, para as crianças, é mais importante que o corpo da mãe esteja em boa forma, e não o corpo do pai".

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

786 - Como se faz um ser humano

Este GIF feito por hellofromthemoon explica visualmente o assunto:
Clique AQUI para ver a imagem ampliada
As melhores observações no reddit
"Eu gostaria de compartilhar isto com uma turma de futuros enfermeiros."
"É como descer uma escada rolante."
"Sempre girando, girando, girando rumo à liberdade."
"Um bebê por dia mantém o médico longe."
"Às três semanas o bebê se parece exatamente com uma chupeta."
"Quando é que o aborto acontece?"
"Atente para o bebê: desaparece no final."
"Henry Ford estaria orgulhoso dessa linha de montagem."
"Eu não vi onde foi adicionada a alma."
"É uma gravidez psicológica."
"Eu nasci com 28 semanas. Fico feliz em ver que eu teria sido basicamente o mesmo se eu tivesse esperado."
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terça-feira, 6 de outubro de 2015

785 - Arte no ágar

A Sociedade Americana de Microbiologia acaba de realizar um concurso, por assim dizer, específico: Agar Art.
Sim, os microbiologistas sabem criar obras de arte com as colônias de micróbios que se desenvolvem no meio ágar das placas de Petri.
O primeiro lugar do concurso, em 2015, coube à placa "Neurônios" (ao lado), apresentada por Mehmet Berkmen, do New England Biolabs, e pela artista Maria Penil.
Neste trabalho, os vencedores usaram o Nesterenkonia amarelo, o Deinococcus e o Sphingomonas alaranjados, contaminantes frequentes em laboratórios de microbiologia. Após o crescimento das colônias a 30 ºC durante dois dias, a placa foi deixada a estabilizar e, em seguida, vedada de forma permanente com epóxi.
V. galeria no face.
No Acta:
179 - Quem criou esta imagem?
222 - Pinturas microbianas
503 - Uma homenagem a Petri
525 - Diamantes e espermatozoides
631 - A arte bacteriográfica
Nota:
O símbolo "°C" para o grau Celsius deve ser precedido por um espaço entre o valor numérico e o símbolo da escala. Exemplo:

sábado, 3 de outubro de 2015

784 - No Brasil motos já são a principal causa de acidentes no trânsito

Vladimir Platonow – Repórter da Agência Brasil
Os acidentes envolvendo motos já são a principal causa de ocorrências de trânsito no país, ultrapassando os atropelamentos de pedestres. Atualmente, mais de metade das internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são de motociclistas, que respondem por três quartos das indenizações do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT).
O dado foi trazido durante o 1º Fórum Nacional da Cruz Vermelha Brasileira sobre Segurança Viária, que marcou o início da Semana Nacional do Trânsito, em 18 de outubro, pelo médico Fernando Moreira, especialista em medicina do trânsito e conselheiro da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).
"As motos mudaram o padrão da mortalidade, com a expansão muito forte da frota de motos nos últimos dez anos, e hoje a principal vítima no trânsito já é o motociclista. O pedestre era historicamente quem mais sofria no trânsito, agora é o motociclista. Há vários fatores que incidem diretamente nesta utilização maior das motos, que é um veículo com um risco maior agregado do que um veículo de quatro rodas", disse Moreira.
O médico também chamou a atenção para a dispensa de itens obrigatórios de segurança, como capacete e calçado fechado. Além disso, ele denunciou que, em muitas cidades do país, principalmente no interior, é comum as pessoas pilotarem moto sem terem documento de habilitação.
"Lamentavelmente, em nosso país, não se usa um item obrigatório, que é o capacete. Muitas pessoas sequer tem habilitação para andar de moto. Em alguns locais do interior do país, 60% a 70% das pessoas não são habilitadas para dirigir moto, não conhecem minimamente a legislação de trânsito."
Especialista em medicina do trânsito, o médico está acostumado a testemunhar casos de fraturas graves decorrentes de motociclistas sem equipamentos de proteção, que, se fossem utilizados, salvariam muitas vidas.
"Está se formando uma verdadeira legião de pessoas com deficiências por traumas relacionados à motocicleta. Temos visto um crescimento enorme do número de pessoas com deficiência física estabelecida, em membros superiores e inferiores, e em coluna vertebral com problemas graves, como paraplegia, tetraplegia, em função da má utilização desse veículo que tem um risco maior associado.”
Segundo ele, a frota de motos tem crescido muito mais do que a de automóveis e mudou proporcionalmente a frota total de veículos no Brasil. Isso requer do motociclista ainda mais atenção e cuidados básicos, que evitam ou reduzem a gravidade de acidentes.
"O importante é que o condutor da moto entenda que ele tem de se portar no trânsito em uma atitude preventiva, utilizar todos os equipamentos de segurança, respeitar os limites de velocidade. Também tem que lembrar que o carona tem de usar o capacete. E não pode transportar crianças com menos de 7 anos de idade."
O representante da Cruz Vermelha Brasileira, José Mauro Braz de Lima, consultor do Departamento Nacional de Educação e Saúde da entidade, também alertou para o nível de acidentes graves e fatais no Brasil, que ocupa as primeira posições entre os países com maior número de mortes no trânsito.
"É inaceitável o nível de mortes e feridos nas estradas. O que o Brasil hoje deve estar atento é que, sendo o país que mais mata no mundo por acidentes de trânsito, há que ter uma atitude constante para isso. Temos que criar uma força-tarefa, em um programa de governo, como foi feito na França, para que tenhamos um modelo de atenção sistêmica", sugeriu José Mauro.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), citados pela Cruz Vermelha, no mundo todo, 1,3 milhão de pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito. No Brasil, de acordo com a Cruz Vermelha, são 50 mil mortes anuais e 500 mil feridos nas ruas e estradas dos país, o que representa 25 mortes por 100 mil habitantes.
O representante da organização também sugeriu o aumento de recursos investidos em campanhas educativas e preventivas, utilizando percentual de multas de trânsito, como já é previsto na legislação. A entidade defende um programa baseado em cinco passos: informação, educação, conscientização, fiscalização e apenação.
De acordo com estatística do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o país tinha uma frota de 23 milhões de motocicletas em 2014, o que correspondia a 27% da frota nacional. Apesar das motos representarem pouco mais de um quarto da frota, o seguro DPVAT pagou, em 2014, 580 mil indenizações, o que correspondeu a 76% do total. Deste, 4% foram por morte (22.616 casos), 82% por invalidez (474.346) e 14% por despesas médicas (83.101).